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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Fernando em pessoas


A linguagem poética de Fernando Pessoa, juntamente com a de seus heterônimos, pode sugerir, em um primeiro olhar desatento, um pessimismo existencial e uma vontade quase que intrínseca de negação da vida e de suas possibilidades a todo instante. Entretanto, um olhar mais cuidadoso e perspicaz é capaz de identificar em seus versos – em uma frase, muitas vezes – toda uma vasta abertura para as cotidianidades do mundo e toda uma filosofia que transborda por meio de seus sentimentos transformados em palavras que afirmam a vida em todos os seus aspectos e possibilidades, sejam eles de erros, acertos, sujeições, mazelas, amores, ressentimentos e inspirações que acomete quem de fato a vive.

É importante ressaltar que Pessoa não tem a preocupação de construir sistemas e conceitos filosóficos a partir de suas poesias, embora tenha lido muito sofre filosofia e seja possível, para o leitor, fazer associações entre seus poemas e algumas vertentes filosóficas, passando desde os gregos antigos até filósofos quase contemporâneos a ele, como Nietzsche.

Seus desalentos com o mundo e consigo mesmo denunciados diretamente em seus escritos e que perpassaram todos os anos de sua vida podem sugerir uma escolha individual e consciente a respeito de momentâneos afastamentos e isolamentos de tudo e todos que o desagradavam, de como ele mesmo dizia: “semideuses”, essa gente que “nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe" (em <Poema em linha reta> de Álvaro de Campos), em que a presença constante da felicidade e do "bem viver", do "bem estar" e do "bem se mostrar" perante a sociedade consomem e se constituem apenas em aparência, em que nega as trivialidades e os infortúnios que estão presentes nas ações e também no não agir diante das circunstâncias que se apresentam costumeiramente.

Se se podem considerar seus versos como signos de uma angústia intermitente que sugiram apenas inconstâncias existenciais ao longo de suas vidas, também se pode considerar a sutileza, ao mesmo tempo rude, carregada de potência afirmadora de vida de quem vê nas pequenezas da existência – “Come chocolates, pequena; (...) Come, pequena suja, come! / Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!” (em <Tabacaria> de Álvaro de Campos) – a constante afirmação do cotidiano como fuga por meio de uma persistente linguagem que provoca, instiga e, intermitentemente, propicia o despertar da dúvida e da inquietação em quem lê e sente seus versos.

Ao transbordar em meio a perspectivas sobre as junções de significados que nutrem a existência constante dos seres em movimento, desses seres juntos e ao mesmo tempo solitários, as palavras de Pessoa e de seus heterônimos podem sugerir a magnitude e a composição de seres que não conseguem existir sem se transformarem continuamente, sem transitarem entre explosões de sentimentos que ora dialogam com o concreto, com o frio e com a rigidez que permeiam a vida, ora experimentam as sensações de um “breve momento em que um olhar / sorriu ao certo pra mim... / és a memória de um lugar, / onde já fui feliz assim.”, características de sentimentos e emoções vivenciadas em permanente movimento.

Notadamente a inquietação e o anseio de quem não se acostuma com a vida que lhe está sendo oferecida – ou mesmo imposta – e que “raspa a tinta com o que lhe pintaram os sentidos”, transita entre a ação tomada para si como engrenagem que, por meio dos seres em movimento e conscientes de que devem carregar consigo uma “aprendizagem de saber desaprender”, compreende os acasos, as incertezas e as tensões existenciais presentes em suas poesias e em suas-nossas vidas.

O refúgio de seus seres em constantes mudanças, criações e transformações ininterruptas, estando mesmo conscientes de suas ações e interações até mesmo em seus desencontros e afastamentos também por meio de uma consciência que figura diante de seus sentimentos expressos em formas de palavras, acaba por permitir e sugerir a amplidão da vida em suas possibilidades plenas, mas ao mesmo tempo inacabadas e inconclusas, além de estimulantes entre os acasos presentes nos encontros com o cotidiano muitas vezes áspero, mas que transita entre a acidez do discurso de certezas e a perenidade de uma construção em contínua experimentação da vida e das incertezas inerentes a ela.

Por mais que em suas estrofes, frases e palavras Pessoa transmita uma permanente desesperança como característica pungente de sua obra, há que se duvidar constantemente sobre o que suas entrelinhas expressam e sugerem como vicissitudes da vida perdurável e contínua, daquelas capacidades de transcenderem as banalidades existenciais e alcançarem o inesperado, bem como subverterem as angustias, ou mesmo vivenciá-las em sua plenitude, em sua totalidade. Pessoa, muitas vezes, diz algo por meio das palavras não querendo dizer e, ao mesmo tempo, e em contra partida, não diz algo querendo revelar, ou ao menos sugerir reflexões e indagações a partir de sua poética.

Assim, a dor e o desassossego que Pessoa e seus heterônimos presenciam, consomem e expressam por meio das palavras como forma de sofrimentos íntimos constantes, permitindo fazer surgir a(s) humanidade(s) do(s) poeta(s), de suas inquietudes mediante a vida e suas relações diante o outro, do mundo e, por conseguinte, de si próprio(s).

Transitando entre a alteridade – que está condicionalmente presente em seu isolamento e em sua responsabilidade de viver entre e com seus heterônimos – e a capacidade de identificação por meio dos sentimentos e das palavras que unem as poesias de Pessoa nas pessoas, o movimento consciente entre os seres que permeiam sua tessitura artística e suas formas de ação frente aos inesperados e inusitados viveres podem sugerir a superação da mistificação de um possível poeta trágico e ressentido com o mundo que nos cerca.


  • Texto produzido a partir do curso "O ser, a consciência e o agir em Fernando Pessoa", ministrado pelo Prof. Dr. Fernando Carmino Marques, do Instituto Politécnico da Guarda, de Portugal. Curso este realizado na UMESP - Universidade Metodista de São Paulo, em junho de 2016.

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