João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Evelyn Mello e o livro A menina que plantava letras, por Cida Simka e Sérgio Simka


Fale-nos sobre você.
 

Eu poderia dizer que sou professora, pesquisadora e escritora, mas penso que, hoje, o que melhor me define, é que sou uma plantadora de letras, como eu sempre quis ser. Quando criança, observava meu avô no jardim; admirava o desvelo com que ele cuidava de cada flor: alices, margaridas, orquídeas, rosas... Eu pensava que um dia queria ser como ele e cultivar flores minhas. Descobri cedo que minhas flores e meu jardim seriam outros, mas não menos especiais. As letras me cativaram e desde então nunca mais nos separamos. 

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo? 

A história da escrita da “Menina que plantava letras” é extremamente especial! Desde que comecei a escrever ficção, tive muita vontade de me comunicar com o mundo lúdico da criança, mas eu não sabia se conseguiria resgatar aquele encantamento do mundo infantil. A gente “adultece” e perde muito da liberdade que só as crianças são capazes de cativar. Muitas vezes me peguei a pensar qual o tipo de livro eu gostaria de ler quando era menina e me lembrei de que os livros dos quais eu mais gostava, aqueles recheados de aventuras, como os da coleção Vagalume, por exemplo, ou mesmo dos contos de fada, não os de princesa, mas aqueles que seguravam pela emoção da aventura, não tinham meninas como centro da trama. Eram sempre os meninos que perseguiam o vampiro, descobriam um assassinato no hotel, enfrentavam piratas etc. Eu sempre amei O menino maluquinho do Ziraldo, li muitas vezes e quando terminava, pensava: e se fosse uma menina maluquinha?

Durante um tempo, engavetei a ideia, até que conheci meu companheiro de vida e de trabalho, Hugo Brasarock. Quando li o livro que ele havia publicado, o “Baltazar: o sapop star”, pela editora Areia Dourada, percebi que estava diante de um duplo grande trabalho: uma história linda e uma ilustração digna de um grande artista.

Foi nesse momento que me inspirei para dar sequência a meu projeto, contando com o apoio de Hugo, tanto no que se refere ao incentivo da escrita quanto na ilustração que completa meu trabalho com uma harmonia incrível.

Foi nesse momento que a menina Sophia, a pequena e corajosa personagem do livro, ganhou liberdade de escrever seu destino, sem as sapatilhas e laços com que a mãe lhe presenteara, uma menina maluquinha, descalça, livre e feliz. Foi nesse momento que Sophia estava pronta para representar as mais diversas meninas, que assim como eu, quando criança, sonharam com letras e história e jardins.

Quando terminei o projeto, não consegui pensar em outra editora que não fosse a Uirapuru. Eu já conhecia a excelência do trabalho do Egidio [Trambaiolli Neto] e de sua equipe, sabia que Sophia estaria em excelentes mãos. E assim, o sonho aconteceu. 

Que dicas pode fornecer a quem deseja ser escritor? 

Ser escritor é um exercício de coragem. É saber que haverá uma longa estrada a caminhar. Muito o que aprender, muito mais do que para ensinar. É construir com letras pontes que te levam a muitos outros, que te ligam a muitos mundos, e que nem sempre teremos noção de quantas pessoas foram realmente atingidas por nosso trabalho, por isso é também um ato de doação. De doação legítima, pois num país que não reconhece seus artistas e escritores, é uma doação sem certeza de reciprocidade.

Eu estou nessa estrada há mais ou menos 14 anos, claro que conto o tempo em que iniciei uma jornada profissional, já que invento histórias desde que me entendo por gente, e posso garantir que não foram poucas as vezes que me perguntei, bastante desanimada: “Escrevo para quem? Escrevo por quê?”.

Essas duas perguntas piscaram diante de mim muitas e muitas vezes. Hoje, mais amadurecida, chego à conclusão de que escrevo porque isso faz parte de minha vida. Escrevo para mim e para quem quiser me acompanhar. A felicidade que sinto a cada leitor que envia seu parecer, sua pergunta, e mesmo uma crítica que indica a leitura de minhas histórias, é incalculável.

Então, minha dica para quem inicia esse caminho é: seja leal a seu estilo, a sua essência. Tire dos ombros a necessidade de ganhar prêmios, entrar para a Academia de Letras, estar entre os best-sellers. Escreva comprometido com o prazer da escrita. Tenha como centro a Literatura, faça um pacto com as Letras. Se você não tiver sucesso (acho bem problemático esse termo), aquele sucesso que hoje a maioria das pessoas acredita estar traduzido por moedas, likes e seguidores, posso garantir: você terá a liberdade de pertencer e servir única e exclusivamente ao encantado mundo das letras e isso não há absolutamente nada que possa superar.

Eu aprecio demais essa liberdade de poder moldar letras. Depois que iniciei meu trabalho com Hugo Brasarock, especialmente na composição de músicas e contos de terror, pude ampliar ainda mais minhas possibilidades e me reinvento todos os dias. Qual outra profissão possibilitaria isso? 

O que tem lido atualmente? 

Estou lendo, atualmente, Os subterrâneos da liberdade, de Jorge Amado e O mundo em que vivi de Ilse Lieblich Losa. Pretendo iniciar a Casa de Bonecas de Henrik Ibsen. 

Além desse livro, há algum outro projeto em andamento? 

Sim, são os projetos que mantêm a chama da vida acesa! Pretendo lançar um livro de poesias com Hugo Brasarock e seguir com nosso projeto de contos de terror, em forma de livro e com nosso canal “Contos de Encruzilhada”. Também estou escrevendo a sequência de A menina que plantava letras, preparando novas aventuras para a pequena Sophia. 

Link para o livro: 

https://www.lojaeditorauirapuru.com.br/produtos/a-menina-que-plantava-letras/ 

Link para o canal Contos de Encruzilhada: 

https://www.youtube.com/channel/UCozQaX-CjreqO5F5ZqtCfpw 

Link para uma entrevista com o professor, editor e escritor Egidio Trambaiolli Neto: 

http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2019/07/o-professor-editor-e-escritor-egidio.html 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021).

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sexta-feira, 26 de julho de 2019

Mesa-Redonda: O Ofício de Escrever, por Cida Simka e Sérgio Simka


Atendendo a um pedido da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Santo André (SP), para comemorar o Dia Nacional do Escritor, o Núcleo de Escritores do Grande ABC propôs uma mesa-redonda intitulada “O ofício de escrever” e, para tanto, convidou alguns escritores e editores a fim de falarem sobre a experiência que cada um tem com relação à escrita.
Para compor a mesa foram convidados os seguintes escritores (os links se referem às entrevistas que eles concederam à nossa coluna na revista Conexão Literatura):

Amir Piedade
Paranaense de nascimento e paulista por adoção, é doutor em Educação: História, Política, Sociedade e mestre em Ciências da Religião, ambos pela PUC/SP; professor do magistério oficial do estado de São Paulo. Tem dez títulos de literatura infantil publicados, entre eles O grito do Rio Tietê – incluído no PNLD 2004 – (Editora Elementar), O aniversário do Seu Alfabeto – incluído no PNLD Literário 2018 –, São Paulo de colina a cidade (Cortez Editora). Atua como editor de Literatura Infantil, Juvenil e Educação, Cortez Editora.

Edmir Vieira Camargo
Nascido em Santo André, casado com Norma. Dois filhos: Alexandre (cineasta, roteirista) e Giuliana, psicóloga, que infelizmente partiu muito cedo; metalúrgico aposentado:  Willys, Ford, Mercedes e VW; membro do Núcleo de Escritores do Grande ABC; quatro livros publicados e participação em duas antologias.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/03/edmir-camargo-e-o-livro-turbulencia-por.html

Egidio Trambaiolli Neto
Formado em Pedagogia/ Magistério/ Administração Escolar/ Ciências/ Matemática/ Química e pós-graduado em Bioquímica Aplicada. Atuou em escolas como professor, assessor pedagógico, coordenador e diretor. Em editoras como palestrante, leitor crítico, editor e diretor. É autor de mais de 655 obras em diferentes áreas e categorias: didáticos, paradidáticos, fascículos e literatura e de mais de 60 projetos educacionais. Na atualidade é o segundo autor que mais publica no mundo. É editor da Editora Uirapuru.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/11/exclusivo-egidio-trambaiolli-neto-e-o.html

Evelyn Mello
Possui graduação em Letras - Espanhol pela Universidade Federal de São Carlos (2007), mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2011) e doutorado em Estudos Literários – UNESP – Araraquara (2018). Autora dos livros “Femi verso multi” e “O degrau”, ambos pela Editora Todas as Musas.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2019/05/evelyn-mello-e-o-livro-o-degrau-por.html

Laura Figueiredo
Natural de Guará (SP), graduada em Língua Portuguesa, Inglesa e Literaturas; pós-graduada em Tradução Inglês/Português; contista e poetisa. Autora dos livros "A Semântica do Caos e outros poemas" (2016) e "O Mistério de D. Amélia e outros Contos" (2018), ambos pela Editora Todas as Musas.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/09/laura-figueiredo-e-o-livro-o-misterio.html

Marcelo Smeets
Graduado em Letras, sua profissão é editar, revisar e redigir textos. Escrever é sua paixão. É natural de Santo André (SP), casado e tem três filhos. Autor do livro “Branca de Neve e a Redação”. Membro do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/04/marcelo-smeets-e-o-livro-branca-de-neve.html

Sandra Abrano
Escritora e editora. Trabalhou em grandes e pequenas editoras, exercendo diversas funções. Desse período, tem publicado em coautoria livros de apoio didático e HQs.
Em 2017 VESTÍGIOS Mortes Nem Um Pouco Naturais foi finalista no prêmio Sesc de Literatura – romance e, em 2018, finalista no prêmio da ABERST (Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror), categoria romance policial.
Publica nos blogs http://TrechoPrediletoLiteratura.blogspot.com.br (resenhas), https://rastrodehistorias.blogspot.com.br/ (textos literários).
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2019/05/sandra-abrano-o-livro-vestigios-e.html

A mediação será feita pela professora Cida Simka, organizadora dos livros “Uma noite no castelo” e “Contos para um mundo melhor” e autora, entre outros, do livro “O enigma da velha casa” e membro do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2019/07/cida-simka-e-antologia-uma-noite-no.html

Sobre o Núcleo de Escritores do Grande ABC:
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/03/nucleo-de-escritores-do-grande-abc-por.html

Como se vê, a expectativa é grande, não só pela experiência dos palestrantes, como também pela oportunidade de demonstrar a importância da escrita e da leitura para a formação de pessoas mais críticas e felizes, em uma sociedade em que os valores culturais – e, portanto, humanos – estão à míngua.

Depoimento de Cida Simka sobre o evento “O ofício de escrever”, a ser realizado no dia 27 de julho de 2019, na Biblioteca Cecília Meireles, a partir das 10 horas.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Sérgio Simka
é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
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quinta-feira, 30 de maio de 2019

Evelyn Mello e o livro O degrau, por Cida Simka e Sérgio Simka

Evelyn Mello - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Sou professora da ETEC Paulino Botelho de São Carlos há 11 anos, onde comecei minha carreira como docente de língua espanhola, atuei em projetos ligados à Sociologia e Filosofia, em parceria com a The World Children’s Prize Foundation, uma organização sueca, que atua especificamente na defesa aos direitos da criança e do adolescente. Atualmente, sou professora de língua portuguesa e literatura.
Tenho graduação em Letras – Licenciatura Plena em Português e Espanhol – pela Universidade Federal de São Carlos.
Em 2011, concluí meu mestrado na UNESP, na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Logo em seguida, dei sequência ao doutorado, concluído no ano passado, igualmente na FCLAr. Atualmente, sou estudante de pós-doc na Universidade Federal de São Carlos.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o livro O degrau. O que a motivou a escrevê-lo?

A escrita de O degrau nasceu de uma reflexão muito particular sobre o estilo de vida que adotamos atualmente. Explico-me melhor: quantas vezes nos damos conta de que sequer observamos o caminho que percorremos com nosso carro, ou mesmo a pé, não importa como nos deslocamos, mas a verdade é que não faz diferença se no percurso há árvores, pessoas, prédios ou casas.
Simplesmente traçamos uma reta e quando vemos, lá estamos nós em nosso destino. Mas não sabemos muito bem o porquê de corrermos tanto, qual a razão de escolhermos um dado objetivo ou outro; suamos para alcançar metas: para quem?
Nossas metas são realmente escolhidas? Existe escolha? Ou negligenciamos nossas vontades da mesma forma que apagamos paisagens porque estamos sempre apressados demais, ocupados demais?
Por isso a obra traça uma única personagem, cuja principal preocupação é subir uma escada, único espaço presente na obra. Sua preocupação também é uma só: vencer degrau por degrau para atingir o último, o que lhe garantiria o topo e, por conseguinte, o fim de uma jornada. Mas e este fim? O que ele garante? O que fazer depois do fim?
Creio que O degrau foi um grito contra imposições, formas e fôrmas, um desafio à pressa e às imposições. Ele não tem forma; pode ser encarado como poesia, como romance experimental, como nada... Ele nasceu do nada, se inspirou por causa do nada, ou seja, é fruto do vazio de todo aquele que segue o comportamento de manada, um sintoma bem específico destes tempos tão robotizados que temos vivenciado. Nós não temos a medida do que somos, também não enxergamos os outros. Somos irremediavelmente cegos e falsamente crentes de que dominamos nossa caminhada.
Eu penso que O degrau é realmente muito irracional, mas duramente sóbrio; é sensível para se opor ao excesso de racionalidade da sociedade, mas também é realidade crua contra a irracionalidade que predomina em sociedade. Em suma, ele condensa e expõe questões existenciais que nos são caras, mas nem sempre estamos prontos a confrontar. 

Fale-nos sobre sua obra anterior.

Minha obra anterior, Femiversomulti, igualmente publicada pela editora Todas as Musas, foi minha primeira experiência com ficção. Aliás, eu realmente nunca havia considerado enveredar por este caminho. Entretanto, as crônicas ali presentes foram frutos de muita observação, mais precisamente ao longo de 14 anos; são fatos que acompanhei na pele de diferentes mulheres, cada uma delas com uma vivência absolutamente diferente, mas todas muito ansiosas e necessitadas de um ouvido que pudesse captar, principalmente, suas dores, opiniões, sonhos e experiências. Trabalhei no comércio durante quatro anos e meio, o que me garantiu um grande laboratório literário.
Depois, realizei um curso de direitos humanos no Memorial da Resistência, ocasião em que pude conhecer a cracolândia e toda sua miséria, visitei as esquinas de São Paulo e sorvi cada gota do que ela poderia me proporcionar quanto ao material humano, tão desumanizado, ali presente.
Comecei a prestar atenção nas conversas em pontos de ônibus e nos corredores de supermercados e me peguei a pensar, como mulher, quantas outras mulheres havia com experiências tão diferentes das minhas e o quanto seria rico dar voz a elas, posto que nem sempre essas pessoas encontravam locutores verdadeiramente interessados em suas histórias.
Também comecei a pensar o quanto nossa noção de mulher e de “coisas de mulher” ou “feminilidade” é limitada. Toda mulher, individualmente, é um universo, absolutamente complexo, o que implica dizer que há diversas formas de ser mulher e seus problemas são tão múltiplos e diversos que encapsulá-los no rótulo feminino é absolutamente redutor.
Foi dessa percepção que a obra Femiversomulti nasceu. Uma obra composta por 8 crônicas, número que, uma vez invertido, assume o símbolo do infinito. Cada uma das crônicas, portanto, dá voz e espaço para mulheres diferentes, em situações diversas, conferindo liberdade para que cada uma delas se expresse como bem entender e adquiram a notoriedade que as cidades, tão gulosamente, devoram em seu cotidiano.

Como analisa a questão da leitura no país?

É angustiante para alguém que cresceu entre livros, meu caso, e teve seu primeiro compromisso e único com a Literatura, igualmente meu caso, conviver com a realidade de viver em um país onde por volta de 40% da população nunca comprou um livro. Mais sufocante ainda é ser escritora numa sociedade que passou a perseguir abertamente os intelectuais porque estão muito distantes de ter condições de perceber a grande miséria em que se encontram.
Entretanto, obviamente, sabemos que há um plano muito bem orquestrado para manter a população neste estado de transe, distante da leitura e inimiga declarada das causas culturais: um povo que não lê, não conhece, não delibera, será para sempre refém de políticos sem talento, mas oportunistas o suficiente para mantê-los em sua cegueira e analfabetismo funcional.
Contudo, como intelectual, produtora de cultura e professora encaro com muita coragem o meu papel de formadora de opinião e assumo minha posição de batalha contra este sistema. Formo rodas literárias, faço leitura conjunta com meus alunos, escrevo livros, ainda que seja para que ninguém leia. Aquela velha história de quem planta árvores, mesmo sabendo que não se beneficiará de sua sombra. 

O que tem lido atualmente?

Eu tenho um ritmo bem curioso de leitura, pois leio bibliografias pertinentes ao pós-doc e, ao mesmo tempo, tenho meus livros de descanso para as horas de lazer. Ou seja, para trabalho, estou lendo A noite dentro da noite de Joca Reiners Terron; para descanso, o livro de Contos Completos de Clarice Lispector e Villete de Charlote Bronte. Isto significa que leio no mínimo três livros por semana.

Quais são os seus próximos projetos?

Como próximos projetos, tenho a reescrita de meu primeiro livro, resultado de minha dissertação de mestrado, pois gostaria de adequá-lo aos resultados obtidos em meu doutorado, em outras palavras, atualizá-lo à luz da pesquisa de doutorado. Também pretendo escrever um romance, já iniciado, e um livro de contos (engavetado, mas em processo de formação).
Ou seja, a única certeza é continuar trilhando os caminhos da literatura, à contramão, sempre, deste desprestígio cultural, desse baixo-astral institucionalizado pela política vigente. Se eles querem silêncio, nós oferecemos a balbúrdia.

Link para a compra do livro: https://todasasmusas.com.br/livro_degrau.html
   

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
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