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sábado, 9 de abril de 2022

Vamos filosofar com Sofia?

 


Sofia é uma menina de 13 anos que adora perguntar. E essas perguntas geram conversas muito interessantes com amigos, familiares e até pessoas aleatórias que percebem a importância de deixar o celular um pouco de lado para resgatar a beleza de um interessante diálogo. Essas perguntas de Sofia abre a reflexão sobre variados temas, tais como: “inteligência emocional”, “bullying”, “descoberta da paixão na adolescência”, “enfrentamento do luto”, “ética”, “limites da liberdade”, “todos os tipos de (pre) conceito” e muitos outros que ajudarão na renovação do nosso interior assim como das relações humanas. Essa é a verdadeira finalidade de filosofar: entender melhor o nosso tempo e respeitar a pluralidade de opiniões que formam o ser humano!

O exercício de filosofar promove a formação crítica, criativa, ética e estética. E hoje é muito importante poder estimular essas e outras habilidades de pensamento em nossos filhos, sobrinhos e/ou estudantes com o propósito de formar cidadãos e cidadãs mais conscientes, justos e felizes... Ficou com vontade de ler o livro?

Segue um trechinho bem especial para você conhecer melhor a Sofia:

"Aprendeu a não julgar por tantas vezes que errou e se arrependeu. Notou que cada pessoa tem um potencial de se superar e corrigir seus defeitos, por isso, entendeu que os erros só existem para nos ensinar valiosas lições. E que cada pessoa tem um ritmo particular de reconhecer os danos que suas práticas causam em outras pessoas. A vida acaba ensinando. Às vezes de uma forma natural e feliz, mas quase sempre, de uma forma triste e cruel, pois a consequência de nossas ações, sempre ensinam. Por conta de saber disso, preferia agora olhar para os próprios defeitos com o propósito de corrigir a si mesma. Assim, entendia que estava dando maior contribuição para outras pessoas que conviviam com ela...

Antes de julgar, melhor corrigir a si próprio, não é mesmo? O Mundo todo agradece..." (pág. 71)

Quer adotar o livro em sua escola ou adquirir um exemplar? Entre em contato: (11) 94402-8448 - Whats app. 

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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Entrevista com André Wagner Rodrigues, autor do livro "Sofia - A menina que gosta de filosofar”


Sou pai da Sofia, historiador e Mestre em Filosofia da Educação. Moro na da cidade de Osasco-SP. Gosto de ler, ouvir boa música e passear com minha filha. Descobri que queria ser professor aos 14 anos, pois sempre acreditei que a Educação transforma pessoas para o bom caminho da vida. E assim fui trilhando meu caminho profissional. Já lecionei para estudantes do Ensino Fundamental, Médio, Pré-vestibular e até Universitários. Já são mais de 20 anos trabalhando na sala de aula, usando a História e a Filosofia para promover reflexões sobre o nosso tempo e a forma que devemos respeitar a pluralidade de opiniões que ajudam a formar o ser humano. 

ENTREVISTA: 

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário? 

André Wagner Rodrigues: Acredito que todos aqueles que escolhem verdadeiramente o caminho da docência já possuem dentro de si a sensibilidade e experiência que podem resultar em muitas obras literárias. Já estou no meu 5º livro. Quando resolvi escrever, tinha a intenção de levar aos meus leitores como num bom bate-papo, alguns assuntos que podem promover reflexões e mudanças na forma de entender e se situar no Mundo. Tão importante quanto o ato de ensinar em sala de aula, está a leitura de um livro. Por isso, acredito que a escrita foi apenas uma extensão do meu trabalho de sala de aula... 

Conexão Literatura: Você é autor do livro "Sofia - A menina que gosta de filosofar”. Poderia comentar? 

André Wagner Rodrigues: Sofia é uma menina de 13 anos que adora perguntar. E essas perguntas geram conversas muito interessantes com amigos, familiares e até pessoas aleatórias que percebem a importância de deixar o celular um pouco de lado para resgatar a beleza de um interessante diálogo. Essas perguntas de Sofia abre a reflexão sobre variados temas, tais como: “inteligência emocional”, “bullying”, “descoberta da paixão na adolescência”, “enfrentamento do luto”, “ética”, “limites da liberdade”, “todos os tipos de (pre) conceito” e muitos outros que ajudarão na renovação do nosso interior assim como das relações humanas. Essa é a verdadeira finalidade de filosofar: entender melhor o nosso tempo e respeitar a pluralidade de opiniões que formam o ser humano! 

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações? 

André Wagner Rodrigues: O convívio com meus estudantes e os diálogos que produzimos juntos em sala de aula foram alicerces para criar cada capítulo do meu livro. Minha inspiração, além de meus estudantes foi minha filha que tem o mesmo nome da protagonista. Além de pensar nesse livro como um canal de comunicação com os jovens, sempre pensei em poder conversar sobre cada tema do livro com a Sofia. Espero que isso aconteça. Ah, não posso esquecer de mencionar que Joisten Gaarder, autor de “O Mundo de Sofia” também sempre foi uma das principais referências de leitura em minha adolescência. 


Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?  

André Wagner Rodrigues: "Aprendeu a não julgar por tantas vezes que errou e se arrependeu. Notou que cada pessoa tem um potencial de se superar e corrigir seus defeitos, por isso, entendeu que os erros só existem para nos ensinar valiosas lições. E que cada pessoa tem um ritmo particular de reconhecer os danos que suas práticas causam em outras pessoas. A vida acaba ensinando. Às vezes de uma forma natural e feliz, mas quase sempre, de uma forma triste e cruel, pois a consequência de nossas ações, sempre ensinam. Por conta de saber disso, preferia agora olhar para os próprios defeitos com o propósito de corrigir a si mesma. Assim, entendia que estava dando maior contribuição para outras pessoas que conviviam com ela... Antes de julgar, melhor corrigir a si próprio, não é mesmo? O Mundo todo agradece..." (pag. 71) 

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

André Wagner Rodrigues: Pode ser diretamente comigo pelo Whats App (11) 94402-8448. O livro vai com dedicatória e assinatura da Sofia para qualquer lugar do Brasil, sem custo de frete. Cada livro custa R$ 35,00. 

Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira? 

André Wagner Rodrigues: Crie um blog, publique alguns textos e peça a opinião sincera de seus amigos e até algumas críticas construtivas. Lembre-se que a escrita é um processo lento e com muitos desafios. Importante também saber para quem você quer escrever e também como funciona o mercado editorial. São ideias fundamentais que não tive a oportunidade de aprender no início da minha carreira... 

Perguntas rápidas: 

Um livro: O Mundo de Sofia

Um ator ou atriz: Will Smith

Um filme: Pequena grande vida

Um hobby: Passear com Sofia

Um dia especial: Nascimento da minha filha 

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

André Wagner Rodrigues: Que possamos incentivar cada vez mais a leitura e a valorizar os profissionais da Educação. Só assim conseguiremos evitar a barbárie das guerras, o desmatamento, a proliferação do racismo e (pre) conceitos e colaborar para a formação de uma sociedade mais humana, justa, ética e feliz em nosso país. 

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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Entrevista com Maygon André Molinari, autor do livro "Do grito de sobrevivência ao último silêncio"

Maygon André Molinari - Foto divulgação

DO GRITO DE SOBREVIVÊNCIA AO ÚLTIMO SILÊNCIO
 

“Em momentos tão desérticos, comparáveis, apenas, aos grandes silêncios do nada e dos vazios extensos, surge uma voz metálica, rara, que nos chama a atenção. Por um outro lado nada consoladora. Esse livro deveria ser lido tal como escrito pelo autor. Ou seja, na mais plena solidão.” Ana M. Haddad Baptista 

SOBRE O AUTOR: 

Nascido em 1984 em Irati, interior do Paraná, onde ainda vive, Maygon André Molinari é graduado em Letras e mestre em Filosofia. Publicou até o momento seis livros, tendo recebido alguns prêmios literários (por poesias e peças teatrais), bem como foi finalista do Prêmio SESC de Literatura, com o romance Bernardo, o escultor. Pai de dois filhos, além da escrita exerce função de serventuário da justiça e também trabalha com agricultura agroecológica, da qual é defensor. Seu livro Do grito de sobrevivência ao último silêncio já foi resenhado na revista Filosofia, ciência & vida, pela crítica literária Dra. Ana Maria Haddad Baptista. Recentemente publicou uma novela, intitulada Os espelhos. 

ENTREVISTA: 

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário? 

Maygon André Molinari: Aprendi a ler muito cedo, com minha mãe, e minhas primeiras leituras foram da Bíblia. Na adolescência, além de intensificar a leitura, inicialmente com os clássicos brasileiros, decidi que também escreveria. A partir de então me movimentei por vários gêneros literários, da poesia ao ensaio filosófico, passando por romances e peças teatrais. Publiquei o primeiro livro aos 21 anos e, como critério para publicação, nunca parto de um motivo exterior, mas sempre busco primeiramente resolver uma demanda interna. E quando percebo que o que escrevi, além de me comunicar alguma coisa, pode dizer algo a alguém, então eu busco a publicação. 

Conexão Literatura: Você é autor do livro "Do grito de sobrevivência ao último silêncio". Poderia comentar? 

Maygon André Molinari: Do grito de sobrevivência ao último silêncio é um livro, ao meu ver, bastante corajoso, porque pretende apresentar uma interpretação para o nosso surgimento enquanto humanos, traçando um percurso até nossa atualidade e também fazendo esboços de como poderemos ser se continuarmos nesta rota. Assim, após apresentar uma hipótese para nossa formação, por assim dizer, eu aponto que o elemento que nos deu sobrevivência (que nos deu o “grito”), ao ser exacerbado, vem contribuindo com nossa destruição (com a possibilidade de um “último silêncio”, talvez). O livro é apresentado em forma de aforismos e, apesar da aparente complexidade do tema, penso que sua leitura flui, pois não tive nenhuma pretensão hermética ou mesmo acadêmica, por assim dizer. Eu queria que o livro desse conta de explicar uma ideia vigorosa, mas com clareza e também com uma certa estética. Penso que a filosofia deve partir da vida, e que toda interpretação (ou pretensão de interpretação) precisa sempre estar calcada nas observações profundas do cotidiano e também da alma humana – sempre tendo em conta que essa alma foi construída e que nos cabe indagar quais foram os elementos propiciadores dessa construção. Isso é de certo modo pretensioso, porque não estamos muito acostumados a conceber reflexões próprias, principalmente aqui no Brasil, pois quando se fala em filosofia e filósofos fala-se, grosso modo, de quem “pesquisa” um autor. Não partimos, portanto, de um olhar acurado do ponto onde estamos, de uma observação profunda e atenta do que somos, e se queremos falar de linguagem, por exemplo, começamos e terminamos num determinado filósofo, sem indagar se seria possível passar adiante e encontrar nossas próprias palavras e também nossos próprios silêncios. 

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro? 

Maygon André Molinari: Sempre fui de caminhar muito, de andar pela linha do trem e pelas serras da minha região. O livro foi surgindo assim, sendo “pesquisado” por meus passos. O processo de escrita do livro durou cerca de 12 anos. A uma certa altura havia pensado em publicar um livro de máximas, inspirado em La Rochefoucauld, Pascal e outros que utilizaram esse estilo mais aforismático. Mas houve um momento em que percebi que meus escritos possuíam um sentido temático que sempre voltava, como em uma espiral. Foi então que percebi que não poderia apenas publicar máximas, pois havia uma estrutura montada. E o livro levou muito tempo para ser concluído também porque, ao perceber para onde me levavam minhas reflexões, exigi de mim mesmo um rigor nas leituras de autores que eventualmente tivessem escrito a respeito de algum tema tratado por mim. Eu queria me certificar de que não estava dizendo algo que já tinha sido dito. Então me debrucei em centenas de livros, dos mais diversos, desde livros de biologia, antropologia, arqueologia, linguística, cibernética, técnica, tecnologia, epistemologia etc. Ou seja: ao perceber que eu estava aprofundando reflexões que considero graves e relevantes, as quais apresentavam uma ideia de surgimento do Homo, por assim dizer, eu tomei todos os cuidados que consegui tomar para “entrar” no pensamento de quem tinha pensado algo, se não parecido, ao menos próximo do que eu estava pensando. Isso é uma questão de verdade pessoal, para mim. Não desconsiderar o pensamento alheio, em que pese estar focado em minhas reflexões. Desse processo saiu o livro. É bom deixar isso claro, para que de modo algum pareça que me considero alguém com a petulância de ter criado um pensamento “a partir do nada”. Isso não existe. Primeiro que, se minha proposta é sempre partir da vida, então já não seria partir do nada, e segundo que, ser verdadeiro comigo é receber o pensamento alheio, valorizá-lo, respeitá-lo, ainda que as mais das vezes não concorde com ele em muitos pontos. E, para finalizar, se existe pretensão no que fiz e no que faço, certamente é a pretensão de me calar e escutar o que a vida pode me dizer. E ainda que eu não consiga ser um tradutor do que escutei, um fiel tradutor da vida, coloquemos assim, que fique ao menos registrado que todo traço que registro no papel tem esse sentido, ou seja, o de ser uma tentativa de tradução do que a vida me diz, ainda que as mais das vezes ela diga sem palavras.   

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?  

Maygon André Molinari: Vou colocar três trechos. O primeiro aforismo do primeiro capítulo, Grito de sobrevivência: 

“1   Quando o primata teve, ele sobreviveu de um modo diferente dos outros animais. O que fez com que, naturalmente, tenham sido transmitidos os genes daquele que teve o osso ou a pedra ou o galho nas mãos. O que não teve também não procriou. Desta forma, o ter é uma herança genética também, por assim dizer, além de cultural. A sociedade e o corpo seriam, então, os transmissores do anseio de posse, do anseio de crescer por fora, com próteses falsificadas? 

Um trecho do capítulo Linguagem e silêncio: 

“8.1   Se uma pessoa, após algum tempo de convivência, amizade etc. com outra, não compreender o que significam os silêncios desta, ilude-se de que compreenderia suas palavras.” 

E por fim um trecho do capítulo A beleza fundamental: 

“6.1   Só se pode refletir sobre as origens da beleza com a perspectiva da sobrevivência.” 

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário? 

Maygon André Molinari: O livro está à disposição para compra pela internet, como na Amazon, Google, Fnac e outras lojas virtuais. Também criei recentemente um canal no YouTube, bastante despretensioso e amador, no qual faço leituras de alguns trechos e esboço alguns comentários que considero pertinentes para ilustração do que foi escrito. 

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Maygon André Molinari: Recentemente lancei um livro que poderia talvez ser descrito como uma novela ou conto mais longo ou mesmo um mini romance (não me preocupo muito com a designação), chamado Os espelhos. Faz parte de uma série de escritos que pretendo igualmente publicar em breve e nos quais tenho trabalhado bastante. Também há um romance de mais fôlego em pauta, que pretendo publicar ano que vem. 

Perguntas rápidas: 

Um livro: Grande sertão: veredas

Um (a) autor (a):  Direi dois – Nietzsche e Cecília Meireles

Um ator ou atriz: Sandra Bullock

Um filme: O poderoso chefão

Um dia especial: não lembro a data, mas o dia em que escrevi minha primeira palavra. 

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Maygon André Molinari: Gostaria que esta breve entrevista servisse para “seduzir” aqueles que têm o interesse, não somente de conhecer um pensamento alheio, mas também o de criar suas próprias interpretações do mundo e da vida.

Apresentação de Do grito de sobrevivência ao último silêncio

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domingo, 5 de julho de 2020

Em Memória e Desejo a noite contrapõe-se ao crescente vazio e escuridão do homem contemporâneo


Em Memória e Desejo a noite contrapõe-se ao crescente vazio e escuridão do homem contemporâneo. Nela podem-se encontrar os fragmentos de lucidez perdidos nos labirintos da verdade dos nossos sonhos e desejos, quando podemos comparar o que somos com aquilo que, um dia, almejamos ser.

Ficha técnica
Autor: Luiz Hebeche
Capa comum: 160 páginas
Editora: AGE; Edição: 1ª (1 de janeiro de 2005)
Idioma: Português

Para adquirir:
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terça-feira, 26 de maio de 2020

Resenha do livro A Filosofia sub specie grammaticae: Curso sobre Wittgenstein, de Luiz Hebeche, por Lauro de Matos Nunes Filho


Por Lauro de Matos Nunes Filho 

Resenhar um livro como a A filosofia sub specie grammaticae: Curso sobre Wittgenstein (2016) de Luiz Alberto Hebeche1 não é uma tarefa simples, pois a leitura desse livro exige uma atenção muito grande quanto ao que pertence a Hebeche e o que pertence a Ludwig Wittgenstein. Esta obra busca fazer parte de um seleto número de livros que contemplam a filosofia de Wittgenstein não apenas de maneira ampla, minuciosa e crítica, mas que buscam ultrapassá-la sobre certos aspectos. Esta obra, como diz o próprio Hebeche, busca oferecer um curso completo acerca da filosofia de Wittgenstein, completando-a em uma nova direção denominada “filosofia sub specie grammaticae”, concebida como um projeto de desantropologização da gramática. Neste ínterim, a discussão se pautará na crítica ao uso de contextos na explicação da noção de significado como uso.

O que veremos ao longo deste curso, portanto, é um desdobramento de temas que são bastante comuns ao cenário wittgensteiniano: significado como uso, nomes próprios, seguir regras, semelhanças de família, etc. No entanto, consideramos o tratamento desses temas como um ensarilhar as armas para o principal que é a passagem da filosofia sub specie humanitatis para a filosofia sub specie grammaticae, isto é, procederemos à eliminação completa da noção de contexto, o que nos levará a uma desantropologização da gramática e, só assim, afastaremos os últimos resquícios de metafísica. Corrigiremos, então, erros que ainda se encontram na obra de Wittgenstein e que, por isso mesmo, se estenderam para todos os seus discípulos e comentadores. (2016, p. 17)

Já antecipo que o livro, de fato, cumpre seus intentos: oferecer um curso geral e detido da filosofia de Wittgenstein, centrando-se principalmente nas IF, para extrair daí novas e não observadas consequências da filosofia wittgensteiniana.
O livro, se desconsideradas a introdução e as considerações finais, está dividido em dez capítulos e vinte e duas subseções que buscam dar um aporte geral da filosofia de Wittgenstein, encerrados por um último e longo capítulo chamado “A filosofia sub specie grammaticae” que dá título ao livro.
A escrita de Hebeche é agradável e, por diversas vezes, atinge um tom literário que deixa a leitura mais fluída e suave. O grande número de exemplos também auxilia na compreensão de passagens mais complexas. Contudo, a leitura de Hebeche não é ortodoxa e almeja consequências nem um pouco convencionais.
O que deve ficar claro é que o livro trata da filosofia de Wittgenstein e não da história da filosofia do autor, assim, já antecipo ao leitor interessado nos pormenores biográficos de Wittgenstein que este não é o livro a ser indicado. Porém, essa aparente deficiência possibilita a Hebeche desenvolver a obra de um ponto de vista mais temático e menos linear do que estamos acostumados a ver. O livro oferece um curso no qual conceitos-chave da filosofia de Wittgenstein são contemplados com atenção e debatidos com comentadores consagrados.
O primeiro capítulo (e o mais curto), “A concepção agostiniana da linguagem”, trata essencialmente do §1 das PU e seus desdobramentos. Nele não há nada muito novo na leitura do consagrado §1, porém, é uma análise direta e detida do problema motivador das PU e que perpassa toda a obra. Em especial, a análise do caráter ostensivo da linguagem é confrontada por meio de uma crítica da dicotomia ensinaraprender fundada no esquema agostiniano da linguagem.
O segundo e terceiro capítulos, “Significado é uso” e “Jogos de linguagem”, tratam de conceitos consagrados e apresentam a leitura paralela de autores como Heidegger. Segundo Hebeche, podemos correlacionar facilmente o conceito de manualidade (Zuhandlichkeit) em Heidegger com a crítica de Wittgenstein à descaracterização da palavra como uso, pois quando teorizamos a palavra nós a retiramos de seu âmbito de doação de sentido, convertendo-a em puro objeto dado (Vorhanden). Hebeche também confronta a leitura de intérpretes consagrados da obra wittgensteiniana, como Baker e Hacker. Segundo Hebeche, tanto Baker quanto Hacker estão certos quanto à exclusão correta da consciência dentro da filosofia de Wittgenstein, porém erram ao preservar noções tais como a de contexto, o que contrariaria a proposta do segundo Wittgenstein de não recorrer a usos ostensivos da linguagem para definir o que seria o significado das palavras.
O quarto capítulo, “Nomes próprios”, surge como um minicurso do TLP, nele são debatidos conceitos-chave do Tractatus e as implicações deste. Neste capítulo é apresentada uma análise pormenorizada do conceito de “nome simples”, em especial, em Russell, Frege e no TLP. A motivação principal de Hebeche é problematizar a passagem do TLP para as IF e o “abandono da análise lógica da linguagem”.
O quinto capítulo, “Imanência do significado”, é um capítulo relativamente longo que debate o conceito de intencionalidade, onde são confrontadas as definições de intencionalidade fenomenológica e gramatical. Hebeche opera um resgate, ou melhor, sequestro de diversos conceitos fenomenológicos, em especial o de doação no contexto da noção de uso como significado. Apesar de não ser convencional a apropriação demonstra-se original e bem desenvolvida, negando a ideia de uma consciência transcendental como apresentada em Husserl, mas defendendo uma análise que se projete sobre o significado enquanto dado no momento do uso, realizando um paralelo com a noção fenomenológica de “voltar às coisas mesmas”, mas sem recorrer a conceitos como o de consciência transcendental, por exemplo.
O sexto capítulo, “Seguir regras”, é uma análise criteriosa da noção de seguir regras desenvolvida entre os §§ 185 e 189 das PU. A dificuldade está numa subseção que compara os conceitos de máquina e maquinação em Wittgenstein e Heidegger, mas nada intransponível. O que fica claro neste capítulo é a constante referência a filosofia de Heidegger, para Hebeche a crítica heideggeriana e wittgensteiniana possuem um mesmo alvo, mas pressupostos distintos. Para um “o sentido é uma doação do ser”, para o outro “ele é uma doação da gramática”.
O sétimo capítulo, “Semelhanças de família”, pode ser concebido em duas partes. A primeira poderia ter sido inserida muito antes na ordem dos capítulos, pois sua importância para a compreensão das IF é essencial, porém Hebeche realiza uma série de estudos que confrontam diferentes análises sobre o referido conceito. Aqui Hebeche debate com intérpretes consagrados como Khatchadourian, Bambrough e Pitcher, dedicando subseções específicas para cada um deles. Para Hebeche cada um dos autores acima analisa como a noção de semelhança de família soluciona (dissolve) parcialmente diferentes problemas, tais como o problema da generalidade dos nomes, do realismo de universais e do essencialismo da linguagem. Hebeche apresentará críticas parciais a cada um desses autores, pois, segundo ele, todos pressupõem noções que deveriam ser abandonadas se seguirmos a filosofia das PU. O ponto principal de sua crítica se dirige a Pitcher que teria sido incapaz de identificar os resíduos antropológicos na filosofia de Wittgenstein. A partir deste ponto Hebeche fixa o quadro geral de sua crítica contra um possível antropologismo na filosofia de Wittgenstein.
O oitavo capítulo “A filosofia sub specie aeternitatis” inicia a problematização que levará até a subseção final sobre a desantropologização da gramática. Por sub specie aeternitatis Hebeche compreende a ideia de uma filosofia cristalizada, crente em formas essenciais, metafísicas, epistemológicas ou lógicas, sendo esta última a forma essencial que caracteriza o TLP.
O nono capítulo, “A filosofia sub specie humanitatis”, trata da passagem de uma postura cristalizada no TLP para uma visão mais “ordinária” da linguagem nas IF. A ideia da humanitatis é que a linguagem preserva uma “vagueza” e “indeterminação” inerentes e não podem ser reduzidas à lógica. Até este ponto, segundo Hebeche, toda discussão conceitual estava restrita à filosofia de Wittgenstein, porém, seguindo desenvolvimentos não previstos por Wittgenstein, Hebeche dará início a uma crítica. Esta crítica é direcionada a diferentes perspectivas antropologizantes que ainda estariam presente nas IF e que contrariariam uma plena crítica da linguagem. Neste sentido, o próprio Wittgenstein estaria imerso em ilusões gramaticais.
O décimo e mais longo capítulo, “A filosofia sub specie grammaticae”, desponta como o ponto de originalidade da obra, pois procura criticar a estreiteza de certas definições das IF, além de debater temas transversos como a negatividade e o essencialismo da linguagem. Hebeche também prossegue no debate com intérpretes consagrados como Le Roy Finch e Baker. Neste ponto, apesar de ser uma questão secundária, a organização do livro presta um grande desserviço à obra de Hebeche, pois aquilo que dá título ao livro a “filosofia sub specie grammaticae” e justifica sua originalidade é desenvolvido apenas na última seção do último capítulo intitulada “A desantropologização da Gramática”. O leitor interessado apenas na tese de Hebeche e já conhecedor do texto wittgensteiniano poderá, sem muitos prejuízos, pular diretamente para esta seção. Nesta subseção final Hebeche justifica sua opção por uma filosofia sub specie grammaticae, onde argumenta que Wittgenstein conserva nas IF uma filosofia da linguagem antropologizada, que submete os jogos de linguagem à dimensão do humano como um último contexto. Hebeche defenderá que não se trata de se desumanizar a gramática, mas de evitar que essa se submeta ao humano, algo que levaria a um retorno a formas essencialistas da linguagem como na filosofia sub specie aeternitatis.

A desgramatização é, desse modo, uma imposição conceitual. Uma dessas formas de imposição é o antropologismo. A gramática, no entanto, não se doa ao homem, pois, ao contrário, os diversos significados de “homem” são doações da gramática. Com isso a pergunta “O que é o homem?” está inserida nas execuções da gramática. O sentido do homem está inserido no destino da gramática. (2016, p. 326)

No entanto, esta última seção, que culminaria e justificaria o título da obra, acaba dando origem a uma sensação de anticlímax, pois a seção é muito curta e deixa a impressão de que mais coisas poderiam ser ditas a respeito, principalmente acerca das implicações positivas da leitura de Hebeche ou de quais seriam as justificativas para que Wittgenstein deixasse que traços antropologizantes sobrevivessem a sua obra. Somado a isso, o leitor sentirá falta de maiores exames do conceito de forma de vida (Lebensform), um conceito chave para Wittgenstein e que certamente deveria ser debatido detidamente em meio a uma crítica ao agora denominado “antropologismo wittgensteiniano”.
Ao final é possível elencar alguns aspectos negativos gerais. Um primeiro aspecto é a aparente ideia de que o livro seria um curso geral sobre a filosofia de Wittgenstein. Apesar de mencionar e se pautar na extensão completa das obras de Wittgenstein, o núcleo da análise de Hebeche são as IF. Apesar de realizar uma boa apresentação do TLP, deve-se dizer que se o leitor busca uma análise pormenorizada e detida desta obra e outras que não as IF então este deve recorrer a fontes bibliográficas adicionais. Até mesmo porque as menções a outras obras de Wittgenstein estão permeadas de críticas a certas tendências interpretativas, tais como aquelas que reduzem o Tractatus a uma obra de lógica ou de ética. Por isso, o livro de Hebeche não oferece a isenção e a fidelidade exigidas por livros de apresentação ou exegese, consistindo em um debate mais profundo e pormenorizado do pensamento wittgensteiniano.
Além disso, a tese final, sobre um antropologismo wittgensteiniano carece de maiores desenvolvimentos e de um posicionamento mais claro acerca dos motivos que levaram Wittgenstein a deixar perpassar tal antropologismo. Em especial, com uma maior confrontação textual com Wittgenstein.
O livro de Hebeche oferece um curso conciso acerca da filosofia de Wittgenstein, porém, ele pode ser visto antes como uma análise da obra wittgensteiniana do que um manual para a compreensão do autor. Certamente que diversos capítulos podem ser utilizados para esclarecer conceitos e definições, porém os mais complexos conservam uma unidade própria e não serão de fácil leitura para wittgensteinianos de primeira viagem. Contudo, o leitor se beneficiará com a acidez e pontualidade de certas críticas, cuja validade lhe caberá avaliar.
Por fim, a tese de Hebeche, de que há um antropologismo latente nas IF, é bem fundamentada e representa um desafio a ser enfrentado por aqueles interessados na obra wittgensteiniana, o seu caráter sui generis impede o seu negligenciamento. Assim, positiva ou negativamente, a tese da “desantropologização da gramática” representa um novo e complexo exercício para os wittgensteinianos.

HEBECHE, LUIZ A. A FILOSOFIA SUB SPECIE GRAMMATICAE: CURSO SOBRE WITTGENSTEIN. FLORIANÓPOLIS: EDITORA DA UFSC, 2016.ISBN: 978-85-32-80769-4. 334 P.
Para adquirir o livro: clique aqui.

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Filósofo Fabiano de Abreu lança série de livros sobre a mente humana durante a quarentena

Fabiano de Abreu - Foto divulgação
O filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana Fabiano de Abreu lançou mundialmente o segundo livro de uma série de cinco que serão lançados durante a quarentena na Amazon e no Google Books. O autor pretende lançar um total de dez livros ainda este ano.

Durante a quarentena, um dos principais desafios das pessoas têm sido manterem-se ativas e produtivas, mesmo em período de confinamento e isolamento social impostos pela necessidade de se evitar o contágio com o novo coronavírus.

Dando exemplo de que é possível usar este tempo de dias atípicos para produzir bons frutos, o filósofo e psicanalista Fabiano de Abreu está lançando uma série de livros neste período. Abreu lançou esta semana o segundo livro dos cinco que ainda devem ser lançados enquanto durar a quarentena. Os livros têm uma temática filosófica e analítica diante da vida e de situações enfrentadas pela sociedade pós moderna: “Durante a pandemia precisamos manter a mente ocupada, liberando hormônios associados a satisfação pessoal e ao prazer, como se estivéssemos fazendo um exercício físico, mas na mente. Quero mostrar que não apenas é possível como também é viável ser produtivo neste período difícil”, conta o autor.

Obras já lançadas

Abreu lançou através das plataformas digitais em formato e-book na Amazon (Kindle) e Google Books dois livros neste período, que são o ‘7 pecados capitais que a filosofia explica' e o 'Romantizando a filosofia’ , ambos obras independentes. Este último contabiliza como o sexto livro de Fabiano até então como escritor e o segundo dos cinco que serão lançados na quarentena. Até o fim do ano, Abreu pretende lançar dez livros digitais.

Abreu é um estudioso da mente e comportamento humano e isto se reflete nas suas obras. Com especialização em história da ética e moral pela universidade Carlos III e em idealismo filosófico e cosmovisão pela Universidade Autónoma, ambas de Madrid, na Espanha, Abreu se propôs a analisar pela ótica da filosofia e com base em seus estudos como psicanalista e especialista em neurociência por Havard, tópicos específicos da psiquê, que pela primeira vez estão sendo compiladas em obras literárias.

Ética e moral

O filósofo explica qual o objetivo de suas obras: “Nossa personalidade é moldada, também,  pelo mundo externo, sendo assim, serão os dias de hoje propícios para o declínio da ética que afeta a moral? Trago estes questionamentos nos meus livros, já que são os que não conseguem se desprender da porção que nos faz ignorantes e transcender os vícios e virtudes.”

Segundo o autor, é preciso trazer à tona reflexões que permitam aos leitores transcender as definições e rótulos e evoluir como pessoas: “Somente com o conhecimento adquirido através da educação conseguiremos um eficiente nível cognitivo para encontrar não a cura, mas o equilíbrio entre vícios e virtudes para um melhor bem estar mental e geral.” 

Projeto conhecimento para todos

Fabiano de Abreu está a disponibilizar os livros gratuitamente aos que não tem condições financeiras para comprá-lo. Ele chamou a ação de - Projeto conhecimento para todos - onde Abreu acredita que o conhecimento é fundamental para alcançarmos o equilíbrio e um melhor bem estar.

Sobre os Livros
Título: 7 pecados capitais que a filosofia explica 
Autor: Fabiano de Abreu 
Editora: Independente
Disponível em: Amazon e Google Books (mundialmente)
ISBN: 9786500031614
Ano de lançamento: 2020
Preço: R$ 19,90 (amazon.com.br)

Título: Romantizando a Filosofia
Autor: Fabiano de Abreu 
Editora: Independente
Disponível em: Amazon e Google Books (mundialmente) 
ISBN: 978-65-00-03357-1
Ano de lançamento: 2020
Preço: R$ 29,90 (amazon.com.br)
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Ainda dá - A Força da Persistência, Mario Sergio Cortella e Paulo Jebaili


Buscar a excelência é um horizonte, mas, acima de tudo, uma atitude. Com a genialidade de sempre, Cortella ilumina os caminhos para darmos esse passo adiante e Jebaili inspira com histórias reais de quem perseguiu e conseguiu realizar seus sonhos.

A expressão “ainda dá” concentra uma série de significados. Tem a ver com esperança, com persistência e com competência. Traz em si também um elemento de temporalidade. É a partir dessa conjunção de aspectos que Cortella e Jebaili tratam neste livro da busca da excelência, aquele esforço de ir além, de ultrapassar limites, de avançar, de fazer melhor do que o feito até então. Afinal, qualquer atividade vai demandar energia e, sobretudo, tempo – um ativo que se torna cada vez mais precioso à medida que passa.
Por isso, quem ambiciona uma vida gratificante e revestida de sentido não pode limitar-se a fazer por fazer. Cumprir tabela é um modus operandi típico da mediocridade. Buscar a excelência é um horizonte, mas, acima de tudo, uma atitude. Com a genialidade de sempre, Cortella ilumina os caminhos para darmos esse passo adiante e Jebaili inspira com histórias reais de quem perseguiu e conseguiu realizar seus sonhos.

Editorial: Planeta
Tema: Filosofia
Coleção: Outros
Número de páginas: 144
https://www.planetadelivros.com.br

Sobre Mario Sergio Cortella
Filósofo, escritor, com mestrado e doutorado em educação e professor titular da PUC-SP, com docência e pesquisa na pós-graduação em Educação. É professor-convidado da Fundação Dom Cabral. Foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991 - 1992), tendo sido antes Assessor Especial e Chefe de Gabinete do prof. Paulo Freire. Comentarista da Rádio CBN nos programas Academia CBN e Escola da Vida. Possui mais de 30 livros publicados.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Descartes e o demônio da dúvida



Um dos pensadores mais importantes da humanidade foi o filósofo francês René Descartes. Suas idéias mudaram a forma de pensar do mundo ocidental e inauguraram os pilares da metodologia científica.
Descartes era tudo, menos humilde. Ele queria criar uma nova forma de pensar, que fosse mais adequada aos novos tempos. É importante lembrar que o filósofo viveu em uma época de mudanças. O mundo passava do geocentrismo (a idéia de que tudo, inclusive o Sol, gira ao redor da Terra) ao heliocentrismo (a idéia de que é a Terra que gira ao redor do Sol), as grandes navegações demonstravam que havia todo um mundo a ser descoberto, a imprensa tornava possível que um pensamento se dissipasse com grande velocidade e, finalmente, os reis passavam a ter mais poder do que jamais tiveram em toda a Idade Média.
Em 1619, Descartes teve um sonho em que o espírito da verdade descia sobre ele. A partir desse dia, passou a se dedicar à busca da verdade e de uma nova forma de pensar, que tornasse o caminho em direção à verdade mais rápido.
Depois de andar por boa parte do mundo conhecido, recolhendo conhecimentos, ele se isolou em busca de um método próprio. Ele percebeu que o método característico da Idade Média, a lógica, não o levaria longe: “Verifiquei que, quanto à lógica, os seus silogismos e a maior parte de suas restantes instruções serviam mais para explicar aos outros as coisas que já se sabem”, escreveu ele no seu livro O Discurso do Método.          
O novo pensamento, criado por Descartes seria baseado em quatro princípios:
1 – Nunca aceitar como verdadeira nenhuma coisa que não se conhecesse evidentemente como tal.
Ou seja, duvidar sempre. Aí o filósofo difere o conhecimento científico do teológico, baseado na fé. Enquanto a religião prega o acreditar sempre, a ciência partiria sempre da dúvida.
2 – Dividir cada uma das dificuldades que devesse examinar em tantas partes quanto fosse possível e necessário para resolve-las.  
Descartes inaugurou com esse princípio a divisão do saber. Segundo a lógica cartesiana, não devemos pesquisar o fenômeno no todo, mas em partes. Para conhecer o corpo humano, devo dividi-lo em partes e estudar uma a uma.  Esse princípio deu origem à especialização que se reflete na própria organização da escola. Temos professores de geografia, história, ciências, literatura, redação... muitas vezes o professor de história não entende nada de geografia e o professor de literatura não sabe nada de redação. A crítica a esse princípio seria a base do pensamento da cibernética e de Edgar Morin.
3 – Conduzir em ordem os pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para chegar, aos poucos, gradativamente, ao conhecimento dos mais compostos, e supondo também, naturalmente, uma ordem de precedência de uns em relação aos outros.
Em outras palavras, ao resolver um problema devemos solucionar primeiro as partes mais simples para depois chegar às mais complexas. Esse princípio também leva a crer que o complexo é na verdade uma junção de partes simples, uma idéia que depois seria criticada por pensadores como Edgar Morin.
4 – Fazer, para cada caso, enumerações tão completas e revisões tão gerais que tivesse a certeza de não ter omitido nada.
Esse princípio, certamente advindo da matemática, teve como conseqüência, na ciência, na idéia de que não se deve confiar no primeiro resultado de uma experiência. O cientista deve refazer suas experiências à exaustão até ter certeza de que o resultado está correto. Mesmo em uma pesquisa bibliográfica esse princípio pode ser adotado. Já vi alunos que, ao fazerem uma pesquisa, usam apenas um livro como referência. Isso não é pesquisa, é cópia. Um trabalho de pesquisa deve comparar as idéias de informações de vários autores. Confiar no primeiro autor que se apresenta pode ser perigoso, pois esse autor pode estar equivocado.
Vamos ver como Descartes usou o método para resolver um problema menos científico e mais filosófico.
O que o filósofo se perguntou é como podemos chegar a certezas. Ele já havia identificado que os sentidos não são confiáveis. Afinal, as pessoas haviam acreditado durante anos que o Sol girava ao redor da Terra simplesmente porque os sentidos lhe diziam isso.
Quantas vezes não somos enganados por nossos sentidos? Às vezes estamos em um navio e achamos que já começou a viagem, quando na verdade foi o barco ao lado que começou a se movimentar? Quantas vezes não temos sonhos que parecem perfeitamente reais?
A não confiabilidade dos sentidos fica demonstrada em filmes como Matrix. Neo acreditava piamente que a vida que levava era real, até descobrir que tudo era uma ilusão criada por um programa de computador...
No filme Uma Mente Brilhante, o personagem principal, um ganhador do prêmio Nobel, conversava com pessoas que não existiam. 
Descartes imaginou-se dominado por um demônio da dúvida que o faria ter dúvida de tudo. Se eu duvido de tudo, se duvido até mesmo se estou realmente aqui escrevendo este texto, qual a minha única certeza?
A minha única certeza é de que tenho dúvidas. Se tenho dúvidas é porque penso. Se penso, logo existo. Cogito ergo sum.
Esse raciocínio de Descartes teve duas conseqüências. Por um lado a ciência procurou aperfeiçoar cada vez mais os instrumentos de pesquisa para fugir da validação subjetiva. Balanças, cronômetros, questionários, observação sistemática são instrumentos de pesquisa que tentam fugir da dúvida deixada pelos sentidos. Na filosofia, as idéias de Descartes inauguram o postulado da razão, que dominaria toda a Idade Moderna.

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quarta-feira, 18 de abril de 2018

Djamila Ribeiro e o lançamento do livro "O que é Lugar de Fala?", no Sesc Santo André

Djamila Ribeiro - Foto divulgação
O Sempre Um Papo e o Sesc Santo André recebem a mestre em Filosofia Política, Djamila Ribeiro, para debate e lançamento do livro “O que é lugar de fala?” (Coleção Feminismos Plurais - Editora Letramento). A obra trata deste conceito que questiona o direito à voz em uma sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade. Essa reflexão se faz importante para desestabilizar as referências vigentes, com o intuito de permitir que uma multiplicidade de vozes silenciadas pelas normas sociais venham à tona. O evento será no dia 25 de abril, quarta-feira, às 20h, com entrada gratuita.

No livro “O que é Lugar de Fala?”, primeiro da coleção Feminismos Plurais, lançada pela Editora Letramento, a autora, baseando-se em pensadoras como Patrícia Hill Colins, Grada Kilomba, Gayatri Spivak, dentre tantas outras, o que já traz a refutação do regime de autorização discursiva, visa conceituar o termo do lugar social de onde as pessoas partem para existir e agir no mundo.

De acordo com Djamila, a partir do “standpoint theory”, que traz as experiências em comum que grupos passam exatamente pela razão de pertencerem a esses grupos, podemos pensar em um lugar de onde grupos subalternizados coexistam e reivindicam sua humanidade, seus saberes e suas produções.

“Como mestre em Filosofia Política, venho estudando a obra de filósofas há anos. Em quatro anos e meio de graduação não me foi oferecido o ensino do pensamento de nenhuma. Tornou-se fundamental para mim pensar o mundo a partir de outras epistemologias que não a dominante; entender que disputar narrativas, nesse sentido, também era disputar reconfigurações de mundo. Questionar e desestabilizar o regime de autorização discursiva não é refletir sobre uma hierarquia construída e violenta que ainda determina quem pode ou não falar, como nos ensina Derrida. Minha intenção não é trazer uma “epistemologia de verdade”, mas refletir e causar fissuras que permitam que enxerguemos outros saberes que não são tão “outros” assim”, explica Djamila Ribeiro.

Djamila Ribeiro é graduada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo, 2012. É Mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo, 2015; é membro fundadora do Mapô- Núcleo de Estudos Interdisciplinar em Raça, Gênero e Sexualidade da Universidade Federal de São Paulo; e membro da Simone de Beauvoir Society (em 2011 e 2014, apresentou pesquisa na Simone de Beauvoir Society Conference, na Universidade do Oregon e em St. Louis/EUA, respectivamente).
Foi Secretária Adjunta de Direitos Humanos no município de São Paulo, 2016; colunista do site e revista Carta Capital; palestrou na sede da ONU, em Nova Iorque, em março e setembro de 2016. Em abril de 2017, participou como palestrante na Brazil Conference, na Harvard Business School e, em maio do mesmo ano, na Forum Brazil UK, na University of Oxford. Foi eleita uma das mulheres negras mais influentes da internet pelo site Blogueiras Negras. Foi umas das 11 selecionadas para o Prêmio Trip Transformadores, de 2017. Prefaciou a edição brasileira de “Mulher, raça e classe”, de Angela Davis. Atua como consultora para empresas sobre questões raciais e de gênero. Foi professora da rede estadual de ensino de São Paulo, em 2010. Ativista, atuou na Casa de Cultura da Mulher Negra, de Santos e na Educafro Baixada Santista; 2002 a 2005.

Sobre o Sempre Um Papo
Criado em 1986 pelo gestor cultural e idealizador do Fliaraxá, Afonso Borges, o “Sempre Um Papo” promove a difusão do livro e seu autor através de lançamentos de livros antecedidos por debates informais. Já atuou em mais de 30 cidades brasileiras, tendo realizado mais de 5 mil eventos com um público presente estimado em 1,6 milhão de pessoas. O encontro presencial converge para a televisão, sendo exibido aos sábados e domingos na TV Câmara. Desdobra-se para a série de DVDs educativos “Cultura Para a Educação”, em sua sexta edição, distribuído para mais de 6.000 escolas brasileiras, gratuitamente. E no site www.sempreumpapo.com.br, estão disponíveis mais de 300 programas com escritores, além de diversos seminários. Com o programa “Ler Convivendo”, em vigor há 8 anos, adota bibliotecas comunitárias em Minas Gerais ao promover 3 atividades: doação de livros, palestras com escritores e capacitação de voluntários. Há dois anos Afonso Borges conduz, na Rádio CBN Belo Horizonte, o boletim “Mondolivro – o blog sonoro da literatura”.

Sobre o Sesc
O Sesc – Serviço Social do Comércio é uma instituição criada e mantida pelo empresariado do comércio, serviços e turismo, desde 1946, fruto de um projeto cultural e educativo. No Estado de São Paulo, o Sesc conta com uma rede de 42 unidades, em sua maioria centros culturais e desportivos. Oferece também atividades de turismo social, programas de saúde e de educação ambiental, inclusão digital, programas especiais para crianças e terceira idade, além do pioneiro Mesa Brasil Sesc São Paulo, de combate à fome e ao desperdício de alimentos.  A instituição conta ainda com o Portal Sesc SP, o Sesc TV, as Edições Sesc e o Selo Sesc.

Serviço
Sempre Um Papo, com Djamila Ribeiro
Dia 25 de abril, quarta-feira, às 20h.
Grátis. Ingressos disponíveis a partir das 19h na Bilheteria ou Loja Sesc.
No Teatro.
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segunda-feira, 5 de março de 2018

50 ideias de Filosofia que você precisa conhecer, por Ben Dupré

A obra apresenta conceitos importantes da Filosofia de forma fácil e rápida.

De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Você é realmente livre em suas escolhas? É justo submetermos os animais a sofrimentos para o avanço da ciência? O que é moral e ética e como atualmente lidamos com estes princípios?

Em 50 Ideias de Filosofia que você precisa conhecer, parte da premiada coleção inglesa 50 Ideias, o professor Ben Dupré ensaia respostas para estas indagações, com base na vasta tradição filosófica.

Apoiado nos pensamentos de clássicos da antiguidade, como Platão e Aristóteles, de grandes autores modernos, como Kant e Hegel, e até de filósofos do século XX, como Karl Popper, ele introduz de maneira clara e concisa algumas das ideias mais influentes já criadas pelo homem.

Você encontrará conceitos como: a caverna de Platão; “Penso, logo existo”; o imperativo categórico; a defesa do livre-arbítrio, os direitos dos animais; teorias de punição; a falácia intencional.

Sobre o autor:
BEN DUPRÉ é autor, editor e pesquisador da Universidade de Oxford, com livros publicados em 15 países. Trabalhou durante 20 anos para editoras como Guinness e Oxford University Press, onde publicou uma ampla lista de obras de referência. Atualmente, Dupré vive em Oxford com sua família.

Ficha técnica:

Editorial: Planeta
Tema:
Filosofia
Coleção: Outros
Número de páginas: 216
Para saber mais ou adquirir o livro: clique aqui.
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sábado, 24 de fevereiro de 2018

8 citações impactantes de Mario Sergio Cortella

Mario Sergio Cortella - Foto divulgação
Mario Sergio Cortella é um dos maiores pensadores da atualidade. É Filósofo, escritor e professor brasileiro. Autor de livros de sucesso, como "A sorte segue a coragem!" e "Por que fazemos o que fazemos?".

1 - Ele (Paulo Freire) dizia que era pequeno, para poder crescer. Gente grande de verdade sabe que é pequeno e, por isso, cresce. Gente muito pequena acha que já é grande e o único modo de ela crescer é rebaixando os outros.
Mario Sergio Cortella

2 - Cuidado com gente que não tem dúvida. Gente que não tem dúvida não é capaz de inovar, de reinventar, não é capaz de fazer de outro modo. Gente que não tem dúvida só é capaz de repetir.
Mario Sergio Cortella

3 - Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!
Mario Sergio Cortella

4 - Volto ao ponto: minha liberdade não acaba quando começa a do outro, ela acaba quando acaba a do outro.
Mario Sergio Cortella

5 - A vida já é curta, que ela não seja também pequena.
Mario Sergio Cortella

6 - Esse mundo que aí está foi feito por nós, portanto, pode ser por nós reinventado.
Mario Sergio Cortella

7 - É necessário fazer outras perguntas, ir atrás das indagações que produzem o novo saber, observar com outros olhares através da história pessoal e coletiva, evitando a empáfia daqueles e daquelas que supõem já estar de posse do conhecimento e da certeza.
Mario Sergio Cortella

8 - Raízes não são âncoras...
"Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive apenas a nostalgia e não a saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra"
Mario Sergio Cortella
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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Questões importantes são abordadas no livro "Sofia, a menina que gosta de filosofar"

Sofia é uma menina de treze anos e adora perguntar sobre tudo. Com um incansável interesse pelo conhecimento e inegável prazer de viver, a garota adora aprender e faz dessa prática algo natural e muito divertido.

É por meio de diálogos e reflexões que estabelece com os pais, parentes e amigos que Sofia traz à tona discussões bastante interessantes sobre temas como: "a descoberta do amor na adolescência, o ensino escolar tradicional, a vida após a morte, os limites da Liberdade, ideologia e alienação, questões de gênero e até mesmo sobre a corrupção, tema bastante presente em nossos dias". As questões suscitadas por Sofia não se esgotam aí e conduzem-na a caminhos cada vez mais instigantes que nos atraem e também nos emocionam.

Com muita doçura e leveza, Sofia, a menina que gosta de filosofar, vai transformando o lugar por onde passa e a todos com quem convive. Como bem ressalta o narrador dessa história "tenho certeza de que saber tudo isso só leva Sofia a novas investigações e novos desafios que, cada vez mais, demonstram que o saber é o que dá sentido à vida". Por isso, entre nessa história e venha aprender com ela!

Informações complementares:

A importância da Filosofia em tempos de desvalorização do pensar reflexivo

Estamos vivendo tempos de acelerado ritmo de produção de informações, mas não aprendemos ainda a processar todo esse saber com qualidade e, muitas vezes, isso gera frustração, ansiedade e dificuldades cognitivas.

Atualmente, a Filosofia enquanto campo de saber vem perdendo espaço para o conteúdo midiático. Muitas pessoas não percebem que estão reproduzindo as informações que recebem em seu dia-a-dia, sem questioná-las ou investigá-las para comprovar sua veracidade. Acabam associando o seu pensamento com o que é mais pragmático, ou seja, a TEORIA ACABA SENDO IMPORTANTE SOMENTE SE TEM UM SENTIDO PRÁTICO e isso é trágico para a formação de conceitos, inferência e juízos ou o que se costuma chamar de HABILIDADES DE PENSAMENTO.

Com a perspectiva de debater profundamente sobre temas e assuntos relevantes na atualidade, principalmente ao público adolescente, escrevi um livro intitulado "SOFIA, A MENINA QUE GOSTA DE FILOSOFAR", que será publicado pela editora UIRAPURU em finais de Julho de 2017. Nesse livro, pretendemos envolver os leitores e leitoras com uma linguagem acessível, mas profunda, sobre temas fundamentais para a formação de HABILIDADES DE PENSAMENTO que o saber filosófico se fundamenta.

TEMAS E ASSUNTOS FILOSÓFICOS QUE O LIVRO ABORDA:

INTRODUÇÃO - Quem sou eu? Estudo sobre a formação da Identidade e personalidade.
CAP. 1 - COSMOGONIA: Origem do Universo e da humanidade.
CAP. 2 - HABILIDADES DE PENSAMENTO: Formação de conceitos e inferências.
CAP. 3 - FAMÍLIA: Estudo sobre subjetividade
CAP. 4 - CRÍTICAS AO ENSINO TRADICIONAL e propostas para um Ensino transformador
CAP. 5 - QUESTÃO DE GÊNERO: discutindo a igualdade entre Meninos e Meninas
CAP. 6 - ÉTICA: Uma reflexão sobre a origem de uma atitude corrupta e como corrigi-la
CAP. 7 - FUTURO PESSOAL E PROFISSIONAL: Como a família pode ajudar nessa decisão?
CAP. 8 - IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO: Questionamentos sobre a atuação da mídia na produção de notícias
CAP. 9 - LIBERDADE E SEUS LIMITES: reflexão sobre Indivíduo, sociedade e cultura
CAP. 10 - PAIXÃO NA ADOLESCÊNCIA: conscientização sobre o equilibrio entre Razão e Emoção
CAP. 11 - COMO SUPERAR A MORTE? Entendimentos sobre partidas e legados
CAP 12 - AS OPORTUNIDADES SÃO IGUAIS? Análise sobre limites da Meritocracia e compreensão de igualdade social
CAP. 13 - BULLYING E VIOLÊNCIA: Estudos sobre a origem dessa prática e como vencê-la na Escola e fora dela
CAP. 14 - SOBRE A IMPORTÂNCIA DE APRENDER: Avaliação sobre o ato de conhecer

Para saber mais informações sobre o livro, acesse: http://ameninaquegostadefilosofar.com.br

Contato para palestras: ANDRÉ WAGNER RODRIGUES, tel. (11) 96322-8448
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quarta-feira, 5 de abril de 2017

10 obras literárias existencialistas para ler e refletir

O ser humano se questiona, deveras, sobre muitas e muitas coisas. Sempre foi assim, e sempre será. Pelo menos assim esperamos que seja, pois é esse questionamento que leva a humanidade adiante. E algumas das principais questões hão de ser: qual o sentido disso tudo? Por que nós, por que aqui, por que agora, e para quê? O que podemos fazer para dar algum sentido a essa bagunça toda que chamamos de vida, que muitas vezes parece tão sem sentido? Resumindo de uma forma bem simplificada, sem aprofundarmo-nos muito em nenhuma das correntes teóricas existencialistas, é mais ou menos isso que é tratado nos romances/contos etc desta lista. Claro que estas obras tratam de diversos outros assuntos também, mas há questões existenciais presentes em todas elas, e é isso que vamos ver agora. Então, vamos à lista! Hora de resolver (ou criar) algumas crises existenciais!

Sonho de um homem ridículo – Fiódor Dostoiévski
Inicialmente, a lista ia ser só de romances, mas com um conto como esse (é um conto longo, quase uma novela, mas ainda não pode ser chamado de romance), seria impossível deixar a lista só com romances. A história é narrada do ponto de vista de um homem que achava ser um homem ridículo, e era indiferente a tudo. Até que na noite em que decidira se matar, antes de chegar em casa encontrara uma criança chorando pelo caminho, e ignorara a criança. Mas ao chegar, em vez de se matar, dormiu com a arma na sua frente, e sonhou com um mundo utópico, onde todos eram bons e puros, mas foram corrompidos. Então ele acorda, acreditando na bondade do ser humano, no amor à vida, e encontra um sentido para sua existência, antes tão indiferente e sem razão. Resolve pregar o amor ao próximo, e tentar resgatar aquela humanidade pura que vira em sonho.

Memórias do Subsolo – Fiódor Dostoiévski
Sim, mais Dostoiévski! E por acaso dá pra falar de literatura existencialista sem Dostoiévski? Seu romance, Memórias do Subsolo é por muitos considerado o primeiro romance existencialista da história. Seu protagonista é um homem que se considera um homem doente, mau, desagradável – que na verdade é um homem atormentado por sua consciência. Sendo este o sentido de subsolo na metáfora de Dostoiévski, a consciência humana, um lugar distante, escuro, escondido e muitas vezes não muito puro – e por estar afundado em tal subsolo, o personagem sente-se corrompido por si mesmo. Este é um romance essencialmente psicológico, no qual o narrador condena a hipocrisia e os homens supérfluos, ao mesmo tempo em que revela sua própria consciência como um subsolo, de forma que o personagem se vê tão fechado em si mesmo que mal consegue se encontrar. A narrativa mostra as faces mais sombrias da alma humana – as quais não maioria de nós não consegue admitir para si mesmo. O protagonista, perturbado consigo mesmo e com a realidade ao seu redor, questiona fatos críticos a respeito da existência humana e questiona, até, a própria sanidade. Um livro realmente forte que influenciou diversas gerações, como Freud, Kafka, e inclusive, o existencialismo de Sartre.

Hamlet – William Shakespeare
Ok, a peça inteira não gira exatamente em torno de questões existenciais, mas os monólogos de Hamlet, o famoso do “Ser ou não ser”, no qual que ele diz à Rosencrantz e Guildenstern sobre o motivo de sua melancolia, sobre as glorificações do homem, que apesar de tudo, para ele nada significam, são puramente questões existenciais. E descritas da forma mais bela e lírica possível – apenas por ser a mais famosa obra de Shakespeare, já dá pra entender a importância deste texto. Só o diálogo do “Ser ou não ser” já é um dos maiores questionamentos já escritos, e acho impossível alguém ler isso e não refletir, ao menos um pouco, sobre o fato de existir (ou não existir?).

O Apanhador no Campo de Centeio – D.J. Salinger
Holden Caulfield é um dos maiores questionadores do mundo da literatura, apesar da linguagem do livro ser extremamente informal, diferentemente das outras obras desta lista. Um jovem que não se encaixa neste mundo de jeito nenhum, acha todo mundo falso e superficial, pensa em viver isolado do mundo – Holden é um símbolo do jovem fora de lugar em um mundo vazio, sem sentido, de uma geração perdida, em crise existencial. Assim, ele encontra algum sentido para esse mundo vazio na inocência da infância, ele se alegra em ver sua irmã mais nova, Phoebe, dando voltas em um carrossel, e quer ser o apanhador no campo de centeio, o único adulto que fica à beira do abismo para não deixar as crianças caírem (uma grande metáfora para salvar a inocência das crianças), assim salvando-as de se perderem no superficial e vazio mundo adulto, talvez as transformando em adultos menos vazios.

Clube da Luta – Chuck Palahniuk
Na obra prima de Chuck Palahniuk vemos um personagem que está cansado de seu trabalho, de sua vida, e que não vê sentido em trabalhar em um emprego que não gosta, para comprar coisas inúteis. Enfim, um ciclo inesgotável de dependência ao sistema sem sentido – é uma crítica ao capitalismo, ao consumismo, à falta de liberdade que a sociedade impõe às pessoas, transformando-as em parte do sistema, sem vida própria, tornando-as não elas mesmas, mas seus pertences, seu dinheiro etc. Então o protagonista da história conhece Tyler Durden, personagem que representa os seus anseios de liberdade, e os dois dão início ao clube, onde nada material importa, só a força de cada um e o seu entregue à luta. A força é representada como física, mas penso que pode ser interpretada de diferentes formas. Pessoalmente, vejo como uma metáfora para a força vital de cada ser, uma vontade de poder, como a descrita por Nietzsche. Também pode ser vista como uma vontade de nada, um niilismo, que busca nada além da destruição, ou, até, como uma capacidade de destruição e auto-destruição em protesto às regras impostas de auto-preservação, garantindo o funcionamento do sistema que transforma seres humanos em números, peças, robôs, etc.

Assim Falou Zaratustra – Nietzsche
“É preciso muito caos interior para parir uma estrela que dança.” – Essa é uma das diversas passagens altamente existenciais encontradas neste livro de Nietzsche, onde Zaratustra, personagem que é uma representação antropomórfica das ideias de Nietzsche, anuncia o super homem, o homem acima da moral. É mais reconhecido como um livro de filosofia do que de literatura, mas o valor literário desta obra é inegável; é o livro mais poético e literário de Nietzsche, e que joga a mente do leitor em divagações que revolucionaram a filosofia mundial. Ler Nietzsche é sempre um exercício mental, ler Zaratustra é uma contemplação (bem mais que contemplação, um questionamento na verdade) da filosofia. Dos aspectos mais abordados por Nietzsche, nesse caso, a moral e o homem acima da moral – e nesta obra vemos a filosofia organizada de forma lírica e em prosa, onde um personagem anda pelo mundo anunciando os ideais defendidos por Nietzsche. Para os fãs de literatura que se interessam por filosofia, é o melhor jeito de ler filosofia.

Demian – Hermann Hesse
Esse romance de Hesse, que pode ser considerado um romance de formação, por tratar da história de vida do protagonista, Sinclair. Desde a infância, até certo ponto de sua vida adulta, tem milhares de passagens existencialistas. Seu romance é praticamente um romance filosófico – e escrito de forma completamente lírica, em muitas passagens soa como um poema em prosa. O romance conta a jornada do jovem Sinclair, que no início da história se encontra em problemas, até que conhece Demian, que o guia para uma nova visão de mundo. A obra tem uma força narrativa e filosófica capaz de fazer o leitor refletir sobre a própria existência, tais como as seguintes:
“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que
destruir um mundo.”
“A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo,
a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem
algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode.”

O Lobo da Estepe – Hermann Hesse
Hesse de novo na lista, mas o que fazer, se seus livros são tão focados na questão da existência? O protagonista de Lobo da Estepe, Harry Haller, que se auto-denomina o Lobo da Estepe, por seus hábitos solitários, poderia ser praticamente comparado a um Holden Caufield adulto. É um homem solitário, que vivia uma vida calma, confortável, mas sem sentido, sem o que esperar do futuro, que já considerara o suicídio inclusive; era um outsider (excluído), sentia não pertencer à sociedade. Até que ele um dia encontra um lugar chamado Teatro Mágico – só para loucos, é o que anuncia a entrada de um lugar onde os personagens parecem sair da realidade. O protagonista conhece uma mulher que lhe faz um pedido um pouco incomum (e um pouquinho mórbido), e depois desses acontecimentos, a vida do Lobo da Estepe parece ganhar sentido novo, pelo menos por algum tempo. O livro é narrado por três pontos de vistas diferentes, o de próprio protagonista, o do filho da dona da pensão onde ele esteve e há também o Tratado Lobo da Estepe, uma espécie de mini-livro sobre o Lobo da Estepe, que o protagonista lê. Resumindo, O Lobo da Estepe é uma obra essencialmente existencial, que acrescenta muito à vida de quem a lê.

O Estrangeiro – Albert Camus
O personagem mais indiferente da literatura, Meursault não demonstra sentir absolutamente nada quando é informado da morte de sua mãe, depois fica amigo de um vizinho que arranja problemas com uns árabes, e acaba matando um árabe. Meursault é ateu, e, quando condenado à morte, lhe oferecem que se confesse para não ir para o inferno, mas ele não muda sua conduta. O mundo para ele é indiferente, assim como ele mesmo, e a única forma de encontrar sentido, em sua visão, é criar um (Existencialismo detectado? Apesar disso, Camus nega que este seja um romance existencialista.), e assim ele o faz, diz que fora feliz, e era mais uma vez feliz ao contemplar o fato do universo ser indiferente, assim como ele. Diz também esperar que sua execução seja assistida e recebida com gritos de ódio. Meursault é realmente um estrangeiro, não no sentido geográfico, mas no sentido existencial, ele não se encaixa na sociedade, não age como todos devem agir, não se importa de ser condenado à morte, não se importa em matar, tudo para ele tanto faz. Portanto, ele é condenado à morte, não apenas pelo assassinato, mas pelo seu “crime” social, por não ter demonstrado sentir nada no enterro de sua mãe, isso que foi utilizado no julgamento que o condenou. Ele foi considerado menos humano por não sentir o que se deve sentir em determinadas circunstâncias.

Homem no Escuro – Paul Auster
Este é um romance muito interessante, principalmente por tratar de dois temas: primeiro, o que mais salta aos olhos do leitor é a meta-ficção presente nesta obra. O livro conta a história de um escritor aposentado, que para se esquecer de seus problemas, passa as noites imaginando uma história, mas só imaginando, pois ele nem sequer chega a escrever a história. Resumidamente, a história que ele imagina é sobre um personagem que tem o dever de matar o escritor que está imaginando tudo (o próprio narrador) para salvar o mundo do caos em que se encontra. Ok, realmente é interessante, mas o que tem de existencial nisso? O modo como a realidade é mostrada nesse livro quase nos faz questionar a nossa própria realidade, a nossa própria existência, pois os personagens imaginados pelo escritor vivem, e sofrem e têm identidade própria, uma existência tão completa quanto à do escritor, que claro que também é um personagem de Auster. Além disso, o escritor aposentado arruma um sentido para sua vida, que é uma vida bem complicada: sua mulher morreu, sua filha é divorciada e meio solitária, e o ex-namorado de sua neta foi assassinado. Mas mesmo com tantos dilemas, o escritor segue em frente, e encontra um sentido para tudo isso.

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