Neto de japoneses, nascido a
01/02/1961. Agraciado com o "Prêmio Jerônymo Monteiro", promovido
pela "Isaac Asimov Magazine" (Ed. Record) pelo conto "Como a
Neve de Maio". Contemplado nos concursos "Os Viajantes do Tempo"
e "Os Três Melhores Contos", ambos pela revista digital Conexão
Literatura, com a qual colabora desde o nº 37. Escreveu:
"Limbographia", "O Olhar de Hirosaki", "Sob as Folhas
do Ocaso", "Cinza no Céu" e, agora, "Era uma Vez um
Outono" Participou até o momento de cento e trinta antologias. O conto
"Ao Teu Dispor" foi premiado na antologia "Crocitar de
Lenore" (Ed. Morse). Informações: Google. Contato:
rschima@bol.com.br.
ENTREVISTA:
Conexão
Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no
meio literário?
Roberto Schima: Em 04 de
março de 1971, aos dez anos, tive que escrever uma redação para a escola – na
época chamava-se “composição” – cujo tema era: “O que pretendo ser quando
crescer”. Fascinado pelo clima da “Conquista do Espaço” e de seriados como
“Jornada nas Estrelas”, escrevi: astronauta “...
porque quando sair e entrar na órbita terrestre e lunar viverei numa aventura e
tanto...” Isso jamais aconteceu, mas eu ganhei um “Muito Bom” da professora Irma Vergaças Daher e para sempre vivi no
mundo da lua. Embora jovem, via na escrita algo de mágico, uma maneira de
perpetuar as ideias. Esse tipo de reflexão acompanhou-me a vida toda. Eventualmente,
no início dos anos 80, acalentei o desejo de ter um livro publicado, estimulado
pelas leituras de livros como “Os Frutos
Dourados do Sol” e “As Crônicas
Marcianas”, de Ray Bradbury. Na segunda metade da referida década, travei
contato com o Sr. João Francisco dos Santos, o qual publicara "Poemas de
Amor e Humildade". Isso fortaleceu a ideia de ter meu próprio livro em
mãos. Naquela época não havia a Internet. Meus originais eram datilografados.
Precisava tirar cópias em xerox. Utilizava os serviços dos Correios.
Provavelmente através de um correspondente, tomei conhecimento da editora
Scortecci. Reuni algumas histórias e, sob o cacófato título de “Pequenas Portas
do Eu”, em 1987, publiquei-as via produção independente. No ano seguinte, soube
da existência do “Clube de Leitores de
Ficção Científica” (CLFC). Em seu fanzine, Somnium, dei continuidade ao exercício da escrita, dando vazão
através dos contos ao sonho infantil de viajar pelo espaço. Em 1990, tive a
felicidade de ser contemplado com o “Prêmio
Jerônymo Monteiro”, promovido pela “Isaac
Asimov Magazine” (Ed. Record), pela história “Como a Neve de Maio”, publicada em seu nº 12. Em 1993, participei
da antologia “Tríplice Universo” (Ed.
GRD) com a noveleta “Os Fantasmas de
Vênus”. Após isso houve um longo hiato. Então, a vontade de lançar
novamente um livro começou a formigar e, felizmente – graças aos avanços na
informática e o surgimento da Internet -, acabei conhecendo a agBook e o Clube
de Autores. Assim, reunindo ou remodelando velhas histórias, em 2013 lancei a
antologia “Limbographia” e, no ano
seguinte, o romance “O Olhar de Hirosaki”.
Em meados de 2018, através de uma postagem no Facebook, fiquei ciente de um
concurso de contos com o tema “Os
Viajantes do Tempo”, promovido pela revista digital “Conexão Literatura”, editada por Ademir Pascale. Meu ânimo para
escrever fenecera fazia mais de vinte anos, mas eu tinha uma história
engavetada que poderia adequar-se ao concurso e, após uns ajustes, enviei-a,
afinal, o que tinha a perder? Foi uma surpresa maravilhosa quando, um mês
depois, tive a notícia de ter sido contemplado. Isso representou um estímulo
enorme e, a partir de então, retornei à escrita. Meu conto, “Abismo do Tempo”, foi publicado no nº
37 da revista e, desde então, colaboro com ela regularmente.
Conexão Literatura: Você é
autor do livro "Era uma vez um outono". Poderia comentar?
Roberto Schima: Trata-se de
minha quarta antologia solo (após "Limbographia", "Sob as Folhas
do Ocaso" e "Cinza no Céu"). Em 2020 e 2021, devido à pandemia e
ao confinamento, procurei ocupar o tempo e amenizar a ansiedade participando de
diversas antologias. Nunca escrevi tantas histórias como nesse biênio. Eu
poderia ter montado "Era uma Vez um Outono" algum tempo atrás.
Posterguei devido a canseira em organizar todo o material. Em se tratando de
uma autopublicação, além do papel de autor, a gente meio que assume o papel de
organizador, revisor, diagramador, capista, ilustrador, fotógrafo etc. Ainda
mais no meu caso, que tenho predileção por lançar calhamaços, inserir notas de
rodapé e adicionar materiais extras além dos contos, a empreitada afigurava-me
maçante. O impulso se deu na madrugada insone de 18.12.2021, por volta das três
horas — a "hora mágica" —, enquanto em meio ao silêncio e à escuridão
escutava uma versão instrumental de Auld
Lang Syne. E os pensamentos, sem focarem em nada em particular — a exemplo
das folhas que, ressequidas, desprenderam-se de seus galhos e dispersaram-se
através da fluidez do vento — vagaram e vagaram por diferentes memórias sem
nelas pousar. Diante de tais divagações, surgiu o título para uma nova
antologia: "Era uma vez um outono". Os contos — e alguns versos — da
presente antologia foram publicados nas edições nº 66 a 79 da revista digital
"Conexão Literatura", editada por Ademir Pascale, bem como nas
antologias por ele organizadas. Outros contos saíram em antologias digitais
organizadas por Elenir Alves, do blog "Projeto AutoEstima". E, ainda,
em exemplares avulsos da revista digital "LiteraLivre", de Ana
Rosenrot. Abrangem diferentes gêneros como: fantasia, nostalgia, horror e
ficção científica. Numa seção própria, fiz a inclusão de entrevistas que, a
exemplo desta, concedi à "Conexão Literatura", ao "Projeto
AutoEstima" e à Shirlei Pinheiro, do blog "Jornal Escritores da
Serra". Inclui, ainda, a seção "Galeria" com amostras de meus
desenhos desde meados dos anos 70 até meados dos anos 90 (já alerto: vão do
grotesco ao estapafúrdio). Assim, pois, confesso o pecado de me utilizar da
autopublicação como um meio de preservar memórias que, se me são muito caras,
nada representarão a outrem além de objetos de mera curiosidade, se tanto. Que
os contos que compõem este livro se dispersem ao vento qual folhas secas de um
outono de outrora.
Conexão
Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu
livro?
Roberto Schima: Por ser uma
antologia de contos já escritos, o trabalho foi mais braçal, por assim dizer.
Ficou por conta da montagem do livro em si e de sua divulgação através das
plataformas de autopublicação (Clube de Autores, Uiclap e Amazon). Ah, sim,
"apanhei" um bocado nesses sites, principalmente no momento de
inserir a capa. Os contos encontram-se em ordem cronológica, conforme saíram
nas publicações acima citadas. À época da criação de cada conto, empreendi
maior ou menor pesquisa, conforme os assuntos de que tratavam. Mas,
especificamente no caso de "Era uma Vez um Outono", levei cerca de
oito dias da idealização até disponibilizá-lo na Internet. Pelo menos num dos
dias fiquei trabalhando das quatro horas da manhã até cerca de vinte e uma
horas. Felizmente, estou aposentado e isso foi de grande valia. Aliás, não
fosse por isso, talvez os contos nem tivessem sido escritos, ou, pelo menos,
boa parte deles.
Conexão Literatura: É você
que produz os seus livros, como capa, diagramação, etc.?
Roberto Schima: Sim, sou eu
(o que é patente nas falhas a começar pelas capas sofríveis). Gosto de manter o
controle completo da organização e montagem do livro. Por ser lançado através
de plataformas de autopublicação, elas se mostram ideais para termos nossos
livros exatamente do jeito que queremos. Naturalmente, isso envolve tanto
méritos quanto deméritos. Sendo eu próprio o revisor, o que me garante que não
deixei passar nada? Ou que aquilo que julgo certo, na verdade está errado?
Nenhuma editora publicaria meus livros da maneira como são apresentados, fosse
por critérios editoriais próprios ou porque o produto final mostrar-se-ia
inviável comercialmente, tanto pelas dimensões da obra quanto pelo volume de
imagens inseridas, por exemplo.
Conexão
Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu
livro?
Roberto Schima: Como o livro
se compõe de 58 contos, 3 crônicas e 3 poemas (além das entrevistas e
ilustrações), em quase 700 páginas, é difícil destacar um trecho em específico
como sendo o favorito. Mas posso reproduzir aqui um fragmento de um conto com o
qual muito me identifico, intitulado "O Menino que Amava os
Monstros":
"...Gonjiro não
sabia dizer por que não era feliz ou por que não conseguia relacionar-se com as
outras crianças, afinal, estas também passaram por dificuldades semelhantes.
Apenas acontecia. E, quanto mais dele debochavam, mais introspectivo se tornava
e mais se apegava a um mundo interior o qual, a seu ver, adquiria mais
consistência do que aquele que o rodeava.
Mergulhava nos
desenhos animados, nos mangás, nos seriados. Invariavelmente, eles tinham algo
em comum: os monstros. Fossem sobrenaturais, radioativos, do espaço sideral ou
até os que já existiram ou existiam como os dinossauros e as criaturas
abissais. Nutria sentimentos ambíguos por eles. Apavoravam-no, mas, ao mesmo
tempo, sentia admiração.
Em vez de serem
assustados, assustavam.
Em vez de serem
indefesos, atacavam.
Em vez de temer, eram
temidos.
Possuíam todas as
formas e tamanhos e não se originavam apenas em território nipônico: robôs,
zumbis, múmias, dragões, gárgulas, vampiros, alienígenas, lobisomens,
assombrações, seres mitológicos, homem das neves, monstro de Loch Ness.
Desde esqueletos
ambulantes a criaturas maiores do que edifícios, Gonjiro, não obstante o medo,
os amava, pois, por mais apavorado que ficasse ante aqueles olhos medonhos,
uivos arrepiantes e o rastro de destruição que deixavam no papel ou nas telas,
nunca, de fato, haviam feito mal a ele..."
Conexão Literatura: Você
passou um bom tempo sem escrever, mas de uns anos para cá voltou com muito
entusiasmo e força de vontade. Conte mais pra gente.
Roberto Schima: Ah, a
"culpa" inicial disso cabe à "Conexão Literatura"! Graças
ao concurso que a revista promoveu, intitulado "Os Viajantes do
Tempo" e do qual tive a felicidade de ser contemplado com o meu conto
"Abismo do Tempo", publicado na edição nº 37, a criatividade que eu
julgara apagada reacendeu. O estímulo subsequente levou-me a participar desde
então não somente de todos os exemplares da revista, incluindo este, como
também de boa parte das antologias sob o "Selo Conexão Literatura".
Outro impulso relevante foi a descoberta das antologias organizadas por diferentes
editoras somado à chegada da pandemia e o confinamento. Meio que me forcei a
participar de uma antologia atrás da outra tanto como uma forma de exercício
literário quanto para ocupar a mente diante do estresse provocado pela
clausura. Aliás, o volume de contos saídos nessas antologias bem poderiam
formar uma nova antologia. Tudo está na dependência dos vencimentos dos prazos
contratuais respectivos, bem como do fôlego para arregaçar as mangas outra vez.
Ultimamente, como dizem por aí, tenho tirado o pé do freio. Continuo a
escrever, mas sem tanta obstinação a fim de dar espaço a outras atividades nem
que seja a de debruçar sobre meu pequeno jardim e divagar a medida em que
observo as atividades das formigas...
Conexão
Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro
e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Roberto Schima: Para
adquirir "Era uma Vez um Outono", basta entrar numa das plataformas
de autopublicação: Clube de Autores, Uiclap ou Amazon. No Clube de Autores, há
a opção da edição brochura com orelhas e papel offset (mais em conta), capa dura e papel couché
(mais cara) ou versão e-book em PDF (mais barata). Na Uiclap, há somente a
opção brochura e papel offset, sem orelhas. Na Amazon há tanto o e-book quanto
o livro físico. Para maiores informações, o leitor poderá acompanhar a
"Conexão Literatura", pois, conforme mencionado, participo dela desde
a edição nº 37. Pode inserir meu nome no Google. No Wattpad há duas dúzias de
contos meus à disposição para leitura online.
No site "Divulga Livros" há
as antologias lançadas sob o "Selo Conexão Literatura", sendo que
participo da maioria delas. O download é gratuito. Os sites das plataformas de
autopublicação onde estão meus livros são:
CLUBE
DE AUTORES: https://clubedeautores.com.br/books/search?where=books&what=roberto+schima
UICLAP: https://loja.uiclap.com/?s=roberto+schima&post_type=product
AMAZON: https://www.amazon.com.br/s?k=ROBERTO+SCHIMA&__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&ref=nb_sb_noss
Conexão
Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Roberto Schima: Continuarei
a participar da "Conexão Literatura", de uma ou outra antologia
digital ou física e, conforme mencionado, espero juntar meus contos esparsos
nas mais diferentes editoras em uma futura antologia solo.
Perguntas
rápidas:
Um
livro: "A Vida na Terra" (Life
on Earth, Seleções do Reader's Digest), David Atthenborough
Um
(a) autor (a): René Barjavel
Um
ator ou atriz: Lima Duarte
Um
filme: "Luzes da Cidade" (City
Lights, Charlie Chaplin, 1931)
Um
dia especial: cada um deles ao lado de minha esposa
Conexão
Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Roberto Schima: Desejo
reproduzir um trecho da "nota final" de "Era uma Vez um
Outono":
"... Reconheço o débito
a minha mãe, Chieko Schima, que na minha infância e adolescência procurou
incentivar o gosto pela aquisição de conhecimento. Particularmente através de
obras da Editora Abril, cujo papel na formação cultural da época e em anos
posteriores foi de uma relevância extraordinária. Entre elas, meu destaque vai
para a magnífica Enciclopédia Conhecer. Minha mãe, embora mal tivesse cursado o
primário, sempre teve uma preocupação com relação a instrução dos filhos.
Naquele tempo, nos anos 60, a Editora Abril trazia ao público várias obras de
grande conteúdo, mas a preço acessível, pois eram vendidas em fascículos
periódicos nas bancas de jornais, podendo posteriormente serem encadernados.
Entre essas coleções, uma que ela adquiriu foi a Enciclopédia Conhecer em sua
edição de 1969. Eu ficava maravilhado só de poder folhear aqueles volumes de
capas vermelhas e letras douradas. As ilustrações eram incríveis e as que mais
me chamavam a atenção eram as de dinossauros, homens das cavernas, antigas
civilizações e sobre temas astronômicos e astronáuticos. Havia a imagem de um
imenso pteranodonte planando em primeiro plano, sob o um céu avermelhado,
enquanto duas enormes criaturas marinhas (uma delas com um pescoço imenso e
flexível) digladiavam-se ao fundo, em um oceano turbulento. Em outra
ilustração, um rude homem pré-histórico estava agachado, saciando sua sede a
beira de um lago; usava aquele traje de pele de animal amarrado ao corpo que
fomos acostumados a ver em caricaturas de homens das cavernas e, preso à
cintura, um potente machado de pedra. (...) Em outra imagem, um imenso foguete
orbitava a Terra, tendo, um pouco mais além, uma estação espacial, semelhante a
uma roda de bicicleta, como imaginava-se antigamente a exemplo do filme
"2001: Uma Odisséia no Espaço". Ilustrações assim faziam minha
imaginação voar. Para mim, não eram apenas pinturas. Tinham vida própria, como
se fossem algum tipo de janela para outros mundos, como se, de um momento para
o outro, eu pudesse ver aquele pteranodonte agitar suas asas, ou o homem
primitivo erguer-se e ir atrás de, digamos, um urso das cavernas ou um mamute;
e ouvir o foguete acionar seus motores e seguir em frente até os planetas mais
próximos ou além..."