Possui
licenciatura em Letras e Pedagogia. É professora de Língua Portuguesa no ensino
básico desde 2005. Desde o mestrado, estuda a literatura pornográfica. É doutora
(CNPq) em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista (FCLAr). Fez
doutorado-sanduíche (CAPES) na Universidade Nova de Lisboa em Portugal. Além de
diversos artigos publicados, tem ainda capítulos nos seguintes livros:
Linguagem,
sentido e sociedade (2017); Mulheres contemporâneas: discurso e
produção de sentidos (2019); Literatura erótica e
pornográfica: estudos teóricos e críticos (2020); e Ciências da
linguagem em perspectiva (2020). Participa do Grupo de Estudos Bakhtinianos
de Gêneros do Discurso (GEBGE), da Universidade de Franca (Unifran), e do Grupo
de Estudos Filhas de Avalon, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Publicou
a sua tese em livro em 2020: “Um ‘depoimento sócio-histórico-lítero-pornô’: relações
dialógicas, carnavalização e corpo grotesco em ‘A casa dos budas ditosos’, de
João Ubaldo Ribeiro”. No Instagram, em seu perfil @letra_erotica, trata da
literatura e da crítica no campo da pornografia.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia
contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Rosana Pugina: desde a infância, tive
contato com obras literárias pertencentes à biblioteca da minha mãe, privilégio
este que, infelizmente, poucas pessoas têm. Já na idade escolar, fui
alfabetizada em casa pela minha mãe, que também tem formação em Letras, por
meio da leitura das aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro
Lobato, de onde partiu a minha paixão pela literatura. Daí em diante, sempre
estive rodeada por livros. Durante a graduação,
meu leque de conhecimentos literários se ampliou consideravelmente, de onde
deriva o meu interesse por obras marginalizadas pelo cânone dito universal. Em
consequência disso, no mestrado, fui estudar a literatura erótica através da análise
de contos brasileiros do século XXI, e no doutorado, debrucei-me sobre o gênero
romance, com ênfase na obra A casa dos budas ditosos, do escritor baiano
João Ubaldo Ribeiro.
Conexão Literatura: Você é
autora do livro Um "depoimento sócio histórico-lítero-pornô”. Poderia
comentar?
Rosana Pugina: Sim, sou a autora desta obra que traz o
resultado da minha trajetória como pesquisadora em nível de doutorado no
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual Paulista
(Unesp/FCLAr). O livro apresenta temas relativos à história da literatura erótica
mundial e também brasileira. Para isso, passeia por muitos conceitos, tais como:
erotismo, pornografia, obscenidade, carnavalização, grotesco, estudos
bakhtinianos, gêneros discursivos, etc., todos eles bastante caros à análise que
proponho a partir da leitura do romance ubaldiano citado.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação?
Quais são as suas inspirações?
Rosana Pugina: é importante ressaltar que a minha obra
não é literária. Como disse anteriormente, é resultado da minha pesquisa de
doutorado. Entretanto, mesmo que a escrita não seja literária, é preciso que haja
inspiração para que a análise proposta seja interessante e proveitosa para o
leitor do ponto de vista acadêmico. Ademais, o meu objeto de estudo é uma obra
literária, fato este que, de um jeito ou de outro, traz a magia dessa arte à
baila em toda a obra.
Conexão Literatura: Poderia
destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Rosana Pugina: Singularmente, gosto das conclusões. Aponto
aqui o último parágrafo da publicação, inclusive porque explana o título da
obra: “sobre
o romance objeto da pesquisa, espera-se ter analisado profundamente CLB, uma mulher senhora do seu
corpo e dos seus atos, em cuja axiologia sobressai uma orgulhosa legitimação do
prazer em oposição ao caráter maldito que o discurso religioso atribuiu historicamente
ao corpo e à sexualidade. A sua gênese, portanto, refrata e reacentua vozes do grande
tempo. Sob o arcabouço teórico proposto, intenciona-se ter demonstrado a sua tendência
singular de anarquizar o discurso e ver, com olhar crítico, os usos e os
costumes da sociedade: subversão e carnavalização são elementos constitutivos
da personagem, que vive e propõe a vida saturada por uma liberdade sexual plena
até a velhice, tendo registrado tudo isso em seu ‘depoimento
sócio-histórico-lítero-pornô’”.
Conexão Literatura: Como o
leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco
mais sobre você e o seu trabalho literário?
Rosana Pugina: O meu livro está à venda no site
Estante virtual, basta procurar por “Rosana Pugina”. Sobre mim, além dos textos
da orelha e da contracapa do livro, indico a minha conta no Instagram (@letra_erotica),
na qual faço indicações de livros no campo da pornografia e também nos estudos
relativos a esse tema. Como sou pesquisadora, tenho perfil na Plataforma Lattes,
no qual listo todas as minhas produções acadêmicas no área da literatura
pornográfica, que é um campo bastante profícuo nos estudos literários, haja
vista a curiosidade que as temáticas de Eros despertam nas pessoas.
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores
em início de carreira?
Rosana Pugina: Para mim, é melhor falar com
pesquisadores em início de carreira. A minha dica é: amem os seus objetos de
análise para que vocês possam ter sempre ânimo e inspiração para continuar as
pesquisas. Afinal, serão anos de contato direto com o corpus selecionado
nos âmbitos acadêmico e pessoal, situação esta que exige que tenhamos muito
apreço pelo nosso objeto de estudo, bem como por nossas escolhas teórico-metodológicas.
Portanto, pesquisem com paixão, assim, o trabalho não será tão árduo.
Conexão Literatura: Existem
novos projetos em pauta?
Rosana Pugina: Sim, na sequência, penso em seguir os
meus estudos em nível de pós-doutorado, agora no campo da literatura erótica
sadomasoquista, outro nicho bastante marginalizado pelo cânone e também pela
própria academia.
Perguntas rápidas:
Um livro: Três, na verdade
(risos), a trilogia pornográfica de Hilda Hilst, presente na obra PornoChic
(2018).
Um ator ou atriz: Prefiro
escritor ou escritora. João Ubaldo Ribeiro e Simone de Beauvoir.
Um filme: O carteiro e o
poeta
Um hobby: as minhas gatas:
Simone de Beauvoir e Clarice Lispector
Um dia especial: Meses especiais,
na verdade: o tempo em que vivi em Lisboa para cursar uma parte do meu
doutorado.
Conexão Literatura: Deseja
encerrar com mais algum comentário?
Rosana Pugina: Espero trazer luz às questões abordadas
por João Ubaldo Ribeiro na obra A casa dos budas ditosos, especialmente quanto aos
assuntos relativos à sexualidade feminina, à liberação das amarras sociais e à
superexposição do corpo e do sexo. Como estou por aí, pelas redes, gostaria de interagir
com os leitores da minha pesquisa para que possamos, juntos, dimensionar a
riqueza da literatura erótica, sublinhando a forma magistral como Ubaldo faz
isso no romance estudado.