Fale-nos sobre você.
Sou poeta, escritor e músico, graças a Deus! Nesse
ano de 2023 estou celebrando 10 anos de literatura, desde a publicação de meu
primeiro livro, o romance policial “O Sincronicídio: sexo, morte &
revelações transcendentais”, lançado pela Caligo Editora. De lá para cá, tive a
alegria de publicar vários livros nos mais diversos estilos, como autor e
também como organizador. Em minha jornada como músico, um trabalho
especialmente marcante foi “ANUNNAKI – Mensageiros do Vento”, a primeira ópera
rock em desenho animado feita no Brasil, na qual participei como roteirista e coautor
das músicas, junto com meu irmão Fabrício Barretto, que dirigiu o filme. Antes
disso, Fabrício esteve junto comigo também na banda de heavy metal Imago
Mortis, cuja história é o tema desse livro que estou lançando.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro "Diário de um
imago". O que motivou a escrevê-lo?
A banda Imago Mortis teve uma trajetória muito
bonita no cenário do rock pesado brasileiro. Eu participei da banda de 1994 a
2003, desde a sua fundação até o lançamento do segundo CD, a ópera rock “VIDA:
The Play of Change”, considerado um dos melhores álbuns de heavy metal
produzidos no Brasil. Depois que publiquei o meu primeiro romance, os amigos
ficavam me cobrando contar a história da banda em um livro. Até que, em 2019,
resolvi topar o desafio. Contudo estava muito claro para mim que eu não queria
escrever uma biografia tradicional, contando feitos heroicos etc. Minha
motivação foi escrever um livro divertido e interessante mesmo para pessoas que
nunca ouviram falar do Imago Mortis, ou mesmo que nem gostam de rock. Acredito
que essa é a grande magia da Literatura, esse poder de nos fazer vivenciar
situações e eventos completamente fora de nossa experiência pessoal. Então essa
foi a proposta básica: fazer o leitor “sentir na pele” como era fazer parte de
uma banda underground no Brasil durante a década de 1990. E essa é uma história
que envolve necessariamente muita tosqueira e bizarrice, o que acabou
resultando em um livro muito engraçado – ao contrário do que se poderia esperar
de uma banda cujo nome significa “Imagem da Morte”! Um outro ganho muito legal
que tive com esse livro foi poder refletir sobre as intensas transformações
tecnológicas que o mundo viveu nas últimas décadas, e sobre como isso vem
afetando as pessoas.
Fale-nos sobre seus outros livros.
“O Sincronicídio”, meu primeiro livro, é um romance
policial que propõe um cruzamento entre o jogo do xadrez e o jogo do I Ching, o
antigo oráculo chinês. O livro é estruturado em 64 capítulos, que são
apresentados fora da ordem numérica, onde cada capítulo corresponde a uma casa
do tabuleiro de xadrez e a um dos hexagramas do I Ching. Meu segundo romance
foi “Favela Gótica”, publicado em 2019 pela Verlidelas Editora. É uma história
de terror inspirada na “monstruosidade banal” do cotidiano das grandes cidades,
com um plot twist de ficção científica. Em 2016 publiquei um livro duplo de
contos pela Cogito Editora: “Isso Tudo É Muito Raro / Labirinto Circular”, em
um formato que amo, que é o de dois livros em um, onde a capa de um livro é a
contracapa do outro e vice-versa, com cada livro de ponta-cabeça em relação ao
outro. Gostei tanto que repeti a dose em 2020 com o “Gincana da Poesia” (também
pela Verlidelas), coletânea que organizei junto com minha esposa Fabíola
Campos, por conta de um projeto lindo que coordenamos aqui em Salvador. Ainda
como autor solo, publiquei em 2022 o infantojuvenil “Meditação para Crianças”
(Verlidelas), que ensina a meditar por meio de versos rimados. Como organizador
participei de diversos livros, com destaque para os dois volumes da antologia
“Cura Poética” (juntamente com Sergio Carmach, da Verlidelas) e o livro
coletivo “Escritores Perguntam, Escritores Respondem”, publicado em 2016 pela
Cogito. Além desses, publiquei cinco livros como Ghost Writer – mas
sobre esses, obviamente, não posso comentar! E em 2023 iniciei a minha própria
editora, a Natesha, já com dois livros publicados.
Como se dá o seu processo criativo? Que acha dos
que dizem que para escrever é necessário que a pessoa tenha dom?
Eu sinto uma profunda reverência pela Literatura,
que considero fundamentalmente uma jornada de autoconhecimento, de
autodescobrimento. Costumo dizer que não decido sobre os livros que vou
escrever, são os livros que decidem vir ao mundo através de mim. E em cada
livro que escrevo aprendo um pouco mais sobre mim mesmo, e tento me tornar uma
pessoa um pouco melhor. Se esse processo puder ajudar também os leitores,
ótimo! Mas tenho a humildade de reconhecer que isso vai depender principalmente
da entrega de cada leitor. Sobre essa questão do dom, prefiro substituir essa
palavra por “necessidade”, dentro do contexto da célebre pergunta de Rainer
Maria Rilke ao jovem poeta: você sente uma real necessidade de escrever? Sente
que morreria, caso não escrevesse? Em minha opinião, uma pessoa só deveria se
aventurar a escrever depois de tentar responder com toda sinceridade a essas
perguntas.
Como analisa a questão da leitura no país?
Tento analisar essa questão dentro de um contexto
mais amplo, das profundas transformações pelas quais o mundo inteiro está
passando. Recentemente tive a oportunidade de ler um bolsilivro, que era um
tipo de publicação muito popular nas décadas de 1970 e 1980, vendido em bancas
de jornais, com histórias de faroeste, guerra e espionagem. Era uma
subliteratura, sob todos os aspectos: tramas clichês com personagens
bidimensionais, publicadas em papel de péssima qualidade. Quando eu era
criança, amava ler essas histórias! Os bolsilivros eram muito populares entre
estudantes e também entre a gente simples do povo, proporcionando horas de
distração das duras lides da vida cotidiana. Mas então eu me fiz a seguinte
pergunta: esse público que antigamente lia bolsilivros, com o que se distrai
hoje em dia? O que essas pessoas leem atualmente? Penso que não leem nada, e se
ocupam com Tik Tok e WhatsApp. Isso não é necessariamente algo ruim, mas
percebo ao menos uma perda nessa substituição da leitura pelas redes sociais: o
exercício da interpretação de texto, de criar imagens mentalmente a partir da
leitura. Sinto que a queda no hábito da leitura gera muitas deficiências na
percepção de mundo, e isso vem afetando especialmente o Brasil, onde temos um
projeto sistemático de emburrecimento da população. Mas, como disse, tento ver
esse problema dentro de uma perspectiva mais ampla, que me possibilita
vislumbrar esperanças no futuro. O mundo como conhecíamos está se acabando, e
isso é bom, pois só assim um novo mundo pode surgir.
O que tem lido ultimamente?
Sempre leio no mínimo três livros de cada vez: 1)
um livro para o corpo, que é a leitura de entretenimento, de diversão; 2) um
livro para a mente, que é a leitura de estudo, de aprendizado e 3) um livro
para a alma, que é a leitura espiritual. Contudo na maioria das vezes eu acabo
me empolgando e leio bem mais que três livros por vez. Atualmente estou lendo:
1) “As Pérolas Peregrinas”, romance policial do espanhol Manuel de Lope; 2)
“Investigação Acerca do Entendimento Humano”, de David Hume e 3) “Sussurros da
Eternidade”, de Paramahansa Yogananda. Além desses, só de gula, estou lendo
também “A Mente Assassina” de P. D. James e “O Lobo da Estepe”, de Hermann
Hesse, que estou lendo pela terceira vez. Isso sem contar os livros que leio profissionalmente,
para a Natesha Editora!
Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de
responder.
Senti vontade de falar um pouco sobre meus autores
favoritos. Atualmente é Jorge Amado, mas durante um bom tempo foi Rubem
Fonseca. Na poesia, é Castro Alves. Sinto uma identificação especial com
Anthony Burgess, autor de “Laranja Mecânica”, “Poderes Terrenos”, “Enderby por
Dentro”, “A Sinfonia Napoleão” e outras obras igualmente deliciosas. O que acho
mais marcante em Burgess é que cada livro dele é totalmente diferente dos
demais. Sinto que sou movido pelo mesmo chamado, que pode ser resumido no
título de um quadro cômico do grupo inglês Monty Python: “E agora, para algo
completamente diferente...”. É assim que eu gosto de fazer Literatura!
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Seguem os links dos PDF disponibilizados
gratuitamente. Alguns estão no Recanto das Letras:
O SINCRONICÍDIO
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612
MANIFESTO – Mensageiros do Vento
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590
ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
LIBRETO ANUNNAKI – Mensageiros
do Vento
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5826660
Filme “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento”:
https://youtu.be/bBkdLzya3B4
POESIA DE BOTÃO (jogo que ensina as crianças a
rimar e fazer Poesia):
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934
TANTO TEMPO DIRIGINDO SEM NINGUÉM NO RETROVISOR:
Contos da Era Bolsonaro
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6871467
Os dois que foram publicados pela Verlidelas estão
disponibilizados como PDF no site da editora:
FAVELA GÓTICA
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS
https://www.verlidelas.com/product-page/medita%C3%A7%C3%A3o-para-crian%C3%A7as
Vídeo MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS
https://youtu.be/uyuY8KEdlJE
CIDA SIMKA
É
licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP).
Autora, dentre outros, dos livros O enigma da
velha casa (Editora
Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak
Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas,
2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O
quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de
bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera
Editorial, 2023), Somos a diferença neste mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra
Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de
mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura,
produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida
Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista
Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia
do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de
Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios
de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da
escuridão (Opera Editorial, 2023), Somos a diferença neste
mundo indiferente (Editora Uirapuru, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023).