João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111
Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...
segunda-feira, 21 de agosto de 2023
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Participe da Antologia Nacional (e-book) CONTOS E POEMAS SOBRE O FUTURO - Leia o edital
1 - Escreva um conto ou poema sobre o futuro (livre). Aceitaremos até 4 contos ou poemas por autor. Caso sejam aprovados, os 4 textos serão publicados.
2 - SOBRE O CONTO OU POEMA: até 4 páginas cada conto ou poema, fonte Times ou Arial, tamanho 12, incluindo título. Espaçamento 1,5.
3 - Tipo de arquivo aceito: documento do Word (arquivos em PDF serão deletados).
4 - O conto ou poema não precisa ser inédito, desde que os direitos autorais sejam do autor e não da editora ou qualquer outra plataforma de publicação.
5 - Idade mínima do autor para participação na antologia: 18 anos completos.
6 - Envie o seu conto ou poema pré-revisado. Leia e releia antes de enviá-lo.
8 - Data para envio do conto ou poema: do dia 29/06/23 até 02/08/23.
9 - Veja ficha de inscrição no final desse texto. Leia, copie as informações e preencha. Envie as informações da ficha + o poema para o e-mail: contato@edgarallanpoe.com.br. Escreva no título do e-mail: CONTOS E POEMAS SOBRE O FUTURO
A antologia será digital (e-book) e gratuita para os leitores baixarem através de download, ela não será vendida. A antologia será amplamente divulgada nas redes sociais da Revista Conexão Literatura: Fanpage, Instagram e Grupos do Facebook, que somam mais de 600 mil seguidores.
OBS: Enviaremos certificado digital de participação para os autores que foram selecionados e que confirmaram o nosso e-mail.
NOSSOS CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO:
A) - Criatividade;
B) - Textos preconceituosos, homofóbicos, pornográficos, racistas ou que usem palavras de baixo calão, serão desconsiderados;
C) - Seguir todas as regras para participação.
OBS.: Ademir Pascale, idealizador do concurso, disponibilizou para download uma apostila intitulada "Oficina Jovem Escritor", com dicas para quem está iniciando no mundo da escrita. Baixe gratuitamente, leia e pratique: CLIQUE AQUI.
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
Conto "E, Quanto Mais Erram, Mais Continuam a Errar...", por Roberto Fiori
Foguete Falcon Heavy, da Space-X: o foguete mais poderoso da Terra, bem mais capaz de levar homens à Lua do que o Saturno V, devido a seus motores mais potentes e tecnologia superior à de 1969.
Em
um quarto do campus do Centro Espacial e Temporal de Viagens
Interplanetárias, Maddox teve um sonho.
Em t-1 minuto saberemos se as curvas
assimétricas de espaço-tempo da equipe de sábios, liderada pelo Dr. Mitchum,
são confiáveis ou não. No topo da espaçonave Z-3001, o 3001º protótipo a tentar a viagem na 4ª dimensão
começa a reluzir com as cores vivas do arco-íris, enquanto as garras de
atracagem soltam-se de dez conectores do foguete. Sem ninguém no solo, os
propulsores para atingir a órbita deixam uma nuvem de fumaça e fogo escaparem
de sua saída, em turbo-ejetores de dez metros de altura.
O foguete eleva-se, a princípio
lento, mas com aceleração constante. Mas esta não é uma nave comum, seus dez
propulsores químicos são cem vezes mais potentes que os do Saturno V, de cem
anos atrás. A nave sobe, atingindo sua potência máxima em cinco segundos. Por
trás dos vidros translúcidos inquebráveis de cada uma das quinze câmaras de
observação semelhantes à nossa, dez controladores robóticos levam a Z-3001 para
as alturas e para o espaço sem fim.
Agora, a espaçonave atinge uma
altitude de cem quilômetros. O primeiro dos cinquenta estágios se desprende e
um satélite-laser dispara um feixe de raios, que pulverizam o estágio. Em uma
altura de mil quilômetros, outro estágio...
Maddox
se agita na cama anti-G. Seu inconsciente pressente algo. Vira-se para um lado
e para o outro e, em uma dessas viradas particularmente violenta, cai no chão
de madeira laminada. Acorda, esmurrando o ar. Atira as cobertas e o lençol
juntos a ele para cima da cama e caminha até o armário. Abre a porta da direita
e apanha suas roupas, a camisa azul platinada, as calças novas pretas.
Veste-se. Pensa. Toma uma decisão. Da porta do centro do armário, apanha um
objeto em forma de cilindro. Coloca-o na cintura. Sai do aposento, deixando a
porta aberta.
Corre
pelo corredor principal entre as câmaras de observação, sem esforço. Entra na
primeira sala dos controladores robóticos e os destrói, com um feixe contínuo
de raios-gama, que dispara do cilindro de sua cintura. Antes de Maddox ser
agarrado, na décima-quinta câmara, ele já reduzira a metal liquefeito todos os
controladores.
Z-3001
perde a estabilidade. Há dois estágios e dez mil metros para que atinja a
órbita geoestacionária. O foguete gira sobre si, rodopia e inicia uma queda, acelerando
com o protótipo iniciando sua queima. O conjunto espaçonave-protótipo se desintegra,
ao passar para a atmosfera, a uma velocidade de cem mil quilômetros por hora.
A população da Terra assiste horrorizada a outro fracasso, desta vez ocasionado por um terrorista.
#
O
vigésimo chute atinge Maddox no queixo, deslocando a mandíbula.
—
Chega. Dougall, vá para o corredor. Ele está pronto para falar — o Dr. Mitchum
põe a mão no braço reforçado do segurança e senta-se na poltrona, à frente da
cadeira de madeira caída. Maddox, esparramado no chão, recusava-se a entender o
que fizera. — Para você, é tudo um truque, um joguinho repulsivo que o fez ter
pesadelos durante a subida da Z-3001. Correto?
—
Eu deveria proceder de outra forma, Dr. Mitchum?
—
Deveria ter permanecido no outro lado da Segunda Cortina de Ferro, que o louco
tirano da Rússia resolveu construir. Mas, por hora, é só. Será conduzido à
prisão política de Saint-Michelle, no Monte Saint-Michelle, onde aguardará a
ordem para sua execução. Você custou aos Estados Unidos e à Humanidade um
prejuízo incalculável. Novecentos bilhões de dólares americanos e uma
oportunidade de visitarmos o futuro.
—
Faria isso mil vezes, Mitchum. Seu projeto era o holocausto orbital. O dinheiro
daria para alimentar dez milhões de pessoas, por dez anos, mesmo que fosse com
comida para cachorro.
—
Cale a boca, seu louco! Tínhamos de saber o que nos aguarda, no futuro! Agora,
precisaremos de mais dez anos e pelo menos um trilhão de dólares para
reconstruir o que você destruiu em quinze minutos!
O
Dr. Mitchum levantou-se da poltrona confortável e saiu pela porta.
—
Pode executá-lo agora mesmo, aí dentro, Dougall. Vai receber um aumento na sua
conta, de cem mil ao mês. Vai poder se divertir bastante, com o dinheiro.
Estamos no dia trinta de Outubro, não é? Mais outra dessas perdas e o Centro
vai à falência, certo? — Ele deu uma risadinha, gostando da piada que criara. —
Ficarei esperando do lado de fora. Pode ir.
Enquanto
Dougall abria a porta, o Dr. Mitchum caminhou de um lado para o outro.
— Dr. Mitchum? — Era Maddox. — Entre na sala, ocorreu um terrível acidente.
#
—
Ele pirou! Como deixaram que fizesse isso? Agora, o crânio responsável pelo
projeto se foi! — O General Peters continuou: — Quero ele morto! Pode provocar
mais estragos.
—
General, não podemos fazer nada. Ele entrou na fronteira, na Cortina.
—
Ponham-me em contato com o Presidente Andrei. Estamos a quinhentos quilômetros
de Moscou e não podemos fazer nada?
Houve
um início de tumulto, quando os outros assessores saíram da sala e Peters
sentava-se na cadeira acolchoada.
—
Como vai, General? — a imagem da tela era perfeita, instalada nos fundos da
sala do alto oficial aeroespacial.
—
Minha úlcera vai começar a sangrar de novo, e você sabe o que quero,
Presidente. Sabotou-nos no nosso momento de revelação! Não há mais nada a
fazer, não compreende? Não há ninguém com a nossa capacidade tecnológica e
dinheiro para levar outro androide para cem anos no futuro!
—
Exceto nós.
Peters
levantou-se da cadeira, apertou os olhos e disparou:
—
Bastardo! Como conseguiu, como fez isso, debaixo do nariz de nossos agentes?
Vai mandar um astronauta para quinhentos anos no futuro, em vez de um androide?
Você...
—
Shh... Shh... Calma. Vamos enviar um homem, para cento e cinquenta anos além do
agora. Não se descontrole. Não se
descontrole ou vai jogar uma bomba de antimatéria em seus pés. Precisamos de
comida, mais do que vocês, americanos. Noventa e nove por cento do nosso povo
passa fome. Eu também. Temos de ter a tecnologia para o plantio sem os
transgênicos. Eles acabaram com as lavouras, onde há alface, não há tomate,
onde há trigo, não há milho... Mas já chega, vou desligar. Temos tantas bombas
de antimatéria quanto vocês. E algumas em suas principais cidades.
A
tela ficou branca, o contato desligado por Andrei. O General Peters ficou
olhando, petrificado, para a tela. Em dez minutos voltou à realidade, ninguém
se atrevendo a entrar em sua sala.
Em
um minuto, vestiu o casaco, as luvas de couro e caminhou com passos incertos
para a porta. Ignorou os jornalistas, assessores, oficiais de baixo escalão,
apertou um interruptor no bolso do casaco e o carro oficial estacionou em
frente ao edifício principal do Centro.
Ele
entrou no automóvel e partiu, a neve caindo com suavidade no lado de fora.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
Conto No Meu Quarto, Eu e Meu Omni-Computador Somos os Únicos Que Se Dão o Luxo de Sonhar, por Roberto Fiori
Uma noite, quando me preparava para dormir, o Omni-Computador de meu quarto de dormir me contou uma história curiosa. Eu precisava de inspiração para escrever uma história adulta, sem ser apelativa, e não tinha quaisquer ideias interessantes.
A história não era muito comprida, mas possuía muitos quês, que a tornavam fascinante e bombástica. O Omni-Computador começou:
Era a época do início das viagens pelo Sistema Solar. Dez anos depois, encontrara-se microorganismos deprimentes e fúteis em Marte e Titâ. Únicos a provar que um tipo de vida diferente da nossa existia no Sistema. Na verdade, foi no alvorescer do Século XXI, que detectara-se bactérias em um lago nos Estados Unidos da América, cuja composição baseava-se no Arsênico, elemento químico diferente do nosso Carbono.
Porém... quando chegamos à décima lua de Plutão, o Hades e o Tártaro nos levaram a desejar desmantelar de modo inexorável Pluto-10. Com nosso arsenal de neutrinos e antimatéria em quantidade descomunal, para o que tínhamos em 2.900 d.C. deixamos no lugar do planetoide alguns fótons e nêutrons.
O que poderíamos imaginar, que era tão perigoso, que nem barreiras sucessivas de campos de força poderiam detê-lo, nem armas detratoras atuando nas frequências da emissão de energia de buracos negros?
Não havia nada, em Pluto-10, que nos parecesse terrível e letal. Mas uma carta fora deixada em 10.000.000 de línguas, incluindo as terrestres. Em inglês, foram deixados indícios de como destruir a Terra, de um modo que o vórtex de gravidade quântica deixado após a aniquilação de tudo o que existia no globo atrairia tudo o que existia no Universo. E como Universo, queria-se dizer o Universo visto sob as frequências visíveis, abaixo e acima da luz, sem deixar-se de lado qualquer número ou qualquer fator.
De 2.900 d.C. a 3.000 d.C., todos os esforços de cada homem, mulher e adolescente foi direcionado no sentido de se construir naves, armas, novos propulsores e uma nova tecnologia para que se defendesse nosso mundo. Um sextilhão de toneladas de tudo o que existia em termos de recursos naturais foi declarado de interesse público para a defesa global. Construiu-se prisões, para os agitadores e déspotas que se diziam contrários a tal gasto.
Não se sabia de que forma o ataque ao Sistema Solar viria, mas havia uma única defesa que nos era proibida: lançar o inimigo para um dos inúmeros Universos Paralelos, em que poderíamos enclausurar o atacante pela Eternidade. Isso era uma Lei tão Geral quanto as Leis da Relatividade Especial, Geral e as Leis Físicas que uniam as Leis da Mecânica Quântica e as primeiras duas Teorias de Einstein, tornadas Leis após 5 séculos de desenvolvimento, desde que foram escritas.
Mas, um dia em que nossas forças que vigiavam os limites do Sistema Solar estavam atentas, algo muito sutil aconteceu com os equipamentos de sonho gerados e manipulados pela mente humana. A quantidade de energia gerada no primeiro ataque foi tão descomunal, que desarmou nossas naves galácticas mais frágeis. Um décimo-nanossegundo de tempo mais tarde, dez mil decilhões de ergs de um campo avassalador de energia atingiu o inimigo, que nos pareceu tão formidável quanto um buraco negro podia se tornar, como arma.
Porém, na realidade, nosso adversário podia ser tudo, menos um buraco negro. Este pode dobrar matéria e energia, tragar aglomerados globulares de estrelas e em um caso, a seiscentos bilhões de anos-luz da Terra, um caso de destruição total de uma galáxia contendo um trilhão de estrelas foi registrado e observado.
Esperou-se pelo imprevisível.
Aguardou-se de modo tenso e ansioso pelo próximo ataque.
Evitou-se concluir que o alienígena pudesse retaliar.
E, após dois dias sem sinal de ataque mental, físico ou metafísico, pudemos descansar com nossa parte consciente do corpo. O inconsciente permanecia em segundo plano, sempre vigilante.
Quando o Omni-Computador terminou a narrativa, encontrei-me encharcado de suor. Emiti uma onda de pensamento e o computador respondeu, na mesma frequência mental:
Um homem, talvez o ser humano com inconsciente mais amplo e poderoso que uma vez existira, partiu para solucionar o enigma. Voltou em uma semana, branco como gelo, impassível como os androides que você viu nos cursos de História da Cibernética e sem sentimento algum. Sei o que aconteceu. Mas vou contar a você o que este ultra-homem fez: caminhou em direção a um dos nossos reatores de antimatéria, sem antes criar uma esfera de campos de força ao redor do edifício e seus subterrâneos, onde o reator se encontrava.
Somente uma mente tão poderosa como a de Lant podia destruir tal quantidade de antimatéira armazenada no núcleo do reator e impedir que tal explosão desencadeasse uma explosão de supernova, bem no centro de nossas forças e nosso governo galáctico.
— Quem ele era, Omni?
Omni imprimiu em papel fotográfico de alta resolução a resposta.
Boa noite, rapaz. Bons sonhos do inconsciente.
O computador se desligou e eu agarrei o papel.
O nome era de meu querido e amado pai, o primeiro presidente a se tornar governante de um único planeta, Terra.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
Conto "Não é o Fim... Ou o Começo...", por Roberto Fiori
Era hora de movimento, na estação. Até o fim do dia terrestre, mil astronaves passariam pelo Portal, ilesas. Isso, se a hora de entrada, em que atravessassem o pórtico, fosse a mesma que a hora em que ressurgissem na superfície espelhada de destino. Computadores faziam o trabalho pesado de cálculo científico. Eu tinha de autorizar o fluxo de naves estelares, o que não era pouco. Mas, contanto que os horários coincidissem, haveria pouco ou nenhum problema.
As
guerras haviam sido consideradas uma afronta ao intelecto do ser humano
superior. E todas as cento e vinte raças que viviam no espaço com o volume de
um tetraedro cósmico de mil anos luz de comprimento de aresta haviam
concordado, quando Sir William Morris, nosso novo monarca terrestre, terminara
de argumentar contra o genocídio que imperava em toda Via Láctea, isso vinte
anos atrás.
Fora
o começo de uma Paz Verdadeira, que nunca existira em planeta algum. Mas
William, condecorado pelos lordes do Século XXVI como Sir, parecia um tanto
desconfiado de que tudo aquilo era uma baixa imitação de um antiquíssimo ritual
da passagem da coroa real britânica de um rei falecido para outro membro da
realeza, vivo.
—
Henry, venha cá, venha ver esse novo licor que os franceses me enviaram, na
ocasião da minha condecoração e coroação, como rei William II. Vai adorar,
tenho a certeza.
Henry
teleportou cada uma de suas moléculas da superfície da capital mundial da Terra
para a estação orbital terrestre em segurança.
—
Pois não, Excelência, com sua permissão, posso avaliar as vinte bilhões de
bebidas fermentadas ou destiladas existentes na Galáxia com eficiência.
—
Dessa vez, Henry, terá de lidar com o subjetivo e a mente destruidora dos selenitas.
Há quanto tempo não há um incidente em Sepcon-14?
—
Qual das estações de transporte Sepcon-14 se refere, Majestade?
—
Esta aqui, onde estamos.
—
Houve uma única catástrofe nesta estação, Sir Morris. Deu-se no Interregnum,
período há quatrocentos anos, em que, durante dez anos, não houve guerras. Foi
no final desse período, quando o incidente se deu e foi arquitetado para que as
colônias independentes de Marte fossem anexadas ao Império Terrestre.
—
Exato, Henry. Você gostaria de ver os marcianos escravos dos terrestres até
quando? Até que data os colonos de Marte deveriam ser obrigados a trabalhar nas
minas radioativas da Terra, Marte, nas luas de Júpiter, Saturno e no cinturão
de asteroides?
—
Percebi aonde quer chegar, Vossa Excelência. Deseja libertar os colonos
marcianos e torná-los seres humanos independentes... Mas, neste ponto, existirá
motivo para guerra, Sir.
—
É, eu li aquele calhamaço maçante e ridículo, As Leis da Colonização, pelo Rei Charles V. Ainda está valendo,
caso contrário, um motim em Titâ teria sido engendrado há duzentos anos atrás. Mas
você se engana, robô, quando fala em um novo início de guerras interestelares. Mostre
isso no mapa — Sir Morris inseriu um cartão óptico em uma ranhura no pescoço do
robô e, na parede próxima, um painel branco liso desceu. Do teto, luz laser foi disparada pela mente ágil de
Henry, que manobrava as cores e desenhos no painel com a habilidade de um
maestro de música.
—
Sir, é o nosso Sistema. A Terra e a Lua, distantes trezentos e oitenta mil quilômetros
entre si.
—
Aquele tirano da Lua, Vanegard IV, sempre tramando! Pretende iniciar um novo
ciclo de combates com a Terra, quando o trânsito entre os planetas habitados de
nossa Galáxias atingir um pico máximo.
A
imagem no painel mudou. Mostrou a superfície da Lua, iluminada. Tudo parecia em
paz. O palácio selenita, naves da população do satélite sem indícios de que iriam
decolar, era tudo, além de crateras sem fim. Mas no lado escuro, mostrado a
seguir, via-se milhares de mísseis guiados por ondas eletromagnéticas, que
atingiriam a Terra com a precisão de um neurocirurgião. Estavam, um a um,
acoplados a plataformas de lançamento da altura de um prédio de sessenta
andares.
—
Diga-me o que vê.
—
Será um massacre. O arsenal nuclear e orbital da Terra foi desmantelado, há cem
anos, pelo rei Charles IX, após uma série de atentados bem-sucedidos contra os
reis Charles VIII, VII, VI, V e IV.
—
É aí que você entra. E eu, também. Sabia que construí uma estação de teletransporte
do outro lado do Sol? Não? Você transportará as tripulações das naves de
ocupação da Lua para a Terra e teletransportará os mísseis para junto da superfície
espelhada de nossa estação. Os artefatos serão dirigidos para o Sol. Viu o
tamanho deles? São mil mini ogivas para cada míssil. Na Terra, será o
holocausto real, não o da ficção. No Sol, combustível para nossa querida
estrela. O que acha?
—
Seria preferível transportarmos os mísseis agora, interrompendo o tráfego das
naves civis, no espelho.
—
Vamos beber a isso. Boas ideias nós temos, não?
Eles
beberam, até que Sir Morris começou a trançar as pernas.
—
Essa... é minha ordem, Henry. Está... nesse nanochip proteico vivo e atuará no
sentido de ativar seus sentidos da moral — o rei inseriu um cartão do tamanho
de sua unha do polegar no pescoço da máquina, que se dirigiu para o teleporte.
Começou a seguir a controlar da Terra a estação de transporte na órbita
terrestre, evitando que qualquer nave viesse até o quadrante que englobava
Terra, Lua, Vênus, Mercúrio e o Sol, incluindo a segunda estação de transporte.
Deve ser uma operação secreta, é
claro, refletiu Henry, teclando o painel do computador nano
quântico de décima-quinta geração. Era questão de quando Vanegard IV lançaria
as naves de ocupação e os mísseis. Passaram-se as horas. Sir Morris esperava,
sob a abóbada translúcida de seu palácio de cristal orbitando a Terra, que
mostrava as estrelas, a Lua e deveria acusar a invasão, quando se desse.
—
Não estou captando nada, no telescópio montado em minha sala de trabalho. O que
vê, Henry? — a comunicação entre a Terra e sua órbita estava distorcida, mas
não impossibilitada.
—
Sua Excelência, captei um motor iônico sendo acionado. Vem do lado do palácio
de Vanegard IV.
Demorou
cinco minutos, mas foi o suficiente para que Sir Morris visse, vindo do lado
escuro da Lua, objetos que cruzariam o espaço entre os planetas em cinco horas.
a nave imperial viria a seguir, do lado iluminado do satélite natural.
—
A bola está com você, Henry! Despache tudo o que puder para a área oposta ao
Sol. Darei as coordenadas para você mandar tudo para o inferno. E Vanegard IV e
sua tripulação têm de ser conduzidos à prisão mundial. Têm muito que se
explicar.
sexta-feira, 11 de novembro de 2022
Conto "Há Quanto Tempo...?", por Roberto Fiori
ATENÇÃO: não danifiquem estas formações rochosas! Levaram milhões de anos para se formarem e não se deve tirar um pedaço delas, somente por divertimento. Um rapaz confessou que arrancou um pedaço de pedra purpurina da caverna, mas ela só brilhava dentro da caverna, não no exterior. |
Uma
centelha de luz na escuridão. Um zumbido grave de uma mamangaba algures no teto.
Impossibilitado de me mexer ou de sentir qualquer objeto, animal ou pessoa,
buscava conforto no constante frio do ar de onde eu estava. Ecoou uma porta se
fechando, além. Lembrei-me da faísca, única fonte de luz no ambiente
dissimulado pelas trevas.
Eu
podia, porventura, tentar mover algum sólido pousado na mesinha em frente.
Apertei os olhos e vi. Uma vela, de quando em quando, soltava pequenas
labaredas de luz e calor, no centro da mesa. Concentrei-me, de uma forma
diferente de quando o fizera, dezenas ou centenas de vezes antes. Consegui
fazer a chama bruxulear. Mas era momentânea sensação de liberdade, que senti
como euforia de uma ansiedade fortalecedora. Sem poder calcular as dimensões do
recinto onde estava, fechei os olhos. Respirei calmo e relaxado e deixei minha
mente completar o trabalho. E vi.
Em
algum lugar daquele ambiente, seres humanos aguardavam. Remexeram-se, como se
soubessem que aquilo aconteceria, o bruxulear da vela. Interessante... captei,
como se sintonizasse as frequências de um antigo aparelho de rádio, vibrações
das mentes agitadas daqueles homens. Eu podia
sentir, mas sem compreender a linguagem daquelas criaturas. Eram
primitivas, brutas. Uma delas apontou para a mesa. Um jarro em formato curvo
tombou, derramando água. A vela tremeluziu e senti suor escorrer de minha
testa.
Mas,
testa? Seria meu corpo, mas eu estava sem poder movê-lo, vê-lo, ou mesmo
fazê-lo responder a meus impulsos mentais. Senti o esforço descomunal que fazia
com minhas costas e meu pescoço, mas imóveis, apesar disso. Desmesurada foi a
tensão que transmitia aos nervos de minhas mãos e pés. Porém, sabia que o ápice
daquele esforço estava por vir.
Os
músculos de meus malares, minhas mandíbulas em repouso até aquele momento,
forçaram minha boca a se abrir. O rosnado de uma fera se fez ouvir. Vinha de
distâncias imensas, ou era o produto da vibração de minhas cordas vocais? Minha
cabeça tremia. Os dedos das mãos enclavinharam-se, torcendo para formar punhos
fechados.
A
mesa voou por aquele local, lançando a vela, pratos de metal, copos e outra
jarra de barro pelo espaço. Burburinho baixo. Um grito. Uma frase indecifrável dita
para ser transformada em algo possível de ser compreendido. Eram Homo Habilis,
Homens de Neandertal, Homens de Cro-Magnon ou Homo sapiens? Pela estrutura
craniana, o mais provável seria Cro-Magnons, a vertente mais antiga dos Homo
sapiens que habitou a Europa. E seus rostos não eram por demais primitivos.
Possuíam características que seriam levadas pelos Homo sapiens e terminariam no
homem moderno, os Homo sapiens sapiens.
Estes
eram pacíficos, os que me rodeavam. Comecei a sentir todo o meu corpo. Estava deitado
em uma mesa de pedra lisa, lixada antes e tornada confortável. Sem ranhuras,
trincas, fendas, buracos. Construída como um altar religioso. Puxei meus
braços. Os Cro-Magnons gritaram e puseram-se de joelhos. Empurrei meu corpo
endurecido pela imobilidade de dias para cima, usando as mãos. Sentei-me. Um
zumbido diferente do de um inseto inundou o local. Os homens rezavam ou, pelo
menos, tartamudeavam em voz alta, as sílabas arcaicas se atropelando.
Minha
garganta estava seca. Levantei-me e contornei o grupo de dez ou quinze homens
sem necessidade de luz para enxergar. Minha mente me fornecia um mapa daquele
complexo subterrâneo de salas, em que uma série de corredores levavam a sala ao
restante dos ambientes.
Subi
uma rampa de pedriscos e cascalho grosso. Vi-me acima de um salão, onde mil
Cro-Magnons armados de lanças com pontas de sílex e facas de pedra esculpidas e
afiadas por dias de trabalho árduo, gritavam e levantavam as lanças. Percorri
as margens próximas ao teto, que delimitavam o imenso recinto e, ao chegar logo
acima dos líderes dos homens primitivos, gritei:
—
Não escutem o que eles estão dizendo. São impostores!
A
algazarra cessou e olharam para cima. Um homem tremeu e pôs-se de joelhos,
seguido por outros. Em breve, os mil Cro-Magnons estavam ajoelhados, esperando
que as ordens fossem ditas. Mas esperavam pelas minhas ordens ou por ordens dos
sacerdotes?
Eles
berraram, e entendi que queriam que a horda ajoelhada investisse sobre a minha
pessoa. Surpreendi-os, causando uma queda de parte do caminho que rodeava o
salão. Parecia fácil mover e esfacelar objetos, após o repouso na sala da
caverna. Os homens puseram-se de bruços, enquanto os sacerdotes os ameaçavam.
Mas com o quê? Sobrevoei — eu podia
planar! — o imenso espaço e pousei no lado mais afastado da multidão. Continuei
a ouvir os líderes assustando seus discípulos, com uma palavra. Olhando para o
chão, vi pequenas nuvens de fumaça subindo até se dissiparem, a dois metros de
altura.
Lava!
Perguntei:
—
O que é essa lava, em comparação com meus poderes, chefetes de uma quadrilha? —
Os seres deitados de bruços olhavam ora para seus sacerdotes, ora para mim. Fiz
os líderes daquele grupo subirem no ar. Eles gesticulavam e gritavam,
agressivos. Mas outros berros foram ouvidos, eram gritos de horror...
Deixei
os sacerdotes caírem de uma altura de trinta metros.
--//--
Os
homens viram-me levitar até o teto do salão. Raios azuis rodearam-me, partindo
da ponta de meus dedos. O medo, se é que aquele sentimento de terror profundo
podia ser chamado assim, foi absorvido por completo, meu cérebro era uma
esponja que extraía as sensações de cada homem.
Ordenei
com minha mente que a multidão se mantivesse de costas contra as paredes do
salão. Relâmpagos de cem mil MW de potência irromperam de minha testa e iluminaram
as sombras. Contra a luminosidade, que sobressaía através de uma abertura no
topo da caverna, a noite se tornou feérica, e a escuridão transformou-se em
luz.
Como
uma perfuratriz colossal, os raios de eletricidade cavaram com estrépito um
poço no centro do enorme salão. A areia, a terra, o granito e o cristal de
rocha voaram para o alto e fumaça desprendeu-se do buraco, obrigando aqueles
homens primitivos a se abaixarem. Em cinco minutos, um ruído borbulhante de
líquido em alta temperatura levou-me a descer. Pousei entre os sacerdotes
mortos e a cratera aberta, de onde o magma das profundezas subiu à superfície e
começou a se espalhar pelo salão.
Converti
a energia térmica da lava em energia elétrica. Concentrando-me, fiz com que a
lava fervente esfriasse, e fosse transformada em rocha. Transferi o potencial
elétrico da massa rochosa para o solo. Olhei em torno e me decidi. Fiz com que
meu poder eletromagnético modificasse a mente daqueles homens. Seus neurônios
passaram a captar um valor superior a um bilhão de vezes o que a realidade lhes
fornecia, até o momento. Um Cro-Magnon afastou-se do grupo e desenhou com sua
faca na areia, diagramas de máquinas a vapor. Outro, escreveu equações de
caráter bioquímico no solo. Em um frenesi, todos se ajoelharam e transformaram
a terra e a camada de pedriscos que havia no chão em dezenas de equações
matemáticas e físico-químicas.
Eu
havia pousado na trilha que circundava o salão e observara os homens que, nesse
momento, demonstravam pouco ou nenhum indício de ignorância. Sorri, satisfeito.
Emiti uma esfera pulsante de energia elétrica, que abrangeu todo o planeta.
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
Conto "Pesadelo ou Salvação?", por Roberto Fiori
Nosso Sol como Estrela Gigante Vermelha: através de processos gravitacionais, o Sol atingirá um diâmetro tal, que englobará a órbita de Marte, e um pouco além. |
Ao meu redor, brumas, envoltas em escuridão, deixando um círculo de luz baça em volta de meus pés. Sinto o ar. Mofo, fungos e poeira tomam contam de meu olfato, para a seguir invadirem minhas vias respiratórias, meus pulmões, seus alvéolos e impedirem de que eu respire com facilidade.
Ando.
Estendo meus braços para a frente, tentando alcançar uma parede, uma porta, uma
saída. Conto os passos. O vazio permanece. Sinto-me desamparado e fraco, ao
andar cerca de dez metros. O suspiro da futilidade enganosa me alcança e eu me
ajoelho. Olho para cima e sinto como é denso e pesado o pesadelo no qual sei
que nenhum ser humano encontrou uma saída, nem por uma vez sequer.
Arrasto-me.
Fugidia ilusão é a prova de que estou sonhando. Ou não? Minhas energias se
esvaem. Apetece-me deitar de bruços e dormir, até que as Eras Futuras cheguem
ao seu final, que o Universo se torne escuridão total. Mas sei que é
impossível, esse desejo. Encontro-me em lugar de penitência e morte. Morrerei
antes que a luz que me cerca se apague. Ficarei até o momento em que seres
abismais que construíram este lugar não precisem de minha dor para sentirem
prazer.
Arrasto
minha perna direita e estendo os braços. Consigo me colocar de pé. Adoraria
gritar, mas, sem um ruído de minhas cordas vocais, ouço um metralhar à
distância. É diferente de uma rajada de fuzil automático. É moroso, preguiçoso
e parece algo que esmaga. Está vindo em minha direção, de algum lugar à minha
direita.
Corro,
a princípio arrastando as pernas, sentindo tonturas que se transformam em
ânsias de vômito. Engulo a saliva grossa do refluxo gástrico. Sinto que vou
vomitar a qualquer momento. Escarro e cuspo várias vezes sucessivas. O enjoo
melhora.
Consigo andar, trôpego e fraco, até que, sem aguentar o esforço, caio de joelhos. Um zunido acoberta o som da metralha. Sei que serei esmagado, mas, sem me importar, deito-me de lado. E, encoberto pelos fantasmas do sono, minha realidade se torna breu e eu sou levado pelos anjos de Morfeu aos domínios do Reino dos Sonhos.
--//--
Um
ruído pesado e desagradável me acorda. Um veículo alto, maciço, de esteiras,
está a meu lado. Vejo um cano de descarga de fumaça no seu topo, despejando
fumaça e mau cheiro no ambiente antisséptico que me rodeia. Uma porta se abre
para cima, tal qual as asas de um pássaro.
Uma
mulher desce os degraus de saída e permanece de pé, me fitando. Tira do bolso
um objeto que poderia ser uma arma portátil, mas o cano é dividido em duas
partes, cada uma em formato de elipse. Há uma coronha e um gatilho. A mulher
aponta a arma par mim e dispara. Vejo minha pele cintilar como cristal
lapidado, nas sete cores do arco-íris. Olho para a atiradora e agradeço. Ela
balança a cabeça e espera.
Fico
de pé, recuperei minhas energias. Dou um passo em direção ao veículo. A mulher
acena e eu subo os degraus. Sento em uma poltrona, fixada a dois metros das
duas acomodações para os pilotos. A porta se fecha, um som de ar comprimindo se
elevando. Um painel sob o para brisas e outro no teto se iluminam, o verde
fluorescente de suas telas desconhecido para mim.
Um brilho que cega. A única coisa que me passa
pela cabeça, quando vejo a luz que atravessa os para brisas. Atravessamos uma
estrutura em forma de domo, com a fumaça do veículo de esteiras se confundindo
com os gases que obliteravam minha visão, há minutos... ou horas, antes. A
piloto se vira para mim e fala. Sua voz monocórdia não tem sentido. Poderia ser
russo ou chinês, que não faria a menor diferença.
Comecei
a suar. Olhei para o alto, através de uma vidraça instalada na lateral do
veículo e entendo. O Sol tem dez vezes o diâmetro da estrela que eu conhecera,
na Terra. E se esta for a Terra, o domo fora construído para proteção dos
últimos habitantes de meu mundo.
Se
eu sair, morrerei. Decidi esperar.
O
carro de esteiras era barulhento, mesmo no interior. Viajamos por cinco horas e
chegamos a um acampamento. Naves decolavam na vertical e subiam os céus. Outra
cúpula, fechada, era circundada por uma cerca. Um portão nos deixa entrar no
acampamento militar. Um outro veículo, sobre rodas, começava a subir a rampa de
entrada em um veículo grande, pesado, que recolheu sua rampa, assim que o
veículo atingiu seu interior.
A
mulher era elegante e jovem. Uma lutadora, pelo seu físico esguio e, ao mesmo
tempo, encorpado. Apanhou um microfone e falou nele:
—
Você é o último a deixar a Terra. Logo, o Sol englobará tudo, até a órbita de
Marte. E além. Nossa nave vai chegar em um curto período de tempo. Tenha paciência.
Ela
se virou para o painel de instrumentos e entrou em contato com outra pessoa,
falando naquela língua que eu mal conseguia distinguir uma sílaba da outra.
Esperamos duas horas. Uma estrutura em forma de meia circunferência pousou,
englobando a cúpula que existia na base, as sombras de seu casco deixando tudo
na semiescuridão.
—
Agora, podemos descer, Shaw. Verá maravilhas de tecnologia que sua mente jamais
imaginou. Verá seres repulsivos, criaturas semelhantes às que existiram neste
planeta moribundo, mulheres belíssimas e outras nem tanto, verá construções
titânicas, naves ameaçadoras e aerodinâmicas, algo que lembra as últimas
versões dos caças Raptor, porém, tão poderosas quanto cem bombas de hidrogênio
— Ela falava no microfone, pequena esfera de metal que brilhava, refletindo o
verde dos painéis de controle.
—
E o que aconteceu com os dez bilhões de terrestres, que viviam comigo e, em uma
fração de segundo, desapareceram das ruas das cidades? Morreram...? — Enquanto
eu falava, uma voz baixa reproduzia minha fala na língua da piloto.
—
Saberá de tudo, no destino. Sua estrela está prestes a se tornar gigante
vermelha em cinquenta minutos. No momento, a temperatura no exterior é de
trezentos graus Kelvin. Não se preocupe — e ela se virou para a frente,
começando a falar em outra língua com outros, pelo microfone.
Eu
sabia que poderia ser um truque, mas para que se darem tanto trabalho para
elaborarem uma encenação tão complexa? Seria mais fácil se me teleportassem ou
me raptassem no meio da noite e me levassem ao seu mundo.
Pensei
que era possível que aquilo fosse real. Sentia o banco de passageiros, o teto,
as janelas. Sabia que poderia haver algo de sinistro em tudo aquilo, mas como
eu poderia vir a conhecer aquele jogo? Resolvi aceitar a versão da piloto.
Fazia sentido...
—
Podemos sair, Shaw. Sairemos em dez minutos.
—
Há quanto tempo — perguntei para minha captora — vem se dedicando a essa tarefa
tão benevolente, hã... seu nome, qual é?
—
Sou Moníka. Não somos benevolentes, como pensa. No passado, quando seu Sol
possuía cinco diâmetros do que era em sua época, teleportamos suas reservas
naturais de metais, terras-raras, gases da atmosfera, em quantidade pequena,
mas suficiente para a reproduzirmos em outro planeta, e terraformamos tal
planeta árido e sem vida. Em trezentos anos, obtivemos uma outra Terra,
adequada para que a raça humana vivesse. Em troca, exigimos sua cooperação, no
maior projeto humanoide já engendrado, a luta para reavermos o que foi nosso,
há milênios. Um outro povo, poderoso além do que pode imaginar, aniquilou e
destruiu a maior parte de nossa civilização, em planetas bilhões de anos-luz
além do Sistema Solar. É hora de darmos o troco. Com dez bilhões de seres
humanos, a maior quantidade de lutadores em potencial que já detectamos,
poderemos dizimar os Djim.
—
Quer dizer que nos recrutou... sem nossa permissão?
—
Demos a vocês uma outra chance, além de morrerem sob o calor mortal de seu Sol
gigantesco.
Shaw
sabia que isso poderia ser outro ardil. Mas as possibilidades eram duas,
somente. Verdade ou mentira.
—
Vamos, Shaw, chegou a hora.
Eles
desceram do veículo, quando a porta se abriu e ela indicou o caminho. Foram
para um cilindro de vidro liso e polido como um espelho, situado no centro da
área em que a nave descera, entraram nele e subiram, rápido.
A
nave em forma de semicircunferência deixou o planeta. Uma olhada por uma janela
inquebrável fez Shaw mudar de ideia. Foi como olhar para o próprio Inferno,
prestes a se abater sobre a pequenina Terra. Shaw ganhara seu próprio microfone
esférico e a mulher começou a falar:
—
O que acha da nave?
—
Acha que estou apto a combater em ambientes desconhecidos e hostis?
—
Receberá por telepatia o treinamento. Depois, tudo o que aprender será
automático, sem erros, sem dar chance aos Djims uma única chance. Lutaremos a
seu lado. Mataremos, destruiremos alvos militares, do espaço. Pilotaremos com
maestria astronaves para dois, três, dez, mil guerreiros. Será fácil, com as
fitas mentais que temos conosco. E tal conhecimento ficará impregnado em seus
intelectos por um bilhão de anos.
Shaw
teve um pressentimento. Nada era indestrutível. O Universo fora feito a partir
da destruição de uma singularidade cósmica. E continuaria a se autodestruir,
até não haver mais nada que se parecesse com o Ovo Cósmico original.
Ele
sentou-se e olhou por uma vigia. Contra a vontade, viu quando a Terra foi
vaporizada pela onda de calor que uma explosão solar da envergadura de cem
planetas terrestres atingiu de raspão a superfície do Oceano Pacífico.
Tudo ficará bem,
pensou Shaw. Tudo dará certo.
E, segurando com força a esfera que constituía o microfone tradutor, ele dormiu por cinco anos, até que chegaram ao seu destino, a base de treinamento dos terrestres.