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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Georgina Martins lança 'Há muitas formas de se fazer macarrão e outras brutalidades', seu primeiro romance adulto, no qual detalha nuances da violência psicológica de um casamento

 


Escritora e professora de literatura, que coleciona sucessos no universo literário infantojuvenil, Georgina, desta vez, aborda experiência de mulheres que sofrem, não com a violência física, mas com a violência psicológica que se interpõe no cotidiano do casal 

A escritora Georgina Martins está lançando o livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá - www.editorapatua.com.br), no qual aborda a experiência de mulheres que sofrem, não com a violência física, mas a psicológica que se interpõe no cotidiano de um casal. Em narrativa fluente, aproveita-se da linguagem literária e detalha as nuances da violência psicológica que ela própria sofreu no casamento. É o primeiro romance adulto da Georgina que também é professora de literatura e acumula sucessos no universo infantojuvenil.

O livro fala diretamente à experiência de muitas mulheres porque tematiza a violência, pondo em cena a vida doméstica e sua dinâmica centrada numa sucessão de violências vividas por um casal que pouco a pouco vai revelando ao leitor um relacionamento doentio. Tudo acionado, não pela força física de um homem, mas pelas sutilezas de sua condição de intelectual que, devotado às artes e à gastronomia, por exemplo, impõe à convivência familiar uma rotina de obediência às suas demandas, às oscilações de humor e à suposta superioridade moral. Os temas envolvem racismo, autoritarismo, abandono, vícios e drogas.

Com a palavra a narradora Susana que aciona os incidentes na relação com Dionísio, passando a limpo o passado, quando ele morre: "Relutei tanto em escrever a nossa história, mas agora, sinto a necessidade de fazer um inventário de tudo que aconteceu entre nós para tentar entender o enigma que você sempre foi para mim.(...) Você sabia que eu sentia dor e desconforto, mas esses motivos não o sensibilizavam nem um pouco. Pelo contrário, minhas queixas só serviam para atiçar seu desejo, sua ira e seu mau humor. Sua cara amarrada e seus silêncios pairavam sobre os almoços em família e festas de aniversário dos meninos."

Georgina diz que o objetivo maior foi falar sobre esses acontecimentos, essa violência velada, com outras mulheres e isso preocupa menos do que com a exposição com a qual terá de lidar. Um fato, os filhos dela não quiseram ler o livro, "pois para eles seria reviver tudo de mal que passaram naquela época, ainda crianças. Eles fazem terapia até hoje", diz Georgina.

A ilustração da capa de Há muitas formas... é de Camilo Martins, filho de Georgina, e o prefácio de Martha Alkimin, professora Pós-Graduada em Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da UFRJ. 

Sobre a autora

Georgina Martins é carioca, professora e escritora e colunista da Revista Ciência Hoje. Doutora em Literatura brasileira e Especialista em Teoria e Crítica da literatura infantil e juvenil. É autora de livro de sucessos na literatura infanto-juvenil como O Menino que brincava de serMinha família é coloridaUma maré de desejos e Em busca do mar. Esse é o seu primeiro romance para adultos.

Diz que gosta de contar e ouvir histórias, por isso está sempre lendo. De tanto contar, ouvir e ler histórias, resolveu inventá-las, e assim se tornou escritora de livros para crianças. Outro dia lhe perguntaram por que escrevia, e ela respondeu: "Porque gosto de transmitir às pessoas as coisas que penso, aprendo, vejo, sinto e vivo".

 

Livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá)

www.editorapatua.com.br  - Preço: R$ 40

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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Entrevista com Georgina Martins, autora do livro Há muitas formas de se fazer macarrão & outras brutalidades (Editora Patuá)

Georgina Martins - Foto: Fábio Meirelles

A escritora Georgina Martins está lançando o livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá), no qual aborda a experiência de mulheres que sofrem, não com a violência física, mas a psicológica que se interpõe no cotidiano de um casal. É o primeiro romance adulto da Georgina que também é professora de literatura e acumula sucessos no universo infanto-juvenil. Detalhe, é que o livro fala diretamente à experiência de muitas mulheres porque tematiza a violência, pondo em cena a vida doméstica e sua dinâmica centrada numa sucessão de violências vividas por um casal que pouco a pouco vai revelando ao leitor um relacionamento doentio. Tudo acionado, não pela força física de um homem, mas pelas sutilezas de sua condição de intelectual que, devotado às artes e à gastronomia, por exemplo, impõe à convivência familiar uma rotina de obediência às suas demandas, às oscilações de humor e à suposta superioridade moral.

Georgina Martins é carioca, professora, escritora e colunista da Revista Ciência Hoje. Doutora em Literatura brasileira e Especialista em Teoria e Crítica da literatura infantil e juvenil. É autora de livro de sucessos na literatura infanto-juvenil como O Menino que brincava de serMinha família é coloridaUma maré de desejos e Em busca do mar. Esse é o seu primeiro romance para adultos. 

Conexão Literatura - É uma guinada sair do universo infantojuvenil e tratar desse dia-a-dia que muitas mulheres sofrem no casamento mas não têm coragem de falar. Essa chave virou de repente em você, ou era coisa que já vinha elaborando? 

Georgina - Na verdade sempre pensei em escrever para todas as idades, então vinha elaborando esse texto já algum tempo. Acho muito importante tratar do tema do casamento, das relações abusivas, do machismo estrutural. Já tive retorno de muitas mulheres que sofreram coisas parecidas com as que a personagem do livro sofreu. A literatura é capaz de nos colocar no lugar do outro, de nos fazer sentir a dor do outro, de nos ensinar a ser solidários. 

Conexão Literatura - Até que ponto foi fácil ou difícil abordar isso em um texto. No caso, usando de sua própria experiência, como você disse, já que sofreu esse tipo de violência psicológica em casa? 

Georgina - Foi muito difícil escrever sobre isso, mas foi fundamental pra mim, uma espécie de catarse. Acredito que depois que tomamos coragem de compartilhar o que dói, a dor fica mais leve.

Também acredito que todo texto literário, em certa medida, é autobiográfico, pois os escritores, mesmo quando não deixam explícitos, falam de si mesmo, contam suas histórias. É uma forma de compartilhar nossas dores, nossas alegrias, nossas vidas. 

Conexão Literatura - Você acha que esse comportamento masculino, que é condenado no livro, permanece ainda muito frequente no Brasil e no mundo? Se sim, qual a razão? 

Georgina - Acho que sim por vários motivos: forma como alguns homens são criados, silenciamento do que incomoda, resistência e vergonha em procurar terapia ou até  mesmo tratamento com antidrepessivos, porque muitas vezes a questão também é química, fisiológica. Além disso, o machismo estrutural que envolve a competição com a mulher, a necessidade de dominá-la. São muitos os motivos. 

Conexão Literatura - Você é uma professora e vem atuando muito bem nessa área. O que a fez tornar-se uma escritora? O que tem de fácil e de difícil? 

Georgina - O que me fez ser escritora foram as histórias que minha mãe me contava, como contos de fadas e histórias da vida dela. Meu pai também era um grande contador de “causos” e cantigas da sua terra, como ele dizia: o Ceará. Ele me contava pedaços das histórias de Lampião e Maria Bonita, por exemplo. Com eles aprendi o valor da cultura, e olhe que eles não tiveram estudo. Meu pai fez até o que hoje é a 4ª série do Ensino Fundamental e minha mãe nunca estudou.

Quanto ao que tem de mais difícil na escrita, pra mim é achar o tom certo, a palavra exata, a frase exata, porque não é uma boa história que faz um bom livro, mas sim a forma como ela é contada. E o mais fácil é curtir o livro pronto.    

Conexão Literatura - Você é uma autora que coleciona sucessos nessa área infantojuvenil. Acha que mesmo com advento de computador, ainda há espaço para essa experiência de 'manusear' o livro? 

Georgina - Sim, e acho que não vai acabar nunca. Manusear livros é muito bom. Para crianças , então, é fundamental o livro físico, pelo cheiro, pelas cores, pelas imagens e também pelo fato de que ele pode se transformar em brinquedo. O livro guarda a memória do passado, é a nossa imaginação concretizada. Nele podemos ler o mundo e com ele podemos  atravessar os mais diferentes tempos e espaços. Com o livro impresso jamais corremos o risco de perder o que está dentro dele, como acontece com os e-books, com os computadores, celular. O livro em papel não vai acabar nunca. 

Conexão Literatura - Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

Georgina - Esse livro pode ser encontrado na Amazon e no site da editora Patuá (www.editorapatua.com.br). E quanto a conhecer meus trabalhos, nas minhas redes

Instagram: martins_georgina e no Facebook: Georgina Martins 

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Georgina - Sim, tenho alguns, como três livros que estão nas editoras, todos infantis. Dois ainda saem esse ano. 

Perguntas rápidas: (1 linhas)

Um livro: "Infância" do Graciliano Ramos

Um (a) autor (a): Graciliano Ramos

Um ator ou atriz: Dira Paes

Um filme: "Bibliothèque Pascal", é um filme de drama húngaro de 2009, dirigido e escrito por Szabolcs Hajdu. Trata da história de uma mãe jovem que teve a filha retirada dela porque ela não tinha trabalho fixo. Mistura realidade com contos de fadas. É muito bom, pena que não foi nada divulgado no Brasil.

Um dia especial: Foram tantos. Quando entrei por concurso em um Ginásio público, nos anos 1970;  quando ingressei na faculdade pública, UFRJ; quando meus filhos nasceram... 

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Georgina - Apenas agradecer a divulgação,  as perguntas e desejar felicidades pra todos nós nessa nova era do Brasil que nos traz muitas esperanças.

 

Livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá)

www.editorapatua.com.br  - Preço: R$ 40

 

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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Adriana Vieira Lomar e o livro Aldeia dos mortos, por Cida Simka e Sérgio Simka

Adriana Vieira Lomar - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.  

Adriana Vieira Lomar (1968) é carioca, tendo passado parte da infância e adolescência em Maceió.  Integrante dos grupos literários “Os quinze” e “Caneta, Lente & Pincel”. Pós-graduada em Arte, Pensamento e Literatura Contemporânea e Roteiro para TV, Cinema e Novas Mídias pela PUC-RIO, autora de “Carpintaria de sonhos” (2005) (poemas), do romance “Aldeia dos mortos” (2020), editora Patuá e do livro de contos “Ambiguidades” (2021), editora Penalux.  Tem diversas publicações em revistas e jornais literários como “Subversa”, “Gueto”, “Jornal Relevo”, “Rascunho” e “Revista Literatura e Fechadura”.  

O romance “Aldeia dos mortos” foi apontado como um dos vinte melhores romances de 2020 pela Revista Literatura e Fechadura e apontado como “os melhores livros e resenhas de 2020” nos blogs: “maeliteratura” e “mundo de K.”. “Ambiguidades” foi indicado por Martha Medeiros (Instagram @realmarthamedeiros) e Ninfa Parreiras em seu programa no YouTube “O Carteiro entregou aqui em Casa 64”.  

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo?

Aldeia dos mortos era um projeto de livro e que ao longo do tempo foi madurando como fruta no pé. Por vezes, cheguei a provar a fruta e descartá-la. Precisava do gosto exato para ter coragem de publicar.

Tinha como sinopse as nuances de uma família matriarcal que atravessasse períodos que eu tinha ouvido falar, mas que eu não tinha vivido. O objeto de pesquisa estava bem perto de mim, minha própria família. Revisitei todos os dissabores e gostos desta família e me senti livre para mergulhar nos caminhos da ficção.   

Como analisa a questão da leitura no país?

Não gostaria de dizer o que todos já sabem, mas infelizmente poucos têm acesso à leitura e os poucos que poderiam ler não o fazem, talvez pela falta do hábito. 

Tenho esperança quando vejo iniciativas, como as das bibliotecas físicas e online que fomentam o mercado e difundem a literatura. Seria muito bom se o país fosse diferente, que ninguém passasse fome ou não lidasse com o desemprego e pudesse desenvolver o senso crítico.

Para melhorar o quesito leitura teríamos de ter um estado forte engajado e incentivador da cultura.

O que tem lido atualmente?

Sempre tive vontade de ler toda a coleção prêmio Nobel herdada dos meus pais. Além de linda e bem diagramada, há pérolas que eu até então não conhecia. Por exemplo, conheci alguns escritores, pouco traduzidos. Li recentemente Grazia Delleda, o maravilhoso “Caniços ao vento” e “Elias Portolu”, traduzido por William Soares dos Santos, publicado pela editora Moinhos e finalista do prêmio Jabuti do ano passado.

Além de Grazia Delleda, descobri a norte-americana Pearl S. Buck, também laureada com o prêmio Nobel com o livro “A exilada”. 

Este semestre li e reli vários livros de poetas e prosadores contemporâneos: “A pediatra” de Andrea Del Fuego, “Torto arado” de Itamar Vieira Junior, “O avesso da pele” de Jefferson Tenório, “Os supridores” de José Falero e “O sêmen do elefante branco” de Cínthia Kriemler. Os poetas André Luís Câmara, autor de Rua sem saída, Andri Carvão, autor de Dança do fogo Dança da chuva e William Soares dos Santos, autor de “Raro-poemas de Eros”.

E não param de chegar pelo correio vários títulos dos clubes de leitura da charmosa editora Patuá e do Humberto Conzo Júnior, ambos engajados na luta em difundir a leitura.

Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.

Meus projetos. Viver o instante, o presente. Nosso tempo é feito de instantes, fragmentário e necessário tempo. A informação é dada e jorrada. A função do escritor é observar e traduzir o seu tempo, e talvez ele passe por si para retratar o que o rodeia.  Talvez ele não elucide, ele faça com que o leitor não só interprete o que lê, como consiga desenvolver o senso crítico.

Por isso não podemos ter preconceitos com literatura, rotulá-la e colocá-la em uma forma. Afinal ela acompanha a voz das ruas, a voz do tempo. E isso é ótimo, porque quanto mais próximo o escritor estiver dessa mesma rua, mais respeito ele terá por seus personagens.

Link para o livro:

https://www.editorapatua.com.br/aldeia-dos-mortos-de-adriana-vieira-lomar/p 


CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). 

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

DIA DO LEITOR: evento da Editora Patuá para a formação de leitores, por Cida Simka e Sérgio Simka

 A Editora Patuá está com uma excelente campanha para a formação de leitores. Acompanhem abaixo o texto do editor, o incansável Eduardo Lacerda.

Todos os escritores, escritoras, editores, editoras e todas as pessoas da cadeia do livro, como revisores, ilustradores, diagramadores etc. devem lutar para transformar o país em um país de leitores e leitoras.

É nossa obrigação, nosso dever e nossa missão. Há um projeto histórico de não formação de leitores, assim como há um projeto contra a educação. Somente a educação e a cultura podem transformar esse país em uma sociedade civilizada, justa e que progredirá também em outras áreas.

A fim de impulsionar uma primeira ação que busque leitores e leitoras, resolvemos iniciar, neste dia 7 de janeiro, dia da leitora, dia do leitor, uma campanha de doação de livros. A cada exemplar vendido de 7 a 14 de janeiro, a editora dará de presente um livro da editora para o comprador e fará a doação de outro exemplar para bibliotecas públicas ou comunitárias.

Você poderá acompanhar o resultado dessa campanha que divulgará a quantidade de livros doados, nomes dos compradores e compradoras, e quais bibliotecas beneficiadas.

Esta será mais uma ação da Patuá, a primeira de 2022, na busca da formação de leitores. Aguardem que teremos outras ações em parceria com a nossa Livraria Patuscada, a Public Inc @incubadoradeeditoras e O Casulo – Jornal de Poesia Contemporânea.

Aliás, quem comparecer à livraria nesse sábado (8/1), também receberá seu exemplar de presente e contribuirá com a doação de um exemplar para uma biblioteca. Estaremos lá em nosso endereço na Rua Luís Murat, 40, Pinheiros, São Paulo, CEP: 05436-050 das 18h às 22h.

Vem com a gente!

Eduardo Lacerda

Editor

Editora Patuá 

www.editorapatua.com.br


CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021).

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sexta-feira, 19 de março de 2021

Escritora lança livro de poesia sobre a interiorização dos espaços femininos


A poeta Katia Marchese mostra em Mulheres de Hopper, livro inspirado nas obras do pintor norte-americano Edward Hopper que retratava as mulheres em situações de solidão, seu olhar sobre os processos íntimos e alquímicos de desconstrução do imaginário feminino

Campinas, março de 2021 – A escritora de Campinas Katia Marchese lança neste mês o seu primeiro livro solo de poesias. O livro Mulheres de Hopper (Editora Patuá, 82 páginas) será apresentado em evento virtual no próximo dia 19 e retrata o universo íntimo feminino em 26 poemas ilustrados e inspirados em obras de Edward Hopper, artista norte-americano conhecido por suas pinturas de mulheres em momentos íntimos e de solidão, entre as décadas de 30 e 60.

O lançamento será transmitido pelas redes sociais da editora Patuá e reunirá, além de Katia, o editor Eduardo Lacerda; Luiza Romão (apresentação do livro); a escritora e pesquisadora Ana Rüsche (prefácio); e Isabela Sancho, responsável pelas 26 ilustrações do livro. A publicação está disponível em pré-venda no site da editora www.editorapatua.com.br  e continuará depois do evento de lançamento oficial. Quem comprar na pré-venda ganha uma sacola.

Em Mulheres de Hopper, a poeta faz um recorte das telas do pintor em quatro divisões temáticas (Trajetos, Janelas, Quartos e Casas) e oferece um cenário que mostra o cotidiano feminino. Kátia aponta que a solidão do universo feminino, muitas vezes, é um fio condutor de transformação. Por meio de seus versos precisos e impactantes, a escritora leva o leitor a experimentar os mais profundos sentimentos, como angústia, sonhos, resiliência e solidão, como no poema ‘Transparências’: 

/Lá fora a escuridão dos vãos entre os edifícios. A luz irrompe e íntima arde tua anca que recolhe as roupas do chão. A solidão dissipa o fino tecido da cortina e da vergonha/.

“O livro é uma reflexão poética da vida cotidiana de mulheres comuns, como nós, trabalhadoras, mães, filhas, mergulhadas em sentimentos muitas vezes sufocados, que buscam contar sua história”, comenta Katia. Ela observa que o livro é lançado em um momento no qual a mulher mostra sua força diante da pandemia e do isolamento, quando todos somos obrigados a ficar no nosso próprio mundo, espaço que o sexo feminino conhece bem.

 Vivência

Os poemas também remetem à própria experiência profissional da autora. Como assistente social, trabalhou com mulheres em situação de vulnerabilidade na periferia de Campinas. Assim, pôde presenciar as mais diversas expressões de interiorização, perdas, injustiças e dilemas. “A poesia é meu processo de ler e agir no mundo. Em Mulheres de Hopper, exploro essa temática e escrevo sobre os processos íntimos e alquímicos de desconstrução do imaginário feminino. Dentro de seus espaços, as mulheres sobrevivem, resistem e enfrentam a cultura machista e misógina disfarçada de mito do amor romântico”, completa.

A apresentação do livro é da poeta, atriz e diretora de teatro Luiza Romão. Em seu texto, Luiza cita que a autora, em livro de estreia, “se põe à escuta e com uma escrita porosa apresenta essas Mulheres que já não são de Hopper, mas sim de si mesmas, da rua que se entrevê ao fim da escada, da calçada que se estende só os sapatos velozes”. 

Oficina

O livro Mulheres de Hopper é resultado da premiação de Katia no Programa de Ação Cultural 2019 (Proac) do governo do Estado de São Paulo. A poeta foi a única vencedora da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Além do livro, com o patrocínio recebido pela premiação do Proac, a poetisa está programou para este mês, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher, oficinas gratuitas que visam discutir a situação de vulnerabilidade social da mulher.

“O objetivo das oficinas e proporcionar maneiras e formas de expressar sentimentos e desejos, muitas vezes reprimidos pelo realismo social em que essas mulheres estão inseridas”, cita a escritora, lembrando que o isolamento social provocado pela pandemia do Covid-19 torna as discussões ainda mais pertinentes, como lembra Ana Rüsche em seu prefácio: “Katia não traz nenhum verso sobre a doença, mas é como se o ‘livro todo respirasse imagens sobre o isolamento social... Um vazio pleno de medo – da doença, das inseguranças financeiras, de planos abortados…”. 

Sobre a autora

Graduada em Serviço Social, Katia Marchese sempre viveu com intensidade a força do universo feminino. A poeta tem trabalhos publicados em várias antologias, como Senhoras Obscenas I e III (Benfazeja, 2017, e Patuá, 2019), Poesia em Tempos de Barbárie (organizado por Claudio Daniel, Lumme, 2019), entre outros, além de poemas em periódicos inclusive no exterior (Jornal Tornado, Portugal) e revistas literárias como Literatura e Arte.

Com formação no Curso Livre de Preparação do Escritor (CLIPE), 2019 (Casa das Rosas – Museu Haroldo de Campos de Poesia e Literatura/SP), participa do Coletivo O Ateliê de Poesia. Katia também faz parte do Projeto Cartas em Torno da Sobrevivência da Poesia, do Sesc. 

FICHA TÉCNICA

Título: Mulheres de Hopper

Autora: Katia Marchese

Escrito em 2020 e publicado em 2021

Editora: Patuá

Páginas: 82 páginas

Preço: R$ 30,00

Pré-vendawww.editorapatua.com.br

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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Entrevista com Fábio Mariano, autor do livro "Ruído Branco" (Editoras Patuá e Ofícios Terrestres)


Nasci em São Paulo, capital, mas vivo em Campinas, a 100km da capital, desde o primeiro ano de vida. Estudei aqui, na Unicamp – graduação e mestrado na área da literatura, e agora uma especialização em Relações Internacionais – e sou professor do Ensino Médio na rede particular de Campinas. Antes do Ruído Branco, já havia lançado dois livros, ambos pela editora Patuá: O Gelo dos Destróieres, em 2018, um livro de contos; e Habsburgo, em 2019, uma novela.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Fábio Mariano: Se a gente for olhar o início, início mesmo, vamos lá para o Ensino fundamental, quando um poema meu foi publicado numa antologia feita pela escola. Mas no meio literário mesmo, para valer, acho que vale citar que O Gelo dos Destróieres foi, numa primeira versão, enviado para o prêmio SESC de 2012. Eu tinha 23 anos. Não saí nem finalista, e fiquei super chateado, mas continuei escrevendo mais e mais contos, deixando o livro parado. Até que o Gabriel Morais Medeiros, que é mais que um amigo, um irmão, publicou pela Patuá e foi me mostrando a editora. Ele me dizia que eu deveria mostrar O Gelo ao editor, o Eduardo Lacerda. Aí eu trabalhei um pouco mais no rascunho, e fomos um dia pra São Paulo, eu com o arquivo original em Word impresso e encadernado na primeira gráfica que achamos por ali. Entreguei para o Eduardo, mas ficamos conversando sobre outras coisas, e o papo chegou em videogame. Ele me disse que publicava o livro se eu mudasse o título para Age of Empires, e eu falei “eu topo!”. Rimos, e aí eu fui embora, sem ter certeza de nada. Até que, num outro dia em que fomos à Patuá, o Edu falou que queria me publicar. E eu ganhei um editor e um grande amigo.

Conexão Literatura: Seu novo livro é Ruído Branco. Poderia comentar sobre ele? 

Fabio Mariano: Ruído Branco é um livro de dez contos dividido em três partes: Glaciar, Distância e Permanência. Eu fiz uma tentativa de inscrever o Habsburgo no ProAC de 2018, mas ele acabou não passando. Em 2019, tentei com o Ruído e deu certo, o que me deu mais estrutura para fazer o livro: estamos com uma divulgação por Instagram linda – é só acompanhar no @ofabiomariano – e fizemos uma tiragem grande, e projetos de contrapartida muito legais. Os contos se passam todos no meu universo ficcional – a cidade de Cartago, que abriga também os outros dois livros. Mas esses contos são todos permeados por duas forças, que eu chamo de vetores, que agem sobre os personagens: a ameaça e a ausência. É isso o que unifica os contos, e são formas diferentes de compreender essas forças que determinam a divisão em três partes. Em Território, por exemplo, o primeiro conto do livro: existe uma ex namorada ausente, e existe um clima de ameaça constante construído pela tensão entre os dois protagonistas de um lado, Germano e Toro, e o motorista e o cobrador do ônibus do outro. A briga vai acontecer a qualquer momento, mas o que isso tem a ver com a ausência da ex namorada, aí eu não posso entregar.

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?

Fábio Mariano: Acredito que o primeiro conto do Ruído Branco veio em 2018 mesmo, quando O Gelo dos Destróieres já estava pronto, e o último foi escrito em Julho de 2019, durante uma viagem para a Argentina. Mas foram sete revisões do livro, que só posso dizer que ficou pronto, pronto mesmo em Julho de 2020. Eu tenho uma visão um pouco peculiar da pesquisa: com os contos, não mexo muito com pesquisa histórica, por exemplo, e mesmo em Habsburgo, a minha novela, existiu uma pesquisa muito literária, sobre as relações entre professor e aluno na literatura e sobre o Império Austro-Húngaro, mas a história não se passa nem nesse Império e nem no tempo em que ele existiu. Então a pesquisa serve mais como uma motivação. O que eu anoto incessantemente são paisagens quando estou nos trajetos de carro e ônibus para os lugares, ou gestos das pessoas, ou inflexões da voz, ou combinações entre cheiro e imagem. Essas coisas viram projetos. Outro dia, por exemplo, antes da pandemia, claro, eu comia um pastel antes de dar aula no cursinho noturno aqui perto de caso, enquanto o rádio tocava uma música sertaneja no último volume em que uma moça gritava incessantemente a frase “eu tou falando é de beijo de alma”.  Não me interessei por saber de quem era a música, mas aquela combinação, esperar o pastel e ouvir aquela música, a antecipação por chegar na aula, a pressa de que o pastel saísse logo, aquilo para mim imediatamente virou o cenário de um conto futuro. E, claro, anotei.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu novo livro?

Fábio Mariano: Acho que os trechos mais especiais são aqueles que tocam em alguma memória – porque o ficcionista faz isso, ele usa as memórias dele, transformadas, distorcidas, aumentadas, mas ele faz isso. E às vezes esbarra em uma memória involuntária que estava guardada com muito carinho, mas que não era revisitada há muito tempo. E há um trecho no qual eu tentei falar um pouco sobre o papel da memória:

“Descendo do carro, um pequeno tropeço me lembrou de que eu não tinha mais quinze anos. Eu vestia sapatos – e roupas – bem melhores, me sentia melhor com meu corpo, tinha prioridade de embarque nos aeroportos pelo número de viagens que fazia, e fazia tanto tempo que não ouvia a sério o Sinto-me Letal....”

De alguma maneira, eu tentei condensar nesse trecho a sensação de retornar da memória de quando você era muito mais jovem, disparada por alguma coisa, à realidade que se vive agora. Como se esse retorno não fosse direto, mas fosse uma constatação do caminho todo, muito rápida. E eu sempre achei que a coisa mais bonita na nostalgia não era o momento dela, mas a passagem de volta para a realidade, e um pequeno momento de confusão entre as diversas etapas do passado e as diversas pequenas coisas do presente. Foi isso o que eu tentei expressar. 

Conexão Literatura: Qual a dica que você pode dar a um escritor iniciante?

Fábio Mariano: Acho que eu gostaria de das duas dicas bem breves. A primeira, uma que me deram algumas vezes: continue escrevendo. E a segunda é uma que vi uma vez o Paulo Scott dar para alguém pelo facebook, e achei simples e linda: não leve em conta as críticas de quem não gostar do seu trabalho.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir um exemplar do seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Fábio Mariano: Os dois primeiros livros estão a venda no site da Editora Patuá, é só procurar por Fábio Mariano lá. O terceiro pode ser comprado pelo site da Patuá, pelo da Ofícios Terrestres e também pelo link pag.ae/7W2z-5c7G. Para conhecer mais um pouco do trabalho, os leitores podem seguir o Instagram @ofabiomariano e procurar pelos contos nas revistas online Mallarmargens, Gueto, Literatura&Fechadura e Ruído Manifesto. E quem sabe logo vêm mais publicações online por aí.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Fábio Mariano: Foram três livros em três anos, mas três trabalhos que, de uma certa maneira, já estavam alinhados. Há mais contos guardados, mas quero esperar e trabalhar por esses livros, divulgá-los e, se possível, usar o que eles puderem oferecer às pessoas para estimular a literatura – a leitura e a escrita. E quero me dedicar à escrita de um romance – mas isso, com certeza, vai demorar mais algum tempo para acontecer.

Perguntas rápidas:

Um livro: Perifobia, da Lília Guerra.

Um (a) autor (a): Roberto Bolaño.

Um ator ou atriz: Juliette Binoche em A Liberdade é Azul.

Um filme: A Liberdade É Azul, do Kieslowski.

Conexão Literatura: Vivemos um momento difícil para a nossa literatura, com pouca valorização dos livros, escritores, livrarias? Considera um ato de resistência o lançamento do seu livro?

Fábio Mariano: O momento é difícil do ponto de vista institucional – o apoio minguando e um governo que despreza a cultura, a inteligência e os livros e celebra a violência e a barbárie. Mas vejo um movimento muito forte e bonito por parte das editoras independentes, dos escritores, dos agitadores culturais. Vejo pelos meus alunos, há ali adolescentes que estão salivando por literatura, e por uma literatura que os ajude a enfrentar os dilemas do seu tempo, do seu agora; e há editoras oferecendo isso, e grandes escritores. Meu livro é um ato de resistência, e não poderia deixar de ser – mas de resistência a essa combinação de violência e burrice que se apossou do poder no nosso país.

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terça-feira, 12 de março de 2019

Contos do livro ‘Enterrando Gatos’, lançado pela Editora Patuá, misturam a estranheza e o cotidiano

Obra é primeiro trabalho de ficção da jornalista e escritora Rafaela Tavares Kawasaki

Uma garota que pratica furtos para acariciar objetos e depois destroçá-los assiste ao caos gerado como consequência do próprio vício. Duas crianças cruzam sozinhas uma cidade, pela primeira vez, para resgatar um cachorro de estimação. Uma mãe digere a intenção de abandonar o filho em um parque de diversões, farta de enterrar animais que acredita terem sido mortos por ele.

Esses são alguns dos protagonistas dos sete contos que compõem o livro “Enterrando Gatos”. A obra, prestes a ser publicada e distribuída pela Editora Patuá, um dos principais selos independentes de São Paulo, é a estreia na literatura da escritora e jornalista araçatubense Rafaela Tavares Kawasaki.

O livro será lançado em 23 de março, às 19h, em São Paulo. O local do evento será o Patuscada – Livraria, Bar e Café, espaço da própria editora, localizado na rua Luís Murat. Haverá também um lançamento, previsto para a primeira quinzena de abril, em espaço cultural de Araçatuba.

CONSTRUÇÃO
Escrito em um estilo que mistura o impressionismo, a estranheza e elementos do cotidiano, os contos de “Enterrando Gatos” começaram a ser compostos entre final de 2017 e meados de 2018, ganhando reescrituras em 2019. Segundo a autora, enquanto as narrativas expõem, em um primeiro plano, os conflitos internos e externos dos personagens, fora da superfície elas refletem os maniqueísmos, uma tendência à histeria coletiva e ao linchamento, a empatia seletiva e o incômodo causado pelas imposições de padrões de comportamento que caracterizam a sociedade atual. “Eu queria contar histórias, sempre tive essa ânsia. Mas a ficção raramente se limita a relatos puros, ela é infiltrada pelo seu contexto histórico e o nosso é marcado pela passividade diante do absurdo, e explosões de violência. Os contos têm um pouco disso.”

As protagonistas são, em grande parte, mulheres. De acordo com Rafaela, elas surgiram de forma quase orgânica. A realidade do gênero feminino é plural, porém, é perspectiva com a qual a autora está mais familiarizada. Por outro lado, ela relata sentir uma urgência em dar voz a mulheres ao escrever, criar personagens femininas com camadas nem sempre agradáveis, porém, que fazem parte da construção de uma psicologia complexa.

Há escritoras cultuadas pelo público e crítica como contistas e romancistas na literatura ocidental dos séculos 20 e 21 que narram uma realidade feminina, como Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Alice Munro, Elena Ferrante, Chimamanda Ngozi Adichie e Joyce Carol Oates. “Contudo, é muito mais comum, quando temos contato com literatura clássica, lermos autores homens e estudarmos personagens mulheres idealizadas sob a ótica deles. Acredito que ler mulheres falando sobre mulheres ajuda os leitores a nos enxergar com seres mais múltiplos e menos estereótipos.”

Parte dos personagens inclui também crianças, fazendo emergir um relatos de perda de inocência nas histórias. A ambientação de parte dos contos é o Brasil atual, porém outros deles se passam em décadas como os anos 1980, 1990 e 1950.

CONTOS
O primeiro conto, “Porcelana”, acompanha uma menina que se apoia em furtos e destruição de pequenos objetos como válvula de escape para os próprios desgostos. Já o segundo, “Bolinha”, mostra o dia de dois irmãos que saem de casa sozinhos para buscar um cachorro perdido. Em “Enterrando Gatos”, conto que dá nome ao livro, uma mãe oscila entre a vontade de proteger e a de abandonar um filho ainda criança, que a perturba com o hábito de levar gatos mortos para casa.

O conto “Enjoy the Silence” é protagonizado por um casal de recém-casados que vivem uma crescente de ódio por um vizinho que os impede de dormir. Um menino saboreia a animosidade em relação ao namorado da mãe em uma viagem em “A madrugada ainda tem cinco horas”. Uma mulher revolta a vizinhança ao se negar a sepultar o marido em “Frutas Estragadas”. O último conto, “Poesia de Rodoviária”, tem como ponto de vista o de um atendente de rodoviária que presencia a ascensão e queda de uma moradora de rua ao se tornar uma celebridade local.

Rafaela Tavares Kawasaki - Foto divulgação
AUTORA
Hoje com 31 anos, Rafaela trabalha com a escrita desde 2011, quando começou a estagiar em um jornal. A escritora nasceu em Araçatuba em 1987. Cresceu no Japão, onde passou 12 anos e habitou diferentes regiões do arquipélago. É formada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Toledo, na mesma cidade. Ainda na condição de estudante, foi finalista do “Prêmio Santander Jovem Jornalista”, realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, em 2014. Atualmente trabalha como assessora de imprensa no Centro Universitário Toledo.

Ela recorda que aos sete anos gostava de escrever pequenos contos infantis, que registrava um caderno pequeno de capa vermelha. Resolveu voltar à prática na adolescência, quando se apaixonou pela literatura como leitora e até arriscava a redigir narrativas fictícias, porém costumava esconder ou até descartar os textos que escrevia. Trabalhar como jornalista e escrever diariamente, mesmo que em uma linguagem técnica e com relatos de não-ficção, além de ser uma atividade profissional, serviu de laboratório para a literatura e para encorajá-la a publicar os próprios contos.

EDITORA
A Editora Patuá - Livros são amuletos - é uma alternativa no mercado editorial: com o objetivo principal de publicar bons autores que ainda não encontraram espaço nas grandes editoras, mas que também não desejam pagar pela edição da própria obra. Seu objetivo é apresentar ao público livros com excelente qualidade gráfica e, sobretudo, literária.

A editora iniciou as atividades em fevereiro de 2011 e, após oito anos de muito trabalho e mais de 800 títulos publicados, estabeleceu-se como uma das principais editoras independentes do país, conquistando duas vezes o Prêmio São Paulo de Literatura, três vezes o Prêmio Jabuti, o Prêmio Açorianos e deixando autores e autoras finalistas e semifinalistas dos principais prêmios literários do país, incluindo os Prêmios São Paulo de Literatura, Prêmio Rio, Prêmio Jabuti.

SERVIÇO
O livro “Enterrando Gatos” será lançado em 23 de março, no Patuscada – Livraria, Bar e Café, localizado na rua Luís Murat, 40, Pinheiros, São Paulo.
A obra pode ser comprada nos sites https://editorapatua.minhalojanouol.com.br/ e http://www.amazon.com
Redes sociais da editora: https://www.facebook.com/editorapatua/
https://www.instagram.com/editorapatua/
https://twitter.com/editorapatua

CONTATO DA AUTORA
E-mail: rafaela.tavaresk@gmail.com

TRECHO DO LIVRO
“Se deslizar o dedo pela superfície fria da porcelana não fosse tão bom, Marina não teria prolongado a caça a objetos para acariciar e esmagar. Na verdade, não teria começado. O elefante indiano foi o princípio sem o qual não haveria sequências. Era um bibelô pequeno em meio a uma fauna de miniaturas que decorava a sala da Tia Lia. Apesar do tamanho, devia ser um favorito. Ocupava uma posição de destaque na cômoda de madeira envelhecida. Foi o primeiro de uma coleção de objetos conquistados e destroçados.

Era inevitável esfregar o dedo no bibelô depois do contato inicial. As bochechas e a barriga tinham curvas lisas de porcelana, mas as orelhas e a manta cheia de arabescos em relevos raspavam de leve no dedo. O bibelô tinha uma frieza que contrastava com o mormaço da cidade. O toque refrescava, abria distâncias entre a circunferência da sala onde Marina se encontrava e as outras pessoas da casa.

Sentir o bibelô nas mãos a afastava até da lembrança recente uma tentativa escapar da cozinha sem ser percebida. Foi durante essa fuga que esbarrou na cômoda. Seus pés tocaram o carpete do corredor quase sem fazer barulho, em contraste com sua habitual caminhada forte de quem tem pressa, que tanto irritava a mãe. É muito feio uma mocinha pisar com tanta força, anda direito! A mãe sempre diz o que mocinhas devem ou não devem fazer – e geralmente elas fazem o oposto ao que Marina faz.

Ela fugia não da cozinha em si, mas das pessoas. Especialmente Tia Lia. Mas você já está comendo de novo, meu anjo? Olhe o apetite dessa menina, benzadeus. Dá uma controlada, lindinha. Daqui a pouco você não consegue mais entrar em casa, hein? Os outros adultos da cozinha soltavam risinhos nervosos afiados o suficiente para se entranhar nos poros, atingir o sangue que percorria o braço de Marina e esfriá-lo. Não era um frescor como o toque prazeroso da porcelana, era um arrepio. A fatia do bolo permaneceu no prato depois da primeira garfada.

Ninguém viu Marina quando ela tentou se esconder atrás da cômoda da sala, batendo o braço nas miniaturas. Ou quando seus dedos agarraram o elefante de porcelana antes que ele caísse no chão. Marina foi sua salvadora naquela hora, grande ironia. Uma força maior a impeliu a escondê-lo na bolsa até o fim daquela tarde de domingo. Era prazeroso apalpá-lo de vez em quando por baixo da mesa, sem ninguém notar. Em algum momento, a tia perceberia a ausência do pequeno elefante indiano, mas não enquanto Marina estava na casa. Ah, no entanto, ela tinha de sentir falta em algum momento. O elefante enfeitava tão bem a cômoda de madeira envelhecida. As marcas circulares de limpeza deixadas pelas quatro patas no meio de uma camada espessa de pó chamariam atenção mais tarde. Marina não as espanou. Era excitante deixar pistas.

Só Marina sabia onde estava a miniatura. Era seu segredo e ela brincava com ele. Os olhos dela foram os únicos naquela noite a ver o bibelô ser quebrado com golpes de uma bota ortopédica já aposentada.

Daqui a pouco você não consegue mais entrar em casa, hein? Paft. O sorriso torto da Tia Lia. Paft. E então, não era só a Tia Lia. A voz áspera da mãe quando ela proibia Marina de correr com as outras crianças. Paft. Mas isso lá é nota? É para isso que você me faz enfiar dinheiro naquela porcaria de escola? Paft. A andança por consultórios até encontrar um médico que aceitasse receitar o remédio para cabeça que Marina sabia que não precisava. Paft. O apartamento pequeno do padrasto onde você escuta todos os barulhos que não queria escutar porque os quartos são próximos e as paredes finas. Paft. Ser obrigada a morar lá, porque o pai diz que sente tanto a falta da sua menininha, mas desconversa quando ela insinua que queria passar mais tempo com ele. Paft. Os doces que Marina não podia comer, porque estava engordando ou porque sua pele ganhava mais espinhas. Paft. Senta que nem mocinha. Fecha essas pernas. Vadias é que fazem assim. Paft.

O pequeno elefante indiano foi reduzido a pó. Todos os “sim, senhora” que Marina dizia sem querer e todos os “nãos” que ouviu a contragosto também se dissolveram. Ninguém viu a destruição. Só Marina. A exclusividade era o que chamavam poder, ela soube, então. Era tão bom! Marina precisou reviver a sensação. O pequeno elefante indiano teve muitos sucessores.”
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Lançamento de Xadrez, de Eduardo Carvalho (Editora Patuá)

Sinopse: Xadrez é um romance epistolar que transcende o gênero com acréscimos de poesia, resenha literária, cinematográfica e musical, além de traçar, en passant, uma crônica de um período marcado pela transição política da ditadura à democracia no Brasil. Não bastasse, é também o relato de um emocionante embate entre dois enxadristas que colocam no tabuleiro as determinações de suas existências.

Joel - um carioca detento em Fortaleza por ter assassinado a esposa e o amante - ao aceitar o convite de Emanuel - um velho e solitário português recém-chegado ao Brasil - para uma partida de Xadrez por correspondência, não podia supor, nos primeiros lances, a íntima amizade que nasceria entre os dois estranhos e as oportunidades que disso derivariam até um final surpreendente.

Sobre o autor:
Eduardo Carvalho sempre atuou na intersecção entre Cultura, Educação e Política, tendo emprestado da Comunicação Social as ferramentas para as pontes. Estudou Farmácia e Bioquímica e Letras na USP e formou-se em Comunicação Social na ESPM. Foi professor, teatrólogo, jornalista, publicitário, assessor político. Desde 2015, dedica-se exclusivamente à Literatura e já recebeu diversos prêmios, entre eles o Oliveira Silveira e o de Incentivo à Publicação, ambos do Ministério da Cultura.

Publicou também O Teatro Delirante (2014 – poesia erótica e lírica), Retalhos de Sampa (2015 – poesia), ambos pela Editora Giostri e Sessenta e Seis Elos (2016 – romance) pela Fundação Palmares MinC.

Para adquirir: clique aqui.

Informações sobre o lançamento, que ocorrerá no dia 23 de março, em S. Paulo: clique aqui.
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sábado, 12 de janeiro de 2019

Luanda Julião e o livro A Ária das Águas (Editora Patuá)

Luanda Julião - Foto divulgação
Luanda Julião é doutoranda em filosofia francesa contemporânea na Universidade Federal de São Carlos. Mestra em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo. Professora de Filosofia e História nas escolas da rede pública estadual na capital paulista. 

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Luanda Julião: Eu comecei a escrever em 2003. Na época eu fazia faculdade de Jornalismo e o trabalho de conclusão de curso era fazer uma grande reportagem em formato de livro. No jornalismo chamamos isso de literatura não-ficcional. Foi assim que eu escrevi o meu primeiro livro. Esse livro conta a história de alguns bolivianos que vieram tentar a vida em São Paulo, mas nunca foi publicado, embora eu tenha tirado a nota máxima na faculdade. Escreve-lo me ajudou muito a descobrir a arte de tecer um livro, toda a pesquisa envolvida, todo o esforço.

Conexão Literatura: Você é autora do livro “A Ária das Águas” (Patuá). Poderia comentar?

Luanda Julião: O livro A Ária das Águas é o meu primeiro romance editado e publicado pela editora Patuá. É um livro muito especial pra mim, não só porque foi o meu primeiro livro a ser publicado, mas por ter sido composto num período em que meu pai ficou muito doente, passou muito tempo internado em virtude de um câncer, veio a falecer. Embora não seja um livro autobiográfico, esse livro tem muito do que eu li para compreender o câncer que tirou a vida do meu pai.  



Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?

Luanda Julião: Pesquisei as relações entre bioética e o direito, também chamado de biodireito, me concentrando principalmente nas questões sobre a eutanásia, ortotanásia e distanásia e todos os aspectos médicos e jurídicos envolvidos. Como o personagem principal é um maestro e compositor pesquisei também sobre música clássica, Gustav Mahler e composição musical. Levei dois anos para concluir o livro, que foi escrito entre 2011 e 2013.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do qual você acha especial em seu livro?

Luanda Julião:
"- Essa é a passagem dos violinos. Os altos – disse Paolo, apontando com o olhar e o queixo a folha que Sarah segurava entre os dedos.
Sarah leu atentamente a partitura, uma, duas vezes. Para não ter dúvidas tocou-a no piano.
- Pare! – ordenou o maestro com a voz trêmula - Estão carregados demais. Sarah tocou mais uma vez, dessa vez com os olhos fixos na partitura e acrescentou:
- Talvez devêssemos acrescentar uma harmonia mais sinuosa e deslizante.  
Paolo pediu que ela tocasse de novo e de novo e de novo, dez, vinte vezes. Perfeccionista, o compositor exigia precisão. Nenhuma nota podia ficar fora do tom. 
- Precisamos de um som mais limpo e encorpado – disse ele na vigésima vez.
Às vezes, depois de repassar inúmeras vezes uma mesma passagem, dedilhá-la até arredondá-la, Sarah interrompia o trabalho e emocionada, perguntava: 
- Papai, você nunca se perguntou como uma aglutinação de notas, uma harmonia é fonte de tanto deleite? De onde vem o poder divino, a experiência sublime da música? 
Ele a fitava. Já ouvira a mesma pergunta dezenas de vezes e qualquer resposta que pudesse dar não supriria a dúvida. Dessa vez, ele recorreu a Pitágoras, parafraseando-o para respondê-la: 
- A música origina-se no mundo celeste e, se o homem está ciente do fato ou não, ela serve para preservar nele, embora de maneira muito tênue, alguma recordação das esferas divinas das quais ele veio e para as quais ele está destinado a voltar. Ela é importante para prevenir o homem de cair no esquecimento de seu verdadeiro lar. Deve ser uma manifestação terrena daquilo que a gente encontra no mundo celeste.
Ela riu, concordando.
   - Nunca fui um homem religioso, você sabe muito bem disso, mas sempre me julguei falando com deus todas as vezes que toquei. Quando componho é como se eu ouvisse a sua voz, como se o clamor divino e acolhedor soasse no deserto do meu ser. 
Sarah estava atenta. Abandonara o teclado do piano e sentara ao lado do pai para ouvi-lo melhor. Ele fixou os seus olhos e concluiu:
   - Mas não é uma voz que vem dos céus, das alturas, é uma voz que sai de mim e retorna a mim. Deus está dentro de mim.
Ela aproveitou a deixa e perguntou tristemente:
 - E você vai ter coragem de matar o deus que está dentro de você? Logo agora que essa voz está mais viva do que nunca...
- Nós já conversamos sobre isso.
- Desculpe-me, papai. É que eu não pude resistir...
- Eu sei querida – respondeu ele, beijando a mão da filha. Fez uma pausa e continuou:
   – Na verdade, a voz sempre soou, eu é que nunca tive coragem de dar forma e vida a ela – deu um longo suspiro e concluiu: 
- A vida é irônica. Quando finalmente se decide ouvir os seus sons, quando as coisas se tornam grandes e plenas de sentido, o corpo resolve padecer e nos retirar do espetáculo." 

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir um exemplar do seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Luanda Julião: O livro está disponível na loja online da editora: https://editorapatua.minhalojanouol.com.br

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Luanda Julião: Estou concluindo um livro de Contos e minha tese de doutorado.

Perguntas rápidas:

Um livro: A insustentável leveza do ser
Um (a) autor (a): José Saramago, Conceição Evaristo 
Um ator ou atriz: Viola Davis
Um filme: Melancolia
Um dia especial: O dia em que minha sobrinha Esther nasceu. 
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quinta-feira, 22 de março de 2018

Thalita Pacini e o livro O meu grande avô, por Sérgio Simka e Cida Simka

Thalita Pacini - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Sou uma existência inquieta, que encontra uma forma de organizar os estímulos do mundo no ofício da escrita. Iniciante, com dois livros publicados, tenho alguns textos de opinião espalhados pela internet, alguns até mesmo imaturos, que penso fazerem parte de um processo de construção pessoal constante. Contribuí para alguns veículos de comunicação na internet, e fui colunista do site Programa Território Animal. Sou mãe de três crianças maravilhosas, Manoela de 12 anos e Pietra e Antonella, que são gêmeas, com 3 anos. Elas me exigem ter pés no chão, na mesma proporção que me estimulam ao exercício criativo. Neste momento busco conciliar a maternidade com projetos independentes. Concluí a licenciatura em Letras, e algum tempo depois finalizei a Pós em Comunicação e Marketing e iniciei outra em Psicopedagogia. Tenho experiência em diversos segmentos, com atuações voltadas a Comunicação e Design, no ambiente corporativo, bem como também tive oportunidade de atuar na área da educação. Sou atraída por teorias e estudos sobre o comportamento humano, arrisco algumas ilustrações e fotografia, tento não me afogar nos excessos das redes sociais, tenho muito entusiasmo com a Neurociência, com a força do feminismo, esperança no foratemer e desejo de contribuir em pautas sociais e humanistas.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre seus livros.


Meu primeiro livro publicado foi O meu grande avô, que traz algumas situações singelas entre uma menina (ilustração inspirada em minha filha Manoela) e o seu avô. O apelo é mais poético, descomplicado, com alguma sonoridade para que proporcionasse um momento de interação em família ou escola. É voltado à primeira infância, com ilustrações muito agradáveis do André Marques, remete a algumas situações bem-humoradas de amizade entre os dois. Embora seja um livro curto, cuja intenção é que seja lido para a criança, fala da troca benéfica entre gerações. Quis exaltar o que há de mais espirituoso no encontro delas, por meio de cenas curtas. O André também dedicou o desenho do avô ao próprio pai. Nos conhecemos pela internet, quando eu tentava propor uma parceria para a inversão do processo criativo na construção de texto e imagem. O André topou o projeto independente, e quando finalizamos nossa parte a Uirapuru nos deixou muito felizes pelo interesse - além da sempre notável gentileza do editor Egídio Trambaiolli Neto. Graças a este projeto pude conhecer o ator Lázaro Ramos e realizei a ousadia de ter o lançamento numa livraria famosona (risos).

O Blasfêmea foi publicado pela Editora Patuá, e tratado com muito respeito e cuidado pelo editor Eduardo Lacerda (que tem a proposta de promover a poesia de uma forma muito árdua e apaixonada). O livro não tem compromisso algum. Contém algumas doses de intensidade humana, versos que se comprazem em questões íntimas, provocações e os deliciosos comentários do ilustre Márcio Américo (humorista e roteirista - entre outros talentos) e do jornalista Felipe Voigt.

A propósito, ambos podem ser adquiridos nos sites das editoras.

O meu grande avô: clique aqui - Blasfêmea: clique aqui.

Qual o motivo que a levou a escrevê-los?

Sobre o primeiro: meu avô materno marca presença forte e saudosista na minha infância, por sua figura simples e atenciosa. Era um dos poucos na família que gostavam de ler, e seus livros na estante me aguçavam a curiosidade. Tinha para mim que sua vida nos afazeres do porto de Santos era uma grande aventura, cheia de histórias de bichos, convívio com as baleias, piratas - certa vez ele trouxe um lagarto para casa. Mas na verdade o trabalho lhe causou a morte por contaminação em tanques químicos. A figura dele despertava o meu imaginário. Assim como minha primeira filha, hoje com 12 anos, tem a presença de seus avós (o meu pai, especial no processo todo) muito marcante, cada qual a sua moda.

Já o Blasfêmea foi um processo muito diferente, quase que visceral e mais longo. Algumas brincadeiras com a palavra, protestos, críticas, experimentações. Poemas que ficaram no ventre por mais de uma década, e então foram revisitados, outros concebidos mais tarde junto com a apropriação de vivências. Expressa um pouco a vontade se rebelar sutilmente com questões relacionadas à religião, política, às opressões, e até comigo mesma.

Como analisa a questão da leitura no país?

Acredito que não basta acessarmos estatísticas oficiais para interpretar a situação. Enquanto uma pessoa pode ler 5 livros por ano (acredito que os dados nem cheguem a isso), outras tantas nem sequer sabem ler, e temos aí uma média em desequilíbrio - e veja que o Brasil nestes indicadores não está nem próximo de um cenário razoável. Os outros termômetros estão nos altos índices de desconforto social, na miséria, na falta de civilidade, de conhecimento dos próprios direitos, na ausência de participação política, nos níveis de preconceito, nas próprias relações sociais em face do descaso com as searas educacionais, científicas e artísticas. Acredito que o analfabetismo, inclusive o funcional, chega a ser um problema de saúde pública, já que pode ser consequência de falta de recursos durante o desenvolvimento infantil. O livro, em determinados contextos, não chega a ser prioridade onde se fazem prevalecer a busca pelo básico à sobrevivência. O estímulo à leitura vem de iniciativas graduais, e não vemos uma incorporação massiva como é realizado com o futebol ou a sexualização nos programas de domingo. Pensando em minha experiência com a religião, vejo outro fenômeno: como é possível multidões defenderem, com fervor, escritos que desconhecem, e nortear suas vidas e muitas vezes as dos outros, em razão disso? Além da necessidade de estimular o senso crítico, o exercício do livre pensar, a quebra das censuras e dos conteúdos simbólicos embutidos nas relações de poder, ainda é necessário atentar que tudo isso depende de boas condições orgânicas e ambientais. Ler é poder, não se manobra tão facilmente seres empoderados, não sem alguma consequência e resistência. É fácil convencer uma pessoa com fome, com sede, com déficit cognitivo, vulnerável e em situação precária. E mesmo com a internet promovendo como nunca tanta informação e interação, somos condicionados cada vez mais a consumir tudo pronto, engolir sem mastigar, de alimentos a ideias, anúncios não solicitados dos quais se é obrigado a ver ao menos alguns segundos antes de prosseguir, de ter que se modelar para caber na estante como um produto que atenda ao ritmo que o mercado impõe. Para o escritor a questão é também confusa: não é valorizado, a grande maioria não pode sobreviver de suas habilidades. Há uma desvalorização sistemática da leitura. Sou totalmente apaixonada pelo SLAM, que seria a poesia falada. Algo muito intenso, que ocupa os espaços públicos, geralmente marginalizados, onde o grupo vai se apropriar do que lhe é direito, com força total. Daí a leitura como manifesto, reação, ato, resistência.

Como vê a literatura infantojuvenil nacional contemporânea? E o mercado de e-books?

Acho que a cena rentável do mercado editorial atua comprometida com o poder de adequação de um autor ou obra. Há exceções. Mas basta um passeio pelas livrarias, e vasculhar a estante. São pilhas de autores importados, alguns nacionais dos quais nunca ouvimos falar e o glamour dos consagrados há décadas. Estes que geralmente figuram em literatura obrigatória nas escolas, indiscutivelmente, são autores atemporais. A questão não seria removê-los, mas sim abrir espaço aos tantos talentos que emergem. Alguns de nós aspirantes não queremos ser bons em socializar, palestrar, ter canais de vídeo na internet. Queremos escrever e sermos valorizados por isso. Essa orientação multitarefa, hoje cada vez mais exigida, pode ser massacrante. É muito bom que as pessoas adquiram habilidades múltiplas. Mas será que cada uma delas não deve manter seu valor?  Alguns escritores vivem de cachês de eventos, atividades paralelas e não de seus textos. Vejo que este paradigma é incorporado silenciosamente: você empacota diversas habilidades, quanto mais, melhor, mas é o leve 10 pague 5, a escrita sai de brinde. Dessa forma, uma ou outra ocupação se desvaloriza.

Os e-books são interessantes, acredito que as surpresas do mundo tecnológico não param por aí. São uma maneira de a literatura se adaptar, sobreviver, atender às necessidades das novas gerações, ser compartilhada, ter o alcance multiplicado. Não entendo muito ainda desta modalidade, sobre a partilha de conteúdos na rede, e como isso gera inclusão e também receita. Gosto da ideia de as pessoas partilharem com as outras de forma gratuita nesse formato. O que é bem diferente do conceito de exploração e desvalorização do todo. Os audiobooks e outras adaptações também pensadas para a inclusão mereciam mais evidência. Têm um alto valor educacional, um relativo apelo ambiental também. Particularmente não consumo por questões "ergonômicas e de pele" (risos), não consigo substituir o prazer de carregar, folhear, o livro físico.

Para você, o que significa ser escritor?


Ser escritor significa estabelecer um diálogo público, a partir de um monólogo íntimo, com sistemas e esquemas instáveis - incluindo a língua (risos). Às vezes acho que o escritor é acompanhado de uma certa castração quando é lido, pois os mundos criados nas cabeças dos leitores ficam lá, infinitos, num imaginário intangível.

O que tem lido ultimamente?

Pretendo terminar a leitura de Escola de Equitação para Moças, de Anton Disclafani. Comecei a ler em paralelo A Metamorfose, de Kafka, mas vou às prestações. E tenho sempre à mão o Poemas Incompletos e outros textos, do grande poeta e amigo Norival Leme Júnior.

Quais os seus próximos projetos?

No momento busco organizar uma série de projetos independentes, tanto na literatura infantil quanto poesia - livros que precisam passar por mais algumas etapas. E a finalização de um romance de terror - nunca me senti tão à vontade em um gênero; que vem amadurecendo bastante, ainda sem editora. Tenho algumas ideias para roteiros, este segmento é um mistério irresistível para mim, do qual pretendo me aproximar.

*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
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