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sexta-feira, 3 de junho de 2022

Conto "Têmpera de Aço", por Roberto Fiori

          

            Silver McCollum era um homem único. Mantendo a sanidade, vangloriava-se de que podia enfrentar qualquer homem ou fera em luta. Gabava-se, exibindo seus músculos hipertrofiados, sua força superior. Falava que em um mundo de valentões e homens musculosos e fortes, ele era o primeiro da lista dos homens de físico mais dotado.

Sua arrogância era sem limites, mas evitava de qualquer maneira participar de um campeonato de fisiculturismo. O Mr. Olímpia é para os fracos e anormais!, disse ele para um campeão por sete vezes do concurso. E, para espanto de todos, desferiu um golpe de judô que lançou o campeão no chão. Segurou-o, impedindo-o de se levantar, e quando se cansou daquela perda de tempo, segundo ele, torceu o pulso redobrado do gigante do halterofilismo, até que ele pediu água.

Em uma ocasião em que quis demonstrar sua força que dizia ser inigualável, entrou em uma academia de musculação, a que detinha o número máximo de vencedores no Mr. Olímpia. A imprensa foi chamada, todos na academia já o conheciam. E suas bravatas. McCollum posicionou-se no centro do tatame reservado aos lutadores de caratê, que treinavam três vezes por semana. Ele estava com os pés calçados, o que era uma ofensa ao mestre de lá. Quando se vai entrar no tatame, deve-se tirar sapatos e meias e executar uma vênia em relação a uma imagem ou a um pagode em tamanho reduzido, fixado na parede. Há permissão, desse modo, para se adentrar ao espaço sagrado.

Silver McCollum fitou um a um os praticantes da luta, que lotavam o tatame. Ele falou:

— Se vocês se julgam grandes lutadores, por que não vejo me desafiarem e me confrontarem? Você, o da faixa negra. É um lutador encorpado, forte, com certeza. Venha até aqui.

O mestre olhou fixo para a face de Silver, sem desviar os olhos por um momento sequer. Ele olhou para o ginásio de musculação e discerniu três vencedores de campeonatos, um campeão olímpico medalha de ouro americano por uma vez, um gigante sem expressão vencedor do Mundial de Fisiculturismo por cinco anos seguidos, e um competidor fortíssimo, com mais de um metro e meio de ombro a ombro, peitorais de aço e pernas que eram troncos de árvore. Tinha alcançado por seis anos consecutivos o título de Mr. Olímpia e seis vezes levara a medalha de ouro nas Olimpíadas, nos últimos vinte e oito anos. Era um veterano. Os outros ginastas se mexeram inquietos. Todos sabiam da ofensa ao mini-pagode que encimava o tatame e, portanto, era uma ofensa a todos os lutadores de caratê.

— Se preferem assim... vou até vocês — ele se aproximou do mestre, um japonês faixa preta de nono dan, que o olhava com o rosto sem nenhuma expressão. Silver encostou a mão direita no ombro esquerdo do mestre e, em meio segundo, a tinha presa por um aperto de ferro do professor — Hummm... temos alguém forte, aqui. Continue segurando minha mão, japonês. O americano moveu sua mão para o pescoço do mestre e o levantou do chão. Jogou-o no ar, o japonês caindo de pé, dois metros afastado de McCollum. O outro olhou para suas mãos, treinadas por cinquenta ou sessenta anos em academias, no Exército Imperial do Japão, participado da Segunda Grande Guerra, mas a força bruta era algo um tanto rasteiro e rudimentar, para ele. Percebera agora que nem suas mãos, que rachavam telhas, tábuas de madeira, tijolos e barras de gelo ao meio, eram páreas para o oponente que tinha à sua frente.

Mas ele podia lutar em movimento e acreditava que ninguém nos Estados Unidos era mais rápido do que ele. Fora discípulo de Bruce Lee, lutara e vencera Chuck Norris e até acabara com Steven Seagal, em dois duelos rápidos e de repercussões mundiais, visto que fora provada a superioridade do Japão contra os Estados Unidos, nas artes marciais, tanto no combate contra um, como contra o outro campeão.

Moveu-se com lentidão estudada, ao redor de Silver. Este girava o corpo, acompanhando o movimento do mestre. O salto foi enganoso. Os pés do japonês cruzaram a distância entre os dois em uma fração de segundo, mirando a testa de McCollum. Porém, no último milésimo de segundo, quando os pés atingiriam o centro da testa em um golpe mortal, o oriental desviou seu alvo. Um dos pés atingiria o pomo-de-adão do americano e o outro, seus testículos.

Silver McCollum experimentara dois tipos de ansiedade, ao se defrontar com lutadores e levantadores fantásticos de peso, que erguiam mais de trezentos quilos de carga, no arranque. Mas com o japonês, ele não sentiu nada. Somente teve de levantar os braços, agarrar os pés do outro e lançá-lo contra a parede, a dois metros e meio de distância.

— Alguém mais se habilita? — ele perguntou, desviando os olhos do professor, que machucara as costas, com o impacto. McCollum deu um último olhar a ele, que se queixava de dores na região das omoplatas. Saiu do tatame andando, o que deixou de surpreender Silver, que previa que ele seria ferido de forma superficial. Ele não era um matador, havia usado uma fração de sua força física.

— E quanto a vocês três? Por que não vem para o tatame?

Eles responderam:

— Você está calçado! Pisando no tatame, vagabundo! Acha que é o melhor porque derrotou um homem idoso! Venha aqui e lhe ensinaremos alguns truques, Conan de araque!

— Ora... por que não me explicaram antes? — E ele saiu do tatame, caminhando e se desviando dos aparelhos de ginástica. Chegando frente a frente com o gigante que demonstrava falta absoluta de emoção, disse: — E então, grandalhão, quer fazer as honras da casa?

Os três campeões se jogaram contra Silver McCollum, cada um desferindo socos e pontapés contra o adversário. Silver recuou e se desviou do ataque, agarrando duas anilhas de dez quilos. Atirou um dos discos perfurados no centro contra o gigante, que desviou o projétil com as mãos desmesuradas, de tão grandes. McCollum agarrou uma barra para se colocar anilhas nas extremidades e pulou, evitando que o outro campeão, medalha de ouro, o triturasse com seus punhos, que atingiram um banco para se fazer supino e uma barra para erguer pesos, suspensa no ar por um sistema de cabos e polias.

Silver esperou o campeão terminar de atingir os objetos e enfiou a extremidade de sua barra em seu estômago. Ao mesmo tempo, os outros dois adversários, o gigante e o outro campeão olímpico, fecharam todas as saídas daquele espaço. E avançaram para massacrar McCollum, com uma anilha de vinte quilos em cada mão.

Silver tirou sua barra de musculação da barriga do homem fortíssimo e atingiu seu nariz. Ele gritou. Os outros deram golpes com as anilhas, mas McCollum segurou-as e chutou com as duas pernas o estômago dos dois oponentes. McCollum caíra de costas no chão, mas dera uma cambalhota e se pusera de pé. Avançou contra o gigante e o levantou pela cintura, jogando-o longe, contra uma bicicleta fixa no chão. Com o peso do homem enorme, a máquina foi arrancada do chão e tombara. Silver virou-se para o último dos lutadores. Ele tentava estancar o sangue que corria das narinas e olhou apavorado para o adversário.

Silver agarrou o pescoço e o testículo do homem forte, que começou a gritar. Levantou-o e lançou-o em direção ao tatame, onde caiu, segurando seu nariz e seus testículos. Rolava no tecido verde do tatame, igual a um lagarto rastejante e moribundo. O terceiro campeão ameaçou atacar, mas desistiu e saiu do alcance de McCollum.

Silver tirou a camiseta branca que vestia. Não havia homem algum que pudesse competir com ele no Mr. Olímpia, era óbvio. Nem nas Olimpíadas ou nos Mundiais de Fisiculturismo. Ele mostrou os músculos, flexionando-os. Os participantes da academia murmuraram entre si, espantados. Havia inúmeros pequenos músculos em todas as partes do pescoço, dos ombros, das costas, do ventre. Mesmo Arnold Schwartzenegger ficaria obscurecido, em termos de físico esculpido por exercícios sem fim.

McCollum vestiu a camiseta e cumprimentou a todos. Quando saiu, disse:

— Treinem firme, que poderão competir comigo, em alguma academia da vida!

A rua estava sem muita gente ou automóveis que ao meio-dia tornavam-na intransitável. Eram dez da noite. Silver colocou as mãos nos bolsos das calças de sarja e assobiou. No caminho deu seu dinheiro a três moradores de rua, que suplicavam por um prato de sopa.

Quando chegou em seu prédio de apartamentos, abriu a porta para uma velhinha, que sofria de dores fortes nas costas e caminhava usando uma bengala. Acompanhou-a, segurando seu braço, até seu andar. Ela deu as chaves para o atleta, que abriu a porta do apartamento da senhora Smiles. Ela foi claudicando até o sofá da sala, sustentada pelo homem, que a segurou, para ela sentar-se com suavidade.

McCollum apartou uma briga entre um casal de nórdicos, que dividiam o décimo andar com o apartamento dele. O marido desferiu uma facada contra Silver, mas este segurou seu cotovelo pelo lado interno e apertou. O homem, que parecia ser um sueco, tentou levantar o braço, mas a dor foi intensa. Ele deixou cair a faca.

— Está drogado? Ou somente vítima de uma fúria assassina?

— Estou bem, você é quem interferiu!

— Teria surrado a mulher?

— Não, não... só preciso de uma noite de sono...

Silver apanhou a faca e a quebrou entre os dedos.

— O... quê? Como fez isso?

— Um truque de mágica. Só.

O grandalhão, que mal passava por sua porta, virou-se e a abriu.

— Nunca use armas. Você pode se machucar, amigo — e ele entrou no seu apartamento, o da esquerda.

O casal observou a lâmina da faca, quebrada e deixada no chão do hall do elevador.

— Quem é ele? — a mulher perguntou?

— Não sei. É novo, aqui.

— Trate de se controlar — sussurrou ela.

— E você — ele respondeu, baixo —, veja se me deixa usar mais o computador! Tenho de trabalhar!

O casal entrou em seu apartamento. A noite chegara. Os ruídos leves da madrugada logo chegariam, em sete horas. Cada um cuidando do que era seu, no prédio.
Namorados se amando, famílias se recolhendo para dormir, animais de estimação latindo ou miando, alguns papagaios crocitando nas áreas de serviço.

Silver McCollum apanhou um peso de duzentos quilos com uma mão, outro idêntico com a outra, e colocou-os nas extremidades da barra de levantamento de peso. Colocou-se na posição média, entre as anilhas, os pés por baixo da barra, e flexionou o tronco. Agarrou o haltere e inspirou. Levantou o enorme peso, expirando e colocando-o na posição de repouso, defronte ao quadril. Inspirou, levantou o haltere, expirando e colocando-o na altura do pescoço. Inspirou e levantou o peso acima da cabeça, expirando. Inspirou, desceu o peso...

Ele passou a noite e a madrugada com essa carga de duzentos quilos. Ao começar a sentir sono, acrescentou duzentos quilos às extremidades e fez cinco movimentos iguais aos anteriores, em uma única série.

Cansado, foi dormir. Amanhã, teria de treinar mais. E no outro dia, repetiria o numero dos movimentos com outra série de exercícios. E continuaria... continuaria... continuaria, até seu coração parar para descansar.



SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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