|
Dois Universos Paralelos: no extremo de nossa compreensão, em outra dimensão que não a nossa, poderia existir outro Universo, com tudo o que nosso Cosmos possui, mas em oposição. Haveria outra Terra, outra Lua, outro Sistema Solar, outra Via Láctea, porém seriam como imagens refletidas em um espelho. |
Um
ponto de luz. Ao menos uma luz, na imensidão do escuro firmamento, para me
satisfazer com seu calor diminuto. As viagens na dimensão do espaço sem fim são
tão eternas, quanto monótonas.
Os
neurônios do cérebro da nave sobrecarregar-se-iam de energia mortal, se
tivessem a mínima noção do que é o infinito. O que causa ilusões tresloucadas. O
que transforma homens em zombies sem consciência. Mas, o que é a consciência de
um homem, em comparação com o inconsciente coletivo de uma astronave classe M?
Naves
que podiam tudo, graças a seu centro de controle organometálico. Os únicos objetos sem vida que podiam pensar
e gerar feixes de energia quântica, transportando-se para uma enésima dimensão
sem descrição possível.
Estou
no caminho para um Universo Paralelo, o único até agora descoberto, e que é um
espelho de tudo o que o nosso Cosmos é. Segundo o cérebro da nave, conteria o
oposto a tudo o que conhecíamos. Fico pensando nisso... e odeio a forma pela
qual chego a certas conclusões. Violência, depravação, sentimentos de raiva
insana e uma farta dose de sadismo...
Pouso
o braço na concavidade da poltrona e um líquido azul-claro penetra em uma veia
de meu pulso. Muda o meu ânimo para o de um homem revigorado, satisfeito, um
explorador do infinito, sem medo de qualquer coisa que se mexa. É claro que,
sem o fator tempo, tempo da Terra, é impossível estabelecer comparações e
conclusões acertadas. Por isso, é que há cinco relógios atômicos, regulados
para o tempo terrestre, no painel de controle, para o qual meu tronco se
inclina.
A imobilidade de uma nota soada única
é o requisito para a imutabilidade de uma viagem sem destino... é
o que está escrito no monitor do supercomputador que controla toda a viagem.
Ignoro tal absurdo. Como notas musicais se comparariam à escuridão sem
movimento na qual nos encontramos? Mas, de fato, se você pensar bem, uma viagem
absurda e ilógica poderia ser comparada ao soar de um Dó ou um Fá sustenido,
repetido sem interrupção ao longo da Eternidade.
Luz!
Finalmente, luz! Na matéria sem consistência que nos tornamos podemos
estabelecer, por fim, uma comparação entre o que há ao nosso redor e o que
conseguimos enxergar. Um som de maquinaria voltando à vida me alcança. Pisco os
olhos, secos de tão abertos que se encontravam. Mexo meus braços, tirando o
pulso da concavidade na qual descansa. Sem necessidade de drogas para recuperar
o ânimo perdido, retorno à realidade sem ilusões. Pisco os olhos e
movimento-me. Ativo os controles de descida, os motores de empuxo reduzidos a
jatos de vapor, faço contato com o cérebro da nave e vejo o mundo-Terra no qual
descerei.
Alcanço
o Equador. Uma ilhota pouco maior que a astronave se aproxima. Um quilômetro,
quinhentos metros, trezentos metros, cem metros, cinquenta metros... pousei!
Nada melhor que pisar em ambiente de gravidade, após centenas de anos
terrestres passados em velocidade c
e 0 Gs.
Levanto
a proteção do comando de abertura da comporta de saída e pressiono o
interruptor. Sem nenhuma necessidade de uma roupa especial, pois sei o que vou
encontrar, saio de meu assento de Comandante e me dirijo à saída. Inspiro
fundo. Aromas de flores e plantas desconhecidas. Não há mares ou oceanos,
apenas desertos e ilhotas situadas acima das areias escaldantes... Na
atmosfera, corvos negros e urubus buscando carniça. Levanto meu binóculo
telescópico e dou um giro. Nada! Absoluta ausência de água ou vegetação, quanto
mais de habitantes! Mas, de onde vêm esses aromas?
Um
buraco no chão, a dez metros da nave, atrai minha atenção. Vapores sobem do
poço. Aproximo-me e vejo lama em ebulição, que lança perfumes de rosas e
hibiscos, em dado momento. Em seguida, aromas de pinheiros e nozes. A seguir,
cheiro de amores-perfeitos e dicotiledôneas. Consigo discernir um rosto, na matéria
quente.
—
Saia! Saia! Saia! Saia...
Minha
mente entra em colapso. Estou preparado para o que vier. Imobilizo-me, com toda
a força de vontade que tenho.
—
Fora daqui! Ou morrerá... Fora daqui! Ou morrerá... Fora! Fora! Fora!...
Um
fio de saliva corre do canto de minha boca. Alcanço minha pistola de raios com
a mão. Destravo a trava de segurança da arma. Levanto-a e disparo. Continuo
disparando. O buraco se abre e lodo negro se espalha. Devo ir...
Dou
meio passo para trás. Viro-me e ando trôpego até a astronave. Com supremo
esforço, passo pela comporta aberta. Sento-me esgotado na poltrona dos
passageiros, a mais próxima de mim. Sem olhar para os controles auxiliares da
mesa de comando da poltrona, ativo a comporta, que se fecha. Digito, o pescoço
torto, olhando para o vazio, as coordenadas de volta.
Estou
bem, deixando ao esquecimento a forma de vida que me levaria para a não
existência. Sem aplicar-me o soro da imobilidade, durmo. A viagem será curta.
Foram dez trilhões de anos-luz, deste planeta até a Terra. Sei que estou
seguro, agora.
Volto
em paz. É o que procuro, há muito. Alcançar a paz de Cristo, Buda e Maomé.
Atingir o Nirvana e o Céu. Tocar as Valquírias. Dedilhar o infinito e
compreendê-lo, de uma só vez.
Sim.
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.
Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.
Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.
“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.
“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros.
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.