João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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quinta-feira, 22 de março de 2018

Thalita Pacini e o livro O meu grande avô, por Sérgio Simka e Cida Simka

Thalita Pacini - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Sou uma existência inquieta, que encontra uma forma de organizar os estímulos do mundo no ofício da escrita. Iniciante, com dois livros publicados, tenho alguns textos de opinião espalhados pela internet, alguns até mesmo imaturos, que penso fazerem parte de um processo de construção pessoal constante. Contribuí para alguns veículos de comunicação na internet, e fui colunista do site Programa Território Animal. Sou mãe de três crianças maravilhosas, Manoela de 12 anos e Pietra e Antonella, que são gêmeas, com 3 anos. Elas me exigem ter pés no chão, na mesma proporção que me estimulam ao exercício criativo. Neste momento busco conciliar a maternidade com projetos independentes. Concluí a licenciatura em Letras, e algum tempo depois finalizei a Pós em Comunicação e Marketing e iniciei outra em Psicopedagogia. Tenho experiência em diversos segmentos, com atuações voltadas a Comunicação e Design, no ambiente corporativo, bem como também tive oportunidade de atuar na área da educação. Sou atraída por teorias e estudos sobre o comportamento humano, arrisco algumas ilustrações e fotografia, tento não me afogar nos excessos das redes sociais, tenho muito entusiasmo com a Neurociência, com a força do feminismo, esperança no foratemer e desejo de contribuir em pautas sociais e humanistas.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre seus livros.


Meu primeiro livro publicado foi O meu grande avô, que traz algumas situações singelas entre uma menina (ilustração inspirada em minha filha Manoela) e o seu avô. O apelo é mais poético, descomplicado, com alguma sonoridade para que proporcionasse um momento de interação em família ou escola. É voltado à primeira infância, com ilustrações muito agradáveis do André Marques, remete a algumas situações bem-humoradas de amizade entre os dois. Embora seja um livro curto, cuja intenção é que seja lido para a criança, fala da troca benéfica entre gerações. Quis exaltar o que há de mais espirituoso no encontro delas, por meio de cenas curtas. O André também dedicou o desenho do avô ao próprio pai. Nos conhecemos pela internet, quando eu tentava propor uma parceria para a inversão do processo criativo na construção de texto e imagem. O André topou o projeto independente, e quando finalizamos nossa parte a Uirapuru nos deixou muito felizes pelo interesse - além da sempre notável gentileza do editor Egídio Trambaiolli Neto. Graças a este projeto pude conhecer o ator Lázaro Ramos e realizei a ousadia de ter o lançamento numa livraria famosona (risos).

O Blasfêmea foi publicado pela Editora Patuá, e tratado com muito respeito e cuidado pelo editor Eduardo Lacerda (que tem a proposta de promover a poesia de uma forma muito árdua e apaixonada). O livro não tem compromisso algum. Contém algumas doses de intensidade humana, versos que se comprazem em questões íntimas, provocações e os deliciosos comentários do ilustre Márcio Américo (humorista e roteirista - entre outros talentos) e do jornalista Felipe Voigt.

A propósito, ambos podem ser adquiridos nos sites das editoras.

O meu grande avô: clique aqui - Blasfêmea: clique aqui.

Qual o motivo que a levou a escrevê-los?

Sobre o primeiro: meu avô materno marca presença forte e saudosista na minha infância, por sua figura simples e atenciosa. Era um dos poucos na família que gostavam de ler, e seus livros na estante me aguçavam a curiosidade. Tinha para mim que sua vida nos afazeres do porto de Santos era uma grande aventura, cheia de histórias de bichos, convívio com as baleias, piratas - certa vez ele trouxe um lagarto para casa. Mas na verdade o trabalho lhe causou a morte por contaminação em tanques químicos. A figura dele despertava o meu imaginário. Assim como minha primeira filha, hoje com 12 anos, tem a presença de seus avós (o meu pai, especial no processo todo) muito marcante, cada qual a sua moda.

Já o Blasfêmea foi um processo muito diferente, quase que visceral e mais longo. Algumas brincadeiras com a palavra, protestos, críticas, experimentações. Poemas que ficaram no ventre por mais de uma década, e então foram revisitados, outros concebidos mais tarde junto com a apropriação de vivências. Expressa um pouco a vontade se rebelar sutilmente com questões relacionadas à religião, política, às opressões, e até comigo mesma.

Como analisa a questão da leitura no país?

Acredito que não basta acessarmos estatísticas oficiais para interpretar a situação. Enquanto uma pessoa pode ler 5 livros por ano (acredito que os dados nem cheguem a isso), outras tantas nem sequer sabem ler, e temos aí uma média em desequilíbrio - e veja que o Brasil nestes indicadores não está nem próximo de um cenário razoável. Os outros termômetros estão nos altos índices de desconforto social, na miséria, na falta de civilidade, de conhecimento dos próprios direitos, na ausência de participação política, nos níveis de preconceito, nas próprias relações sociais em face do descaso com as searas educacionais, científicas e artísticas. Acredito que o analfabetismo, inclusive o funcional, chega a ser um problema de saúde pública, já que pode ser consequência de falta de recursos durante o desenvolvimento infantil. O livro, em determinados contextos, não chega a ser prioridade onde se fazem prevalecer a busca pelo básico à sobrevivência. O estímulo à leitura vem de iniciativas graduais, e não vemos uma incorporação massiva como é realizado com o futebol ou a sexualização nos programas de domingo. Pensando em minha experiência com a religião, vejo outro fenômeno: como é possível multidões defenderem, com fervor, escritos que desconhecem, e nortear suas vidas e muitas vezes as dos outros, em razão disso? Além da necessidade de estimular o senso crítico, o exercício do livre pensar, a quebra das censuras e dos conteúdos simbólicos embutidos nas relações de poder, ainda é necessário atentar que tudo isso depende de boas condições orgânicas e ambientais. Ler é poder, não se manobra tão facilmente seres empoderados, não sem alguma consequência e resistência. É fácil convencer uma pessoa com fome, com sede, com déficit cognitivo, vulnerável e em situação precária. E mesmo com a internet promovendo como nunca tanta informação e interação, somos condicionados cada vez mais a consumir tudo pronto, engolir sem mastigar, de alimentos a ideias, anúncios não solicitados dos quais se é obrigado a ver ao menos alguns segundos antes de prosseguir, de ter que se modelar para caber na estante como um produto que atenda ao ritmo que o mercado impõe. Para o escritor a questão é também confusa: não é valorizado, a grande maioria não pode sobreviver de suas habilidades. Há uma desvalorização sistemática da leitura. Sou totalmente apaixonada pelo SLAM, que seria a poesia falada. Algo muito intenso, que ocupa os espaços públicos, geralmente marginalizados, onde o grupo vai se apropriar do que lhe é direito, com força total. Daí a leitura como manifesto, reação, ato, resistência.

Como vê a literatura infantojuvenil nacional contemporânea? E o mercado de e-books?

Acho que a cena rentável do mercado editorial atua comprometida com o poder de adequação de um autor ou obra. Há exceções. Mas basta um passeio pelas livrarias, e vasculhar a estante. São pilhas de autores importados, alguns nacionais dos quais nunca ouvimos falar e o glamour dos consagrados há décadas. Estes que geralmente figuram em literatura obrigatória nas escolas, indiscutivelmente, são autores atemporais. A questão não seria removê-los, mas sim abrir espaço aos tantos talentos que emergem. Alguns de nós aspirantes não queremos ser bons em socializar, palestrar, ter canais de vídeo na internet. Queremos escrever e sermos valorizados por isso. Essa orientação multitarefa, hoje cada vez mais exigida, pode ser massacrante. É muito bom que as pessoas adquiram habilidades múltiplas. Mas será que cada uma delas não deve manter seu valor?  Alguns escritores vivem de cachês de eventos, atividades paralelas e não de seus textos. Vejo que este paradigma é incorporado silenciosamente: você empacota diversas habilidades, quanto mais, melhor, mas é o leve 10 pague 5, a escrita sai de brinde. Dessa forma, uma ou outra ocupação se desvaloriza.

Os e-books são interessantes, acredito que as surpresas do mundo tecnológico não param por aí. São uma maneira de a literatura se adaptar, sobreviver, atender às necessidades das novas gerações, ser compartilhada, ter o alcance multiplicado. Não entendo muito ainda desta modalidade, sobre a partilha de conteúdos na rede, e como isso gera inclusão e também receita. Gosto da ideia de as pessoas partilharem com as outras de forma gratuita nesse formato. O que é bem diferente do conceito de exploração e desvalorização do todo. Os audiobooks e outras adaptações também pensadas para a inclusão mereciam mais evidência. Têm um alto valor educacional, um relativo apelo ambiental também. Particularmente não consumo por questões "ergonômicas e de pele" (risos), não consigo substituir o prazer de carregar, folhear, o livro físico.

Para você, o que significa ser escritor?


Ser escritor significa estabelecer um diálogo público, a partir de um monólogo íntimo, com sistemas e esquemas instáveis - incluindo a língua (risos). Às vezes acho que o escritor é acompanhado de uma certa castração quando é lido, pois os mundos criados nas cabeças dos leitores ficam lá, infinitos, num imaginário intangível.

O que tem lido ultimamente?

Pretendo terminar a leitura de Escola de Equitação para Moças, de Anton Disclafani. Comecei a ler em paralelo A Metamorfose, de Kafka, mas vou às prestações. E tenho sempre à mão o Poemas Incompletos e outros textos, do grande poeta e amigo Norival Leme Júnior.

Quais os seus próximos projetos?

No momento busco organizar uma série de projetos independentes, tanto na literatura infantil quanto poesia - livros que precisam passar por mais algumas etapas. E a finalização de um romance de terror - nunca me senti tão à vontade em um gênero; que vem amadurecendo bastante, ainda sem editora. Tenho algumas ideias para roteiros, este segmento é um mistério irresistível para mim, do qual pretendo me aproximar.

*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a coleção Mistério, publicada pela Editora Uirapuru.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017).
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3 comentários:

  1. Escritora talentosíssima. Versos fortes. Esse Blasfêmea aí eu tenho. Conheci na época através da divulgação numa página que seguia numa rede social. Ele me ajudou bastante uns anos atrás em relação aos meus conflitos com a religião. Leitura impactante e significativa. Recomendo aos amantes inquietos de poesia.

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  2. Como eu amei essa mulher!
    Hoje distante ainda guardo na lembrança...
    Como eu amei essa mulher!
    E ela foi saindo aos poucos da minha vida...
    Como eu amei essa mulher!
    E o destino nos encaminhou a diferente caminhos...
    Como eu amei essa mulher!
    E faltou coragem e tempo para dizer...
    Como eu amei essa mulher!
    No fundo do meu coração pulsante...
    Como eu amo essa mulher!
    E sua falta, para mim, é uma constante...

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  3. Até agora não achava que existia a mulher ideal. Havia as lindas, as inteligentes as que juntavam as duas coisas, as as auto suficientes, as dependentes e as companheiras. V. é tudo isso. Talvez mais que não consegui identificar

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