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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Entrevista com Georgina Martins, autora do livro Há muitas formas de se fazer macarrão & outras brutalidades (Editora Patuá)

Georgina Martins - Foto: Fábio Meirelles

A escritora Georgina Martins está lançando o livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá), no qual aborda a experiência de mulheres que sofrem, não com a violência física, mas a psicológica que se interpõe no cotidiano de um casal. É o primeiro romance adulto da Georgina que também é professora de literatura e acumula sucessos no universo infanto-juvenil. Detalhe, é que o livro fala diretamente à experiência de muitas mulheres porque tematiza a violência, pondo em cena a vida doméstica e sua dinâmica centrada numa sucessão de violências vividas por um casal que pouco a pouco vai revelando ao leitor um relacionamento doentio. Tudo acionado, não pela força física de um homem, mas pelas sutilezas de sua condição de intelectual que, devotado às artes e à gastronomia, por exemplo, impõe à convivência familiar uma rotina de obediência às suas demandas, às oscilações de humor e à suposta superioridade moral.

Georgina Martins é carioca, professora, escritora e colunista da Revista Ciência Hoje. Doutora em Literatura brasileira e Especialista em Teoria e Crítica da literatura infantil e juvenil. É autora de livro de sucessos na literatura infanto-juvenil como O Menino que brincava de serMinha família é coloridaUma maré de desejos e Em busca do mar. Esse é o seu primeiro romance para adultos. 

Conexão Literatura - É uma guinada sair do universo infantojuvenil e tratar desse dia-a-dia que muitas mulheres sofrem no casamento mas não têm coragem de falar. Essa chave virou de repente em você, ou era coisa que já vinha elaborando? 

Georgina - Na verdade sempre pensei em escrever para todas as idades, então vinha elaborando esse texto já algum tempo. Acho muito importante tratar do tema do casamento, das relações abusivas, do machismo estrutural. Já tive retorno de muitas mulheres que sofreram coisas parecidas com as que a personagem do livro sofreu. A literatura é capaz de nos colocar no lugar do outro, de nos fazer sentir a dor do outro, de nos ensinar a ser solidários. 

Conexão Literatura - Até que ponto foi fácil ou difícil abordar isso em um texto. No caso, usando de sua própria experiência, como você disse, já que sofreu esse tipo de violência psicológica em casa? 

Georgina - Foi muito difícil escrever sobre isso, mas foi fundamental pra mim, uma espécie de catarse. Acredito que depois que tomamos coragem de compartilhar o que dói, a dor fica mais leve.

Também acredito que todo texto literário, em certa medida, é autobiográfico, pois os escritores, mesmo quando não deixam explícitos, falam de si mesmo, contam suas histórias. É uma forma de compartilhar nossas dores, nossas alegrias, nossas vidas. 

Conexão Literatura - Você acha que esse comportamento masculino, que é condenado no livro, permanece ainda muito frequente no Brasil e no mundo? Se sim, qual a razão? 

Georgina - Acho que sim por vários motivos: forma como alguns homens são criados, silenciamento do que incomoda, resistência e vergonha em procurar terapia ou até  mesmo tratamento com antidrepessivos, porque muitas vezes a questão também é química, fisiológica. Além disso, o machismo estrutural que envolve a competição com a mulher, a necessidade de dominá-la. São muitos os motivos. 

Conexão Literatura - Você é uma professora e vem atuando muito bem nessa área. O que a fez tornar-se uma escritora? O que tem de fácil e de difícil? 

Georgina - O que me fez ser escritora foram as histórias que minha mãe me contava, como contos de fadas e histórias da vida dela. Meu pai também era um grande contador de “causos” e cantigas da sua terra, como ele dizia: o Ceará. Ele me contava pedaços das histórias de Lampião e Maria Bonita, por exemplo. Com eles aprendi o valor da cultura, e olhe que eles não tiveram estudo. Meu pai fez até o que hoje é a 4ª série do Ensino Fundamental e minha mãe nunca estudou.

Quanto ao que tem de mais difícil na escrita, pra mim é achar o tom certo, a palavra exata, a frase exata, porque não é uma boa história que faz um bom livro, mas sim a forma como ela é contada. E o mais fácil é curtir o livro pronto.    

Conexão Literatura - Você é uma autora que coleciona sucessos nessa área infantojuvenil. Acha que mesmo com advento de computador, ainda há espaço para essa experiência de 'manusear' o livro? 

Georgina - Sim, e acho que não vai acabar nunca. Manusear livros é muito bom. Para crianças , então, é fundamental o livro físico, pelo cheiro, pelas cores, pelas imagens e também pelo fato de que ele pode se transformar em brinquedo. O livro guarda a memória do passado, é a nossa imaginação concretizada. Nele podemos ler o mundo e com ele podemos  atravessar os mais diferentes tempos e espaços. Com o livro impresso jamais corremos o risco de perder o que está dentro dele, como acontece com os e-books, com os computadores, celular. O livro em papel não vai acabar nunca. 

Conexão Literatura - Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

Georgina - Esse livro pode ser encontrado na Amazon e no site da editora Patuá (www.editorapatua.com.br). E quanto a conhecer meus trabalhos, nas minhas redes

Instagram: martins_georgina e no Facebook: Georgina Martins 

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Georgina - Sim, tenho alguns, como três livros que estão nas editoras, todos infantis. Dois ainda saem esse ano. 

Perguntas rápidas: (1 linhas)

Um livro: "Infância" do Graciliano Ramos

Um (a) autor (a): Graciliano Ramos

Um ator ou atriz: Dira Paes

Um filme: "Bibliothèque Pascal", é um filme de drama húngaro de 2009, dirigido e escrito por Szabolcs Hajdu. Trata da história de uma mãe jovem que teve a filha retirada dela porque ela não tinha trabalho fixo. Mistura realidade com contos de fadas. É muito bom, pena que não foi nada divulgado no Brasil.

Um dia especial: Foram tantos. Quando entrei por concurso em um Ginásio público, nos anos 1970;  quando ingressei na faculdade pública, UFRJ; quando meus filhos nasceram... 

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Georgina - Apenas agradecer a divulgação,  as perguntas e desejar felicidades pra todos nós nessa nova era do Brasil que nos traz muitas esperanças.

 

Livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá)

www.editorapatua.com.br  - Preço: R$ 40

 

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