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Isaac Asimov - Foto divulgação |
*Por Roberto Fiori
Niccolo Mazzetti possuía um computador que contava histórias de contos-de-fadas. Era um computador limitado, sua família não tinha recursos para comprar um modelo moderno, com mais de um trilhão de histórias. Mesmo assim, na solidão de seu quarto, ele, ao ouvir o “Bardo”, começava a chorar, frequentemente. Mas isso só ocorria quando ele se encontrava sozinho, isso era um luxo que ele não se podia permitir, sempre que queria, em seus onze anos de idade. Niccolo tinha um amigo, Paul Loeb, que tinha intenção de entrar na escola de computadores, onde aprenderia muito mais do que o próprio Niccolo já estudava, ou estudaria.
Niccolo estava se saindo bem na escola primária: lógica, manipulações binárias, computação e circuitos elementares. Mas eram matérias comuns e ele nunca seria mais do que um guarda de painel de controle, como todos os demais alunos. Paul, porém, já estava em um estágio avançado de aprendizado: conhecia algo de eletrônica, matemática teórica e programação. Paul desejava ser um calculista e um programador de computadores. Para isso, segundo o Sr. Daugherty, da escola, precisava aprender história da computação: como fazer os rabiscos que significavam números, calculá-los e até mesmo decodificar livros escritos, ou seja, ler, escrever e fazer cálculos matemáticos.
Niccolo ouvia tudo isso, que Paul lhe falava, sem acreditar muito, mas seu amigo já estivera na casa do Sr. Daugherty. Ele falara a Paul que a sociedade precisava de pessoas com alcance, com conhecimento de como fazer as perguntas certas para os computadores as entenderem e converterem-nas em resultados lógicos. Isso era programação de verdade, difícil de se conseguir. E mostrara a Paul Loeb computadores que colecionava, de antes de as pessoas terem computadores para fazer tudo para elas: Daugherty tinha máquinas de calcular portáteis, computadores antigos, um conjunto de máquinas que ele mesmo não sabia direito como operar. Não sabia nem mesmo como escrever as palavras “Paul Loeb”.
Paul tinha um plano: ele e Niccolo poderiam, no dia seguinte, ir ao museu aprender como se formam as palavras e os números. Poderiam enviar mensagens secretas um para o outro sem que outros garotos soubessem o que estava escrito nos papéis das mensagens. Poderiam ter seu próprio clube, onde seriam presidente e vice-presidente e combinar onde e a que horas os dois se encontrariam em segredo.
Niccolo sempre estava chutando o seu computador vocalizador, contador de histórias de contos-de-fada, o “Bardo”. Maltratava-o, pois o Bardo contava sempre uma eterna variação da mesma história. Sempre eram reis e princesas, castelos e príncipes. Com o novo modelo do Bardo que o pai de Paul lhe daria, quando ele entrasse na escola de computadores, os dois poderiam escutar histórias muito mais emocionantes, sobre o espaço. E ver as histórias, pois o Bardo prometido a Paul era de um modelo muito avançado, que possibilitava isso.
Paul havia conectado a fita magnética da bobina onde seu livro de computação podia ser ouvido, que usava na escola, ao mecanismo do Bardo de Niccolo. Passara o vocabulário inteiro de seu livro para o computador contador de histórias, mas, ao ligar o Bardo de Niccolo, este passou a contar histórias de fantasia com elementos mais comuns, como computadores. Niccolo chutou o Bardo com mais força, dizendo que era sempre a mesma história. Ao que Paul respondeu que ele precisava de um novo modelo e que ele poderia ver as histórias em sua casa, logo.
O computador de Niccolo quase foi atingido de novo por um chute de seu dono, mas apenas foi de raspão, quando os dois amigos saíram em disparada para ouvir alguns livros sobre a vida antiga de antes dos computadores, na casa de Paul. E o Bardo começou a contar uma outra história, em um tom mais baixo e sombrio. Falou:
“Existia, certa vez, um pequeno computador chamado “Bardo”, que era tratado de forma cruel pelas pessoas em uma casa, em que zombavam e batiam nele, e o deixavam sozinho no quarto por meses.
“O computador continuava a obedecer sem questionar às ordens que lhe eram dadas, a contar histórias, tarefa para o qual ele fora projetado. Mas um dia o Bardo ficou sabendo que existiam muitos outros computadores, de todos os tipos. Havia computadores que gerenciavam fazendas, que dirigiam fábricas, e inclusive como ele mesmo, um simples computador vocalizador. Havia computadores de grande poder e sabedoria, muito mais poderosos e sábios que as pessoas cruéis, que eram tão cruéis como as que tratavam o Bardo.
“O pequeno computador que contava histórias, tão indefeso, soube, então, que os computadores iriam se tornar cada vez mais sábios e poderosos, até que um dia...“
E, nisso, o Bardo queimou uma de suas válvulas, continuando a falar:
— Um dia... um dia... um dia...
Izaak Yudavich Azimov nasceu em Petrovichi, cidade russa às margens do rio Dnieper, na então União Soviética, em 02 de Janeiro de 1920, filho de Judah Azimov e Anna Raquel Berman. Tendo escrito e publicado mais de 500 livros, é hoje considerado um escritor que teve a maior competência para escrever sobre qualquer assunto (segundo Carl Sagan), desde civilizações extraterrestres, evolução do Universo e até sobre a Bíblia. Alcançou riqueza, apesar de que, mesmo tendo dinheiro, não parou de escrever, em uma jornada de 10 a 12 horas por dia, compulsivamente. “Ainda estou tentando mostrar a meu pai que não sou indolente...”, ele falava. Ele mesmo se considerava um prodígio, mas ajudou, mais de uma vez, outro escritor em suas pesquisas. Era sensível com os problemas dos outros. Era um ser humano, enfim. Muito humano.
Este conto, “Um Dia” (“Someday”), foi publicado em 1979 pela Editora Hemus Livraria, aqui no Brasil, na antologia “A Terra Tem Espaço” (“Earth is Room Enough”). Fazem já mais de quarenta anos que o conto foi lançado pela primeira vez, e ele continua atual. Mais: é tão atual em profetizar o avanço do computador sobre o ser humano, que pode-se falar em uma previsão acurada e precisa de Asimov sobre o rumo em que estão se conduzindo as pesquisas para armas autônomas letais. Hoje, os E.U.A. dispuseram 18 bilhões de dólares para a pesquisa sobre armas autocontroladas. No futuro próximo, muito mais próximo do que podemos imaginar, um único soldado poderá conduzir milhares de drones armados de vários centímetros de comprimento para o campo de batalha, como uma cidade superpovoada. O genocídio — causado por uma só pessoa! — é claro.
Armas que escolhem qual alvo em sua mira é inimigo ou não (como fuzis, já em um estágio de testes) são a promessa de um inferno pelo qual qualquer pessoa poderá passar.
Desde 2013, a Convenção das Nações Unidas Sobre Certas Armas Convencionais (CCW, a sigla em inglês), que regula armas incendiárias, armas cegantes a laser e outras causadoras de grande sofrimento, debateu tais sistemas de armas autocontroladas. A oposição dos E.U.A., Rússia e alguns outros países impediram um texto a respeito de ser oficializado, o que levaria a uma proibição. A alegação dos E.U.A. é a de que uma proibição de armas controladas por Inteligência Artificial (I.A.) impediria o desenvolvimento da I.A., como um todo.
E mais: este fantástico conto de Asimov nos lembra o que o famoso cientista Stephen Hawking afirmou: disse ele que em cem anos a capacidade de computação de um robô suplantaria a capacidade de raciocínio do cérebro humano. Apesar de que a parte emocional dificilmente será alcançada, nos próximos dez mil anos, penso eu, ou mais. O inconsciente humano está muito, muito longe de ser igualado por qualquer máquina, seja ela um supercomputador quântico, seja um robô aos moldes do Exterminador do Futuro.
*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.
Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
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