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domingo, 29 de julho de 2018

O “ínfimo” que vale a existência de Josepha

Por Krishnamurti Góes dos Anjos (*)

Hoje, domingo 22 de julho de 2018, acordei cedo para a labuta de sempre com a crítica literária. Enquanto tomo o café fico sabendo pelo noticiário da TV a cabo que o mês de junho registrou o maior número de mortes em um ano e meio entre imigrantes que tentaram entrar na Europa pelo Mar Mediterrâneo, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas (OIM-ONU). Entre os dias 1º e 30, pelo menos 629 mortes foram confirmadas na região, incluindo o Mar Egeu. O total é quase igual ao número de mortos nos cinco meses anteriores, entre janeiro e maio. Já em julho o número de mortes chegou a 198 até quinta-feira (19). Levo a chácara de café quente aos lábios para um gole, enquanto a imagem de uma sobrevivente camaronesa de 40 anos chamada Josepha, que passou dias no mar agarrada a destroços ao lado de corpos me faz queimar a boca com o café. A criatura tinha, ao ser resgatada, feições alucinadas pelo medo, um olhar acossado no nada, lábios partidos, inchados, o corpo inerte, sem mais forças. Um horror meu Deus... Atônito, e com os lábios ardentes, a imagem chocante me fez lembrar de um poema que li ontem:

“Partes lentamente da vida”:
“Partes lentamente da vida / num barco ébrio de sangue / onde se inscreve a pele da noite / nesse festim. Dobras o vento, esse uivo / que chega do Norte, nas pegadas de um silêncio / interdito e em que calas os nomes / desenhados na lucidez das mãos.

Ninguém lê as pedras, os sinais, / ninguém decifra o traço de sangue desse navio / que navega em direção a uma ilha, / neste arquipélago de solidão.

Os gestos são irremediáveis, no instante / em que tudo refulge para se afundar. Ninguém ouve / este naufrágio perdido no canto de um marinheiro / que sabe não voltar. A viagem é sem retorno.

Tu sabes, vais a caminho”.
 
Muito bem. O poema acima é parte do livro “Do ínfimo”, da senhora Maria João Cantinho, escritora portuguesa que viveu a infância em Angola. Doutora em Filosofia Contemporânea é também autora de quatro livros de ficção, quatro de poemas e um livro de ensaios. Não sabemos se em Portugal é assim, mas parece-nos que no Brasil é mais conhecida como ensaísta, e notória estudiosa da obra do filósofo Walter Benjamin (1892-1940). A esse respeito a própria autora em entrevista à Paulo José Miranda  esclarece com propriedade e plena consciência: “Eu diria que são passagens que se abrem (ou se fecham) e que a poesia bebe nas margens do não-dito, do não-explicável, do que não é racionalizável, do imediato, da pulsão, ao passo que o ensaio procura a claridade e a explicação ou, pelo menos, a sua tentativa”. E vai mais além: “De uma forma geral, os ensaístas são grandes leitores e isso faz muita diferença (a meu ver) na poesia. Não entram nela de forma ingênua e desavisada”. Dito isto, Voltemos a Benjamin que foi escritor, tradutor, ensaísta, crítico literário, sociólogo e crítico de arte. Vale ainda acrescentar, a título de melhor situar o leitor, que Benjamin desenvolveu seu trabalho baseado na concepção kantiana de crítica como uma forma de reflexão, tanto estética como política, levando-se em conta que esse ato de crítica, incluía todo o sistema cultural e também sua base econômica. Dentre suas criações intelectuais articulou a teoria da história, da tradução, violência, tendências da recepção da obra de arte dentre outras questões não só pertinentes como atualíssimas. Uma autora de tal quilate é verdadeiro e benfazejo achado. Veja-se este poema e sinta-se o sentido do humano que ele nos transmite nesse mundo monstruoso que criamos e que brada por saídas:

“Dobrar o corpo”.
“Dobrar o corpo ou a língua tanto faz / para que a sombra nos salve / destes dias, sabes, em que nada parece viver / a não ser um certo modo de indigência / a que todos se consentem, talvez por medo / de não haver amanhã, ou uma grandeza qualquer / as palavras trazem esse inferno irrespirável / insano, sem lugar para um certo azul / que revirava os dias de esperança / e agora caminham cabisbaixos, medrosos / convenceram-se que o único azul é este / o de que dispomos / um certo azul com vagas estrelas numa bandeira / e o número do sapato não nos serve,

Já não o calçamos, sequer / andamos descalços, mas continuamos a olhar / para esse céu de plástico e com estrelas mortiças / desenhadas só para alguns, que por detrás delas / se escondem, com as suas siglas formidáveis / a tresandar a poder, a feder / hoje é o sapato, irmão, só te serve um / mas amanhã nem as calças te servirão / e o Inverno está à porta. E perguntas? Sonhas?

Vão te deitar de joelhos / a sonhar com o pão / com a casa que o banco te emprestou / enquanto as estrelas pareciam reluzir”.

E é pensando no que já foi dito acima que vamos encontrar na segunda parte do livro, a prosa poética “Caligrafia da Solidão”, em que ouvimos um eco ampliado do pensamento de Walter Benjamin, (saliento e repito, que escrevi ‘eco ampliado’, não escrevi intertextualidades e menos ainda preponderâncias). Um texto de difícil definição, espécie de conto fantástico de apenas 17 páginas que estão mesmo a pedir verdadeiro ensaio à parte, pela riqueza de imagens aglutinadoras de sentido, que concentram a potência de um pensamento tecido em complexo jogo de reflexões, em torno das infinitas relações entre existência, imagem, pensamento e imaginação.
Não se pode omitir que encontramos na poética da autora também, temas como a voz, a memória, a linguagem, a escrita, o silêncio... Mas a tônica é essencialmente o “outro”, no sentido de que a ninguém é dado se persuadir de que a miséria que recai sobre o semelhante não se espalha no planeta. Quanto a isto não há possibilidade de remissão. A preocupação que a autora demonstra com mais intensidade, é com aqueles que “enredam-se nas ervas daninhas / com o rosto colado no lodo”, daqueles que vazam o copo / [e]  as notícias passam na TV / enquanto se voltam de costas para as imagens, daquele outros na mendicância, dos que padeceram sem piedade em Auschwitz, mas também é, e ainda, com os 629 mortos no mar Mediterrâneo em junho último, dos outros 198 até hoje dia 22/07/2018 e, finalmente, para que não fiquemos sem “dar nomes aos mortos” tenhamos em mente apenas um, o da camaronesa Josepha!
Todavia, há outro viés, e talvez mais importante ainda, pelo qual se pode perquirir a poética dessa autora de linhagem metafísica. Fernando Andrade bem considera que a sua “palavra poética deixa o sagrado mais moldante à palavra do lavrador poeta ou do filósofo parindo conceitos, gerando concepção entre luz e trevas”. Senão vejamos o poema “Do ínfimo”, uma constatação de que Deus, ou o infinito, ou o além do homem, como queiram, se encontra nos detalhes”,  e que justamente o “ínfimo”, a que não damos a menor importância permite “a intimidade e a descoberta da pertença recíproca”, como escreveu a própria autora em algum lugar...

“Nada sei senão do ínfimo / e do murmúrio das pequenas coisas, / as que não chegam à palavra / como a sombra ou o vento / desenhando-se sob os álamos, / em quieta reverberação”.

E nada sei, senão desse canto / invisível, mais sonho que metáfora, / do tempo que é no fruto / ou do que sabe ser sol, sem alarde / do breve e da passagem.

E nada sei dessa grandiloquência / dos homens, das suas promessas / e dos gestos que traem o coração, / dessa palavra ou excesso que mata / a perfeição circular do instante.

Se é vida, sangue ou oiro, / nada sei, nada de nada / escondido que ele é / no ínfimo e na sombra. Oculto”.

Essa fagulha de luz (de 74 páginas), que é o livro “Do ínfimo”, inapelavelmente nos lembra da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), que em sua obra “Homens em tempos sombrios”, escreveu: (...) mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos de teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na Terra (...). Olhos tão habituados às sombras, como os nossos, dificilmente conseguirão dizer se sua luz era a luz de uma vela ou a de um sol resplandecente". Adiante pois.

Título: Do Ínfimo (poesia) – Obra vencedora do Prêmio Literário Glória de Sant’Anna de 2017.
Autor: Maria João Cantinho
Especificações: 1º edição brasileira, 2018 – 14x21, 74 páginas.
Preço: R$ 34
Link para compra:
http://www.editorapenalux.com.br/catalogo-titulo/do-Infimo


(* )Krishnamurti Góes dos Anjos. Escritor, Pesquisador, e Crítico literário. Autor de: Il Crime dei Caminho Novo – Romance Histórico, Gato de Telhado – Contos, Um Novo Século – Contos,  Embriagado Intelecto e outros contos e  Doze Contos & meio Poema. Tem participação em 22 Coletâneas e antologias, algumas resultantes de Prêmios Literários. Possui textos publicados em revistas no Brasil, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro publicado pela editora portuguesa Chiado, – O Touro do rebanho – Romance histórico, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional -  Prêmio José de Alencar, da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance. Colabora regularmente com resenhas, contos e ensaios em diversos sites e publicações, dentre os quais: Literatura BR, Homo Literatus, Mallarmargens, Diversos Afins, Revista Subversa, Germina Revista de Literatura e Arte, Suplemento Correio das Artes, São Paulo Review, Revista InComunidade de Portugal, e Revista Laranja Original.
Contato: goeska15@gmail.com
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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Maria João Cantinho publica pela Penalux seu livro de poemas que foi agraciado com o prestigiado Prêmio Glória de Sant’Anna

Maria João Cantinho - Foto divulgação
Poeta e ensaísta portuguesa tem obra relançada no Brasil

A Maria João Cantinho é muito mais conhecida como ensaísta e crítica. No Brasil, também é conhecida pelo trabalho que desenvolve frente à revista literária Caliban. A autora já publicou, dentre outras obras, 4 livros de poesia. Do Ínfimo, o mais recente, é uma ótima oportunidade para conhecer sua produção poética. O livro foi agraciado com o Prêmio Literário Glória de Sant’Anna – 2017. 

O escritor português António Cabrita, por ocasião do lançamento do livro em Portugal, fez a seguinte crítica a respeito da obra: “É um livro de grande equilíbrio, que tem arquitetura e é meditado, denotando ampla consciência do seu ofício. Sendo discursivo não cai no vício da retórica; o seu léxico medido e uma expressividade controlada não perdem de vista os seus efeitos emocionais embora prescinda de  se meter em ponta dos pés, no afã de cativar o leitor por um ‘sensacionalismo das imagens’. Nos poemas de Cantinho a ênfase não está no brilho (as imagens fulgurantes) mas antes na justeza das palavras. São versos que testemunham um desencontro com as idealidades, disfóricos, versos de onde se parte ou nos quais se vinca que algo se perdeu e que quando encenam um retorno recortam um céu plúmbeo em fundo. Contudo, a tristeza que neles se plasma foge de consolidar-se como a abstracção de um saber, ou da congelação melancólica. Daí que surdam laivos de revolta e vários poemas reclamem um certo cariz social”.
Para a própria poeta, sua obra pretende resgatar a experiência do olhar e do quotidiano. “Olhar para as coisas pequenas e banais”, diz Cantinho, “e descobrir-lhes a luz, a que emana do objeto, mas também da memória, dos fragmentos que se perdem no passado e que nos assaltam como imagens longínquas, auráticas. E assim celebrar o que escapa aos gestos de hoje, à nossa pressa, ao ruído. Uma celebração íntima, que só a linguagem redesperta”, conclui.
Cumplicidade, amor pelas coisas pequenas, regresso à infância, empatia. O livro é também uma forma de reavivar o diálogo com autores que marcaram presença na vida e na obra da autora.     
“É um lugar de abertura – a um chamado, a uma escuta, ao desejo, sobretudo”, escreve Danielle Magalhães, poeta e doutoranda da UFRJ. “Do ínfimo é um livro de passagens, caminhos, jornadas. A isso que existe enquanto chama (na duplicidade desta palavra: verbo e substantivo), que não pode ser capturado nem fixado, que não obedece ao tempo cronológico, mas a um tempo outro, ‘entre a promessa e o exílio’ (‘O eco’), habitando o ‘limiar’, esse entrelugar, isso que não se reduz a um ou a outro, que não chega a ser, que só existe ‘no limiar da sombra ao ser’, que deve permanecer como possibilidade para continuar sendo desejo, que deve permanecer como potência para continuar chamando, ecoando como um chamado tal como nos sonhos ressoa a manifestação de nossos desejos mais ocultos.”

O livro será publicado pela Penalux e estará disponível no site da editora a partir da segunda quinzena de maio.

Serviço
Título: Do Ínfimo
Autor: Maria João Cantinho
Especificações: 1º edição brasileira, 2018 – 14x21, 74 páginas.
Preço: R$ 34
Link para compra:
www.editorapenalux.com.br/loja

Sobre o autor

Maria João Cantinho nasceu em Lisboa, é doutorada em Filosofia. Publicou 4 livros de ficção e 4 livros de poesia, 3 livros infantis, um livro de ensaio, intitulado O Anjo Melancólico, editora Angelus Novus. É professora, crítica literária e colabora com JL (Jornal das Letras, Artes e Ideias, Colóquio-Letras (Fundação Calouste Gulbenkian), Revista Pessoa e várias revistas academicas e literárias. Tem poesia traduzida em francês, castelhano e alemão. Atualmente tem no prelo um romance e um livro de ensaios.
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