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sábado, 15 de setembro de 2018

O autor português Francisco JSA Luís, comenta sobre o lançamento do seu livro "Travestis Brasileiras em Portugal"

Francisco JSA Luís - Foto divulgação
Francisco JSA Luís foi investigador colaborador do centro em Rede de Investigação em Antropologia, é Doutorado em Antropologia Social e Cultural – Migrações e Etnicidades – e Mestre em Direito Administrativo e Administração Pública. Os seus principais interesses recaem sobre as periferias societais e a necessidade de através do conhecimento, se promoverem sociedades inclusivas onde os mais fragilizados em termos de cidadania, sejam representados pelos demais, com a dignidade que merecem. Sem que tal se atinja, as democracias serão mera fachada. Daí que assistamos mais do queriamos, a derivas nacionalistas assentes numa ideologia da exclusão.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Você é autor do livro “Travestis Brasileiras em Portugal” (Chiado Editora). O que o motivou a escrever o livro?


Francisco J.S.A Luís: No meu trajeto académico e na área em que me doutorei, necessitava de um desafio, desafio esse que só poderia ser enfrentado se eu próprio confrontasse o meu preconceito. Preconceito esse, que quase todos nós dizemos não exercer sobre ninguém, simplesmente porque vivemos nossas vidas em zonas de controlo e conforto. Foi precisamente isso que fiz, saí da minha zona de conforto e empreendi uma reflexividade crítica sobre a minha própria socialização, como forma de entender o “outro” diferente. Neste caso as Travestis Brasileiras em Contexto de prostituição. Se era para fazer uma tese de doutoramento, então, teria que ser algo de original em Portugal, onde este tema nunca havia sido abordado, não obstante, haverem inúmeros trabalhos sobre os fluxos de Brasileiros para Portugal, antes e depois de Schengen.

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir “Travestis Brasileiras em Portugal”?

Francisco J.S.A Luís: Não é fácil adentrar no universo travesti e de prostituição, pelo que, consegui-lo terá sido o mais difícil e demorado numa fase inicial. Paralelamente, cá em Portugal, com a obsessão com a redução dos défices, a ciência tem passado por algumas dificuldades, principlamente aquelas que não geram ganhos imediatos e consumo. Sinais dos tempos, em que o ser humano pode ou não ser viável em função dos números que sobre eles, se elaborem. Faz-me imensa confusão este sistema mundo, em que há vidas às quais não se atribui qualquer valor, nesse âmbito podem ser descortinados os migrantes de parcos recursos e os transgéneros. O estudo cruzado destas duas dimensãoes da fragilização ativa de franjas societais periféricas, tornou-se para mim um objetivo a atingir. Este trabalho durou cerca de 10 anos e ultrapassou o hiato de tempo necessário à realização do doutoramento.


Conexão Literatura: Você chegou a sofrer algum preconceito ou dificuldade durante a produção do livro?

Francisco J.S.A Luís: Durante a execução do livro, tive que ultrapssar inicialmente o fechamento do grupo travesti - composto na sua maioria por gente indocumentada – facto, que achei normal e não senti o dessa forma pejorativa. É uma forma de resistência dum grupo, que inquestionavelmente navega em àguas especialmente revoltas. Para ser sincero, sinto mais essa discriminação na relação que a generalidade das pessoas mantêm com o livro, através, por exemplo, do contato inicial com o seu título: Travestis Brasileiras em Portugal. Da mesma forma que a generalidade dos atores sociais, desinveste este e outros grupos da dignidade que merecem, deslocam essa sua representação duma determinada realidade para o livro, que até agora tem chamado à atenção apenas dos meios académicos, e não de pessoas comuns interessadas e sm aprofundar o seu conhecimento sobre as sociedades contemporâneas, infelizmente. Perante outros grupos transgéneros e transexuais, sinto por vezes alguma desconfiança, essa, ditada pelo facto de ser homem cis e heterossexual. No fundo o livro acaba por acolher, todas as tensões sociais que pretende retratar. Chamo à atenção para o facto de o processo através do qual o preconceito se exerce e faz sentir os seus efeitos, ser similar em várias àreas do social. Este livro aborda igualmente a família conforme a conhecemos, o parentesco, o feminismo, o patriarcalismo, uma sociedade em que as relações de poder são assimétricas, enfim, tudo o que torna os humanos, humanos ou por vezes, mais do que o desejável, inumanos. Não raras vezes, são estes grupos periféricos e com cidadania restringida, o objeto principal dessa crueldade, talvez porque, a própria estrutura, permita, ainda que de forma velada, que tal suceda. Veja-se o caso dos refugiados na Europa, provenientes de África, Ásia e Oriente ou agora, os Venezuelanos no Brasil. Ser Travesti Brasileira e migrante não foge a estes princípios, com uma agravante, a de serem também transgéneros.

Conexão Literatura: Poderia destacar um ou dois trechos do seu livro?

Francisco J.S.A Luís: Nesse enquadramento, Rubin propunha que talvez esses movimentos feministas seus contemporâneos devessem ousar algo mais, como Marx fizera ao estabelecer a luta de classes como um meio para atingir uma sociedade sem classes. Talvez devessem utilizar o conhecimento que haviam já adquirido relativamente às operações de poder e processos que estruturam e mecanizam a divisão de géneros, e ousar reclamar uma sociedade sem géneros. “Nós não somos apenas oprimidas enquanto mulheres, nós somos oprimidas por ter que ser mulheres, ou homens, conforme os casos. (…) Devo sonhar com a eliminação das sexualidades e seus papéis sexuais compulsórios.” (Rubin 1975 in Lewin, 2006:102)

O momento da saída de casa, acrescido também pela ruptura com a escola e alguma vizinhança, relega estes jovens para a rua onde irão ser iniciados num ethos travesti que ultrapassa a questão do género/ /sexualidade e se converte num estilo de vida determinado pelas possibilidades que se lhes deparam a partir desse momento. “Saem cedo de casa, em torno dos 14 anos, e geralmente iniciam uma vida noturna sustentando‑se através da prostituição” (Pelúcio, 2005:235). Larissa afirma sem rodeios nunca ter exercido qualquer outra profissão, “é assim, eu não preciso esconder de ninguém, sou uma pessoa indepen‑ dente! Sempre trabalhei com prostituição e no início comecei no Brasil.”

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir um exemplar do seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Francisco J.S.A Luís: Há várias formas de adquirir o livro, diretamente na Chiado on-line em https://www.chiadobooks.com/livraria/travestis-brasileiras-em-portugal-percursos-identidades-e-ambiguidades, em inúmeras livrarias no Brasil, como a Saraiva, a Cultura, a Travessa, a Martins Fontes ou a Galileu, em Portugal na Bertrand, Fnac, wook, etc. Se quiserem entrar em contato comigo podem aceder à seguinte página https://www.facebook.com/estudosdegenero, nela postamos as sessões de apresentação já realizadas e o agendamento dos eventos a realizar.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Francisco J.S.A Luís: Neste momento estou a fazer um trabalho sobre o papel das fundações públicas na organização administrativa dos Estados, dissecando este objeto de estudo sob uma perspetiva jurídica. Paralelamente, e no âmbito da antropologia continuo estudando as migrações Asiáticas para Portugal. Se vou publicar alguma coisa, sinceramente ainda não sei.

Perguntas rápidas:

Um livro: “Os filhos da Droga”
Um (a) autor (a): Gabriel Garcia Marquez
Um ator ou atriz: António Fagundes
Um filme:The Equalizer II – A Vingança
Um dia especial: Família…quando a vamos perdendo pelo decurso dos anos, mais lhe damos valor.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?


Francisco J.S.A Luís: Comprem e leiam o livro, estou certo que se vão surpreender, vai muito além daquilo que o título indica, não obstante, todos os livros têm que ter um título, não é? Um livro deve ser sempre mais que o título.
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domingo, 9 de setembro de 2018

Livro "Travestis Brasileiras em Portugal", do autor português Francisco J.S.A. Luís


Sinopse: O século XXI acentuou a celeridade dos processos globalizantes e a densificação de tecidos urbanos repletos de contrastes. O mundo já não é a preto e branco e o anonimato trouxe consigo a cor sob a forma de diferença, que, enquanto experiência vivida, se tornou comunitariamente possível na cidade. Quebra-se na prática a uni-direccionalidade entre sexo e género ou entre sexo e sexualidade, enfrentando-se esquemas de pensamento enraizados. O paradigma máximo desta autonomia sistémica alcança-se na construção de uma identidade travesti mutante, mutável e instável que acompanha um mundo profusamente povoado por fluxos intensos e interdependências várias. É na sociedade global que as travestis encontram espaço para a vivência transnacional e comunitária das viagens trans. Brasil, europa, cidade, prostituição e migração surgem como fatores chave para a sua disseminação geográfica e identitária. A rua tornou-se a sua nova casa e as outras travestis são agora a sua família. 

CITAÇÕES:

1 - Este olhar atento da estrutura sobre os indivíduos, procurando descortinar comportamentos desviantes, reflecte de alguma forma a imagem do panóptico elaborado por Jeremy Bentham em 1791 (Foulcault, 1975), onde através da arquitectura se constatam e reforçam relações assimétricas de poder. Nesta estruturação espacial do poder, em cada cela estaria um indivíduo constantemente vigiado por uma entidade, para ele invisível, a partir de uma torre central, equidistante e situada no mesmo plano relativamente a cada uma dessas celas, dispostas de forma circular relativamente a esse centro vigilante – a torre. A torre simboliza o poder que todos têm consciência que existe. Um poder que actua pela vigilância constante dos desvios à sua norma, sendo essa vigilância impossível de detectar, pois os vigiados, não vislumbram a partir do ponto onde se encontram, quem lá está dentro, ou sequer, se está alguém lá dentro.

2 - Neste palco socialmente sinuoso e tumultuado, renunciarão as travestis a direitos ou procurarão vias alternativas à sua realização? Ou flutuarão – tal como se produzem discursivamente no feminino ou masculino – entre uma e outra situação, consoante a leitura realizada do contexto em que interagem, as aconselhe? Será a estrutura sempre opressora ou permitirá, ainda que involuntariamente, que sujeitos por ela proscritos, encontrem nela, ainda assim, meios para estrategicamente se viabilizarem activamente?

3 - Neste enquadramento a construção de género travesti constitui‑se como um campo social, assim como o é a prostituição que exercem.
Nesse âmbito existem recursos como alojamento na cidade para onde emigram, local na rua onde lhes é permitido prostituir‑se, competição com outros grupos dedicados à prostituição – como a feminina e masculina – competição por especificidades identitárias face a outras figuras como drag‑queens e crossdressers, confronto com os princípios heteronormativos – em suma hierarquização de campos e capitais sociais, neles produzidos, atingidos e valorizados nos seus vários domínios.

4 - Não há espaço nem tempo por si só, existindo autonomamente e desligados do comportamento humano, ao invés, espaço e o tempo são produzidos, são resultado das práticas e comportamentos dos indivíduos. Os movimentos a partir dos quais são produzidos – ao mesmo tempo que a sociedade, ela própria, se produz – podem ser chamados de espacialidades e temporalidades.

5 - Ponteados pela produção de novas espacialidades e temporalidades (Lédrut, 1979, Cf. mobilidades Rémy e Voyé, 1994), que fazem colapsar velhas temporalidades e espacialidades, mais limitadas e centradas sobre si, nada é certo e geracionalmente transmitido como inquestionável.
O self abandona o isolamento recatado das sociedades tradicionais, estáveis e no âmbito do Estado‑Nação moderno – mais ou menos contemporâneo da emergência das grandes urbes industriais – auto questiona‑se, questiona o outro, bem como os constrangimentos de que sente ser alvo. O criticismo e a reflexividade convertem‑se na substância essencial da produção da diferença, assentes também em distintas formas de produzir e gerir espaços e tempos, a que correspondem novas sociabilidades e comportamentos, dos quais resulta a emergência de novos campos sociais (Bourdieu, 2002), como os mercados da diferença, secundados em muitos casos por processos de fetichização da mercadoria.

6 - Consideramos as travestis como inseridas nos novos mercados da diferença, onde competem pelo reconhecimento e legitimação dessa mesma diferença, paralelamente, no âmbito da prostituição, elas próprias se convertem numa mercadoria, de resto como constatamos na frase de um anúncio na internet de Erika Carr.: "Sou o seu sonho de consumo."

SERVIÇO:

Travestis Brasileiras em Portugal: percursos, identidades e ambiguidades
Autor: Francisco J.S.A. Luís
Editora: Chiado
Ano: 2018
Número de páginas: 332
ISBN: 978-989-52-3415-8
Para adquirir o livro, acesse: https://www.chiadobooks.com/livraria/travestis-brasileiras-em-portugal-percursos-identidades-e-ambiguidades

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sábado, 25 de agosto de 2018

Citações do livro "Travestis Brasileiras em Portugal", do pesquisador e autor português Francisco J.S.A. Luís


CITAÇÕES:

1 - Parece‑nos ser de fácil consenso o facto de que testemunhamos um período em que processos sociais globalizados retiraram às sociedades a estabilidade de dinâmicas operantes em que repousaram durante séculos, o que por si não se constitui como algo novo. Nova é a intensidade com que a cada dia esses processos de trocas múltiplas
se instituem e actualizam. A informação acompanha a intensidade com que os indivíduos se deslocam entre continentes – a maioria das vezes com uma rapidez superior à mobilidade desses actores sociais – quebrando as barreiras de uma tradição quase religiosa que assentava no desconhecimento do outro e na reprodução acrítica de modelos de organização social e seus valores. (pág. 115)

2 - Este esquema de relações instituídas entre os elementos do grupo (por eles conhecidas e incorporadas) leva‑nos
a adoptar o termo grupo social quando nos referimos às travestis brasileiras em contexto transnacional de prostituição, mormente quando a identidade individual travesti é moldada pelo grupo, através das expectativas criadas sobre os indivíduos e de esquemas de vigilância vigentes e operantes relativamente à correspondência perante aquelas, das acções executadas fruto de uma ressocialização paralela num mundo travesti deprostituição e de rua. Este sistema de reciprocidades expectáveis e vinculações interpessoais decorrentes assenta num passado repleto de experiências mais ou menos comuns a partir das quais se institui um conjunto de normatividades informais que regulam a integração no grupo, na prostituição e o acesso aos meios necessários para a realização
de objectivos no seu âmbito. (pág. 124)

3 - Eu tinha que esperar, todo o mundo dormir, para mim escolher uma escada de algum prédio, e dormir naquela escada, porque eu tinha que esperar todo o mundo dormir. Porque eu tinha vergonha, e tinha que acordar antes de todo o mundo, porque eu não queria que ninguém me visse, ou seja, não queria que ninguém soubesse o que eu estava passando, porque eu tinha vergonha! (Júlia Vellaskez [pág. 144])

4 - Morava numa casa que só deus sabe como era… metade da porta existia para cima, debaixo não existia. Ratos e mais ratos, sapos, água no chão… um barraco de madeira, molhava tudo quando chovia, quando ventava as telhas voavam… terreno imenso… e assim por diante e eu tou aqui! (Felina [pág.146])

5 - A mobilidade constitui‑se como um denominador comum às biografias recolhidas. É iniciada, desde logo, no Brasil. É na cidade grande que se encontram os meios para realizar as sofisticações da transformação corporal. Adriana queria andar 24 horas vestida de mulher e para tal tinha que recorrer a cirurgias. O objectivo era “fazer o corpo, queria as ancas, queria as coxas torneadas, não sei… seios grandes… queria estar mesmo uma mulher sempre! 24 horas que era para eu me sentir bem!” Tal objectivo não podia ser alcançado se permanecesse em casa e após muitos desentendimentos familiares e expulsão de casa é convidada por uma amiga com a qual mantinha afinidades eróticas e de práticas sexuais, para trabalhar em casa dela como cabeleireira. “Eu fiquei a trabalhar lá e de lá mesmo eu fiz meu local de trabalho que era salão de beleza.” (pág. 148)

6 - (…) contei a situação para ela e ela disse – “ahh não se preocupa não… fica aqui, amanhã tu desce para a rua…” – então isso para mim foi um horror…imaginar que eu tinha que descer para a rua… trabalhar… fazer programa… para ganhar dinheiro para fazer o que eu queria… fiquei pensando… meu deus… o que é que eu vou fazer? Fiquei ali pensando… eu não queria isso… não queria isso… que eu nunca fiz… não sabia nem como é que era… o que é que tinha que falar para as pessoas… só que a vontade que eu tinha de ter a transformação era tão grande e para mim saber que ia voltar a Belém sem nada, do jeito que estava… ia ser uma vergonha… dos dois lados… do lado que o pessoal de lá ia ver que eu voltei da mesma forma e outra coisa… eu me ia sentir mal… se eu fui para um local para conseguir algo… seria uma frustração para mim… e perguntei para ela – e dá para ganhar dinheiro? Ela disse que todas as que fazem aplicação de silicone o faziam com dinheiro da rua. (Adriana [pág.149])

7 - O que respeita aos assassinatos motivados por discriminação transfóbica, segundo o Relatório sobre violência homofóbica e transfóbica no Brasil, conclui‑se que 94.52% destes assassinatos foram cometidos sobre indivíduos com sexo biológico masculino, enquanto, que 5.48% possuíam sexo feminino. No que concerne à identidade de género, o mesmo relatório demonstra que, em 2011, 49% das vítimas eram travestis, 46% homossexuais e 3.2% lésbicas. Relativamente ao ano de 2012, surge a sub categoria transexual com 0.33%, travestis 40%, homossexuais 54.19% e lésbicas 5.48%. Sendo a população travesti bastante inferior em termos numéricos quando comparada com a homossexual, pode‑se aferir a elevada incidência de assassinatos cometidos sobre esta comunidade. (2012:45)172 De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas em 2017 foram contabilizados 179 assassinatos de travestis ou transexuais. Isso significa que, a cada 48 horas, uma pessoa trans é assassinada no Brasil. (Pág. 208)

SERVIÇO:

Travestis Brasileiras em Portugal: percursos, identidades e ambiguidades
Autor: Francisco J.S.A. Luís
Editora: Chiado
Ano: 2018
Número de páginas: 332
ISBN: 978-989-52-3415-8
Para adquirir o livro, acesse: https://www.chiadobooks.com/livraria/travestis-brasileiras-em-portugal-percursos-identidades-e-ambiguidades

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sábado, 18 de agosto de 2018

Livro "Travestis Brasileiras em Portugal", do autor português Francisco J.S.A. Luís


Sinopse: O século XXI acentuou a celeridade dos processos globalizantes e a densificação de tecidos urbanos repletos de contrastes. O mundo já não é a preto e branco e o anonimato trouxe consigo a cor sob a forma de diferença, que, enquanto experiência vivida, se tornou comunitariamente possível na cidade. Quebra-se na prática a uni-direccionalidade entre sexo e género ou entre sexo e sexualidade, enfrentando-se esquemas de pensamento enraizados. O paradigma máximo desta autonomia sistémica alcança-se na construção de uma identidade travesti mutante, mutável e instável que acompanha um mundo profusamente povoado por fluxos intensos e interdependências várias. É na sociedade global que as travestis encontram espaço para a vivência transnacional e comunitária das viagens trans. Brasil, europa, cidade, prostituição e migração surgem como fatores chave para a sua disseminação geográfica e identitária. A rua tornou-se a sua nova casa e as outras travestis são agora a sua família. 

CITAÇÕES:

1 - “Ao postular a correlação entre sistema sexo/sexualidade e sistema género, e a sua separação em termos de análise em trabalho posterior (in Vance, 1984), parece ela própria reconhecer o carácter utópico de uma sociedade sem géneros.78 Rubin vê assim a sua utopia também contraditada na prática por um ethos travesti, que assenta essencialmente no masculino e feminino, estruturais – ainda que, como se verá, de forma ambígua.”

2 - “A forma como em contextos específicos se produzem sujeitos particulares revela‑se com carácter de evidência, segundo o autor, pelo facto de o SIM dito por uma mulher a uma proposta de sexo, poder colocá‑la fora do âmbito estabelecido pela heteronormatividade. “A yes to sex can also produce female subjects as being outside heteronormativity.” (Kulick 2003 in Cameron e Kulick, 2006:287). O dizer SIM num determinado sistema sociolinguístico marca sujeitos específicos. O homem deve dizer SIM e a mulher deve dizer NÃO, embora o seu NÃO possa ser entendido como um SIM. A mulher que diga SIM poderá deixar de ser apenas mulher – heteronormativamente integrada – e passar ser muitas outras coisas, maioritariamente pejorativas – heteronormativamente excluída pelos sistemas sexo e género. A linguística tem visto a sua relevância negligenciada como fator de ordenamento de comportamentos.”

3 - “A São Paulo eu não queria voltar porque era muito problema e existia uma cidade perto que era Campinas. Fui para essa cidade, cheguei na cidade e lá tinha normas…para ficar na cidade tinha que fazer aplicação de 3 litros de silicone no mínimo com uma das cafetinas – aqui se diz chula – e se tinha que fazer uma conta no mínimo de $R1500 – (fumando) – eu queria ficar para trabalhar, tinha que fazer essa conta para deixarem a “gente” trabalhar lá. Fiz a conta e fui fazer aplicação de silicone.”

4 - “Chegou uma época que começou a chegar amigas que queriam morar comigo e aí elas não gostaram (as cafetinas), acharam ruim e vieram falar para mim. Eu disse que eram só aquelas pessoas e que dali não saía mais, só que eu já estava cansada de rua…de muita coisa. Conheci um rapaz em Campinas que era muito temido lá! Não usava droga nem nada, mas era uma pessoa de atitude se tivesse que matar um, matava! E ele se interessou por mim e eu para poder ter um local tendo pessoas a trabalhar para mim, eu tinha que ter uma pessoa forte do meu lado!”

5 - “Adriana é uma das muitas que um dia se cruzou com Cris Negão. Após um episódio dramático em que as forças policiais brasileiras a ameaçaram deter por tráfico de droga (que não possuía) ou, em alternativa, ficar com todo o seu dinheiro (chantageando‑a) viu‑se novamente obrigada a recomeçar do zero, momento coincidente com a detenção policial do seu marido em Campinas. Estes dois acontecimentos estimularam uma nova migração, desta feita para Indianápolis, centro de São Paulo. “Quando eu vi aquele negão vindo na minha direcção, meu coração bateu!” Era Cris Negão!” Rapidamente Adriana ficaria a conhecer as regras daquele ponto na cidade e quem as fazia. “Ei! Pra ficar aqui tem que roubar! Bicha que não rouba, aqui não fica! Eu digo! Ai meu deus do céu!”

6 - “Também as travestis se enquadram neste perfil do migrante brasileiro que envia periodicamente remessas para o país de origem tendo como destino os familiares, maioritariamente “ ajudando” as mães.
Ajudo! Minha mãe, meus irmãos… é, a gente têm família, né? Sangue do sangue, não quero que ninguém passe necessidades! Aqui a gente não ganha muito, mas o pouquinho que a gente ganha aqui no Brasil é muito, né? O euro no Brasil são quase três vezes mais, quase três reais. Se eu junto 1000€ são R$3000.
As remessas não só reestruturam afectos, como revitalizam relações familiares total ou parcialmente destruídas aquando da sua saída de casa, motivada por desavenças familiares originadas pela orientação sexual e expressão de género.”

SERVIÇO:

Travestis Brasileiras em Portugal: percursos, identidades e ambiguidades
Autor: Francisco J.S.A. Luís
Editora: Chiado
Ano: 2018
Número de páginas: 332
ISBN: 978-989-52-3415-8
Para adquirir o livro, acesse: https://www.chiadobooks.com/livraria/travestis-brasileiras-em-portugal-percursos-identidades-e-ambiguidades

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domingo, 1 de abril de 2018

Francisco J. S. A. Luís e o livro “Travestis Brasileiras em Portugal” (Chiado)

Francisco J. S. A. Luís - Foto divulgação
Francisco J. S. A. Luís nasceu em Lisboa em 1971. É investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, Doutorado em Antropologia Social e Cultural e, Mestre em Direito Administrativo e Administração Pública. Travestis Brasileiras em Portugal, foi certamente o seu primeiro grande exercício antropológico de integração concetual e humana do “outro” diferente. Trata-se de um trabalho de campo de 8 anos, que finalmente cumpre o seu propósito; dar voz a quem não a tem, procurando contribuir para o encurtamento das distâncias que abriram e remexem em feridas de difícil cicatrização.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?


Francisco J.S.A. Luís: Penso que devemos sublinhar um aspecto relevante, este meu livro, não é ficção, nem romance ou policial. Ele inclui um pouco de tudo, pois tudo o que nele é interpretado e transportado para o leitor, corresponde a vidas reais de seres humanos, que por uma ou outra razão, se colocam ou são relegados para as margens societais. Existe sem dúvida uma pretensão de tornar a escrita académica acessível a todos, de um modo que já ouvi classificar como pós-moderno. As sociedades evoluíram e o conhecimento, seja ele de que ramo for, vê-se compelido a integrar essa transitividade fluída que o impulsiona pelos caminhos da vida de todos os dias. O meu início no meio literário correspondeu, portanto, e grosso modo, ao momento em que tive que realizar uma tese de doutoramento a partir de arquivos compilados e classificados, correspondentes a 8 anos de trabalho com atores sociais refletores de uma riqueza incomensurável. Aquela riqueza que apenas encontramos nos processos subversivos e de transformação. Entendo que, as travestis brasileiras colocam em causa inúmeras noções, bem arreigadas, vigentes nas sociedades modernas, sendo que paralelamente se convertem elas próprias num testemunho dessa modernidade.

Conexão Literatura: Você é autor do livro “Travestis Brasileiras em Portugal” (Chiado), com publicação prevista para abril ou maio. Poderia comentar?

Francisco J.S.A. Luís: Infelizmente, um dos meus vários projetos paralelos, colocou-se de permeio, enquanto procurava encetar as derradeiras afinações neste meu desiderato literário, o que motivou um ligeiro atraso na publicação. Um projeto de investigação sobre as migrações sul-asiáticas para Portugal, de resto, como tive que fazer quando iniciei esta minha pesquisa com Travestis Brasileiras. Neste livro argumento no sentido que, as Travestis Brasileiras se constituem como um marco da riqueza cultural brasileira e que em nenhuma outra parte do globo, existe uma figura retórica que lhes corresponda. As transvestites Anglo-Saxónicas, as crossdressers ou mesmo as transexuais medicamente acompanhadas, enquadram-se numa taxonomia distinta. As travestis Brasileiras adquirem esse caráter de unicidade, pelo facto de a sua identidade comunitária se construir, não apenas a partir da sua experiência transgénero, mas também através do empirismo compartilhado com outras travestis, nas ruas onde se transformam também em trabalhadoras do sexo. Apenas as Travestis Brasileiras colocam silicone industrial entre a carne e a pele, arriscando as suas vidas. Em mais nenhum local do mundo, existem as bombadeiras e cafetinas conforme aquelas que operam Brasil.

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?

Francisco J.S.A. Luís: Este trabalho iniciou-se em Outubro de 2007 e culminou com a defesa da tese de doutoramento em Março de 2016. Entretanto, no decorrer destes dois últimos anos, a ideia da publicação foi ganhando força e sendo cozinhada em lume brando, até que, a morte da minha mãe - provocada por um cancro que nos derrotou em 4 meses - se constituiu como derradeiro impulso para que partíssemos para a sua concretização.  Este trabalho é um agradecimento a quem o tornou possível, as travestis Brasileiras imigradas em Portugal – gente que apenas aspira a ser gente - e acima de tudo à minha mãe. É um agradecimento e simultaneamente uma homenagem.

Conexão Literatura: Poderia adiantar e destacar um trecho do qual você acha especial em seu livro?

Francisco J.S.A. Luís: "Discriminadas em casa, na escola, pela vizinhança e na rua, ansiando por transformações que apenas podem executar com dinheiro, que não possuem, a cidade grande afigura-se como destino provável e acima de tudo já experimentado por outras manas. Contudo, a vida na cidade grande não é fácil. Tem as suas regras, os seus códigos de conduta e suas informalidades, que tarde ou cedo se evidenciam como acentuadamente severas para aquelas que se iniciam na rua. Para estas não resta alternativa, senão a de tentar aceder a uma teia de relações sociais onde se gerem e disponibilizam recursos, o campo social onde as travestis o conseguem atingir é a prostituição. O que implica de certa forma uma nova socialização e incorporação de normas, comportamentos ou expectativas do grupo e o conhecimento das potenciais sanções, face a desvios perante o que delas é esperado. (...) (…) tinha umas seis assim na esquina conversando. Cheguei e fui falar com uma delas…cheguei e disse assim - oi gente, tudo bom? Boa noite para vocês! - Uma delas se virou para mim, fiquei sabendo que o nome dela era não sei quê Bahiana, era da Bahía…e cuspiu na minha cara! Ela escarrou catarro na minha cara! Falou que não tinha que estar naquele ponto, que ali era delas. Eu pedi desculpa, limpei o rosto porque lá é aquele negócio, quando se mata uma travesti a polícia agradece, até uma travesti que mata uma outra, a polícia nem sequer procura saber quem foi, fazem aquela cena da hora e depois abafam o caso."

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para saber mais sobre você e o livro?

Francisco J.S.A. Luís: Meu caro, disponho de uma página no facebook https://www.facebook.com/Travestis-Brasileiras-em-Portugal-Trans-migra%C3%A7%C3%B5es-e-Globaliza%C3%A7%C3%A3o-169088303724938/?modal=admin_todo_tour especificamente criada para divulgação do livro, paralelamente podem fazê-lo contatando comigo diretamente através do meu facebook https://www.facebook.com/franciscoluis.luis.5
Por estes meios posso elucidar dúvidas ou satisfazer curiosidades relativamente à obra. Acrescento ainda, que no futuro poderão adquirir o livro online ou diretamente em livrarias seguindo as indicações presentes no seguinte link: https://www.chiadobooks.com/distribuicao

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Francisco J.S.A. Luís: Como disse ao meu caro amigo, no introito a esta entrevista, não deixando de lado o aprofundamento da questão debatida no livro em liça, pretendo em breve levar a cabo uma investigação das migrações sul-asiáticas para Portugal, nomeadamente as provenientes da Índia, Bangladesh e Paquistão. As difíceis condições de vida nesses países de origem – terrorismo, guerras religiosas e défices estruturais -  as dificuldades em se legalizarem noutros países Europeus – que os/as obriga em certos casos a ficar uma década sem ver mãe, pai, esposa e filhos – a exploração implícita ao tráfico de seres humanos consubstanciada em redes bem estabelecidas na Europa – ramificadas a partir dos países de origem e com a colaboração de autóctones de vários países Europeus - e a minha especial atenção para questões que envolvam direitos humanos, tornam este projeto bastante apetecível em termos de realização pessoal e profissional, enquanto investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia.

Perguntas rápidas:

Um livro: 100 anos de Solidão
Um (a) autor (a): Gabriel Garcia Marques
Um ator ou atriz: George Washington
Um filme: O Patriota
Um dia especial: O dia 10 de Dezembro de 2007, data do meu casamento com a Vanusia, que por acaso é Brasileira.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?


Francisco J.S.A. Luís: Talvez apenas um comentário ao atual cenário político internacional, pleno de instabilidades e incongruências, que me impelem a dizer, que as diferenças nunca nos subtraem nada, apenas acrescentam. A vida, enquanto arte do possível, aconselha-nos mais à aproximação do que à segregação e discriminação. Neste contexto e como alguém que acompanha avidamente o que se desenrola no palco internacional, gostaria também que no Brasil as coisas acalmassem e que o povo pudesse receber dos políticos aquilo que tem dado ao mundo, alegria e simplicidade.
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