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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Em Netuno, por Roberto Fiori



“Estamos chegando ao nosso destino final. Falta atracarmos uma última vez, em Netuno, e seguiremos para a colônia de Plutão. É mais fácil ancorarmos no último planeta do Sistema, para a seguir partirmos para o planeta-anão. Nesta órbita, podemos nos abastecer de combustível, de alimentos, água e deixarmos de nos preocupar com essas coisas, no resto da viagem. A estação espacial Tibbo C, em órbita netuniana, proporcionará todo o conforto para vocês.
“Em cem anos, colonizamos o Sistema Solar. Vocês se lembram dos fracassos sucessivos da companhia Space X, quando tentaram partir para Urano. Os acidentes ocorreram por falhas técnicas e humanas e a empresa começou a dar prejuízos cada vez maiores. Nenhuma missão era segura a partir de certo momento e o longevo Musk acabou sem um acionista. O ativo da empresa ficou no vermelho por um ano, até que Elon decretou a falência da Space X.
“Surgiram outras empresas, o futuro estava reservado para a exploração espacial mista. A Connecticon 3000 foi um sonho tornado possível, graças à união de conglomerados de empresas particulares e governos progressistas, como a Alemanha, a França, o Japão e Israel. Os Estados Unidos sofreram desgastes, junto com a China, devido à crise do Covid-19, e ninguém confiava nos dois países, visto que as vacinas chinesas, russas e americanas surtiram efeito algum contra o coronavírus.
“Hoje, somos um sistema planetário repleto de sucessos. Avançamos até Plutão e temos planos para seguirmos na esteira das naves Voyager I e Voyager II! Isso é fantástico, o que se pode pedir além do que nossas espaçonaves já o conseguiram? Temos a melhor rede de hotéis e restaurantes, nas estações espaciais orbitando Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno...”
A voz nos fones de ouvido dos 211 passageiros da Endeavour foi terminando o discurso. Os homens, mulheres e crianças, acomodados em seus lugares, presos em cintos de segurança para permanecerem em seus assentos, começaram a tirar os aparelhos que cobriam toda a lateral direita da cabeça. A Bose, empresa centenária na produção de alto-falantes, era a responsável pela fantástica qualidade do som que provinha dos fones e planejava lançar seus tentáculos para áreas como a exploração espacial e experimentação acústica em ambientes de gravidade zero e atmosfera nula. Pretendiam, em cinquenta anos, produzir um sistema de alto-falantes que funcionasse em locais sem atmosfera. Isso estava além da Ciência deste início de Século XXII, diriam os cientistas do final do século passado, mas desafios imensos estavam sendo vencidos.
Junto à cabine de comando da Endeavour, Suzanne K. se espreguiçava em seu nicho de gravidade zero e começava a desafivelar o cinto de segurança que a prendia no assento. Guardara as páginas do texto que estivera lendo em voz alta, transmitindo-o para cada um dos passageiros daquela viagem. Era sua décima-segunda viagem pelo Sistema Solar e quem poderia imaginar que o turismo espacial fosse uma das atividades que renderiam de modo alarmante, à frente de outras, como a produção de peças e equipamentos para as naves, bases planetárias e as estações espalhadas pelo Sistema?
— Mais uma viagem terminada, senhor Leopold — disse a garota esguia e bonita para o controle de comunicação, que acionara com seu dedo indicador. Tomara cuidado para que sua unha não lascasse, era frágil em ambientes de gravidade zero.
— Não se esqueça de calçar as sapatilhas forradas com chumbo, querida!
Leopold tratava Suzanne de um modo especial. Tinha planos para enquanto permanecessem na Tibbo C. A garota, lânguida, respondeu:
— Precisa disfarçar o tom de voz, meu grande piloto! Desse jeito, as pessoas começarão a suspeitar...
Ele riu e ela apanhou a tela portátil, onde os 211 passageiros teriam de  registrar o nome, idade, sexo, profissão, destino (se ficariam em Netuno, se partiriam para Plutão e para onde iriam, ao retornarem do planeta-anão) e motivo da viagem, além de algumas formalidades sem importância. Muitos eram apenas turistas, mas alguns viajavam no modo privativo, por serem um tanto reservados. Estava tudo bem, as pessoas podiam responder no formulário o que queriam, mas a segurança planetária instalara sistemas de prevenção contra crimes em cada nave, em cada estação e, em Marte, Plutão e em todas as luas do Sistema.
A garota ficou a postos na saída da nave, uma porta que se abriria na vertical, recolhendo-se no casco da espaçonave. Um aviso de SAÍDA em vermelho indicava que era impossível acionar a abertura da porta, mas, quando ele se tingisse de verde-esmeralda, seria possível sair da nave por aquele local.
Suzanne havia tirado o fone Bose e se preparava para desligá-lo, quando um aviso piscante na sua lateral fez com que ela o encostasse na orelha. Ouviu:
— Querida, encontre-me no solarium do hotel Tetsuo-wein, quando tiver terminado.
— Sim, senhor, Sr. Kendall — ela respondeu, um sorriso surgindo em seu rosto de boneca. Seriam dois dias de descanso remunerado, nos quais ela faria tudo, menos repousar...
No túnel que unia a Endeavour e a estação, Suzanne recebeu os passageiros com um largo sorriso. Eles formavam uma fila indiana e respondiam ao formulário da Connecticon 3000, pressionando a tela sensível ao toque. Cada responsável pela sua família, ou, se o passageiro viajasse só, demorava um minuto, senão um terço disso.
Suzanne ficou cansada, de pé por quase uma hora, mas era um de seus deveres, como comissária, receber os passageiros e fornecer-lhes o questionário. Sabia que se recuperaria, quando começasse os exercícios na área de fitness do hotel. Saiu do setor de acoplamento da nave, pelo túnel, em seguida aos passageiros. Adoraria esperar por Kendall, mas ele se demoraria. Tinha de verificar na espaçonave os sistemas de suporte de vida, o funcionamento dos computadores, bem, era questão de passar mais duas horas e meia aguardando o namorado, ou seguir para o Tetsuo-wein e se instalar.
A praça em frente ao conector do porto espacial estava vazia. Eram cinco horas da manhã, pelo fuso horário de Greenwich, e quem residia ou trabalhava na estação estava dormindo, estando em funcionamento os androides e a maquinaria automatizada. Passou pelos restaurantes e lojas como se fosse uma cega e seguiu pela rua que levava a uma travessa escondida, onde se localizava o hotel.
Era um edifício de oito andares, em cujo solarium era possível ver-se a estrutura abobadada da estação. A moça passou pela larga porta de entrada e foi para a recepção.
— Sua visita é uma honra, senhorita.
A jovem virou-se e um homem de um metro e oitenta, atlético, usando um perfume masculino marciano que a fez quase abrir a boca para inspirá-lo, caminhou da entrada do hotel até onde ela estava. Ele era atraente, sem dúvida.
— Você está hospedado no hotel...?
— Sim, aguardando o transporte para a Terra, vindo de Plutão.
Ela pensou que Kendall ficaria muito chateado se a visse falando com um estranho tão charmoso. Disse:
— Diga-me, onde posso encontrar uma musseline de café, fino creme mousse feito de avelãs, chantilly e café solúvel plutoniano?
— Aqui mesmo, minha jovem — era o funcionário do hotel, na mesa da recepção. — Com 65 por cento de creme de leite batido, ou “chantilly”, se prefere chamá-lo assim, vinte por cento de avelãs e o resto, uma espuma finíssima que eu mesmo tive a oportunidade de inventar. Para ocasiões especialíssimas.
Suzanne adiantou-se e o homem baixo estendeu-lhe uma tela portátil, para que a garota registrasse sua identidade, com um toque da ponta de qualquer dedo. O sistema analisou as impressões digitais dela e aceitou o depósito feito na conta do hotel. Dos dias que Suzanne K. ficaria, deduziria do total que ela depositara, tocando na opção padrão “200 créditos”.
— Está acompanhada...
— Suzanne — completou a moça. — Suzanne K. Minha companhia virá se encontrar comigo em três horas, no máximo. O hotel serve musselines de café até que hora, atendente?
— 24 horas por dia, Suzanne — ele havia lido o nome dela no dispositivo portátil. Gostaria que lhe fosse servida uma taça gelada, senhorita?
— Onde posso tomar uma?
— O seu quarto, o solarium, ou no primeiro andar, onde está o salão de chá, são os locais mais agradáveis e adequados.
Suzanne admirou o modo do funcionário e o jeito reservado do hóspede do hotel, que se mantivera calado.
— Vou esperar meu namorado chegar, no solarium. Quem sabe, senhor — dirigiu-se a mulher para o seu novo amigo —, possa nos fazer companhia.
— Meu nome é Voturang. O prazer é todo meu — e apertou a mão de Suzanne, quando ela lhe estendeu.
Suzanne admirou a mancha pequena que se escondia sob a curvatura de Netuno. O Sol adquiriu tons azulados, quando desceu para os confins do espaço, mergulhando na escuridão.
— Fiz você esperar muito, Suzanne? — ela se virou e um calor espalhou-se pela sua face, terminando no pescoço e ameaçando fazê-la arfar.
— Agora irão ligar o restante das luzes da estação. O brilho do Sol deixará de existir, por mais sete horas. Até a estação estar no ponto correto para um novo nascer da estrela.
Kendall abraçou-a e beijaram-se. Ele roçou seu rosto recém-barbeado no dela e os dois suspiraram.
— Já se hospedou no hotel, Leopold? — ele abanou a cabeça, assentindo.
— Encontrei um amigo seu, no saguão de recepção.
— Voturang?
— Conhece-o há muito tempo? — ele afastou a cabeça dela e disse: — Me pareceu que era um velho amigo seu.
— Voturang apareceu enquanto eu me hospedava, com a tela portátil da recepção. Notou o perfume que usa?
— Tenho um vidro novo em minha mala, mas de um perfume marciano um tantinho mais cítrico que o dele. Pelo que me consta, você gosta mais de colônias ácidas, que aquela que Voturang está usando. Eu, de minha parte, acho-a enjoativa.
Suzanne K. olhou bem nos olhos de Kendall. Sabia que ele estava sendo sincero, deixara de lado um lado seu que era sarcástico, senão humorístico. Virou-se para contemplar a cidade-estação.
— Veja, ali está o palácio do governo de Netuno. Esta estação espacial detém todos os poderes de um governo de fato — ele se manteve em silêncio. — No limite da visão, você pode contemplar a Torre dos Desejos, onde cada pedido, dizem, é atendido pelos deuses da órbita do planeta gigantesco. E lá...
Kendall virou-a e sussurrou:
— Vamos deixar Voturang e a musseline de café para um outro dia, querida. Venha.
O homem a puxou pela mão e desceram até o oitavo andar. No quarto, ele pediu um vinho importado da Terra, da Alemanha. Um Auslese doce caríssimo. Mas ele tinha créditos, podia pagar o luxo para Suzanne. Sob a luz da cidade-estação, que entrava pela janela, a noite foi cálida e tempestuosa, suave e vibrante, alternando-se.
Tinham todo o tempo que o espaço poderia lhes conceder, pois a Endeavour partiria somente na noite seguinte. Até lá, o Sol lançaria sombras diáfanas e tênues sobre os móveis e sobre os edifícios, e o casal poderia se sentir seguro, observando a mancha pálida cor azul, através da imensidão do vácuo que cercaria a Endeavour.
Com uma contração última antes do sono chegar, as mãos entrelaçadas de ambos se apertaram, sobre a cama.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
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