Dê mais visibilidade ao seu livro e mostre a sua obra para milhares de leitores

Dê mais visibilidade ao seu livro e mostre a sua obra para milhares de leitores. Saiba mais, acesse: https://revistaconexaoliteratura.com.b...

Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 2 de abril de 2024

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Bruna Lalleska e seus livros, por Cida Simka e Sérgio Simka

Bruna Lalleska - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.
 

Meu nome é Bruna Lalleska, sou psicóloga e arteterapeuta. Tenho 27 anos e, como todo escritor que se preze, sou, antes de tudo, uma leitora apaixonada. Escrevo "romantasia" - um estilo que até pouco tempo não sabia que existia, mas que, em resumo, refere-se a histórias que mesclam romance e mundos fantásticos.  

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre seus livros. O que motivou a escrevê-los? 

Essa vibe mágica sempre me fascinou e é claro que Inesquecível - Uma aventura no Olimpo, meu primeiro livro publicado em 2023, é, sem sombra de dúvidas, uma romantasia. Nesse livro eu conto a história de Manuela, uma adolescente que em uma noite de tempestade, acaba sendo levada para a terra dos antigos deuses gregos. Por lá ela descobre ter mais em comum com esse mundo do que ela jamais imaginou. Com o Olimpo em guerra contra um feiticeiro, nossa heroína inicia uma jornada de autodescobertas que poderá não só custar a sua vida, mas exclusivamente o seu coração.   

Eu comecei a escrever Inesquecível na faculdade, depois de uma aula sobre arquétipos – ou, pelo menos, é o que eu me lembro agora –, mas a verdade é que levou um bom tempo para que a história se tornasse realmente madura e viesse a público. Como autora independente todo o processo de publicação foi financiado por mim, que custeei capista, revisor, leitura crítica e toda a gama de profissionais necessários para tornar um livro "publicável". Hoje eu mesma cuido de toda a logística de envio e me orgulho muito do resultado que Inesquecível tem alcançado. Uma continuação já está a caminho, com previsão de publicação em setembro de 2024, na Bienal do livro de São Paulo.    

Penso que o mercado editorial é um desafio para os autores independentes iniciantes que precisam, assim como eu, se dividir entre dois ou mais ofícios. Livros muitas vezes necessitam da nossa atenção integral para alcançarem visibilidade e, nos tempos atuais, o escritor é convidado a sair da sua zona de conforto e aprender não apenas sobre escrita, mas sobre todo o marketing que envolve o crescimento de um livro que, bem sabemos, não acontece do dia pra noite.  

A venda dos livros ainda não custeia todas as minhas contas ou todo o investimento que fiz até agora, mas os feedbacks dos meus leitores não têm preço. Eu sei que pode parecer clichê dizer isso, mas nada se compara à sensação de encontrar alguém que leu o seu trabalho e foi tocado por ele. Meus leitores são, com toda certeza, meus melhores vendedores rsrs.  

Você é Wicca desde 2011. Fale-nos sobre isso. 

Além dos livros de fantasia eu sempre me pego envolvida em um novo projeto. Sou Wicca desde 2011 e como uma bruxinha de carreira criei há alguns anos meu baralho autoral. Ele se chama A Bruxa do Café e é o resultado dos meus atendimentos como cafeomante. A cafeomancia ainda não é uma prática tão conhecida no mundo esotérico e refere-se à leitura/interpretação dos símbolos que se formam na borra de café no fundo de uma xícara. Esse é um dos muitos trabalhos que realizo no meu tempo livre e que também tem muito a ver com quem eu sou.  

Quais os próximos projetos? 

Ah, eu tenho muitos projetos em mente, o próximo é a criação de um jogo de tabuleiro inspirado em Inesquecível. O desenho já está quase pronto e é provável que eu lance com auxílio de um financiamento coletivo no Catarse, mas, por ora, é apenas uma ideia. Claro que tenho muitos livros para escrever ainda. Inesquecível é uma série de 5 livros e, além dele, tenho outros romances e um ensaio de psicologia sexual engavetado que precisa urgentemente da minha atenção. Me desejem sorte! Rsrs 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Jefferson Sarmento e a sua obra, por Cida Simka e Sérgio Simka

Jefferson Sarmento - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.
 

Sou formado em Publicidade e Propaganda, mas desde muito cedo queria criar/escrever histórias. Meu primeiro livro foi publicado em 2007: “Velhos Segredos de Morte e Pecados sem Perdão”, que me iniciou num mercado bastante restrito a novos escritores, principalmente aqueles que não estão em grandes centros. De lá até aqui foram (até agora) sete livros, viajando entre o suspense, o terror, a fantasia, o policial... gêneros que me são caros e queridos. 

ENTREVISTA: 

Sobre seus livros, o que motiva a escrevê-los? 

Costumo dizer que é uma necessidade quase fisiológica! Em geral a motivação para uma determinada história vem de uma cena do cotidiano, de uma informação interessante que passa por mim, de um tema que eu gostaria de abordar ou do qual descubro uma nova abordagem. A partir desse ponto, a motivação está em criar maneiras de tornar essa ideia interessante e divertida para mim e para outras pessoas. Para isso, é muito necessário que o escritor saiba o que está fazendo: outra premissa que sigo é a de que é preciso “respeitar” a ideia; é preciso tratá-la como você trataria um filho, dando-lhe não apenas o melhor de si, mas fazendo para ele as melhores escolhas, entendo quais são elas e onde buscá-las — e por isso sou defensor de que escrever não é só uma consequência de uma vontade surgida de uma ideia que emociona o escritor, mas uma responsabilidade, um ofício, e para cumprir com esse ofício, o profissional precisa estudar, entender os mecanismos que transformam uma ideia em uma boa história, dedicar seu tempo não apenas à escrita, mas ao estudo da escrita. E quanto mais o escritor se dedica a isso, melhor para sua história. Aí mora a minha motivação: fazer a ideia se tornar a melhor história que jamais poderia ser sem minha intervenção (pode parecer um pouco prepotente, mas esse “melhor” é uma “busca” e não uma certeza, porque sempre achamos que poderia ser melhor). 

Como analisa a literatura de terror/horror escrita por autores brasileiros? 

Preciso primeiro contextualizar: as histórias de terror, o sobrenatural, a fantasia... estão no nosso cotidiano desde sempre. Estão na formação do menino de interior que fui, sentado à mesa da cozinha dos meus avós e ouvindo histórias de assombração, de mula sem cabeça, de casas assombradas no final daquela rua mais escura do bairro. Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Aluísio de Azevedo, Guimarães Rosa e vários outros escritores clássicos já escreveram histórias de terror, já abordaram o sobrenatural. A maioria das pessoas têm interesse por coisas inexplicáveis e que assombram, e uma boa história não passa incólume a seus olhos — seja por qual plataforma vier: livros, podcasts, séries e filmes, novelas!

Mas o que é bem perceptível hoje é o crescimento do número de escritores e histórias de terror sendo publicadas. Isso se dá muito pela facilidade de publicação que experimentamos nos últimos anos. A possibilidade da impressão sob demanda ou em pequenas tiragens, e mesmo as plataformas de publicação de livros digitais (especialmente o Kindle), movimentaram o mercado livreiro de uma forma que as grandes editoras não conseguiram ainda compreender totalmente. Todo um novo mercado, dentro do mercado editorial, foi criado. Algumas editoras médias e pequenas começaram a buscar esses escritores autopublicados para apostar nesse ou naquele livro. Ainda é um movimento em ascensão e tem muito para crescer, apoiado em perfis literários de redes sociais como o Instagram e o Tiktok, que já têm e terão cada vez mais uma responsabilidade enorme de fazer o mercado de livros de gênero (não só os de terror) crescer cada vez mais.

Nesse ponto entra a necessidade de profissionalização do escritor, de encarar a escrita não apenas como uma expressão artística bruta, mas que precisa ser lapidada, estudada, melhorada com técnicas e o desenvolvimento das habilidades necessárias para se contar uma história. Existem muitos excelentes escritores de terror sendo publicados por médias e pequenas editoras hoje, e também por autopublicação. Escritores que visivelmente entendem o que estão fazendo, sabem como dar forma a uma ideia. Mas infelizmente também temos os que precisam se preocupar um pouco mais com a técnica, com as melhores formas de estruturar uma narrativa, com a fluidez do contar... 

Você é o editor da editora Tramatura. Por que resolveu abrir uma editora? 

Na verdade, não sei exatamente quando a ideia de abrir uma editora me veio — faz bastante tempo. Acredito que isso tenha surgido bem cedo por ser um apaixonado por livros. Contudo, esse era um mercado que eu não conhecia até alguns anos, que estava distante de mim. Mesmo publicando desde 2007, só em 2017 é que a ideia começou a tomar forma, quando meu livro “Relicário da Maldade” foi publicado pela Transversal — que é um selo da editora Oito e Meio.

Quando esse livro foi publicado, tive a oportunidade de acompanhar muito de perto o processo editorial que transforma um original em um livro de fato. Também foi o período em que me dediquei mais ao estudo e especialização de escrita criativa e me dediquei à pós-graduação nessa área — o que me deu a oportunidade de estar muito perto de grandes profissionais do mercado.

Em 2018, embora estivesse começando a tratar da publicação de “A Casa das 100 Janelas” com a editora de “Relicário da Maldade”, decidi fazer uma experiência: e se eu mesmo editasse o livro, do começo ao fim? E assim começou a jornada para não apenas “ver e entender” o processo editorial, mas colocar a mão na massa. Passo a passo, o projeto foi ganhando forma, fui entendendo a necessidade de contatar e contratar profissionais para revisão, diagramação, gráficas, registros, distribuição... Posso dizer que “A Casa das 100 Janelas” foi uma escola. E, a partir daí, sempre com o pé no chão, vieram outras publicações — como os livros da coleção Biblioteca Clássica de Espantos e Assombros (edições de histórias de escritores clássicos com viés sobrenatural, especulativo, de ficção científica), as edições pulp Científica Ficção e a recente Gritos de Horror...

E para este ano teremos pelo menos mais 2 escritores nacionais contemporâneos sendo publicados pela Tramatura. 

Como é seu processo criativo? 

Em geral a ideia surge de alguma fonte externa que pode ser uma música, uma cena do cotidiano, um filme ou livro, um vídeo que aborda certo tema. Aquela ideia fica me acompanhando por um tempo, feito um fantasma me assombrando. E então, se ela ainda está ali depois de alguns dias, é hora de prestar atenção nela e usar o que eu costumo chamar de “chave da imaginação” — é o mecanismo que transforma a realidade em algo completamente novo e vem na forma de uma pergunta: “e se...?”

Nesse ponto eu começo a moldar a história, ainda sem me preocupar com a escrita, com a forma. Esse é aquele momento mágico em o escritor se vê espantado e seriamente interessado pela chama criativa que nos ilumina vez em sempre.

O passo seguinte é saber se a ideia sobrevive a alguns parágrafos?

Então eu me sento e escrevo algumas páginas. Não necessariamente aquilo será um começo de história (na maioria das vezes é), mas uma proposta para mim mesmo. E, quando termino essas primeiras páginas, preciso ainda estar com aquela necessidade de continuar — mas aqui está a importância de recuar e entender que o processo de escrita é mais do que simplesmente colocar palavras no editor de texto. Esse é o momento em que paro tudo e começo a estruturar a história — começo, meio e fim, eventos catalizadores, forma de narrativa, qual o melhor protagonista para aquela ideia, que tipo de personagens serão necessários para levar a história adiante. Isso não significa que saberei exatamente como será o fim (às vezes acontece de o escritor saber como será o ponto-final da história, como eu sabia em “Alice em Silêncio” e em “Terra de Almas Perdidas”, mas não é necessário). O que é preciso é saber qual caminho será trilhado, em que ponto da história esse ou aquele tipo de evento vai acontecer, porque isso dá coesão ao texto, à narrativa, dá fluidez à história. 

Qual o seu próximo projeto? 

“A menina que fotografava estranhos” está programado para agosto — o mês do folclore! E isso tem tudo a ver com a história. “Terra de Almas Perdidas” foi um flerte com o folclore nacional, porque o objeto central da história é uma garrafa com um cramulhão que realiza os desejos de quem a toca. Mas em “A Menina que Fotografava Estranhos” eu queria mais do que um flerte, então busquei o máximo de referências da nossa cultura em pesquisadores como Câmara Cascudo, Januária Cristina Alves, cultura Tupi... para criar uma história que não deixasse nada a desejar aos grandes nomes da fantasia europeia e estadunidense. Se eles têm bruxos, magos, vampiros, lobisomens... nós temos centenas de criaturas mágicas no nosso imaginário. E que tal uma aventura cheia de fantasia e terror usando o que temos de melhor no nosso folclore? 

Link da editora: 

https://www.tramatura.com.br/ 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Edson Agnello e o livro 2013: o ano que não terminou, por Cida Simka e Sérgio Simka

Edson Agnello - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.

Edson Agnello, arquiteto, jornalista e empreendedor é um estudioso da agenda das cidades. Na imprensa do Grande ABCD paulista dirigiu jornais locais, no mundo dos negócios coordenou diversos projetos na área imobiliária, logística, entre outros e faz da arquitetura e do urbanismo a oportunidade de construir uma regionalidade mais cidadã. O livro “2013: o ano que não terminou” é uma oportunidade de revisitar os complexos movimentos sociais que tomaram as ruas do país e 10 anos depois ele sabe que é preciso encontrar um caminho. 

ENTREVISTA:  

Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo?

Quando decidi escrever este livro jamais imaginei produzir uma biografia, queria de alguma maneira apresentar os elementos centrais da perspectiva que tenho em relação aos caminhos que nossa região e o país têm percorrido ao longo dos últimos anos, especialmente depois de passada uma década das grandes manifestações de 2013. Não tenho a pretensão de instalar uma verdade universal sobre os acontecimentos pretéritos e muito menos de revelar as verdades sobre o futuro de um tempo de contradições e conflitos. 

Como analisa a questão da leitura no país?

A dimensão continental do nosso país trouxe ao longo das décadas uma diversidade cultural criando diversas identidades e formas de expressão. Tenho a impressão que o hábito da leitura já passou por momentos piores, até como forma de revolta, mas atualmente a consciência coletiva da necessidade de conquistarmos essa nação tem levado o crescimento dos adeptos à leitura; mesmo tendo o mundo virtual como concorrente ao livro físico, a leitura tem aumentado significativamente por conta a muitos textos de virtuais. 

Quais seus próximos planos? 

Continuar pesquisando e procurando a oportunidade de publicar novos textos, sempre colocando um ponto para se refletir sobre o passado, como está nosso presente e o que podemos implementar ao nosso futuro, a partir da leitura desses outros dois tempos.

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Lara Dezan e Lucas de Camillo e o livro Sofia Santos e o Mistério da Sereia Vermelha, por Cida Simka e Sérgio Simka

Lara Dezan e Lucas de Camillo - Autores

Uma minibio sobre vocês. 

Lara Dezan e Lucas de Camillo são estreantes no meio literário, mas com vasta experiência com audiovisual. Lara é cineasta de formação e trabalha com filmes, publicidade e vídeos para TV e web, enquanto Lucas é diretor de arte e trabalha com jogos eletrônicos, design gráfico e digital. 

A autora Lara Dezan tem em seu currículo o curta documental premiado “Roupa de Baixo” e finaliza sua primeira ficção, o infantojuvenil “A Menina e o Flautista”. O autor Lucas de Camillo, por sua vez, finaliza seu primeiro jogo de grande escala, o 2D Platformer “Tuned Turtle” com previsão de lançamento para PC e consoles em 2024. 

A dupla, sócios da produtora 8 Dígitos, traz para seus projetos um olhar híbrido, que mescla linguagens de diferentes segmentos artísticos. “Sofia Santos e o Mistério da Sereia Vermelha”, lançamento da editora Devora em parceria com a 8 Dígitos, é uma obra interativa que convida o leitor a participar ativamente da narrativa. 

ENTREVISTA: 

Sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo? 

“Sofia Santos e o Mistério da Sereia Vermelha” nasceu da vontade de que nossas histórias chegassem ao seu público. Trabalhando no cinema e nos jogos eletrônicos, com extensos cronogramas e por vezes uma equipe volumosa, a ideia de compartilhar nossos universos e personagens através da literatura pareceu mais palpável e acessível. Escrito durante a pandemia e com projeto contemplado por edital estadual, o livro foi uma maneira encantadora e deliciosa de criar. 

Repleta de aventura e fantasia, a obra traz uma leitura dinâmica, que se assemelha a um argumento de filme, ao mesmo tempo que propõe que o leitor influencie nas decisões da protagonista e rumos da história, como em um jogo. 

Nesta primeira investigação da jornalista Sofia Santos, especializada em casos sobrenaturais, acompanhamos a repórter que busca descobrir se o recente desaparecimento de pescadores tem alguma relação com a antiga lenda da Sereia Vermelha. 

Em momentos-chave da narrativa, duas perguntas são feitas ao leitor, que terá que decidir por qual caminho deseja seguir. São quatro finais diferentes, mas todos estão ligados entre si, e apenas quem lê todos os desfechos consegue compreender a dimensão da história por outros ângulos. 

Outro fator decisivo para seguirmos em frente e escrever foi a vontade de lançar e consumir mais conteúdos com protagonismo feminino e temática ambiental, sobretudo permeados por uma atmosfera de mistério. Trazendo um olhar inovador para a mitológica sereia, o livro debate temas contemporâneos e urgentes, a importância de um jornalismo baseado em fatos e os riscos da pesca de arrasto em escala industrial. 

Nosso livro está à venda em sua versão física em livrarias na cidade de São Paulo ou então pelo site da livraria Nove Sete:

https://livrarianovesete.com.br/catalogo/produto/54521/Sofia-Santos-e-o-Mistrio-da-Sereia-Vermelha 

Para quem prefere a versão online, também estamos na Amazon:

https://www.amazon.com.br/Sofia-Santos-Mist%C3%A9rio-Sereia-Vermelha-ebook/dp/B0BNNZMT7G 

Como analisam a questão da leitura no país? 

Em uma escala global, durante a pandemia ficou nítido para muitos o quanto precisamos de obras culturais em nossas vidas e cotidianos. Hoje, mais do que nunca, vivemos em uma rotina com demandas constantes e excesso de exposição às telas. Em uma realidade onde cresce o número de pessoas diagnosticadas com ansiedade, síndrome de burnout e depressão, o livro traz uma pausa e um alento que nada mais substitui. Somado a isso, nós que trabalhamos com conteúdos juvenis, temos a certeza de que a literatura tem papel fundamental na educação e na construção de uma sociedade melhor. 

É claro que o mercado literário está em transformação, mas se por um lado temos a forte presença do consumo de conteúdos digitais e livrarias fechando em todo o país, por outro temos comunidades se formando em torno de algumas obras e do ato de escrever. 

O livro sempre terá seu espaço, mas sentimos que é importante se reinventar e se adaptar aos novos tempos. Para isso, estamos pensando em novos formatos nos livros - como a interatividade em “Sofia Santos e o Mistério da Sereia Vermelha” - realizamos também o lançamento do livro de forma digital, temos planos de adaptar a obra para o audiovisual e de lançar novas obras literárias que trazem aspectos transmídias em sua essência. 

Por fim, sentimos que as obras juvenis no Brasil precisam muito de um diálogo com escolas e educadores, que possam fazer essa curadoria e ponte entre o autor e o aluno. Paralelamente, as redes sociais hoje desempenham um papel importante na divulgação da obra e estamos tentando nos adaptar a elas. 

O que têm lido ultimamente? 

Lara - O livro que me acompanha para cima e para baixo recentemente é o “Sede de me beber inteira”, da Liana Ferraz. Como é uma leitura mais reflexiva, de poemas com temáticas contemporâneas, tenho lido pausadamente, mas estou adorando. Ela tem um jeito muito criativo de expor suas ideias - tanto nas palavras quanto no formato do livro. 

Lucas - Ganhei de uma amiga querida o “Máquinas como Eu”, de Ian McEwan. A obra propõe um passado alternativo em que a Inglaterra perdeu a Guerra das Malvinas e a humanidade teve grandes avanços tecnológicos. As relações entre humanos e androides são o foco desta ficção científica, levantando questões filosóficas do quanto as máquinas poderão se assemelhar a nós. O avanço da inteligência artificial nos aproxima cada vez mais dos cenários descritos no livro, tornando o livro ainda mais atual. 

Uma pergunta que não fizemos e que gostariam de responder. 

Consideramos sempre importante dizer que o desenvolvimento e lançamento do livro foi produzido com recursos do ProAC 2021 de Literatura Infantojuvenil, do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Iniciativas como essas são essenciais para fomentar a cultura e viabilizar projetos artísticos. 

Vale compartilhar também que recentemente (dezembro de 2023) vencemos o Prêmio Aberst de Literatura com essa obra, na categoria juvenil. Foi uma cerimônia muito bonita e reconhecimentos como este nos dão força para seguirmos em frente criando e nos dedicando aos nossos projetos. 

Atualmente estamos trabalhando na segunda aventura da Sofia Santos, também interativa, e planejando lançar uma edição especial que retrata a infância desta personagem.

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Luciana Lachini e o livro A tua boca anda mentindo, por Cida Simka e Sérgio Simka

Luciana Lachini - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.

Antes de me tornar qualquer coisa, me tornei leitora. Desde pequena, a leitura me mobilizou muito: é também por meio dela que tento compreender o mundo, tenho companhia em todos os momentos e vivo vidas mais interessantes. Já a escrita começou a fazer parte da minha vida por meio de diários, quando era adolescente e me sentia muito deslocada e solitária. Aos vinte e poucos anos, comecei a escrever contos, mas não sabia o que fazer com eles. Dez anos depois, comecei a fazer oficinas de escrita, passei a escrever de uma forma menos errática e aprofundei o entendimento sobre os textos literários. Fiz faculdade de economia, mas trabalho como jornalista também há mais de vinte anos. Embora escreva todos os dias por ofício, são duas searas com abordagens muito diferentes, a literatura e o jornalismo. O texto jornalístico é muito mais engessado do que o literário e, obviamente, nele não há espaço para fabulação. Talvez a minha busca pela literatura esteja relacionada à necessidade de fantasiar outras realidades.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o livro "A tua boca anda mentindo".

“A tua boca anda mentindo” nasceu da inquietação e da angústia. No dia a dia, me deparava com situações e discursos que me soavam falsos e mentirosos, mas que eram proferidos de forma absolutamente natural pelas pessoas, sem que elas sequer se dessem conta de que podiam estar fantasiando a realidade para dar conta de uma vida cada vez mais estéril, competitiva e alienante. Um dos contos, por exemplo, é o diário de uma executiva workaholic que está com câncer, mas continua trabalhando intensamente, amparando-se na frase “crise são oportunidades”. Outro é a história de um advogado que larga o emprego para se dedicar ao sonho de ser artista, acreditando que “o universo conspira ao nosso favor”. Outros temas são como problemas complexos podem ser resolvidos por medidas “cosméticas”, a relação entre dinheiro e liberdade, a crença de que “tudo vai melhorar” para não romper um relacionamento amoroso insatisfatório. Muitos estão relacionados ao mundo corporativo, onde os lugares-comuns e frases feitas sobem pelo ralo. E por aí vai. 

Já tinha escrito alguns contos pouco convencionais, com enredos pouco palpáveis, mas não sabia que poderia ir por essa seara. Essa percepção veio a partir das oficinas de escrita que participei na pós-graduação em Formação de Escritores do ISE Vera Cruz, quando entrei em contato com outros formatos de contos. O projeto do livro surgiu na pós-graduação, e os textos foram discutidos nas oficinas. Vários deles têm uma linguagem de não ficção e simulam entrevistas, seções de jornal, campanhas publicitárias pela internet, comunicados corporativos. Algum humor e uma alta voltagem de ironia está presente em quase todos, deixando para o leitor adivinhar o que está por trás de cada discurso. Mas garanto que se trata de ficção, embora o leitor possa ter a impressão de que é tudo real.

Fale-nos sobre seus outros livros.

“Equilíbrio instável” surgiu da primeira oficina de escrita da qual participei, com o Nelson de Oliveira. Também é um livro de contos, e que trata da violência cotidiana, de pequenas agressões que sofremos. “Desequilíbrio estável” (11 Editora) segue na mesma temática de desencontros afetivos, mas também aborda a violência contra a natureza (a humana e o meio ambiente). São livros mais sérios, talvez um pouco depressivos, nos quais o humor não aparece. Este passou a me interessar quando comecei a escrever o romance “Formiga” (inédito), sobre um funcionário de um banco cujo objetivo na vida é conquistar a “liberdade econômica” e pedir demissão. A ironia circula na veia do ambiente corporativo quase como o açúcar circula no sangue dos diabéticos. É um lugar contaminado por frases feitas e lições de sucesso.

Como analisa a questão da leitura no país?

Acho que é necessário fazer a ressalva de que não sou uma estudiosa do assunto e que há pessoas muito mais capacitadas para analisar a questão. Feita essa ressalva, e se o leitor desta entrevista quiser ir adiante, o que posso dizer é que, mesmo considerando que nosso sistema educacional é falho, talvez possamos trabalhar melhor a formação dos leitores. Creio que a leitura de obras que têm apenas interesse histórico, mas sem conexão com os jovens, deveria ser deixada para os estudantes da faculdade de Letras, para os quais esse conhecimento é importante. Para adolescentes, me parece muito mais interessante desenvolver o gosto e o hábito da leitura por meio de obras mais conectadas ao momento de vida deles. Já para os adultos, talvez o trabalho por meio do estímulo aos clubes de leitura possa ser muito fértil, também pelo estímulo à formação ou aprofundamento de laços sociais e afetivos. 

Há também a questão econômica e o custo do livro, alto para a esmagadora maioria da população. Mas essa seria uma explicação parcial, considerando que há pessoas com renda suficiente para comprar livros, mas que não costumam ler literatura. Mesmo para as pessoas que gostam de ler, e aqui falo por mim, é difícil parar as atividades do dia a dia e encontrar tempo para se dedicar a um livro. Parece que estamos sendo sugados pela constante demanda de sempre fazer mais, de produzir mais, e o tempo da leitura – que obedece a outra lógica – se torna raro. Nesse aspecto, a solução precisaria ser ao mesmo tempo coletiva e individual. Coletiva porque dependeria de um sistema produtivo que devolvesse o tempo e o espaço às pessoas, e que não as condenasse a passar a vida girando na esfera da preocupação com a sobrevivência. E individual porque, na ausência dessa mudança e sabendo que o ambiente conspira contra a leitura, cada um precisaria resistir a essa voragem e encontrar tempo para ler. 

O que tem lido ultimamente?

Tenho buscado intercalar a leitura de clássicos com a de autores contemporâneos. Costumo participar de encontros dos Laboratórios de Leitura (LabLei), metodologia de discussão de clássicos criada pelo professor Dante Gallian. A leitura é sempre ampliada quando entramos em contato com as visões de outras pessoas sobre o mesmo texto. Apesar de lermos a mesma obra, cada um lê um livro diferente, a partir da própria experiência e momento de vida. Ninguém lê o mesmo livro, e é muito bonito constatar essa diversidade. Além do mais, cria-se uma atmosfera colaborativa, uma conexão momentânea com as outras pessoas que estão discutindo a obra. Recentemente, li “Antígona” e “Otelo”. Agora comecei a ler “A peste”, pois, ao contrário de muitos que a leram durante a pandemia, procurei obras que me levassem para longe daquele período de trevas pelo qual o Brasil passou (espero!).

Em literatura contemporânea, os últimos que li foram “Lincoln no limbo” (George Saunders), “O seu jeito de soltar fumaça” (Ricardo Motomura), “A segunda morte” (Roberto Taddei), “O rio entre nós” (Thiago Zanon) e “O dia em que a noite chegou mais cedo” (Renata Conde). Os próximos serão “Meu irmão, eu mesmo” (João Silvério Trevisan) e, logo que for lançado, “Dueto dos ausentes” (Fernando Rinaldi). 


CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.  

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 


Compartilhe:

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Henrique Rodrigues e seus livros, por Cida Simka e Sérgio Simka

Henrique crédito José Júnior

A revista Conexão Literatura e estes colunistas têm a enorme satisfação de publicar a entrevista com o escritor Henrique Rodrigues, semifinalista do Prêmio Jabuti 2023, que estará lançando seu 24º título no dia 7 de dezembro, em São Paulo: “Áurea” (mais informações no link ao final da entrevista). 

Fale-nos sobre você. 

Sou de uma família pobre da periferia do Rio de Janeiro, nascido em 1975, em Cascadura. Cresci em diversos bairros suburbanos e, desde os anos 1990, moro em Jacarepaguá, um bairro imenso e com diversos problemas sociais: violência, ausência de equipamentos socioculturais, planejamento urbano etc. Trabalho desde os 14 anos (comecei vendendo cachorro-quente em frente à quadra do Império Serrano, em Madureira, fui atendente de fast-food, balconista de videolocadora), até que fui o primeiro da família a ingressar na faculdade, algo que não era comum nem esperado para o nosso grupo, pois cresci ouvindo aquele papo de resquício da ditadura segundo o qual a única saída para pobre seria ser militar. Ao ingressar na faculdade de Letras na Uerj um novo universo se abriu, como se eu fosse realfabetizado para ler livros e o mundo. Continuei estudando, fiz especialização, mestrado, doutorado e muitas oficinas de criação literária. Comecei a escrever resenhas de livros para a imprensa e em 2006 publiquei meu primeiro livro (A musa diluída, poesia, Record). Daí para cá foram outros 23 e seguimos. 


ENTREVISTA:
 

Você tem dezenas de livros publicados e uma enorme trajetória literária. Conte-nos um pouquinho sobre ela.  

Ao estudar literatura e conhecer o ambiente literário, lá pelo fim dos anos 1990, descobri que a ideia de ser escritor não seria tão fácil assim, pois era um meio muito restrito a uma classe média já consolidada, composta por jornalistas/editores de um mesmo grupo social. Mas acabei me enquadrando naquela geração de jovens que começaram a escrever literatura nos blogs, e que começaram a chamar a atenção de editores. Muitos dos autores publicados pela primeira vez ao longo dos anos 2000 começaram assim. Era tudo muito novo e livre, ainda sem essa mercantilização e busca frenética de likes que as redes sociais trouxeram recentemente. Daí que talvez tenha surgido uma geração bem diversificada e aberto caminho para que jovens autores de periferia (e sem costas quentes) tivessem alguma oportunidade, algo que também se expandiu nos anos seguintes. Daí que foi nessa onda que, se não surfei para me tornar um dos autores mais conhecidos, pelo menos peguei um jacaré, conseguindo espaços de publicação para o que eu tinha a dizer como autor. 

Você transita por vários gêneros textuais (poesia, conto, crônica, romance, livros infantis). Claro que cada um tem suas especificidades. Que dica pode dar a quem deseja percorrer por esses gêneros? 

Quando descobri que para quem é preto, pardo e pobre tudo é mais difícil, me veio uma consciência de que, como escritor, não bastava eu ser bom. Eu precisava ser muito bom. Aquele papo furado de meritocracia se aplica nessa hora, pois eu saí com muita desvantagem. Daí que aproveitei ao máximo os meus anos de formação para entender e praticar todas as formas literárias. Passava um fim de semana inteiro reescrevendo um tipo específico de forma poética, por exemplo. Então aprendi a dominar tecnicamente toda a escrita poética clássica, conto, crônica, romance, e até a mais delicada e difícil de todas, que é a escrita para crianças e adolescentes. Assim como a poesia, essas formas parecem fáceis por haver menos texto, mas é uma armadilha. A dica é ler como leitor, mas também como quem quer entender os mecanismos por trás do texto, fazer oficinas, compartilhar ideias e leituras com os seus iguais. E o mais importante: não ser afobado. É incrível como hoje, por ser relativamente fácil ter um livro impresso ou oferecido digitalmente, os novos autores têm uma ansiedade por reconhecimento, prêmios etc. A literatura não segue esse tempo corrido das redes sociais.  

Como se dá o seu processo criativo? Que acha dos que dizem que para escrever é necessário que a pessoa tenha dom? 

Meu processo de escrita é hoje mais baseado na administração do tempo, moeda cada vez mais valiosa, do que outra coisa. Esse papo de dom eu acho que não existe. É claro que algumas pessoas têm uma predisposição para determinadas expressões artísticas, algo que precisa ser devidamente observado para que tenham espaço para se desenvolver. Se eu tivesse seguido carreira militar, como queriam, certamente teria uma frustração no peito porque algo em mim diria que eu não estava seguindo o que gostaria de fazer. Nesse aspecto tive alguma sorte de ter feito as escolhas certas para me desenvolver naquilo que talvez eu saiba fazer de melhor. 

Você trabalha com gestão de projetos de leitura. Como analisa a questão da leitura no país? 

Sim, como livros não pagam a conta para a maioria dos escritores, é preciso ter um trabalho fixo. Naturalmente, o miolo do meu tempo livre é gasto no meu emprego de gerir projetos literários, mas é um preço que se paga para poder olhar os boletos na geladeira. Ainda que 80% do tempo sejam investidos em trâmites burocráticos e administrativos, olhar o meio literário da parte de trás do balcão me dá outra perspectiva muito boa. Assim como ser escritor me ajuda muito nesse emprego, uma vez que tenho o olhar de quem, por vezes, também está prestando um serviço cultural como artista. Já a questão da leitura no país é um desafio grande, pois é uma área com muito a se fazer e que caminha lentamente. E vivemos num paradoxo, veja só: temos um país com muitos eventos literários, números de vendas de livros interessantes para umas poucas categorias, mas faltam políticas públicas aplicadas para o trabalho cotidiano. Um exemplo claro: o Rio de Janeiro acabou de ser divulgado como capital mundial do livro para 2025. Aí quem vê essa notícia logo atrelada à última Bienal do Livro com seus números altos faz parecer que a cidade é um paraíso dos livros, o que está longe de ser verdade: as escolas públicas estão fechando salas de leitura, na maioria dos bairros (inclusive onde é realizada a Bienal) não existe biblioteca pública, as livrarias estão concentradas nas áreas ricas da cidade e por aí vai. É preciso olhar esse desafio de frente e ter um plano de médio e longo prazos, mas isso é algo que nossa tradição imediatista não parece querer. Enquanto isso, fazemos nossa parte: nessas semanas tenho visitado as escolas públicas onde estudei para doar livros e palestrar (gratuitamente, vale dizer) para alunos e professores. O fato de não haver solução no geral não nos impede de, mesmo em trabalho de formiga, contribuir para levar livro e leitura para quem precisa. 

www.henriquerodrigues.net

Instagram e Twitter: @henriquerodrix 

Link para a notícia do lançamento do livro “Áurea”:

https://www.publishnews.com.br/materias/2023/12/01/henrique-rodrigues-lanca-seu-novo-romance-aurea-no-rio-e-em-sao-paulo

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.  

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

terça-feira, 14 de novembro de 2023

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Rosely Budim e seus livros, por Cida Simka e Sérgio Simka

Rosely Budim - Foto divulgação

Fale-nos sobre você.
 

Rosely Budim nasceu no dia 10 de abril de 1987 em São Paulo. Cursa Design Gráfico. É curadora do Prêmio Ecos da Literatura e sócia da The Four Editora. Autora do livro infantil O lado bom de ser diferente, organizadora das antologias Somos todos iguais, Eu continuo te amando, Chamada de emergência e está lançando seu segundo livro infantil O lado bom de ter amigos.

 

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre os livros "O lado bom de ter amigos" e "O lado bom de ser diferente". O que motivou a escrevê-los? 

O lado bom de ser diferente foi meu livro de estreia, conta a história de Rafaela, uma garotinha que durante as férias escolares conhece a Luísa, sua nova vizinha, que é surda e faz de tudo para conhecê-la e tornar-se sua amiga.

Dois anos após seu lançamento resolvi publicar uma continuação, O lado bom de ter amigos. Que conta como foi a volta às aulas das meninas e a interação de Luísa, uma criança surda na sala de aula.

Como sou intérprete de Libras, convivi com vários surdos, notando a dificuldade de comunicação com os ouvintes que não têm o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais. Quis usar meus livros como uma forma de despertar o interesse das crianças em aprender a se comunicar com os surdos.

Além das histórias divertidas os livros contam com atividades e desenhos para a garotada pintar e o segundo ainda vem com QRCode de dois vídeos onde ensino alguns sinais em Libras. 

Você também é organizadora de antologias. Fale-nos sobre elas e esse trabalho. 

Sim, ainda no seguimento infantil e inclusivo organizei a antologia Somos todos iguais, que nos traz lindas e emocionantes histórias de crianças com deficiência, com tom de pele, cabelo e/ou condições financeiras diferentes umas das outras, mas que são todas iguais quando falamos de respeito e empatia.

Juntamente com a Patricia D’Oliveira e Wellington Budim organizei as antologias Eu continuo te amando, que são contos com a temática amor, seja ele pelo parceiro, pelo amigo, amor a seu pet, seu familiar, e Chamada de emergência, que é um thriller policial com contos com duas vertentes, o atendente e a vítima, que são interligados por uma situação em que um precisa ajudar o outro.

As antologias foram grandes desafios para mim, pois fugiam do que eu já havia publicado e se tratavam de estilos diferentes, mas que fiquei bem satisfeita com os resultados. 

Você é sócia da The Four Editora. Fale-nos sobre a editora (como surgiu, por que o nome etc.). 

Na verdade, a vontade de abrir uma editora era um sonho antigo meu e dos meus irmãos que já eram autores e tiveram alguns problemas em suas publicações. Depois de tanto pensar sobre o assunto e conversando com a Patricia D’Oliveira resolvemos nos arriscar e abrir a editora para publicarmos nossos livros; como éramos quatro pessoas, escolhemos esse nome The Four Editora. 

Como analisa a questão da leitura no país? 

Pode-se dizer que a metade da população brasileira é leitora. Temos bons projetos, feiras de livros, eventos literários em todo lugar do Brasil, porém poderiam ser mais incentivados, melhor divulgados. Para atrair ainda mais pessoas à leitura. 

O que tem lido ultimamente? 

Estou lendo O Colecionador – John Fowles e Nosso Pecado – Wellington Budim, que betei, mas estou relendo. 

O que você diria para quem está pensando em começar a escrever?

Não pense, simplesmente se arrisque. Comece com histórias pequenas, mas escreva. Leia bastante e observe tudo o que acontece ao seu redor, pois cada detalhe pode te trazer inspiração para criar uma história. 

Links para os livros:

https://www.thefoureditora.com/o-lado-bom-de-ter-amigos-rosely-budim

https://www.thefoureditora.com/o-lado-bom-de-ser-diferente-roselybudim

https://www.thefoureditora.com/pre-venda-somos-todos-iguais-organizacao-rosely-budim 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.  

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023). 

Compartilhe:

Baixe a Revista (Clique Sobre a Capa)

baixar

E-mail: contato@livrodestaque.com.br

>> Para Divulgação Literária: Clique aqui

Curta Nossa Fanpage

Siga Conexão Literatura Nas Redes Sociais:

Posts mais acessados da semana

CONHEÇA A REVISTA PROJETO AUTOESTIMA

CONHEÇA A REVISTA PROJETO AUTOESTIMA
clique sobre a capa

PATROCÍNIO:

CONHEÇA O LIVRO

REVISTA PROJETO AUTOESTIMA

AURASPACE - CRIAÇÃO DE BANNERS - LOGOMARCAS - EDIÇÃO DE VÍDEOS

E-BOOK "O ÚLTIMO HOMEM"

E-BOOK "PASSEIO SOBRENATURAL"

ANTOLOGIAS LITERÁRIAS

DIVULGUE O SEU LIVRO

BAIXE O E-BOOK GRATUITAMENTE

BAIXE O E-BOOK GRATUITAMENTE

APOIO E INCENTIVO À LEITURA

APOIO E INCENTIVO À LEITURA
APOIO E INCENTIVO À LEITURA

INSCREVA-SE NO CANAL

INSCREVA-SE NO CANAL
INSCREVA-SE NO CANAL

Leitores que passaram por aqui

Labels