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sábado, 13 de julho de 2019

Livro resgata histórias de padres europeus perseguidos pela ditadura militar no Brasil

Travessias será lançado pela Cepe no dia 16, durante o 30º Simpósio Nacional de História

O livro Travessias - padres europeus no Brasil (1959-1990), que a Companhia Editora de Pernambuco lançará no próximo dia 16, às 18h, durante o 30º Simpósio Nacional de História, é um importante registro da política adotada pela Igreja Católica, a partir dos anos de 1950, na perspectiva de equacionar a escassez de quadros locais na América Latina e combater o comunismo - em um momento de grandes transformações sociais e políticas vividas no continente. Esse recorte, feito pelo historiador e professor Antônio Torres Montenegro, estrutura-se a partir do relato de vida de cinco padres que atuaram, sobretudo, no Nordeste brasileiro.

A ideia de construção do livro foi um desdobramento de um projeto de pesquisa realizado por Antônio Torres Montenegro, no final da década de 1990, para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) focado nas mobilizações e lutas dos trabalhadores rurais antes e após o golpe militar de 1964. Ao investigar a atuação específica da Igreja Católica, o autor se deparou com os padres Fidei Donum. A designação refere-se à Carta Encíclica Fidei Donum (O Dom da Fé), escrita em de abril de 1955, na qual o Papa Pio XII apela aos bispos de todo mundo que estimulem entre os padres de suas dioceses (europeus, canadenses e norte-americanos) o trabalho missionário voluntário na África e, logo após, na América Latina. Além de tentar equacionar o reduzido número de padres com o envio de estrangeiros - assegurando a hegemonia religiosa sobre a população diante do crescimento do protestantismo e do espiritismo -, a estratégia do Vaticano era combater a propagação das "pregações materialistas". Lançada por Pio XII, um dos papas que mais combateu o comunismo, a Fidei Donum foi reafirmada e ampliada pelo Papa João XXIII em seguida.

O livro Travessias traz as histórias de vida dos padres Jacobus Josephus de Boer (Padre Jaime, Holanda), Joseph Comblin (Bélgica), Joseph Servat (França), Lambertus Bogaard (Holanda) e de Dom Xavier Gilles de Maupeou d' Ableiges (França). Religiosos de origens distintas que movidos por desejos e expectativas pessoais, tornaram-se missionários Fidei Donum e que diante da realidade brasileira, aqui se envolveram intensamente na luta contra as desigualdades sociais. "Passaram a chamar minha atenção os padres europeus que afirmaram terem emigrado para o Brasil por convocação da encíclica Fidei Donum, sobretudo porque, se um dos objetivos dessas missões era o combate ao comunismo, era surpreendente descobrir como muitos deles, após o golpe de 64, começaram a ser taxados de comunistas e até detidos para interrogatórios. Alguns deles foram presos e mesmo expulsos do Brasil. Outros receberam ameaças de morte ou foram assassinados", destaca o autor.

Com 441 páginas, Travessias contextualiza a história dos padres Fidei Donum à cena dos anos de 1950 e 1960 marcada por fortes tensões no mundo pelo acirramento da Guerra Fria, pela questão fundiária no Brasil com intensa participação do Partido Comunista, Ligas Camponesas, entre outros aspectos. Situa ainda a nova perspectiva de função social e política da Igreja defendida pela ala progressista, o surgimento da Teologia da Libertação e as relações institucionais estabelecidas entre a Igreja e os governos militares no interesse de combater o comunismo, um inimigo em comum.

É prefaciado por Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que avalia ser o livro (introdução, notas e narrativas dos padres) um conjunto precioso e único para a compreensão das décadas do último terço do século XX. "Uma questão que perpassou a trajetória deles no País foi a das relações entre a Igreja e a política. Cedo perceberam, quando já não traziam essa reflexão das terras de origem, que a Igreja a que pertenciam, e pela qual aportaram no Brasil, a sua Igreja, não era muito mais - ou, nas condições brasileiras, quase exclusivamente - uma instituição a serviço dos interesses dominantes e dos governos constituídos", ressalta.

Professor do Departamento de História, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o pernambucano Antônio Torres Montenegro é referência nos estudos em história oral no Brasil sendo um dos criadores da Associação Brasileira de História Oral (ABHO). É autor de diversos livros, entre eles, Reinventando a liberdade - a Abolição da escravatura no Brasil (1989), História oral e memória: a cultura popular revisitada (1992).

Serviço:
Lançamento do livro Travessias
Data: 16.07.2019
Horário: 18h
Local: Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)
Endereço: Avenida Professor Moraes Rêgo, 1235, Cidade Universitária.
Valor do livro: R$ 60,00 (livro impresso) e R$ 18,00 (E-book)
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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

O cinquentenário do ano mais emblemático da década de 1960

Virgilio Pedro Rigonatti, autor da obra Cravo Vermelho, descreve a Ditadura Militar Brasileira e revela os acontecimentos do mundo na época mais tensa da disputa entre o comunismo e capitalismo

Revolução cultural, política e sexual. Os fatos da década de 1960 instigaram os jovens a se tornarem protagonistas do maior momento político que o Brasil já foi palco. Muita história, luta e tragédia. A década é considerada pela grande tensão da disputa entre comunismo e capitalismo. Este período marcou o mundo inteiro.

O ano de 2018 marca o cinquentenário de 1968, o clímax da década de 60. Cenário de muitos acontecimentos como a instituição do AI-5, no Brasil, iniciando a época mais intensa e violenta da ditadura militar, e a Batalha da Maria Antônia. Pelo mundo, as notícias eram sobre a luta dos negros, a luta das mulheres, o assassinato de Martin Luther King e de Robert Kennedy, a Guerra do Vietnã, e acirrava-se a disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética, que quase resultou na Terceira Guerra Mundial.

Em Cravo Vermelho, o autor paulistano Virgilio Pedro Rigonatti detalha com maestria a década de 60, pelos olhos de seu alter ego, Pedrina. Moça de classe média, curiosa e ávida leitora, narra em primeira pessoa todos os episódios de sua pacata vida na infância, os eventos que vê na TV e lê nos jornais. Descobre o mundo e maravilha-se com tanta informação que jamais sonhou em desfrutar.

A narrativa passeia por fatos como a construção de Brasília, os comunistas, a copa de 58, e o primeiro contato com notícias sobre a Rússia e EUA. Nos anos 60, já no ginásio, Pedrina conta a história de seu amigo de colégio, Valério, de uma família muito pobre, por quem ela nutriu um imenso carinho e, mais tarde, amor.

Enquanto a menina crescia e descrevia os acontecimentos de seu coração, corpo e convivências sociais, ela explica a guerra ideológica entre as duas potências imperialistas que levou à ditadura militar de direita e à organização da luta armada pelas esquerdas. Justiçamentos, assaltos e sequestros de um lado. Prisões, torturas e mortes de outro.

Pedrina e Valério vivem tempos de muita luta durante o desenvolvimento de suas vidas adultas, veem o amor nascer entre eles, e enfrentam o clima de confronto reinante na época. Não havia escapatória, o casal e seus amigos foram abarcados pelos fatos históricos da década e acabam vivenciando momentos trágicos e dramáticos

Cravo Vermelho é um retrato da sociedade e dos acontecimentos dos anos 60 no Brasil e no mundo. Transita pela inquietação da juventude em busca de novos caminhos, pelo embate ideológico entre direita e esquerda, pelo comodismo de grande parcela do povo, ao mesmo tempo em que revela uma história de amor comovente entre jovens que buscam seu lugar naqueles tempos conflituosos e de esperança.

Ficha Técnica:
Título: Cravo Vermelho
Autor: Virgilio Pedro Rigonatti
Editora: Ler e prazer
ISBN: 978-85-94183-00-2
Páginas: 292
Preço: R$44,90

Sobre o autor: Nascido em 22 de março de 1948, no bairro de Vila Anastácio, na cidade de São Paulo, Virgilio Pedro Rigonatti começou a escrever aos 60 anos. Desde sempre o contador oral das riquíssimas histórias da família, descobriu um prazer imenso em escrever ao registrar em um blog a trajetória do clã. Após lançar seu primeiro livro, Maria Clara, a Filha do Coronel, pela Editora Gente, romance baseado na vida de sua mãe, decidiu fundar a sua própria editora, a Lereprazer, cujo título de estreia é este Cravo Vermelho. Atualmente, Virgilio prepara o lançamento da sequência de Maria Clara e trabalha em um novo romance.
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sábado, 14 de maio de 2016

Entrevista com Eduardo Reina, autor do livro Depois da Rua Tutoia

Eduardo Reina
Eduardo Reina atualmente é coordenador do Departamento de Imprensa da Artesp. Trabalhou em vários jornais, revistas e periódicos, rádios e televisão em São Paulo e no interior, desde 1983. Ganhou vários prêmios de jornalismo como o Abril, o Estado e o Imprensa Sindical. Em 2010, seu blog venceu o prêmio Estado. No mesmo ano também foi menção honrosa no prêmio Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Autor do livro de contos policiais No Gravador (2003). Integrante dos livros O Conto Brasileiro Hoje, Volume 5 (2007) e Contos e Casos Populares (introdução de Paulo Freire) (1984).

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Eduardo Reina: Leio muito, desde criança. Escrevo muito, faz parte da minha vida e da minha profissão. Sou jornalista. Curioso por natureza e com uma vontade enorme de contar histórias.
Ainda na faculdade (em 1983) integrei um livro - com prefácio de Paulo Freire - que resgatava contos populares transmitidos oralmente pela população. Mas somente em 2003 consegui publicar meu primeiro livro, No Gravador, uma compilação de dez contos policiais. As histórias de nove deles são baseadas no período em que fui repórter que cobria polícia na região do ABC paulista, onde moro. No ano seguinte integrei o livro Contos Brasileiros, com uma história sobre música e músicos. Agora, 2016, vem o Depois da Rua Tutoia, meu romance de estreia. Tenho também trabalhos como ghostwriter e um monte de projetos na cabeça e na gaveta.

Conexão Literatura: Você lançou recentemente o livro "Depois da Rua Tutoia”, poderia comentar?

Eduardo Reina: Depois da Rua Tutoia conta a história de uma bebê roubada pelos agentes da ditadura militar e entregue a um poderoso empresário paulista que financiava os órgãos de repressão. Essa bebê cresce e sua vida é um grande dilema a ser resolvido. A narrativa mostra muito idealismo, corrupção, tortura e amor. Já adulta, Verônica, o bebê roubado, ingressa na vida religiosa e parte à busca da verdade, da verdade dela. A busca pelo seu eu, pelos seus pais verdadeiros. Essa parte (da freira) é baseada em história real de uma mulher que se decepciona com o mundo e com o amor, ingressa numa ordem religiosa e depois de muitos anos é procurada por um antigo amor, que a quer de volta. Eu apenas a adaptei para o contexto do livro. A obra mostra a vida dessas pessoas. Verônica encontra-se com a mãe biológica acidentalmente em algumas passagens. E o final é bastante surpreendente e original. O autor do prefácio escreveu que o livro parece um relato da Comissão da Verdade, tamanha gama de detalhes.
Estou surpreso com o retorno que estou tendo dos leitores. O lançamento foi feito numa quinta-feira (7/4) e no dia seguinte já estava recebendo comentários de pessoas que haviam acabado de ler o livro. Me empenhei muito na elaboração da história. Foi uma pesquisa minuciosa, e teve uma amarração delicada de todos os personagens e suas histórias, para se chegar ao texto final. O livro parece uma grande reportagem, com texto direto. O que é fictício ganha ares de realidade, o que, penso, levou os leitores a dizerem que "devoraram" rapidamente o livro. É uma ficção real ou uma realidade romanceada. Sempre falo que o leitor precisa acreditar no que está lendo. Caso contrário, ele abandona a leitura ou se desinteressa pela história. 

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas para construção dessa obra?

Eduardo Reina: As pesquisas começaram em 1993, com elaboração de projeto que tinha como objetivo mostrar personagens e ações da militância de esquerda na região do ABC paulista. Depois o projeto ficou "dormindo" na gaveta por um bom tempo e ganhou corpo no ano passado quando recebi a proposta de escrever um romance da 11 Editora. Aí aprofundei as análises e a pesquisa. Usei entrevistas com pessoas que vivenciaram e sobreviveram às torturas, relatórios das Comissões da Verdade, documentos obtidos no Arquivo do Estado, documentos pessoais, livros, documentários, matérias jornalísticas, enfim, tudo que pudesse subsidiar o texto.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho de "Depois da Rua Tutoia ", especialmente para os nossos leitores?

Eduardo Reina: Segue um trecho do livro, sobre a chegada da bebê recém retirada do ventre da mãe que estava presa.

A notícia sobre a chegada do bebê criou um clima de euforia na mansão dos Guerra Barbosa. Cláudia Prócula mandou comprar flores e as colocou em vários vasos pela sala, na porta de entrada, no corredor dos quartos. Até nos banheiros. Theophilo tentou esboçar uma reclamação dizendo que tanta flor poderia fazer mal para a criança. Mas preferiu se calar.
No dia seguinte, logo ao amanhecer, Cláudia abriu todas as janelas. Queria que o sol entrasse nos cômodos. Mandou a criadagem refazer a limpeza de tudo, apesar de a faxina geral ter sido realizada nos dois últimos dias.
O quarto-capela foi ornado com dois enormes arranjos de flores do campo, as preferidas da mulher. No pequeno retábulo espalhou sua coleção de terços. Aos pés de Nossa Senhora de Fátima colocou um terço especial, trazido recentemente de uma viagem ao Vaticano. Tinha as contas feitas de pétalas de rosa enroladas manualmente por freiras e uma cruz em ouro maciço. Ajoelhou-se no genuflexório, levou as mãos espalmadas a se juntarem na frente dos lábios e orou fervorosamente. Agradecia o que considerava ser uma das maiores graças que obtivera em vida, depois de ter escapado da infecção que lhe acometeu durante o parto dos gêmeos há quase três anos.
*
Desde que o marido dissera estar disposto a adotar uma recém-nascida, Cláudia começou a preparar o enxoval. Arrumou o quarto da menina especialmente para esse dia. Afinal, sua chegada equivaleria a um nascimento. Vivenciou até uma “gravidez ultrasônica" naquela noite de sexta-feira quando Theophilo anunciou que tinha boas notícias sobre o bebê, que chegaria à casa no dia seguinte. Sonhou acordada em seu quarto.
Sentiu o ventre contido com o corpo de uma menina de tez branquinha, cabelos loiros e olhos claros, como era seu menino quando nasceu. Imaginou a barriga crescendo. Chegou a vestir uma bata que utilizou quando teve o outro filho. Foi à frente do grande espelho de cristal em sua suíte. Desfilou orgulhosa, acariciando a barriga. Depois colocou uma almofada sob o pano para simular a gravidez. Não conseguiu dormir direito, tamanha era a euforia. Até que finalmente o dia amanheceu.
Assim como a noite de sexta para sábado, as horas daquele dia 20 de junho teimavam em se arrastar demoradamente. Tomou o desjejum de forma frugal. Quase não tocou na comida do almoço. Depois nem quis o chá da tarde. Permanecia sentada no sofá da sala o tempo todo, olhando para a porta de entrada, com os ouvidos atentos para qualquer movimentação. Uma vez ou outra levantava-se e ia até o quarto da recém-nascida conferir se estava tudo arrumado e pronto para a ansiosa chegada da nova moradora da casa. A menininha dos Guerra Barbosa.
As horas passavam lentamente e ninguém aparecia. O entardecer apresentava um lindo por do sol, que iluminava os janelões da mansão, transpassava os vitrais e chegava aos pés de Cláudia sentada no sofá. Moedas de luz tocavam suas pernas. Ela enxergava isso como um aviso de Deus. Um aviso bom de que um grande futuro alegre e cheio de vida estava por vir. Mas nada da menininha ser entregue.
Theophilo conseguiu convencer Cláudia a se recolher aos aposentos. Prometeu que assim que tivesse alguma notícia ou a criança chegasse, ele mesmo correria ao quarto para chamá-la. A muito custo a esposa aceitou a proposta. Colocou a camisola, ajeitou os cabelos e deitou-se na ampla cama, em meio aos lençóis de linho egípcio. Mas não conseguiu pregar os olhos. Estranhava que alguém pudesse levar um bebê tão tarde da noite para sua casa.
O grande relógio da sala, trazido da Turquia, soou as 12 badaladas noturnas. Era meia noite. Cláudia resolveu descer até a cozinha e tomar um chá. Sentia um desconforto na barriga, vazia de alimentos. Ao passar pela sala viu o marido tomando seu uísque e falando ao telefone. Preferiu não dizer nada, como de costume.
Caminhou até o armário da dispensa, abriu uma lata estampada com desenhos nas cores vermelho, azul e branco. Pegou um punhado de erva inglesa e colocou numa chaleira para ferver com água. Depois sorveu cada gole com pensamento fixo. Tentava imaginar a sua menininha. Findou o conteúdo da xícara e voltou para o quarto. O marido continuava ao telefone. O copo na mão.
O relógio marcou duas horas e a campainha da rua tocou. O portão foi aberto pelo segurança. Um veículo preto entrou pelo caminho de pedra em meio ao jardim. Cláudia pulou da cama e se dirigiu à janela. Não ousou abri-la. Espreitava pelas frestas e só conseguia ver parte da cena.
O carro se aproximou do terraço. Do banco de trás desceu um homem com uma espécie de embrulho nos braços. Pelo cuidado com que carregava, ela imaginou ser sua ansiada menininha.
Colocou o roupão de chambre, calçou os chinelos e atravessou rapidamente o corredor com sorriso estampado no rosto. Parou momentos antes de ser vista da sala. Ficou atrás de um enorme pilar de mármore, olhando, com a respiração sobressaltada. Ouvia vozes de homem. Dois, em tom bem baixo. Escutou passos se dirigindo à porta da sala e o bater da pesada madeira. Sentiu coragem para correr as escadas abaixo. Desceu degrau a degrau numa velocidade nunca antes exercida. Já na sala abriu os braços e correu em direção a Theophilo, que segurava um bebê.
Cláudia olhou atentamente e viu que a criança estava embrulhada numa toalha de banho. Havia algumas manchas de sangue no tecido claro, o que a deixou desesperada. Pegou o embrulho e colocou sobre o sofá. Abriu a toalha, um pedaço de pano para cada lado. Viu a bebê, de tez branca, mas, ao contrário do que imaginava, com cabelos escuros. Não era loirinha. A ponta do cordão umbilical estava amarrado com um barbante. A mulher fechou a cara. Talvez um pouco decepcionada. Por fim, concedeu que seu sonho havia se realizado. Era sua menina. Iria criá-la, educá-la e transformá-la numa freira. Era sua filha. Cláudia Prócula e Theophilo agora tinham um casal de filhos.
Aos poucos, o impacto provocado pela toalha puída e manchada de sangue foi se desfazendo. Enquanto se dirigia para o quarto, a criança começou a chorar. Uma criada chegou à sala. Cláudia ordenou que fosse chamar a governanta, para que pudessem banhar a nenê. Também mandou a empregada esquentar água e fazer uma mamadeira. Várias caixas do melhor leite em pó que existia no mercado haviam sido compradas pelo marido.
O trabalho de lavar o corpinho da criança, curar o umbigo e fazer toda a assepsia necessária tomou boa parte da madrugada. Após o banho, o cheirinho de sabonete inebriou a nova mãe, que depois passou talco e colocou a fralda, o pagãozinho e todas as roupinhas com detalhes cor de rosa. O bebê ficou com uma cara angelical.
A empregada chegou com a mamadeira, que a menininha sorveu sofregamente, esfomeada que estava. Cláudia não esqueceu de fazer a filha arrotar antes de colocá-la no berço. Foi quando Theophilo entrou no quarto.
Ela volveu o corpo dobrado por sobre a caminha, virou-se para o marido, fez o sinal de silêncio e depois correu para abraçá-lo e agradecer. Apertou o corpanzil do companheiro com força, que retribuiu o chamego. Olharam-se e sorriram. Saíram do quarto, deixando a nova moradora dormindo. Para a empregada, agora alçada ao posto de babá, fizeram mil e uma orientações.
Recolheram-se à suíte eufóricos, tamanha a felicidade. Mas os largos sorrisos cessaram quando Cláudia deu vazão à sua curiosidade. Queria saber quem trouxera a criança e de onde ela viera. O marido, como sempre, procurou não ser rude para evitar discussão. Foi lacônico. Respondeu que a bebê fora trazida por um amigo e era oriunda de uma família pobre, sem condições de criá-la.
*
Já deitados lado a lado na cama, a esposa pergunta para o marido se havia pensado em um nome para dar à filha. Diante de sua negativa, ela sugeriu então que a batizassem de Verônica.
– Por que Verônica? – perguntou.
– Porque Verônica significa portador da vitória, a verdade. Foi Verônica que, comovida com o sofrimento de Jesus em seu calvário até o Gólgota, ofereceu seu próprio véu para que o filho de Deus pudesse limpar o rosto encharcado de suor e sangue. E essa menininha é nossa vitória. Nossa conquista de um sonho quase impossível de ser realizado. Nossa fé em Deus possibilitou isso. Agora temos um casal de filhos. Nossa família é a melhor do mundo. Considero essa criança como portadora da nossa felicidade.
Theophilo aceitou a sugestão. Disse que na segunda-feira iria até o cartório na Rua da Mooca para registrar a filha como Verônica Guerra Barbosa.
– Está satisfeita?
A esposa moveu a cabeça de cima para baixo, em sinal de consentimento. Ele se virou de lado e dormiu rapidamente. Cláudia ainda demorou muito para pegar no sono. Antes fora até o quarto do bebê. Abriu a porta, olhou-a rapidamente e depois voltou para a cama.

Conexão Literatura: Ficamos sabendo que o livro apresenta um projeto gráfico interativo e gostaríamos de saber mais.

Eduardo Reina: Isso é uma grande sacada da 11 Editora. Os três primeiros capítulos do livro reproduzem de forma ficcional documentos dos serviços de inteligência da Marinha e Exército que relatam investigação e preparação da ação sobre células de resistência à ditadura. E esses três primeiros capítulos estão condicionados num envelope de cor parda com o carimbo de confidencial. O leitor deve ficar intrigado com isso, mas também pode iniciar a leitura do livro a partir do capítulo 4. Se o leitor cortar o envelope no sentido vertical da página terá acesso ao conteúdo desses relatórios reservados e ficará sabendo de toda a base da história do casal que é preso e torturado (o homem assassinado). São os pais biológicos de Verônica, a bebê roubada e entregue a um empresário que financia a repressão militar nos anos de chumbo. Verônica é a personagem principal do livro, cuja vida é descrita até os dias de hoje. Penso que sem a leitura dessa parte, a narrativa perde um pouco o sentido. E quando o leitor se depara com aquele "envelope" lacrado no começo do livro ele precisa pensar um pouco no que fazer. O envelope pode ser um estímulo à curiosidade do leitor e deveria provocar uma reflexão paralela a história recente do Brasil. Todos os arquivos sobre a ditadura precisam ser abertos, para que a verdadeira história possa ser entendida.

Conexão Literatura: Como os interessados deverão proceder para saber mais ou adquirir um exemplar do seu livro?

Eduardo Reina: O livro foi lançado por uma editora independente, do interior paulista. Só pode ser adquirido através do site da 11 Editora: www.11editora.com.br . Não está à venda nas livrarias.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Eduardo Reina: Sim. Há um livro já escrito e reescrito, que conta a história dos primeiros portugueses que chegaram ao Brasil, em São Vicente, litoral de São Paulo. Trata-se de João Ramalho e outros personagens obscuros para a história brasileira. Depois de 12 anos de pesquisas no Brasil e  fora do país obtive algumas novidades, contadas no livro. Ainda não tem editora.

Perguntas rápidas:

Um livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas, do bruxo Machado de Assis.
Um(a) autor(a): Vários. Machado de Assis, Fernando Morais, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Jorge Amado, Gabriel Garcia Marques...
Um ator ou atriz: Nunca parei para fazer esse ranking, dos atores ou atrizes que eu mais gosto. Gosto de boas interpretações, de pessoas sensíveis, que tocam aqueles que estão assistindo o filme, peça, etc.
Um filme:
Um dia especial: A vida é especial, e rápida.
Um desejo: Mais tempo para ler e escrever.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Eduardo Reina: Agradeço o espaço oferecido pela revista. Escrever livros é difícil. Mais difícil ainda é publicá-los. E muito mais difícil é vendê-los. Fazer com que muitas pessoas leiam livros, então, é um trabalho hercúleo. Precisamos de iniciativas como desta revista para divulgar nosso trabalho.


Serviço:
Título: Depois da Rua Tutoia
Autor: Eduardo Reina
11 Editora
R$ 59,90
Para adquirir o livro: Clique aqui.

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