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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Conto "Jogar é Um Negócio Arriscado", por Roberto Fiori

 

Astronave Allambik, de Omnium - Divulgação

“Não vai durar uma hora na Floresta”, Omnium, de Beta Centauri, pensou.

“E você lá sabe em quem eu apostei, rapazinho?”, as ondas cerebrais Alpha, de Krokus Allandir, do distante mundo de Bettelgeuse-14, responderam.

“E você sabe o que eu penso de suicidas em potencial, certo?”

“Tanto quanto você, garoto, tanto quanto você.

A troca de pensamentos se dera de modo descontraído, no último andar do complexo, coberto por uma cúpula de neodime. Omnium, um hominídeo de três olhos e um metro e sessenta e cinco centímetros de altura, levava desvantagem, quando se tratava de apostas. A última em que se metera fora em Paleos, um planeta quente, no hemisfério oposto ao que recebia a radiação de seu Sol inclemente. Todos sabiam que Omnium era um mau perdedor, nos planetas situados aquém do triângulo cujas arestas estavam a Terra, Paleos e Beta Centauri. Mesmo na Terra, lugar apinhado de trapaceiros e viciados em busca de meios para sustentar seus prazeres mundanos, Omnium era mal visto.

“Façamos uma mudança na aposta, Omnium. Triplico seu valor, e, em troca, te ofereço meu iate particular, em adição ao que combinamos”.

“Seis milhões em moeda? Mais treze milhões por uma espaçonave enferrujada? Nada feito, fiquemos no triplo da aposta em dinheiro. Não quero levar para casa um monte de aço enferrujado, obrigado”.

Krokus suspirou, apoiou-se na beirada do alto edifício e pensou:

“Vá lá, vá lá. Não vou passar por ambicioso”.

Voltaram às dependências do bar suspenso. Estavam bebendo, enquanto Val Meyer corria entre as árvores, perseguido por Elyustand, de Marte. A Floresta era aberta, o solo assemelhava-se a um carpete de doze centímetros de espessura, aparado com cuidado extremo. As árvores, seus troncos bulbosos e os galhos delgados, cresciam a intervalos de vinte a trinta metros. Uma vez ou outra um fruto maduro de dez quilos caía, explodindo no solo. Nem os galhos eram fracos, podiam aguentar um peso de mais de cem quilos, nem a camada superior do chão era frágil, suportaria um impacto de dez toneladas. Mesmo se uma árvore tombasse, a parte inferior da superfície sustentaria o choque de cem toneladas, de uma única árvore. Mil metros abaixo, o planeta era vulcânico, em estado semilíquido. 

Meyer estava desarmado, mas o norte-americano era rápido. Vencera por sete vezes consecutivas a prova de atletismo em Beta Centauri, nos dez mil metros em ambiente de gravidade 2 Gs e, tanto Omnium, como Allandir, sabiam que, quanto a isso, o terrestre venceria a aposta. Mas seu antagonista marciano tinha a seu favor uma pistola de raios, um fuzil laser equipado com mira telescópica, granadas de mão caloríficas incendiárias utilizadas em guerra ou guerrilha urbana, um traje blindado autossuficiente para dez meses isolado no espaço ou em um planeta que orbitasse uma estrela supergigante azul, recebendo um nível de radiação cem vezes o da Terra.

Meyer parou em uma encruzilhada em “Y”. Seguiu para a trilha da esquerda, onde sabia existir uma lagoa ácida, e correu o máximo que pôde. As chuvas ácidas cairiam em uma semana e ele sabia que, se continuasse desarmado, suas chances seriam nulas.

Chegou à lagoa em cinco minutos, a uma velocidade de setenta quilômetros por hora, e analisou a paisagem. Deu uma pequena corrida e atingiu uma altura de cinco metros, começando a trepar uma árvore adequada. Havia uma espécie de ninho de larvas que viviam no ácido, a uma altura de cinquenta metros e Meyer avistou seu inimigo, na encruzilhada. Ficou imóvel em um galho, do lado oposto ao da trilha.

Elyustand consultou o único aparelho rastreador que a prova permitia, um medidor no infravermelho que escaneava a temperatura de uma zona de cem metros por cem, e cem metros de altura. O aparelho era bom, confiável, e, se ele se recusava a aferir a lagoa, o solo e as árvores com precisão, era porque não havia nada a ser mostrado. Elyustand girou o corpo da esquerda para a direita, repetindo a varredura, mas Meyer devia ter seguido pela outra trilha. O marciano elevou sua cabeça, os sensores ópticos de sua couraça pouco revelando. Ouviu-se um troar baixo, a respiração pesada de Elyustand, quando ele suspirou. Virou-se e saiu da zona ácida, voltando pela trilha.

O terrestre ouviu as passadas pesadas que a roupa blindada do oponente fazia no solo e contou até cinquenta. Espiou pelo lado do tronco da árvore onde se ocultara e viu que nem havia sinal do inimigo, nem ele podia saber se estava ou não em segurança. Continuou a subir. Chegou a dois metros de distância do ninho de larvas. Era um saco feito de seda tecida por vespas, em cujo sangue corria o ácido da lagoa, no centro da clareira. A jogada era arriscada, mas valia a pena. Meyer deu um passo para o lado e pisou sobre um galho fino. Acocorou-se e puxou o graveto. Foi necessária toda sua força para quebrá-lo, mas ele o conseguiu. A madeira era resistente.

O americano começou a bater no tronco oco com o galho, produzindo sons que se propagariam por uns quatrocentos metros de raio. Elyustand estava na trilha, voltando para a encruzilhada, quando ouviu. Uma das regras do teste era que os sensores de áudio de seu capacete tinham de ter “abafadores”, para que a direção da origem fosse impossível de ser rastreada por meios eletrônicos. O marciano sentiu raiva. Tamanha tecnologia das armas e nenhum avanço no sentido de se descobrir onde Meyer estava. 

“Besteira”!, ele pensou. Virou-se com lentidão, tentando localizar o som incessante. Sem poder correr, devido ao peso da armadura, voltou pela trilha. Chegou à clareira, onde uma névoa densa flutuava do solo, em locais onde a concentração ácida era elevada. O som vinha do alto de uma árvore dotada de um bulbo desenvolvido, além do que poderia se esperar das árvores que se alimentavam do ácido que o solo concentrava.

Sem olhar para o alto da árvore, disparou dez fachos de luz laser com seu fuzil. O barulho continuou. Elyustand xingou alto e olhou para o topo da árvore. O ninho de larvas foi cortado da conexão de seda com o tronco e o marciano susteve a respiração.

O ninho se desfez numa explosão de ácido, seda e larvas, no capacete de Elyustand. Uma nuvem de vapor se elevou e insetos predadores se aproximaram, vindos da lagoa. Ela existira por milhões de anos, abrigando uma fauna e uma flora diversificada e perigosa. Centopeias e aranhas, que se alimentavam das larvas do ninho das vespas, subiram à superfície, os neuroreceptores acusando alimento, próximo. Uma espécie de serpente, imune ao efeito corrosivo da lagoa, atirou-se contra Elyustand. Do ar, moscas do tamanho do estômago de Meyer pousaram no capacete metálico, começando a perfurar o metal à prova de radiação, com seu ferrâo duríssimo.

No alto da árvore bulbosa, Meyer continuou a subir, alcançando uma quantidade de galhos de outra árvore, vizinha à que ele se encontrava. O terrestre caminhou pela madeira delgada, mas forte, até sua extremidade, e dali mergulhou no vazio. Mas não se espatifou no solo, ele segurou-se nos galhos próximos ao lugar de onde saltara. Soergueu-se sobre um ramo espesso e desceu pelo tronco. 

Vigiava Elyustand, que tombara, impotente com o peso dos insetos e animais que o cobriam. Meyer resolveu que sairia da clareira o mais rápido possível, queria estar longe quando os habitantes da lagoa injetassem veneno ácido no corpo do marciano. Já vira acontecer e testemunhar uma morte dessas duas vezes era muito para sua mente. 

--//--


Krokus Allandir observava a cena pela luneta do topo do edifício que servia de local de apostas. Passou a língua pelos lábios, quando conseguiu focar na carnificina que estava acontecendo a três quilômetros do prédio, na clareira. Apertava com força as alavancas que controlavam a altura e a distância pelas quais a luneta podia ser ajustada.

“Vendo a matança, Krokus? Você já assistiu a ela quantas vezes, bettelgeusiano?”

Allandir ignorou Omnium. Estava satisfeito. Quando o corpo do marciano, que tentara fugir dos predadores da floresta, foi aprisionado em uma algaravia de teias de ácido sulfúrico elaborado pelas aranhas da lagoa, pelo ácido nítrico e clorídrico que as centopeias gigantes aquáticas regurgitavam de seu interior, e perfurado por moscas superdesenvolvidas que, ao mesmo tempo em que furavam o corpo de Elyustand, devoravam-no, ele deu uma risadinha e voltou-se para Omnium.

“Se pensa que um banquetezinho como o oferecido aos insetos da floresta e demais animaizinhos adoráveis me revolve o estômago, está enganado, baixote. Você perdeu, me deve seis milhões de créditos lunares.”

“E desde quando apostei no marciano encouraçado? Peça dinheiro aos organizadores do torneio, é para isso que eles servem, para pagar a aventureiros e delinquentes como você o que não merecem.”

“Quer me acompanhar para um café, Omnium? Só depois, vou pegar meu dinheiro.”

“Claro, bettelgeusiano mesquinho. Em Beta Centauri, cozinharíamos seu cérebro em creme de leite jupiteriano, para comê-lo num jantar de gala.”

Allandir sorriu. Entraram no elevador social. O homem alto pressionou a tecla número três. Quando a porta se fechou, Omnium socou o interruptor de emergência e o elevador travou, a porta ficando semiaberta. 

Omnium sacou uma arma de energia de suas roupas e converteu o outro em moléculas.

Foi quando Meyer desceu pelo elevador de carga, vindo apanhar sua recompensa pela vitória. 

— Terá de se dirigir ao setor de importação/exportação do espaçoporto terrestre, Mr. Meyer — afirmou de forma fria a moça alta e esbelta que cuidava dos pagamentos e recebimentos da prova. Meyer olhou-a atarantado. Tinha dez mil créditos, o suficiente para meia passagem de ida à Terra.

— Não se preocupe com o pagamento, Mr. Meyer — falou Omnium, vendo a expressão de desgosto no rosto do terrestre. — Posso lhe oferecer uma viagem ao espaçoporto da Terra, saída daqui a uma hora. Interessado?

— Você... apostou em mim?

— Aposto nos campeões, Mr. Meyer. Só.

— Somos colegas, hã, senhor...

— Omnium, de Beta Centauri.

— Bem, somos mais que colegas de campeonato, somos de Sistemas Estelares irmãos. Vou pagá-lo em créditos lunares, metade da viagem agora, o resto na Terra.

— Está muito bem, Mr. Meyer. O campeão dessa competição.

A nave de Omnium, em forma de foguete, estava pronta para a partida, no subsolo do planeta vulcânico, a cem metros do hotel. A passagem de Meyer paga, o combustível nuclear transferido para o reator da nave, as buscas por Allandir em progresso, tudo estava conforme o planejado.

— Mr. Meyer — disse Omnium para o seu hóspede, na nave Allambik —, como faz para se manter vivo, após dez torneios como este último?

Meyer tirou um pé-de-coelho do bolso de sua camisa e o jogou para Omnium.

— Este é meu talismã da sorte. Consegui em Delta-Magirus. 

— O Planeta da Magia?

— Em Rigel, sim.

Omnium analisou o felpudo amuleto. Parecia ser legítimo.

— Aceito este objeto em troca do valor da passagem.

— Hã, hã. Lutei como um leão das savanas africanas terrestres para conseguir isso.

Omnium mexeu em sua roupa e mostrou o cano do desintegrador para Meyer.

— Pode me matar, Omnium. Mas depois, não diga que não avisei. Conectei a este pé-de-coelho um transmissor neural que recebe minhas ondas cerebrais. Morto, o amuleto será ativado e detonado. Você e este monte de sucata serão parte de “poeira de estrelas”, para citar um de meus escritores favoritos, o senhor Asimov.

— Desarme! Agora! — Omnium bufava, enraivecido.

— Posso ativar o pé-de-coelho nesse momento, só com minha mente.

— Você não ousaria...

— Omnium, se quiser ver algo mais além da escuridão estelar, sugiro que me passe o amuleto, vá à comporta do reator e salte para dentro do conversor de energia.

— Vou...

— Sei que matou o betellgeusiano, soube disso antes de vocês descerem para o andar térreo do hotel. Eu estava no penúltimo andar, quando senti o cheiro de carne tostada. 

— O que você faria se estivesse sob a mira dele, Meyer?

— Não sei, só sei que você mergulhará de cara no campo de radiação nuclear, neste momento.

Os dois homens levantaram-se. Seguiram pelo corredor principal do foguete, Omnium suando em bicas, ainda segurando o pé-de-coelho. Quando chegaram à comporta do reator de fusão, Omnium abriu-a e falou, temerário:

— Posso saltar com o seu amuleto, Meyer. E a explosão o levará junto comigo.

— Você só está tentando conseguir uma vantagem. Um modo de me apavorar. Pode ir, Omnium, pode ir.

Omnium atirou em Meyer, mas o explosivo no pé-de-coelho existia, mesmo. Detonou, mas nem Omnium poderia fazer ideia da supernova que o quadrante Zeta da Via-Láctea se tornaria.

Pois é, jogar sempre é um negócio arriscado.


SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Sobre o Conto “As Artes de Xanadu”, de Theodore Sturgeon

Uma menina música: com tão pouca idade, alguns homens e mulheres conseguem executar facilmente canções e composições que uma pessoa comum levaria meses para aprender e meses para treinar. As mutações favoráveis explicariam tal fenômeno. A capacidade que alguns indivíduos têm de executar e elaborar que somente em anos pessoas comuns conseguiriam.
Quando o Sol se tornou uma estrela Nova, destruindo a Terra e tornando o Sistema Solar inabitável, os humanos espalharam-se por todo o espaço. E, nas Eras que passassem, os homens falariam como homens, comportar-se-iam como homens e progrediriam como homens; e, quando os homens encontrassem homens, ainda que diferentes deles próprios, viriam em paz, falariam a língua dos homens... Mas o Homem era Homem, passível de suas ambições e seu desejo de poder...

Bril viera do planeta Kit Carson, do Sistema Sumner, mundo onde um bilhão e meio de pessoas viviam, para Xanadu, planeta a ser conquistado, de uma forma ou de outra. Conversando e convivendo por algum tempo com Tanyne, um dos Senadores do governo descentralizado daquele mundo, onde os habitantes não tinham aparentemente tecnologia adiantada, Carson descobriu que os 41 outros Senadores do governo de Xanadu estavam permanentemente em contato uns com os outros, através do que Tanyne chamou “um tipo de rádio”.

Bril falou por horas com Tanyne e viu que ele considerava as necessidades que todos os de Xanadu possuíam certamente passíveis de “serem sentidas”. Se a pessoa precisava de um metal, e o cobre deveria ser o melhor metal a ser usado, bastava se concentrar e pensar na máquina ou dispositivo no qual empregar o metal, que saberia de imediato que o cobre era melhor. Isso era “sentir”, para Tanyne. Para extrair o ferro, ou o estrôncio, ou o manganês, da Natureza, não faziam minas, nem transmutações de elementos químicos. Antes, criavam mariscos, por exemplo, nos quais suas conchas seriam feitas do metal que queriam e, assim, os extraíam.

Quando alguém apanhava uma flauta e tocava uma ou duas notas, mais outros de Xanadu continuavam a melodia, adicionando outros instrumentos, até que uma orquestra inteira, de pessoas — possuindo instrumentos ou não —, era formada. Em Xanadu, todos eram especialistas, desde que começavam a engatinhar; podiam fazer o que bem entendessem que, da primeira vez que executassem um trabalho, seria o mesmo que o tivesse feito já por uma vida inteira.

Mas, em Xanadu, uma coisa era chamada de superstição: o cinto que carregavam. Para se vestirem, os habitantes do planeta apanhavam um cinto que mesmo uma criança podia manufaturar, segundo a Química elementar, colocavam-no ao redor da cintura e suas vestes surgiam cobrindo o corpo para cima e para baixo, em cores admiráveis. Segundo Tanyne, as vestes eram formadas de matéria viva, ou melhor, “não eram matéria não-viva”. Não era completamente material, mas a expressão traduzida da Velha Língua de Xanadu correspondia a “aura”. Depois de um ano de uso, a vestimenta tinha de ser mergulhada em ácido láctico, e era renovada a aura. E podiam-se copiar e ativar milhões ou bilhões de outros cintos.

Em uma ocasião, Kit Carson estragara sua vestimenta: a mais mortal armadura militar jamais construída pelos humanos do Sistema Sumner. Dotada de computadores, armas as mais variadas, sistemas eletrônicos. Tanyne deixou com Carson um cinto de Xanadu para que ele o usasse. Assim que esteve só, Carson embarcou em sua cápsula espacial e partiu para sua nave, em órbita. Dirigiu-se para o Sistema de Sumner.

A vestimenta foi duplicada e, em um mês, duzentas mil haviam sido distribuídas. Em um ano, milhões haviam sido reproduzidas e usadas pelos habitantes do planeta Kit Carson. Todos os que as usavam estavam unidos e moviam-se como o Líder dos humanos o queria. Os humanos passaram a depender dos cintos, como um hábito que não se podia largar. E chegou o momento de mergulhá-los em ácido láctico. Um bilhão e meio de humanos de Kit Carson adquiriram as técnicas da música e das artes gráficas, além de tecnologia, que passou a ser incorporada a todos, pelos cintos. Agora, filosofia, lógica e amor estavam disponíveis, disseminadas também pelos cintos. Simpatia, empatia, tolerância, irmandade em harmonia, com toda a vida ao redor, por toda a parte.

A ideia da liberdade estava enraizada em Xanadu, e passara para Kit Carson. Algo diferente, muito mais do que o que existia antes no Sistema Sumner, veio à tona. E Bril, sabendo o que era ser um Senador, e desejando sê-lo, tornou-se um deles.

Esta é a sinopse da novela do grande escritor Theodore Sturgeon “As Artes de Xanadu” (“The Skills of Xanadu”, 1956), publicada pelas Edições GRD (do editor Gumercindo Rocha Dorea), em 1989. Theodore Sturgeon nasceu como Edward Hamilton Cullen Waldo, em Staten Island, 1918, e faleceu de doença pulmonar em Eugene, 1985,  E.U.A. Sua mãe divorciou-se em 1929 e casou-se novamente com William Sturgeon. Edward mudou seu nome para Theorore, para combinar melhor com seu apelido, “Ted”. Sturgeon foi autor de dois ditados (conhecidos como “Lei de Sturgeon”, análogos à “Lei de Murphy”). Um deles é:

“90 por cento de qualquer coisa é lixo”.

Nesta novela, os habitantes do planeta Xanadu possuem o dom de fazer qualquer coisa, sem nunca a terem executado. Isso é válido para tudo, inclusive a música. Na Terra, hoje, sabe-se de músicos que, só de ouvirem uma composição uma única vez, podem executá-la com perfeição novamente. Existem casos de guitarristas — o caso mais famoso é de Richard Hugh Blackmore (Ritchie Blackmore) — que afirma não se preparar antes dos shows e tocar de improvisação em sua mais recente banda, o Blackmore’s Night. Isso significa que ele possui uma mente capaz de criar arranjos e novas composições a partir de sua própria inspiração, ou vontade, e não de decorar e memorizar músicas por horas a fio, como os músicos geralmente fazem antes dos shows.

Isso é algo extremamente raro de se observar. Para se tornar um profissional realmente competente em qualquer ramo das Artes ou Ciências, é necessário um longo período de aprendizado e constante aperfeiçoamento. Em Xanadu, devido a uma catástrofe, na qual bilhões foram reduzidos a apenas três indivíduos, houve uma mutação, segundo Theodore Sturgeon. Todos em Xanadu possuem cabelos vermelhos. Todos são mestres sem nunca terem sido aprendizes. Nasceram com a capacidade de criar e elaborar do nada, apenas com o poder de sua concentração. Isso desafia a lógica, mas como é o resultado de uma mutação favorável (e não autodestrutiva, para quem a tem, como é o caso da vasta maioria das mutações que ocorrem entre os humanos, hoje), é válido afirmar-se que isso poderia vir a acontecer, em local e futuro não-determinados.

Theodore Sturgeon é autor de dezenas de dezenas de contos e romances, inclusive tendo escrito os roteiros para dois episódios da série “Star Trek” (“Jornada nas Estrelas” (“Shore Leave”, de 1966; e “Amok Time”, de 1967). É o autor de um romance que venceu o International Fantasy Award, “More than Human” (“Mais que Humanos”, de 1953), um romance que conta a história de algumas mutações em que, dentre os indivíduos que as detém há, por exemplo, o caso de um idiota adulto que descobre a anti-gravidade aparentemente por acaso.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem. 

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.

E-book:
Pelo site da Saraiva: Clique aqui.
Pelo site da Amazon: Clique aqui.
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

E se alienígenas já estiverem entre nós?, Philip K. Dick e muito mais

By Pixabay
Somos descendentes de hominídeos, macacos. Seus antepassados pisaram a Lua, Marte, viajaram para Alfa Centauri e até a galáxia de Andrômeda. Somos descendentes de seres semelhantes ao que parecemos hoje: uma cabeça arredondada, quatro membros, duas mãos e dois pés, cinco dedos relativamente flexíveis em cada um, visão tridimensional. Somos hoje sombra do passado. Um simples músculo composto por cem bilhões de células nervosas está protegido dentro do crânio, por um líquido que absorve impactos que poderiam danificá-lo. Raciocinamos graças a ele. Não por mais. Nós não nos lembramos de como éramos. Somente eu. E ninguém em toda face da Terra acreditaria no que eu me recordo hoje...

Esta é uma introdução que criei para ilustrar este artigo. Muito já se falou, publicou e filmou a respeito de extraterrestres. De seres de pesadelo, ameaça constante à Humanidade, a criaturas avançadas e benevolentes. Philip K. Dick foi autor de Do Androids Dream Of Electric Sheep? ou, ao ser filmado, adquiriu o título de Blade Runner — O Caçador de Androides, filme famoso estrelado por Harrison Ford. Mas também é o escritor responsável pelo seu conto Impostor, uma história que teria sido esquecida, mas possui o cerne, a ideia fundamental: seres extraterrenos de Alfa Centauri poderiam enviar robôs que possuiriam aparência semelhante ao homem em tudom em meio a uma guerra de vida e de morte.

Impostor, assim como O Exterminador do Futuro (The Terminator, filme estrelado por Arnold Schwartzenegger), poderia ser pensado não em termos de androides, mas as máquinas que os protagonizam poderiam ser alienígenas compostos de Carbono, Hidrogênio, Fósforo, cadeias de DNA, que respirassem oxigênio.

Não é o caso de Alien, o 8º Passageiro (Alien, filme dirigido por Ridley Scott, o mesmo diretor de Blade Runner — O Caçador de Androides). Em Alien, a grotesca criatura, a personagem principal do filme, não é absolutamente humanoide. Usa os seres humanos como incubadoras para que embriões alienígenas se desenvolvam em seu interior. Uma ideia semelhante à da vespa-caçadora, um marimbondo do gênero Pepsis Fabricius, que paralisa a tarântula, para depois depositar seus ovos no corpo da aranha. Posteriormente, as larvas da vespa devorarão os órgãos não-vitais da tarântula, até atingirem tamanho e maturidade suficientes para poderem sobreviver por si só.

A ideia de que alienígenas já poderiam viver conosco pode provocar medo, asco, ódio, revolta. Pânico. Não os poderíamos evitar e não poderíamos imaginar o que eles quereriam entre nós. Assim como no conto Impostor, de Dick, a realidade se tornaria pesadelo: os extraterrenos poderiam matar os seres humanos e destruí-los. Ou, paulatinamente, tomar o seu lugar.

E.T., o Extraterrestre (E.T., the Extraterrestrial, filme dirigido por Steven Spielberg), é a outra face da moeda. Em oposição à ideia de malevolência que os alienígenas frequentemente nos trazem, foi um marco no cinema de Ficção Científica, justamente pelo fato de apresentar, de um modo completamente diferente, o alienígena inofensivo e benevolente. E.T., o Estraterrestre, nos traz a ideia muito mais interessante de civilizações pacíficas no Universo. Que possam ser contatadas e nossos conhecimentos científicos compartilhados, para benefício mútuo. Um povo que nos alcance, do abismo sem fim do Cosmos, necessariamente teria de ser mais adiantado do que nós.

Se civilizações desse tipo existirem, e já estiverem entre nós há décadas, ou séculos, poderiam interferir de modo benigno e altruísta em nosso mundo. Poderiam evitar crimes, solucionar problemas matemáticos, salvar vidas no campo da Medicina, fazer com que nossa vida cotidiana se torne mais confortável e segura.

Poderíamos até mesmo, caso a natureza se encarregue de proporcionar o necessário, nos misturar com alienígenas que tivessem a aparência, pelo menos, semelhante à do Homem. E disso nasceria uma outra raça, melhor, mais perfeita, mais avançada, com genes melhores e intenções mais pacíficas.

By Pixabay
Representação de uma Alienígena e sua espaçonave, recém-chegados à Terra, em um futuro próximo.
Tanto a alienígena como sua nave teriam de chegar virtualmente ocultos, sob um manto de invisibilidade, até serem aceitos entre nós.


Sobre o autor: Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem. 

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
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