Arnaldo Chagas - Foto divulgação
Ou...
Do conto: “Tormento kafkaesco”:
Sábado pela manhã, um frio de tiritar,
ouço o barulho da camionete. É papai chegando na fazenda. Vejo-o pela janela
dando ordem a três peões para reunir o rebanho no curral. Feliz da vida vou ao
encontro de meu pai:
— Bom dia, coronel Miranda. Vão vacinar
o bicharedo?
— Melhor que isso. É dia de abate.
— Abate!?
— Sim. Doei a carne para a festa de
amanhã.
Paralisei. Notei que o gado está
agitado no curral. Mimoso me olha e tenta andar em minha direção, mas um peão
grita e o faz voltar. Meu coração dispara, sinto um aperto no peito, um nó na
garganta, estou sem entender nada. Olho para a Juraci. Ela observa da janela em
silêncio. Não consigo reagir, meu defeito de sempre. Algo me inibe por
completo.
Papai olha tranquilamente para o
rebanho, aponta para Mimoso:
— Aparta esse zebuzinho aí. Tá no
ponto!
Uma aflição terrível toma conta de mim.
Não! Não pode ser!
Com a corda já no pescoço, Mimoso
pressente o perigo. Seus olhos arregalados fixam os meus. Berra pedindo ajuda.
Ele sempre quando me via corria para perto de mim. Eu me desespero. Não sei o
que pensar, o que fazer.
Arnaldo Toni S. das Chagas é escritor, Psicólogo, Psicanalista e Sociólogo. Mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e Dr. em Ciências da Comunicação (UNISINOS). Foi professor universitário por 20 anos, pesquisador, analista de discurso e coordenador de grupo de pesquisa. Pesquisou sobre o discurso de autoajuda através da literatura do gênero (dois livros publicados), sobre o discurso sobre drogas através da mídia (tese de doutorado - livro publicado), etc. Tem seis livros técnicos acadêmicos publicados. Um romance em andamento. Diversas publicações em jornais e revistas. Produziu, dirigiu o documentário: “Desconhecidos”. Possui contos selecionados em concursos literários e publicados em livros, mais seis contos minimalistas selecionados e publicados em “Coletâneas”. Possui canal no Youtube (Sintetizando”), onde trata sobre “Psicanálise, etc”: https://www.youtube.com/channel/UCoKoyq_gmpSBek5ADgpQDig/videos
Está inaugurando o Canal LCL para tratar sobre Literatura & Criação literária. https://www.youtube.com/channel/UCnbOkvCWQxVXwOYtdm2g6ow/videos?view=0&sort=da
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Arnaldo Chagas: Oficialmente, ingressei na literatura quando me aposentei. Tinha uns 55 anos. Hoje tenho 61. Sempre gostei de escrever crônicas e contar histórias. Inclusive fui cronista de um pequeno jornal de minha cidade. Porém, o verdadeiro mote para ingressar na literatura, ocorreu de uma maneira curiosa e foi através da Dolores, esposa, que me conhece há 40 anos. Estávamos reunidos em família, ocasião em que eu relatava um fato, que ela também presenciou. Quase no desenlace da história, ela interviu: “Arnaldo, não foi bem assim que aconteceu, não!”. Surpreso, reagi: “estou mentindo então amor?”. Ela disse: “não, não está, mas percebo que toda vez que você vai contar algum acontecimento, você sempre aumenta e, além disso, dá um tom dramático ao ocorrido”. Neste momento caiu a ficha: “então serei escritor, um contador de estórias!”. A partir daí, me lancei a escrever contos. Alguns deles constam no livro, “Dos exacerbados aos Acometidos”, que acaba de ser publicado pela Editora Drago (R.J).
Arnaldo Chagas: Bem, os contos que estão no livro foram selecionados dentre tantos outros que tenho arquivados. Através das estórias, escancaro a brutalidade do ser humano, mas também a sensibilidade e a solidariedade. São contos urbanos que chocam, sensibilizam e comovem. Confronto o que há de pior e de melhor na natureza humana. O leitor vai se deparar com um misto de crueldade e de generosidade que cobrem as narrativas. Os contos relatam dramas que chocam e revelam os limites do sofrimento humano, bem como, o destino imprevisível que seus impulsos destrutivos podem alcançar, quando diante de situações desoladoras, que podem abalar e desnortear qualquer pessoa.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Arnaldo
Chagas: O meu processo criativo se dá sempre na solitude. Ocasião em que me
isolo do mundo. São ocasiões em que vou para o sítio da família ou quando me
enclausuro no meu gabinete ou consultório. Esses são meus cantinhos especiais e
preferidos para reflexão, criação e escrita. Nesses momentos consigo entrar em
contato com meu mundo interno, com minhas emoções mais profundas, daí, coloco “relativamente”
em (des)ordem, as ideias que me ocorrem. As ideias inventivas surgem de diferentes
maneiras. Nisso sou eclético, creio. De todo modo geral, minhas inspirações surgem
de situações observadas ou/e vivenciadas na realidade objetiva. Quase todos os contos
apresentados no livro "dos Exasperados aos Acometidos", por exemplo,
tiveram inspirações em fatos. Daí imagino várias possibilidades de
desenvolvimento dos conflitos e seus finais. Às vezes já está tudo projetado quando
me lanço a escrever, outras vezes, tenho uma ideia vaga e me lanço a escrever,
durante o processo de escrita, as ideias vão surgindo. Nesses casos, até o desfecho
me surpreende, justamente por ser inesperado. Isso é algo incrível. Eu relaxo e
deixo o inconsciente trabalhar a meu favor.
Outra
inspiração é a escuta atenta. Costumo dizer, que “a melhor escola de escuta é o
silêncio atento”. Escuto pessoas livremente, de forma amoral, procuro ouvir sem
intervir. Anoto o que ouço. Por meio dessas anotações, vou fazendo associações
de ideias e registrando. Depois guardo numa gaveta para retomar mais tarde.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Arnaldo Chagas:
Do
conto: “Tormento kafkaesco”:
A
submissão imposta à mamãe é injusta, impetuosa e aviltante. Provoca-me repúdio
e nojo. Em seu olhar sombrio, nenhum sinal de revolta pelos abusos sofridos.
Não continuei meus estudos, mas sou feliz assim. Não me queixo. Minha vida é
boa. Teu pai me dá o que preciso. Mamãe mente, oculta mágoas. Se recolheu em
vergonha porque foi destruída por dentro. Não é feliz.
Conexão
Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro
e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Arnaldo Chagas: Exemplares podem ser adquiridos através da plataforma da Editora Drago - https://www.dragoeditorial.com/p/dos-exasperados-aos-acometidos-arnaldo-chagas-14x21-120-paginas/ & da “Amazon” - https://www.amazon.com.br/dp/8595962774?ref=myi_title_dp.
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| Foto: João Andressa - Entrega de livro |
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?
Arnaldo Chagas: As mesmas de sempre: ler “muito” e bons livros (indico sempre os clássicos, mas não só), especialmente, livros que tratam sobre temas que deseja escrever. Realizar curso de “Criação Literária” e não criar expectativa de que se escrever bem será um(a) escritor(as) de sucesso e que ganha muito dinheiro. Essas expectativas só atrapalham. Temos tantas outras motivações que nos movem para a escrita.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Arnaldo Chagas: Sim. Tenho muitas crônicas e contos que pretendo publicar em livros. Além disso, tenho um romance em andamento. Pretendo também produzir vídeos periódicos para o canal LCL (“Literatura e Criação literária”) do Youtube, que é um canal para amantes da literatura e, sobretudo, para ajudar novos escritores.
Perguntas rápidas:
Um
livro: “Olhai os lírios do campo” (Érico Veríssimo)
Um
ator ou atriz: Selton Melo (protagonista André do filme “Lavoura Arcaica”. Filme
baseado no livro do mesmo título)
Um
filme: “Dançando no escuro”
Um
hobby: Viajar de motocicleta
Um dia especial: 25 de novembro (dia em que nasci)
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Arnaldo Chagas: Gostaria de receber feedback dos leitores e leitoras. Isso é fundamental para mim, enquanto escritor. Interagir com eles (a) será sempre um prazer.
Redes
sociais:
https://www.facebook.com/arnaldotoni
Canal
LCL – Recém inaugurado
https://www.youtube.com/channel/UCnbOkvCWQxVXwOYtdm2g6ow/videos?view=0&sort=da
Blog:
“Sacudindo as evidências” (discussão de temas sociais, culturais etc. Também são
publicadas algumas crônicas e contos do autor)
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