João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Observação crítica do cotidiano inspira romance

Babel baseia-se em convivência e afeto e na busca pela redenção humana

Babel é o romance de estreia do defensor público Frederico Monteiro, inspirado na impossibilidade de um ser humano conhecer integralmente outro ser humano.  Para tentar derrubar esta premissa, o autor "acompanhou", durante quase um mês, a vida de um homem. A finalidade? Tentar entender como essa personagem lida com as suas relações pessoais. E, claro, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Assim nasceu Francisco, modesto advogado de meia-idade (bem longe de uma crise), morador da média/grande Babel, que costuma caminhar pela cidade, do apartamento ao escritório, à padaria, à praça. A narrativa se desenvolve, em especial, nas relações que ele mantém com a secretária, Marta, com o pai, com o senhorio do prédio, com a vizinha adolescente, com o padeiro Quincas, com o cliente Salustiano, com a faxineira Neida, com o atendente moreninho, e até com o próprio carro. O leitor segue as interações e os desdobramentos dessas interfaces e é testemunha de como as pessoas que o rodeiam reforçam nele a necessidade humana de convivência e de afeto.

- Nossa tendência é conhecer apenas fatias das pessoas, em especial a fatia que diz respeito à nossa convivência imediata, define. Frederico desconstrói essa verdade e utiliza uma linguagem acessível para conhecer outros pedaços de um mesmo ser humano. Em Babel, é Francisco por dentro, mas na vida real são os Joãos, Marias e tantos outros.

Entre os pontos fortes da obra estão também a realidade e a empatia das personagens; as histórias que se cruzam e das quais cada um de nós poderia ser protagonista; a oscilação entre o trágico e o cômico; e, até, fina crítica à polarização política do Brasil dos últimos anos.

- (...) Não que não esteja disposto a debater, acrescenta Francisco, é sempre um prazer conversar com Quincas sobre a política - sobre as esquizofrenias em geral - ainda mais que a eleição está por dias, possível sentir-lhe o cheiro. O padeiro é um formador de opiniões, já se sabe, quantos que diariamente não passam por ali e ouvem aquela missa com desditosa atenção, com direito a ladainha, sermão e tudo o mais. O Quincas é então mais claro, quer saber do advogado se ele já tem palpite, quem leva essa, a da situação ou o da oposição. E assim dizendo, volta aos ombros um pano branco algo encardido e olha o advogado nos olhos (...)

Paralelamente ao eixo narrativo principal, e de forma bastante coesa, o escritor construiu um segundo eixo narrativo, contando a história por trás de um processo criminal que chega ao escritório de Francisco através do cliente Salustiano. O processo narra a violência, a vingança e o desfecho da família Pádua num tempo que pode ser o hoje de cada um de nós. Quem sabe a redenção de Francisco veio sob este formato?

- Como sou defensor público do Estado, a construção do crime e o desenvolvimento do processo que dele se deriva foi mais simples e natural, muito embora eu não encaixe o enredo do livro nas tramas de advogado/tribunal. O enredo é outro, é principalmente o afeto, explica.

O amor reprimido, o sentimento entre pai e filho, o ciúme, a violência urbana, a pobreza e a esperança também fazem parte desta história, que marca a evolução da escrita do autor – que há dez anos produz contos - para o romance. E ele espera alcançar público dos 14 aos 90 anos numa história envolvente e tão contemporânea.

SOBRE O AUTOR
FREDERICO TEUBNER DE ALMEIDA E MONTEIRO é paulista de Araraquara. Com 40 anos hoje, escreve desde a adolescência, em especial contos e romances. Em 2016, publicou, na versão digital, a coletânea de contos "Sabrina sabe voar". Para depois de Babel, já tem um segundo romance sendo escrito. Trabalha como defensor público do Estado há 12 anos.
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