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sábado, 23 de abril de 2022

Conto "Um Incêndio no Céu", por Roberto Fiori

Incêndio, formando uma linha incandescente sobre a terra, e focos de queimadas pelo solo seco.

Passadas largas pela calçada, nessa madrugada de Inverno, faziam-me lembrar de pinhas caindo maduras pelo solo de uma floresta temperada, algures ao Norte ou ao Sul. Pensava que aquilo no céu, a estranha formação de cristais em órbita da Terra, disposta no espaço por uma série de naves de transporte, cairia em algumas horas. Era impossível que se mantivesse coesa e unida por tempo indefinido.

Meus pés chutavam pedriscos pelo chão e sementinhas de árvores plantadas ao longo da alameda. O vento frio de antes da alvorada penetrava em minhas roupas grossas de lã e algodão, mas eu nem o sentia, divagando sobre como se chegara a tal ponto, uma ameaça que tinha origem na salvação da Humanidade e, agora, significava sua destruição.

Passei pela guarita de vigilância em uma delegacia de polícia e resolvi entrar. Levantei o rosto para que os identificadores faciais pudessem me reconhecer e eu tivesse permissão para adentrar o edifício. Parei na porta blindada e esperei. Em alguns segundos, ela se abriu e eu pude entrar no nicho. Sensores laser permitiram que eu entrasse na delegacia, liberando a porta interna. Pensei que a tecnologia era simples, na teoria, mas complexa, na medida em que se progredia e se alcançava os cumes das montanhas de conhecimento.

A última palavra em sabedoria surgira há cinco anos, quando se inventara o conceito de cristais monoclimais. Controlariam o clima, de uma altitude orbital de trinta mil quilômetros. No início, funcionaram, unidos e compactados em uma esfera de quinhentos metros de raio. Mas, há um ano, detectara-se anomalias na estrutura da formação. Os elementos cristalinos constituintes da esfera perderam sua estabilidade, começando a separar-se uns dos outros. Calculara-se que levariam de três a cinco horas para se desintegrar nas camadas que antecederiam a sua entrada na atmosfera e, quando isso ocorresse, gases existentes no interior dos cristais interagiriam com o vento solar. 

O apocalipse seria libertado.

O oxigênio seria separado do restante dos constituintes da atmosfera. Um cataclisma ocorreria, quando tal gás entrasse em combustão, devido ao contato do oxigênio com elementos que o incendiassem, existentes em refinarias e indústrias em que combustíveis eram utilizados na fabricação de insumos.

E eu, o responsável pela construção dos cristais que controlariam o aquecimento climático, era o único a conhecer este segredo.

Caminhei até a recepção e falei:

— Tragam-me um policial, um juiz, um carcereiro e um executor.

Tal foi feito e fui conduzido a uma sala, onde tudo o que aconteceria foi registrado por um gravador de pen-drive. Algemado, fui conduzido a uma cela destinada aos criminosos de altíssima periculosidade. Dispensei a presença de um advogado, na sessão extraordinária do tribunal, que se seguiu. O júri declarou-me culpado. 

— Tem algo a dizer em sua defesa, doutor Lottimer?

— Não. Mas não há necessidade de gastar dólares em injeções letais. Pelo meu relógio, faltam dez minutos para que a crosta terrestre se transforme em um Inferno de Dante.

— Sabe — perguntou-me Sua Excelência — de algum modo de evitarmos isso?

— Quem puder, se esconda em bunkers. Ou em túneis dos metrôs. 

— E... — começou a falar o juiz. Eu completei:

— ... quem não puder, meta uma bala na cabeça. Não será agradável respirar a atmosfera incandescente que tomará conta do planeta, no futuro próximo.

— Levem-no — disse o juiz aos policiais que faziam a segurança da sala do tribunal — e deixem-no sob escolta policial, no meio da rua. Se isso não for o sonho de um lunático, terá sua execução em dez minutos.

Ele bateu com o martelo de madeira no suporte de sua mesa e deu por encerrada a sessão.

A Terra se tornou um amálgama de pontos de luz, que se aglutinaram e formaram uma única mancha branca e brilhante, vista da Lua. Na superfície do satélite natural, cinco domos haviam sido construídos, abrigando vinte pessoas. Vinte astronautas que acompanharam por vídeo a desgraça que se abatera sobre o planeta natal.

Ficaram intrigados, quando foi impossível contatar a Nasa, a Space X, a Europa, a China. Entregaram-se ao horror, ao perscrutarem, de seus telescópios montados sobre os domos, o fogo mortal que cobrira a atmosfera da Terra.

Levariam alguns dias, até constatarem que teriam de sobreviver sem o auxílio terrestre. Sabiam que isso era possível, mas jamais tentado.

Porém, como dizia o ditado: para tudo há uma primeira vez.



SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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domingo, 3 de abril de 2022

Conto “Uma Nova Era”, por Roberto Fiori

Deserto da Namíbia à Noite

“O penhasco erguia-se a duzentos ou trezentos metros, mas Brombeck tinha um ou dois segundos para se decidir. Podia ouvir a horda chegando, os selvagens da tribo vizinha se aproximando. Ignorou os sons e deixou-os, em sua mente, na região obscura do esquecimento. Passando Lucy para o ombro esquerdo, começou a escalar.

“É claro que, se ele fosse apanhado e morto sob tortura, a vida da mulher valeria menos que as coxas de um animal imenso e suculento, mas o fato era que ele gostava da garota. E a adorava, num crescendo, à medida que se conscientizava que chefe Ponrói surgia em sua mente, afirmando que, se ele se revelasse corajoso o suficiente, teria o direito à fêmea, mesmo que fosse bem-sucedido ou fracassasse. Os inimigos dos Luta-Luta eram manipuladores exímios de raízes. As flechas com pontas embebidas em líquido do interior das nozes Tecã eram letais, mas Brombeck tinha poucas opções. Porém, os seus perseguidores, ou eram ruins de mira, ou, o que se revelou correto, estavam batendo em retirada, e, desse modo disparavam a esmo, sem acertar os dois inimigos.

“Ficou claro para o neandertal a razão de tal debandada. Ele nunca havia encontrado aqueles animais frente a frente, mas era claro que tinham assustado seus inimigos. Com asas de vinte metros de envergadura e uma cabeça maciça dotada de uma mandíbula feita para esmagar, cortar e perfurar, com dez fileiras de dentes de trinta centímetros de comprimento, essas criaturas tinham o significado da própria Morte.

“Brombeck deixou-se ficar de rosto voltado para a encosta, evitando ao máximo que seu corpo fosse revelado, à luz do Sol. Ele tinha a pele vermelho-escura, devido ao tempo prolongado em que se deixava ficar ao relento, mas sabia que os olhos dos Dracone captariam qualquer indício de presas que se movessem próximo à base do monte rochoso. 

“Um rugido foi ouvido, seguido de outro, enfraquecendo-se com a distância. Quando tudo silenciou, o neandertal virou sua cabeça e constatou que podia descer. Tinha escalado trinta metros! No chão, colocou Lucy de costas na terra, cheirando o chão e semicerrando os olhos, para ver melhor. Estava certo de que estavam a salvo, mas algo lhe dizia para procurar abrigo.

“Com o olfato de um tigre de dentes-de-sabre e a visão apurada de um Dracone, ele estava dotado de características as mais valiosas para a sobrevivência no Mundo de Pedra. Encontrou, a trinta metros de distância, meio escondida por arbustos e árvores coníferas, uma entrada. Soerguendo a companheira por baixo dos braços e das pernas, correu. Nem um pouco cansado seu corpo musculoso ficou, quando chegou à caverna.

“Pensou que se passara algo estranho, ou, no mínimo, incomum, ao ver a profusão de ossos de feras carnívoras e animais de médio e grande porte, empilhados em montes, junto às paredes do salão principal. Apurou a audição aguçada e detectou a presença de uma fonte, jorrando de um lugar próximo. Com cuidado, aproximou-se da entrada da caverna e, sem ver nenhuma fera ou ser humano, voltou.

“Carregou Lucy nos braços por alguns metros além do salão de entrada. Estavam em um corredor baixo e da largura de dois neandertais de grande porte. O corredor deu lugar a uma câmara de cem passos de largura por cento e cinquenta de comprimento e trinta a quarenta de altura. Tochas queimavam em suportes nas paredes.

“Brombeck deixou Lucy pousar no chão. Viu coisas, animais incrustrados nas paredes. Passou a mão por um desses seres e viu que não eram vivos, mas imagens coloridas, que demonstravam grande perícia no desenhista ao mostrar o povo de Brombeck e os diversos animais que viviam no Mundo de Pedra. Mundo de Pedra, a designação perfeita para o lugar onde vivia, isso o neandertal tinha consciência.

“Tudo o que importava era feito de rocha. As pontas das lanças, usadas para caça e defesa, bem como no ataque aos inimigos de Brombeck. Em temporada de ventos violentíssimos, relâmpagos e rajadas de chuva, que encharcavam e até matavam, caso se ficasse muito tempo sob as tempestades. Para isso, cavernas de pedra eram de extrema importância, pois protegiam a tribo de maneira muito eficiente. Mas a pedra tinha sua importância em outro aspecto. 

“A mesma raça neandertal, com todas as características físicas, como a testa bem baixa, era encontrada em outros mundos, na Grande Galáxia Leitosa. Na Terra, de duzentos mil anos atrás até vinte mil anos, o homo neandertaliensis viveu e prosperou. Em Arcturus-10, o décimo planeta em matéria de distância a partir da estrela que portava tal nome, neandertais viveram por cem mil anos. E, no Mundo de Pedra, sua existência estava no começo. Quanto duraria? Ninguém poderia prever.

“Brombeck estava ciente da existência de água na câmara, mas, onde estava, isso era difícil de se descobrir. O ser humano, nesse planeta, aprendera cedo a utilizar a pedra para fazer fogo, pelo atrito. O neandertal vira pelo canto dos olhos que existiam montes de palha espalhados pela câmara. Avançou e apanhou um tanto de um monte. Ele trazia consigo em todos os momentos uma lança ou duas pontas de sílex. Procurou nos bolsos e achou-as. Encostando-as à palha, fez baterem uma contra a outra, até que fagulhas surgiram e incendiaram o punhado. Brombeck fez o mesmo com outras aglomerações de palha e o espaço tornou-se iluminado, como se houvessem vários Sóis no interior da caverna. Mas, o estranho foi que ele não aproveitou o fogo dos archotes presos nas paredes para atear fogo à palha.

“Agora, via a origem do som da água jorrando e correndo. No centro da câmara, havia um repuxo-d’água de cinco a dez metros de altura, e um riozinho corria por alguns metros, até sumir pela entrada subterrânea larga do escoadouro.

“Brombeck aproximou-se do riacho, levando Lucy consigo. Tirou sua vestimenta de couro e encharcou-a com água. Passou o tecido pela testa da amiga. Com as mãos em concha, molhou seus lábios e reteve na mente uma imagem saudável da mulher. Mergulhou as mãos, pulsos e braços dela na água refrescante e cristalina. Lucy estremeceu. Abriu os olhos ovalados e sentou-se. Permaneceu em silêncio, olhando para a caverna. Olhou para a abertura no teto em formato de cone e gritou. Brombeck também viu. Um Dracone de pequeno a médio porte descia planando, as mandíbulas abertas prontas para cortar e devorar.

“O neandertal pensou no fogo. Atraíra aquele monstro e atrairia outros. O homem possuía uma faca de pedra, na verdade, um pedaço de rocha lascada que servia para cortar animais caçados pelos homens de sua tribo. Ele cortou um pedaço médio de couro de sua vestimenta, que enrolou na faca, e ateou fogo a ele. Esperou, até o animal pousar. Correu, abanando a faca que queimava, esperando ser o suficiente para que o Dracone sentisse curiosidade e viesse em sua direção. E ele veio.

“Brombeck desviou as presas da criatura para cima com o braço espesso e enterrou a faca ardente em seu tórax. O animal deu um safanão no humano, jogando-o longe. A faca permaneceu no peito do Dracone, queimando. E queimava fundo, o bicho guinchando e se debatendo, sem ter como se desvencilhar da ferramenta de corte. Alçou voo e, quando estava prestes a sair pelo buraco em forma de cone, que era o teto, pairou no ar por alguns momentos e caiu sobre o riacho, sendo arrastado para o escoadouro, para onde foi sugado.

— Como estás? — a moça falou, aproximando-se do companheiro.

— Já estive pior. Vamos sair da caverna, temos de nos juntar a nosso povo.

“A noite estava nem quente, nem fria. Percorreram dez quilômetros, até chegarem ao território dos Luta-Luta. O nome era engraçado, mas muitos haviam morrido por rirem dele. O chefe e feiticeiro da tribo encarregava outros de fazerem a execução, trazendo os desrespeitosos pelos cabelos ou pelo pescoço, através da imensidão do deserto, até a terra dos Luta-Luta.

— Você a trouxe! Minha filha! — disse Ponrói, o chefe dos neandertais. — Conte-me, conte-me os detalhes e faremos uma festa!

“Brombeck queria exagerar nos detalhes, mas ficaria mal para ele se o feiticeiro soubesse por Lucy que ele estivera mentindo. Então, contou o que acontecera, sem enfeitar nada.

— Hmm. Os Ngéla são um povo antipático. Possuímos o conhecimento de como fazer o fogo e eles têm a capacidade de produzir veneno letal para as flechas. Até agora, matamos com flechas acesas... interessante. Se tivéssemos como fabricar veneno... mas, sim, não precisamos fabricar veneno do nada, a peçonha das cobras de sete caudas é mortal! 

“Levaram cestos entrançados de casca maleável de árvore Aztech para a caverna onde as serpentes viviam. Ao fim da noite, haviam capturado cinco dúzias de animais, entregando os cestos para o chefe. Uma a uma, as cobras foram seguras pelo feiticeiro, que extraiu durante horas a peçonha de todas as serpentes. Ele ordenou libertarem-nas na caverna de onde as haviam capturado.

— Assim, é bom. Aplaca o Deus-Serpente, que não tolera que as matem. Nem como alimento, deve-se matar uma cobra. Nem para a sobrevivência da tribo.

“Acrescentaram um pouco de barro a cada ponta de flecha, para que o veneno colhido ficasse preso às flechas. Faltava pouco.

--//--

“Com o amanhecer, os Luta-Luta se prepararam. Foram ao território dos Ngéla e ficaram vigiando o seu acampamento de um monte escarpado, onde havia dúzias de entradas para uma caverna. O combate seria até a morte, pois a morte vinha para os que a tratavam com displicência. Essa era uma parte da filosofia neandertal. Em silêncio, desceram o afloramento rochoso e correram, os pés voando por entre as touceiras de urtigas.

“Foram necessárias duas horas para que os Luta-Luta matassem seus inimigos, usando zarabatanas silenciosas, de onde sopravam flechas envenenadas. A morte era rápida e dolorosa. O líder dos Ngéla flechou cinco dos invasores, antes de ser dominado. Ponrói foi breve, mas cheio de sabedoria:

— Dirzium, por que foram vocês que nos atacaram, sempre, no passado? Viu no que isto resultou, uma rixa por causa de uma mulher nossa, uma menina de apenas 68 estações do ano, que você Dirzium, cobiçou e tomou para si, enquanto nossos lutadores dormiam? 

— Ponrói, há muitos de nós, no deserto. Se quiser paz, terá de ir para a floresta ou para as montanhas. Você é quem escolhe.

— O deserto é e sempre foi nosso. O deserto é nossa morada. Expulsaremos ou mataremos os Ngéla — o chefe dos Luta-Luta virou-se e disse uma única vez: — Levem-no para longe e o matem. Com o mínimo de dor.

--//--

“A noite foi de festa. Sob a luz da Lua e das constelações, Lucy caminhou com Brombeck até o limite do território dos Luta-Luta e falou, braços dados com o marido recente:

— Teremos quantos filhos? Povoaremos este deserto, e além?

Eram perguntas difíceis de serem respondidas, mas o neandertal pensou por alguns minutos, os olhos perdidos no horizonte.

— Este Mundo de Pedra, uma vez, possuiu vinte bilhões de habitantes. Perdeu=se o significado dessa quantia. Hoje, está vazio. Veja este deserto. Ponrói disse que havia dezessete nações, antes de começarmos a guerrear com os Ngéla — Brombeck virou o rosto para sua amada e falou: — Teremos vinte bilhões de descendentes. Alcançaremos lá, ali e acolá! — o homem apontou para todas as direções e, por fim, para o firmamento.

— Somos parte desse mundo, não podemos sair e abandoná-lo, Brombeck.

— Por quê? Porque não há mais inimigos a enfrentar?

O hominídeo falou, sem rodeios:

— Porque os que vivem nas luzes, lá em cima, são nossos primos e pais. Tios, sogros. Nossos filhos serão privilegiados, por nascerem nessa hora em que atingirmos os fogos do espaço.

— Então, Brombeck, o que você pensa que há no espaço, além de habitantes para guerrear? — o semblante dele acalmou-se. Era dessa forma que Lucy conseguia manter a paz entre os dois.

— Muito mais, Lucy. Há muito mais além de lutar, guerrear e matar. Para isso é que nós e nossos descendentes vivem e viverão, para construir um lar melhor, entre todas as luzes desse espaço sem fim.

Ficaram em silêncio, observando as nuvens iluminadas pela Lua cheia, e ouvindo os sons dos insetos e animais do deserto. Seriam os filhos dos filhos dos filhos de seus bisnetos que atingiriam as estrelas, mas deixaram-se ficar olhando a paisagem, sem se mexerem, o vento quente de Verão os deixando amortecidos.

Tudo corria bem. Tudo rumava para o sucesso de todos.


SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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