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Jaime Kopstein - Foto divulgação |
Sou brasileiro, médico, nefrologista, aposentado, idoso,
casado, pai de dois filhos, Doutor em Medicina, realizei estágio no Hammersmith
Hospital e no Royal Free Lawn Road, ambos de Londres, sou professor de Clínica
Médica na Universidade Federal do RS, Brasil, e autor de outro livro, esse no
estilo “memoirs”, publicado (Vanity
Printing) com o título "The Road to José Ignácio", em 2019.
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores
como foi o seu início no meio literário?
Jaime Kopstein: Comecei a ler cedo na vida, seduzido por
livros de dois autores que infelizmente hoje perderam visibilidade: os de Karl
May e os de Edgard Rice Burroughs. Maravilhosos estímulos à mente juvenil.
Na adolescência, às vezes, eu me sentia doente de tanto ler.
Aí veio o vestibular de Medicina e tudo mudou. Investi mais de 35 anos lendo
quase somente textos relacionados à minha atividade profissional, preparando
aulas, escrevendo artigos, participando de mesas redondas, na condição de
Professor da FM da UFRGS.
Aposentei-me e fui pego de surpresa pela rapidez como as
coisas da minha vida foram modificadas, preocupado, temia acontecer comigo o
que acontece com alguns nessa situação: depressão da aposentadoria. No
horizonte nublado, pairava então a ameaça da perigosíssima cadeira de balanço.
Necessitava de um novo projeto, algo que me energizasse. O
amor pela leitura continuava intacto, e através dela resolvi revisitar uma
particularidade de minha vida, minha sensibilidade ao belo, decidi refletir
sobre a formação, sobre a gênese do meu gosto estético, cada encontro que tive
na vida com algo que tenha me encantado
e revelado o que mais amo e pôr esses achados no papel.
Surgiu então a ideia de escrever um livro classificável como
do gênero “memoirs”. Revisitrei obras de arte, paisagens, certos episódios
históricos, viagens, meu primeiro encontro com o mar e outros agentes de beleza
que fui descobrindo passo a passo, ao longo dos meus dias. Meditar, ler sobre
cada um e registrá-lo.
Alguns autores eu já conhecia, mas aí foram surgindo os
outros, à medida que os procurava, H. Ecco, Dostoewsky, Chekhov, Joseph Conrad,
Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Machado, a divina Cecília Meireles, Herbert
Melville, John dos Passos, Nabokov, as irmãs Bronté, Stephan Zweig, meu Deus, é
interminável.
Refugiei-me, então, solitário, na beira do mar e li e
escrevi como se não houvesse amanhã. Fiz meu primeiro livro que consegui que
fosse vertido para o inglês (desejei publicá-lo; vãs esperanças) e o intitulei
“Road to José Ignacio”.
Ao terminá-lo temi esgotar-se o desejo de escrever, e ter de
encerrar com ele minha carreira de escritor, mas não foi o que aconteceu.
Escrever e ler estabeleceram-se na minha vida permanentemente. Escrevi, então, pequenos contos.
Foi então que uma fotografia, uma simples fotografia que
encontrei nas andanças literárias daqueles dias, funcionou como um click que
disparou a ideia de editar o diário de um homem, cuja vida cheia de
atribulações, alegrias, sucessos, derrotas e enorme capacidade de luta, voltou
a motivar-me de maneira inesperada. Escrevê-lo foi simplesmente uma experiência
ainda mais rica do que a primeira.
E escrevi o Diário de “Otto Klein”
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais
são as suas inspirações?
Jaime Kopstein: Eu escrevo porque me faz bem, eu diria que
se tornou uma rotina quase terapêutica,
Tudo começou há muitos anos, quando, até por razões
profissionais foi necessário organizar
ideias caóticas que surgiam em meio a uma atividade intensa em
enfermarias de hospitais, e o melhor caminho que encontrei foi escrevê-las e
assim poder ordená-las em minha mente.
Isso eu fiz durante anos, porém sempre relacionado ao meu
trabalho: rotinas, terapêuticas, diagnósticos, problemas sociais e domésticos
das pessoas com quem me envolvia profissionalmente. Com o passar do tempo
adquiri certa desenvoltura e passei a escrever mais solto, digamos assim.
Um dia, já aposentado, subitamente afastado das atividades
que, durante anos, compuseram meu dia a
dia busquei um projeto que me injetasse novo entusiasmo, nova energia, comecei
então a pôr no papel aquelas ideias que mais me dominavam a mente. Algo que
substituísse uma rotina de toda uma vida.
Comecei a escrever para organizar a mente, e com o tempo
dei-me conta de que certas ideias eram mais afetivas ou mais carregadas de
emoção do que outras e dediquei-me a proceder com aquelas assim como faz um
jardineiro com suas plantas, irrigá-las, livrá-las de inço (ideias parasitas,
desprovidas de sentimento), fortificá-las com bons nutrientes (ler bons
autores), e delas venho colhendo o que poderíamos chamar de minha inspiração.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro
especialmente para os nossos leitores?
Jaime Kopstein: Nahum, pela primeira vez, pode examiná-lo, ver-lhe
o rosto, a pele rosada, olhos e o cabelinho negros como os de Emma. O bebê agora começara a chorar e
desajeitadamente o devolveu a mãe. Sentaram-se num banco. Nahum tomou-lhe a mão e,
quietos, começam ambos a chorar silenciosamente. E o nenê que ficara quieto voltou a chorar.
Agora choram os três, então, riem-se ambos numa mistura de riso e choro. Finalmente
acalmam-se.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá
proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho
literário?
Jaime Kopstein: Está disponível no Grupo Editorial
Atlântico.
Quanto a mim e meu trabalho, você poderá encontrar alguns
dados a meu respeito aqui e ali nas outras considerações que fiz acima.
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em
início de carreira?
Jaime Kopstein: O que um escritor em começo de carreira terá
de útil para dizer a iniciantes?
Vejamos: o que primeiro me vem à mente é o fato de que
encontrar uma editora disposta a imprimir nossos livros está muito difícil. A
concorrência é tremenda. O mundo editorial está absolutamente congestionado
pela oferta crescente de obras literárias. Milhões de livros são oferecidos às
editoras anualmente. No mercado editorial anglo-saxônico, por exemplo, apenas
um livro é aceito para publicação a cada MIL enviados às editoras para
avaliação!
Por isso está em voga a autopublicação. É muitas vezes o
melhor ou único caminho para experimentar o prazer visual e tátil de segurar
nosso livro físico finalizado, concretizado, nas mãos, contemplar-lhe a capa,
folheá-lo, sentir seu cheiro de livro novo.
Ao longo dos anos observei com interesse duas variedades de
candidatos a publicar seus livros, entre outras: Aqueles que sonham com glória,
com a carreira brilhante de escritor famoso e aqueles que simplesmente não
conseguem parar de escrever.
Destino este texto aos segundos que são aqueles com quem me
identifico melhor.
Em primeiro lugar, a mais necessária atitude para alguém
tornar-se escritor é... escrever. Sim, é necessário escrever, minha gente.
Escrever é como qualquer outro exercício, há que estar-se “em forma”, isto é,
requer treino. O grande Ray Bradbury, em seu livro “Zen in the Art of Writing”
recomenda a escritores escrever pelo menos 1000 palavras por dia, TODOS OS
DIAS.
Outro fator indispensável, concedido a poucos por Deus, é o
talento. Se não há talento, sinto muito.
E como saber se há talento? Ora, o jeito é escrever e
submeter a obra ao crivo de gente decente e inteligente. Cuidado com inveja,
malícia, certos “especialistas” e certas empresas etc. No final é o público
quem decide se há talento, é o público quem valida a tua obra... ou não. Mas,
com o livro pronto e editado, como vês, resta o problema, hoje, de chegar até
esse público.
Ao escrever é indispensável abrir o coração, portanto sejas
verdadeiro contigo mesmo, cuidado, somos às vezes hipócritas conosco mesmo.
Martin Amis, o vitorioso e consagrado escritor britânico escreveu: “novelas
devem ser produzidas em êxtase”. E é absolutamente verdadeiro. Chegarás ao coração
dos outros, se falares a partir do teu coração.
Tens que gostar do teu livro, se não gostares dele, como
esperar que outros gostem?
Há cursos e imensa literatura disponíveis para quem quer se
preparar para escrever bem. Eu não acredito neles. Não que lhes falte
qualidade, há sim trabalhos muito bons.
Entretanto se não houver talento, mesmo com imenso esforço e
ajuda de cursos e literatura, o que o escritor desprovido de talento fará, será
“mais” um livro a encher estantes. Claro, é inegável, cursos irão melhorar, e
muito, tua técnica de escrita, mas ela sempre ficará ligeiramente aquém,... se
não houver o indispensável talento. E aí vem uma advertência séria: a
autoavaliação é muito difícil.
Há, como disse, uma literatura vasta sobre “técnica” e, ao examiná-la,
encontrei três obras que se sobressaíram às demais, ao meu juízo. Valem a pena
pela sua qualidade literária.
Ray Bradbury – ver acima, o título.
Sandra
Newman et al – “How not to write a novel”. Este é outra joia, vale cada
palavra.
A . L. Kennedy
– On Writing. Este vale porque é ilustrativo e divertido, embora um
pouco repetitivo.
Não encontrei traduções dessas obras. Compra um Oxford
(dicionário) e vai lê-los, vale a pena o esforço. E abrirás para ti uma porta
valiosa.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Jaime Kopstein: Sim, tenho, estou voltando a trabalhar no
estilo de não ficção. É possível, aliás, que desta vez tenha embarcado em um
projeto pretensioso, chegando mesmo, quem sabe, às raias do presunçoso. Mas o
tempo dirá.
Venho “dando tratos à bola” a um tema contundente, atual,
vago, mas incendiário e apaixonante: a divisão ideológica que hoje separa
especialmente as populações do Mundo Ocidental em duas facções até
beligerantes: conservadores e progressistas.
Aliás, não concordo completamente com essa nomenclatura, mas
o que fazer?
Estou revisando muita bibliografia, obras como as de Marx,
Hayek, Ayn Rand, Roger Scruton, Gramsci, e muitos outros. Associado a isso,
aguarda nas prateleiras algo da farta literatura disponível sobre a “Psicologia
da Política”.
Junto com essa pesquisa bibliográfica, venho delineando o
esquema, a estrutura do livro que pretendo escrever e sobretudo aprimorando,
tornando mais definido meu objetivo, ou seja, o de examinar as razões sociais e
psicológicas que levam grupos enormes de indivíduos bem intencionados a
divergir tão radicalmente (até violentamente) sobre a forma de sociedade em que
acham que TODOS nós devemos viver.
Tenho consciência de que para fazê-lo da melhor maneira
necessito livrar-me, pessoalmente, de vieses e preconceitos ideológicos que por
ventura venha acumulando ao longo dos anos.
É um projeto de longo prazo que me induz a ler e meditar
intensamente, o que é o meu objetivo atual no estágio que me encontro.
É projeto de bem longo prazo. Espero chegar lá.
Perguntas rápidas:
Um livro: Flor de Poemas - Cecília Meireles
Um ator ou atriz: Meryl Streep
Um filme: Casablanca
Um hobby: Antiguidades
Um dia especial: aquele em que meus netinhos me abraçam
espontaneamente