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quarta-feira, 8 de junho de 2016

O corvo, o morcego e o pássaro azul: as representações da consciência na poesia


O título deste artigo quase poderia ser uma fábula, mas não é. O que os três animais citados no título acima têm em comum? Todos eles foram utilizados, em algum momento, por um poeta para representar a consciência (ou talvez o inconsciente, em alguns casos) do eu-lírico. Quase seria possível dizer que eles escolheram aves para dar asas a uma consciência sufocada, mas isso não pode ser dito, pois Augusto dos Anjos não escolheu uma ave, mas um morcego, o único mamífero voador – ainda assim o poeta escolhera uma criatura alada para representar a consciência do eu-lírico. O que faz com que estes influentes poetas desejem representar algo tão intrínseco ao ser humano por meio de criaturas capazes de voar? Vejamos aos poucos e, comparando cada um dos exemplos, veremos o que eles trazem de semelhante e no que se diferem também.
Comecemos pelo exemplo mais clássico e provavelmente mais famoso deles: O Corvo de Edgar Allan Poe. Dentre as diversas interpretações que podem ser feitas do poema de Poe, uma das mais freqüentes é a de que a sombria ave dos maus tempos ancestrais utilizada pelo poeta é uma representação da lembrança do eu-lírico referente à amante morta, a jovem Lenore. Ou seja, ela é uma recordação que o poeta fazia de tudo para esquecer, para sufocar em seu inconsciente, mas em uma noite fria a lembrança o invade novamente, em forma de um pássaro sombrio que repete incessantemente as palavras de sua despedida com Lenore.  
Isso pode ser interpretado de outras formas, é claro, desde como uma narrativa sobrenatural, em que o corvo é uma espécie de fantasma de Lenore ou enviado por ela, mas também podemos ver a ave como a agonia já quase inconsciente do narrador tomando forma, ganhando vida e se sobrepondo sobre o consciente dele, sobrevoando sua existência e o afogando em suas sombras. Inclusive, um detalhe que chama a atenção é o fato de o corvo pousar sobre o busto de Atenas, a deusa da sabedoria, ou seja: a ave se coloca acima da sabedoria do eu-lírico, acima de tudo o que ele entende seguindo razão e lógica e domina sua consciência o revelando em palavras aquilo que ele deixava no abstrato subsolo de suas memórias, fortalecendo uma assombração que ele tentava ocultar de si mesmo.

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!”

O Corvo (The Raven), Edgar Allan Poe, tradução de Fernando Pessoa

Poe utiliza um corvo para dar um tom melancólico e sombrio ao poema, mas na Filosofia da composição, ele não chega a citar porque resolver escolher um ser alado – fato este que observaremos aqui, em comparação ao morcego e ao pássaro azul. Partindo agora para O Morcego, de Augusto dos Anjos: neste poema do jovem que revolucionou a poesia nacional, é dito claramente porque o poeta escolhera um morcego para representar a consciência do eu-lírico e exatamente que é isso mesmo que ele quer representar, o que vemos nos versos finais do poema:

Que ventre produziu tão feio parto?!
A consciência humana é este morcego! 
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra 
Imperceptivelmente em nosso quarto.”

O Morcego, Augusto dos Anjos

Neste caso, o poeta se refere à consciência como algo que ele deseja evitar, mas que à noite acaba por encontrá-lo, quando o mundo consciente e inconsciente se misturam envoltos por uma atmosfera surreal de sonho e trevas. A descrição de tal cena poderia muito bem se referir ao narrador do Corvo, tentando fugir de suas memórias de Lenore e de sua terrível maldição de viver sob tal sombra, não é mesmo? Mas a consciência humana tem asas, e por mais que tentemos afogá-la, sucofá-la, uma hora quando estivermos perdidos entre sonhos e realidade, ela dá um jeito de nos alcançar e de se sobrepor sobre nós, por vezes nos levando à estados de loucura ou melancolia, como vemos nos narradores dos dois poemas citados acima.
                Agora, e quando queremos esconder de nós mesmos algo que, por algum motivo o outro, tememos que o mundo não aceite, mas que faz parte de nós ainda assim? Quando não são trevas que queremos ocultar, mas alguma espécie de luz que tememos que a sociedade condene? Talvez isso venha à tona de uma forma mais delicada, mas sutil: em forma de um pássaro azul, que podemos prender em uma gaiola (gaiola feita de costelas humanas), mas deixá-lo livre quando nos sentimos confortáveis para tal. Quando sentimos a liberdade necessária para expor tal parte de nossa personalidade, quando ninguém estiver por perto para condenar nem julgar o singelo canto do pássaro azul, este que não invade a casa de madrugada, mas que ganha permissão para sair e cantar um pouco de vez em quando. E é isso que descreve Bukowski no clássico poema Pássaro azul. Não é uma recordação ruim nem uma consciência melancólica, mas uma liberdade que por mais que o eu-lírico tente sufocar, ele se sente mais livre quando o permite que saia e cante.

Há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto

Pássaro azul (Blue Bird), Charles Bukowski, tradução de Pedro Gonzaga

                Todos os três poetas utilizam animais alados para se referir à consciência do narrador, ou a algo da personalidade deles que permanece oculto até determinado momento. Até a alma do poeta alçar vôo, até que aquilo que o poeta tenta de todas as formas esconder de si mesmo acaba por sair do subsolo, sobrevoar sua consciência mais superficial e revelar a ele algo que o afeta profundamente. É isso que os poetas fazem, muitas vezes, deixar que seu inconsciente ganhe vida nas palavras e/ou rimas para se libertar. Nos casos aqui observados, eles literalmente dão asas aos seus semi-ocultos sonhos ou pesadelos e os deixam voar pelos versos.

Arte da capa: John Kenn
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