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quinta-feira, 22 de abril de 2021

Curte ler histórias de terror? Conheça "NOITES SOMBRIAS", de Ademir Pascale e baixe o e-book gratuitamente


APRESENTAÇÃO 

Num mundo difícil e cruel, Ademir Pascale apresenta personagens incompreendidos pela sociedade e protagonistas que lutam pela liberdade, mas que muitas vezes acabam indo parar no pior lugar possível: o inferno.
"Noites Sombrias" mescla várias histórias do autor que vão do terror até a fantasia e ficção científica. Um grito no meio da escuridão que irá fazer até os mais fortes estremecerem.
Leia, aventure-se e reze pela sua alma.

— Vou morrer, disse-me ele, tenho de morrer desta deplorável loucura. Aqui, e só aqui, está o meu fim. Tenho medo dos acontecimentos futuros, não por eles mesmos, mas por seus efeitos. Estremeço com a ideia de qualquer incidente, mesmo do mais trivial, que possa influir nesta intolerável agitação de espírito. Na verdade, não tenho aversão ao perigo, exceto no seu efeito absoluto — no terror.
Edgar Allan Poe, A Queda da Casa de Usher

FICHA TÉCNICA

Título: Noites Sombrias - Contos de Terror
Autor: Ademir Pascale
Quantidade de contos: 17 contos
Nº de páginas: 65
Tipo: E-book (Livro digital)
Lançado em maio de 2020

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SOBRE O AUTOR

Ademir Pascale é paulista, escritor e ativista cultural. Criador e editor da Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br). Participou em vários livros, tendo contos publicados no Brasil, França, Portugal e México. Autor do livro “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” (Editora Selo Jovem), organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e dos e-books "O Legado de Edgar Allan Poe", "O Legado de H. P. Lovecraft", "O Legado de Bram Stoker", "Histórias Para Ler e Morrer de Medo, Vol. I, II, III, IV e V".
Entre em contato: ademirpascale@gmail.com

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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

SEXTA-FEIRA 13: "NOITES SOMBRIAS", de Ademir Pascale, comemora mais de 10 mil downloads


APRESENTAÇÃO 

Num mundo difícil e cruel, Ademir Pascale apresenta personagens incompreendidos pela sociedade e protagonistas que lutam pela liberdade, mas que muitas vezes acabam indo parar no pior lugar possível: o inferno.
"Noites Sombrias" mescla várias histórias do autor que vão do terror até a fantasia e ficção científica. Um grito no meio da escuridão que irá fazer até os mais fortes estremecerem.
Leia, aventure-se e reze pela sua alma.

— Vou morrer, disse-me ele, tenho de morrer desta deplorável loucura. Aqui, e só aqui, está o meu fim. Tenho medo dos acontecimentos futuros, não por eles mesmos, mas por seus efeitos. Estremeço com a ideia de qualquer incidente, mesmo do mais trivial, que possa influir nesta intolerável agitação de espírito. Na verdade, não tenho aversão ao perigo, exceto no seu efeito absoluto — no terror.
Edgar Allan Poe, A Queda da Casa de Usher

FICHA TÉCNICA

Título: Noites Sombrias - Contos de Terror
Autor: Ademir Pascale
Quantidade de contos: 17 contos
Nº de páginas: 65
Tipo: E-book (Livro digital)
Lançado em maio de 2020

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SOBRE O AUTOR

Ademir Pascale é paulista, escritor e ativista cultural. Criador e editor da Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br). Membro Efetivo da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba/PR). Chanceler da Academia Brasileira de Escritores (Abresc), título entregue por seu trabalho na disseminação da literatura e cultura. Participou em vários livros, tendo contos publicados no Brasil, França, Portugal e México. Autor do livro “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” (Editora Selo Jovem), organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e dos e-books "O Legado de Edgar Allan Poe" e "Histórias Para Ler e Morrer de Medo".
Entre em contato: ademirpascale@gmail.com

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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Conto "Draculea", por Ademir Pascale


Do alto do prédio da Gazeta, visualizo a Avenida Paulista de ponta a ponta: pequenas formigas aglomeradas num trânsito robótico, num vaivém nauseante. Os agudos e frios sons das buzinas inebriam a minha memória, fazendo-me sentir um êxtase tão prazeroso que toca lá no fundo deste negro e histórico coração. Os flashes de antigas batalhas e o som das trombetas que as anunciavam eram semelhantes, diferenciando apenas que naquele tempo maldito a luta era corpo a corpo e com duração de poucos dias. Hoje, a luta é contra o estresse, contra as modernas doenças que acabam com artérias, invadem corpos e mentes amaldiçoando fracos corações... Sinto a dor destas formigas e sinto pena ao olhá-las lá embaixo, indo para suas casas para que no dia seguinte, logo cedo, estejam de volta, e isso se repetirá dia após dia, ano após ano, até o corpo adoecer, envenenando o que lhes é mais precioso, o sangue. Estou doente, pois também estou contaminado, o sangue deles corre em minhas veias e sinto muita dor, uma dor infernal... Sinto algo escorrer em minha face, uma lágrima, a primeira em muitos milênios. Lembro de ter sentido algo semelhante quando vi minha mãe ser aprisionada eternamente nos confins do inferno, simplesmente por ter amado mais do que devia. Lilith, minha mãe, não teve julgamento e muito menos perdão daquele que a criou. Temida na idade média e censurada nos manuscritos bíblicos, hoje reina ao lado do banido anjo caído Satanás, e os excluídos e malditos compõem sua legião de eternos e escravos súditos. Afinal, o que é certo e o que é errado, além de um aglomerado de regras criadas pelo próprio homem? Por que tenho que segui-las se sou eterno e não obedeço a um Deus que castigou eternamente e severamente aquela que me pariu?
Olho para a grande bola de fogo se pondo atrás dos prédios cinza. Minha gengiva se retrai e meus caninos ficam expostos. Minha visão torna-se mais aguçada, como de todos os seres da noite. Visualizo minha provável presa. Minhas narinas se retraem, sinto o seu delicioso e vicioso aroma de perfume francês contrabandeado. Meus punhos se fecham fortemente e minhas veias pulsam freneticamente. Num único e certeiro salto atinjo a calçada. Uma criança com a mãe numa banca de jornal vê minha proeza. Mostro meus caninos. Ela finge esquecer o que viu e baixa rapidamente a sua pequenina e mortal cabeça. Dou uma forte tragada até meus pulmões se encherem por completo. 
Ela está do outro lado da avenida, como sempre, às 18h30. Meus olhos vacilam ante o perigo de ser descoberto. Fico imóvel. Fixo o olhar em seus vermelhos cabelos que esvoaçam sob um simples gesto dos ventos. Sua face não apresenta felicidade, nem maldade, nem coisa alguma. Espero. Ela fica estática na beira da calçada. Olha para o nada, para o profundo e escuro nada e, numa brecha, atravesso a avenida sem ao menos me preocupar com os furiosos carros e nervosas motocicletas. O tempo para. Caminho com devoção em sua direção. Ela continua estática e desta vez parece olhar para os olhos meus. Meus passos inebriam nossa proximidade. Paro em sua frente, e apenas um palmo de distância nos separa. Seus olhos continuam estáticos, frios e sem movimento. Diferente do seu coração que pulsa num ritmo frenético e acelerado. Seu sangue, quente e doce, corre rapidamente nas veias. Seguro o seu braço direito. Ela sorri. Atravesso a extensa avenida em sua companhia. Penso em pronunciar palavras, mas antes de tal ato outro pensamento diz que não. Minha poderosa e rouquenha voz poderia revelar o meu segredo, então permaneço mudo, torcendo para que demoremos uma eternidade até alcançarmos a calçada, fato que não se concretiza, pois logo estamos nela. Ela agradece e, educadamente, faço-lhe um gesto de cordial reverência. Ela não nota, como sempre. Mesmo assim, acompanho seus passos até os degraus do ônibus que a conduzirá até sua residência. Penso em acenar quando ela parte. Mas seu olhar continua fixo para o nada. Ela se vai, mas sei que amanhã, neste mesmo horário, estará aqui.

Minha amada, eterna amada Catherine. Acompanho seus passos há quatro séculos, mas prefiro preservá-la de minha demoníaca e eterna doença denominada Eternidade. Catherine renasce, falece, renasce e falece eternamente. Eu a espero, pacientemente, como sempre.

Ela se vai. O seu frio olhar permanece em minha mente. Meu segredo está guardado. Ela nunca saberá quem sou ou o que sou. Ela é cega.



SOBRE O AUTOR

Ademir Pascale é paulista, escritor, digital influencer e ativista cultural. Criador e editor da Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br). Membro Efetivo da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba/PR). Chanceler da Academia Brasileira de Escritores (Abresc), título entregue por seu trabalho na disseminação da literatura e cultura. Participou em vários livros, tendo contos publicados no Brasil, França, Portugal e México. Autor do livro “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” (Editora Selo Jovem) e organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir).
Entre em contato: ademirpascale@gmail.com 

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Para o jovem e frustrado passageiro, "ele" era apenas um motorista


Sexta-feira, 13 de julho de 2012. 1h00 da manhã:
Um táxi — fuscão preto — cruza a Avenida Paulista sentido centro da cidade. Todas as luzes do veículo estão apagadas, a única fonte de luz vem da ponta do cigarro do motorista, que, com os olhos semicerrados e mãos grudadas no volante, continua seu trajeto, até alguém dar sinal em frente ao Hotel Indian, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, altura do nº 200.
O passageiro, um rapaz negro de aproximadamente trinta e cinco anos, óculos fundo de garrafa, camisa manga longa listrada, calça social cinza, cinto preto e tênis branco esportivo, entra e senta no banco traseiro.
— Boa noite! Me leva para a Estação da Luz, quero dar uns rolê por lá e vê cara nova. Sabe cumé, tô de saco cheio da patroa pegando no meu pé. Quando a gente se conheceu era amorzinho pra cá, amorzinho pra lá. Ela me chamava de “bebê chocolate”, sentava no meu colo e fazia aquele amor gostoso. Agora só me maltrata... Como as coisas mudam, não é? Cê é casado?
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca. 
— Ah, beleza, cê num qué fala porque deve passar pelo mesmo que eu, num é? Sabe cumé, tem hora que torra a paciência ouvir reclamação o dia inteiro: já num falei para limpar os pés antes de entrar em casa? Já falei para não deixar a toalha molhada em cima da cama, seu folgado. Agora é hora da minha novela, vai tomar no... o seu jogo do Corinthians. Vai lavar a louça e só lava os pratos? Os copos e as panelas não fazem parte? Vai lavar logo, seu preguiçoso. Vou me separar de você e arrumar um cara rico e que more lá no Morumbi, tô por aqui desse seu salarinho de merda, seu merda. E se tá a fim de transar, vai escovar os dentes. Parece que mataram um gambá aí dentro. Mas transa rápido porque tô cum sono. E não esquece que amanhã tem que ir buscar a minha mãe na rodoviária. Num tô nem aí que você tá sem dinheiro, vai dá seus pulo. Pô, isso é jeito de uma mulher tratar um homem? Cara, num aguento mais. Véi, na boa, cê num conhece algum terreiro bom pra fazê uma macumba pra essa mulher parar de pegá no pé e virá uma santa? Sabe cumé, tipo uma daquelas macumba que faz lavagem cerebral na pessoa. Cê sabe cumé? Sabe cumé? 
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca.  
— Cara, fala comigo. Dá uns conselhos. Cê parece um cara bem vivido... Sabe cumé, motorista de táxi tem bastante vivência nas ruas. Eu já tô quase fazendo uma loucura, pois num sei mais o que fazê. Me ajuda. Sabe cumé, sou homem mas tenho o coração mole. Já cansei de chorar escondido no banheiro. E cadê esse Deus? Canso de rezar e ele nunca me ajuda. E você, acredita em Deus?
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca. 
— Tá certo em não acreditar. Veja em que merda estou? Quem disse que Deus é brasileiro é um viado sem noção. Deus deve vivê nos EUA, sabe cumé, lá eles vive tudo bem, ganha em dólar, comem bacon no café da manhã e tem um monte de feriado para comemorar... Cê gosta de feriado? Cê faz mais corridas em feriado, num é? Acredita que a minha mulher quebrou a minha caneca do Corinthians no último feriado? Só porque eu disse que tava cansado pra lavá roupa. Cara, o que qui tá acontecendo com essas mulher? Elas num quê mais sabê de lavá roupa, fazê comida e nem limpá a casa. Só sabem ficar mandando e mandando. E a sua mulher, manda você fazê as coisa em casa?
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca.
— Tá certo, cê tá trabalhando de madrugada, deve chegar em casa cansadão. Sua mulher deve respeitar você, num é? Num é? Sabe cumé, as veis é muito melhor trabalhá o dia inteiro, cê chega em casa cansadão e vai dormí. A sua mulher deixa você dormi? A minha quando dá na louca fica assistindo Jô Soares e tudo esses programa que passa nas madrugada, Serginho sei lá o quê, uns clip doido, e num me deixa dormí. Véi, na boa, tô cansado pacas dessa vida de merda... Deve se bom ser motorista de táxi, num é? Sabe cumé, ouvi os passageiro, visita lugar diferente, vive passeando e ainda ganha dinheiro. Num é bem assim? Num é?  
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca. 
— Véi, na boa, olhando bem pra você cê parece aqueles cowboy de filme de faroeste. Cumé o nome mesmo daquele ator...? Clint Restwood... Wood... sei lá, algo assim... Cê parece ele, num é? Já não te falaram que cê parece ele? A sua mulher já disse que cê parece ele? Tenho certeza que algum passageiro já disse que cê parece ele, num é?
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca.
— Ah, cê num deve assisti filme, né? Tá trabalhando a noite inteira, num é? Mas deve passar na sessão da tarde. Cê assiste a sessão da tarde? Passa uns filme repetido, mas é bacana. Sabe cumé, faz a gente passa o tempo e cê esquece da vida e dos problema. A minha mulher assiste a sessão da tarde comigo já faz três meses. Tô desempregado e recebendo o seguro desemprego. As veis, quando sobra um dinheirinho, compro uns chocolate pra ela come cumigo vendo os filme. Sabe cumé, ela é chata, mas tá cumigo faz treze anos... Véi, na boa, será qui é por isso qui a gente anda brigando tanto? Treze anos... O número treze dá azar, num é? Num é? Cê acredita nessas coisa?  
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca.
— Entendi, cê deve ser ateu. Num tem nenhuma cruizinha e nenhuma imagem de santo no seu táxi, num é? Motorista de táxi gosta dessas coisa, num é? Ah, menos você que é ateu. Véi, na boa, é bom ser ateu? Eu disse que num acredito em Deus, mas no fundo acredito. Minha família sempre foi muito religiosa. A minha mãe vivia na igreja e o meu pai cantava lá no coro todos os domingos. Aliás, foi na igreja que conheci a Roberta. E a sua mulher, vai na igreja ou é atéia? Véi, na boa, cê já ouviu falar sobre Charles Darwin? Ele era ateu e não acreditava em Deus, assim como você. Ele dizia que a evolução das espécies era uma prova de que Deus não existia. Muitas pessoas diziam que Charles se converteu e passou a acreditar em Deus, isso pouco antes de morrer, mas segundo a minha esposa que lê e estuda bastante, isso é pura mentira. Não passa de lenda urbana. Cê acredita nisso? Cê acha que ele se converteu ou continuou ateu até morrer? Hein, hein?
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e cigarro no canto esquerdo da boca.
— Véi, na boa, sabe cumé, já pensei em me jogar da ponte de Pinheiros. Dizem que quem se suicida num vai pro céu e fica vagando no nada para sempre. Será que isso é verdade? Hein, hein? Ah, mas cê num acredita em Deus mesmo, num é? Mas cê num acredita nem um pouquinho? Hein, hein?
O motorista dá uma freada brusca, fazendo o passageiro parar no banco da frente. Ele desgruda com dificuldade as mãos do volante, deixando pedaços da sua pele grudadas nele. Logo em seguida segura com uma das suas mãos o passageiro pelo colarinho e escancara seus dentes apodrecidos, deixando seu cigarro cair da boca. Seus olhos enfurecidos revelam que ele realmente deixou de acreditar em Deus já faz muito tempo. Estica o seu braço esquelético e com seus dedos longos e magros abre a porta do veículo e chuta o passageiro para fora. Em seguida sai cantando os pneus enquanto solta um grunhido inumano de sua boca demoníaca: — Arrrggh!
O motorista continua o seu trajeto calado, de olhar semicerrado e sem o cigarro no canto esquerdo da boca. Ouvindo apenas o som dos carros que passam por ele, aliviado, olha para o taxímetro parado desde 1985, data em que virou um morto-vivo.
O passageiro, sentado na calçada, percebe que o motorista retornou e o deixou em frente ao Hotel Indian, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, local de onde ele saiu. Raciocinando sobre os fatos, ele conclui e fala para si mesmo:
  — Aquele cara entende das coisa. Além de não cobrar pela corrida me trouxe de volta, pois sabe que amo a minha mulher. E com o dinheiro que economizei, vou comprar um maço de flores para ela. Agora eu tenho a plena certeza que Deus existe. AMOR, O SEU BEBÊ CHOCOLATE VOLTOU.



SOBRE O AUTOR

Ademir Pascale é paulista, escritor, digital influencer e ativista cultural. Criador e editor da Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br). Membro Efetivo da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba/PR). Chanceler da Academia Brasileira de Escritores (Abresc), título entregue por seu trabalho na disseminação da literatura e cultura. Participou em vários livros, tendo contos publicados no Brasil, França, Portugal e México. Autor do livro “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” (Editora Selo Jovem) e organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir).
Entre em contato: ademirpascale@gmail.com 

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domingo, 2 de agosto de 2020

Conto: "Antonio Spadoni - O Caçador de demônios", por Ademir Pascale


ANTONIO SPADONI - O CAÇADOR DE DEMÔNIOS
*POR ADEMIR PASCALE

São Paulo. Bairro de Moema. Sábado. 23hs.

No alto da igreja, como uma gárgula, ele visualiza os poucos transeuntes que perambulam nas ruas mal-iluminadas do seu bairro. Ele olha para as janelas de algumas casas e consegue ver a movimentação rotineira das famílias em seus lares: muitos estão vidrados, acomodados em seus sofás, assistindo algum programa na televisão que tem como objetivo apenas fazê-los ainda mais consumistas. Num sobrado, através da janela de um quarto, ele verifica a briga diária de um jovem casal.
    Eles não imaginam o que está acontecendo lá fora e muito menos sabem que demônios caminham disfarçados sobre este planeta desde tempos imemoriais.
    Ele tenta manter o controle das coisas. É difícil, bem difícil, mas faz o possível e algumas vezes até o impossível para atingir os seus objetivos.
    Um bilhete amassado dentro do seu bolso é retirado. Ele confirma mais uma vez o endereço de um bar que deve visitar ainda essa noite. E com uma agilidade incrível, desce do parapeito até o chão.
    Caminhar a noite traz lembranças indesejáveis, da época em que ele era um garoto de rua, solitário, faminto, sem dinheiro e sem esperanças. Perdera os pais quando tinha apenas três anos. Maldita morte que leva os bons e deixa os maus. Chegou a cheirar cola inúmeras vezes para se esquecer do abuso sexual que sofrera do pai adotivo. Entre os nove e doze anos de idade, fora preso quatro vezes por roubar à mão armada. E em todas as quatro vezes apanhou muito, pois os policiais sabiam que ele não ficaria ali por muito tempo. 
    Ele aprendeu nas ruas que nem tudo o que vemos é real. Que muitas pessoas elegantes, bonitas e cheirosas carregavam em suas entranhas um ser demoníaco pronto para destruir.
Ele sabe identificar quem é quem; demônio ou humano, pois além do conhecimento que adquiriu, ele possui um dom muito especial, o que também o difere de outras pessoas: o de enxergar auras.
    As auras dos humanos são praticamente iguais e variam pouco em sua tonalidade, dependendo do grau emocional de cada um. As auras dos demônios são idênticas: negras como o abismo mais profundo.
    Demônios estão na Terra apenas para instituir o caos e se deleitam com os prazeres mundanos, com as guerras, com o sofrimento e o terror.
    O bar estava próximo, num beco escuro e sujo, um local que a maioria dos humanos passariam longe. Por via das dúvidas, esta noite ele se passaria por demônio, e o ingresso para entrar são palavras milenares de uma língua extinta, pronunciadas para o demônio guardião do local.
    Ele se aproxima cautelosamente daquele imenso ser em frente à porta de entrada. O guardião traja roupas normais, como os humanos, mas o capuz que usa e a falta de iluminação dificulta a sua identificação. Palavras são pronunciadas. O guardião apenas levanta a cabeça e deixa à mostra seus olhos luminosos. O demônio bufa como um equino, depois empurra a pesada porta de madeira deixando o acesso livre para ele passar.  
    Uma festa está acontecendo ali. O som está alto, mas ainda é possível ouvir as gargalhadas estridentes. E mesmo acostumado com ambientes assim, o seu coração parece que vai explodir dentro do peito. 
    Não por estar nervoso, mas sim pela ansiedade em estar logo entre eles para poder matá-los, um a um.
    Seu nome é Antonio Spadoni, e ele é um padre de cinquenta e cinco anos, mas não um padre tradicional daqueles que apenas celebram missas: ele é um caçador de demônios.
    — Me dá a bebida mais forte da casa — disse Spadoni ao demônio barman, que sorri mostrando seus dentes amarelados, depois despeja simultaneamente a bebida de duas garrafas num copo.
    O líquido desce quente em três goles. Ele pede mais e enquanto o barman prepara o drink, o padre olha o ambiente. Bem lá no fundo, ele consegue identificar Berith, demônio que sabe tudo sobre o passado e que prevê o futuro, parceiro inseparável de Paimon, temido e poderoso demônio, comandante de mais de duzentas legiões de demônios e um dos braços direitos de Samael, o rei do inferno. Além deles, cerca de cinquenta demônios se divertem com prostitutas humanas. Certamente elas não sabem que os ocupantes daqueles corpos são temíveis e milenares monstros, loucos famintos por almas humanas.   
    Spadoni já tinha observado a dupla em ação e pode defini-los como Berith sendo o “cérebro” e “Paimon” os músculos.
    Ele deve ficar longe da vista de Berith e agir no momento certo. Para ele que é um experiente caçador, cinquenta demônios não são nada. O problema mesmo será Paimon.

    Um breve silêncio no salão, com ressalva de gritinhos ofegantes das prostitutas e copos de vidro vazio batendo sobre as mesas. Todos ficam mais agitados e sorridentes quando um demônio coloca uma ficha na Jukebox e seleciona a faixa Sympathy For The Devil, do Rolling Stones, menos o padre que pensa numa estratégia para pegar todos sem que as moças saiam feridas. 
    Cautelosamente ele vai até o corredor principal, local que todos devem passar ao sair. Uma fileira de sal, de ponta a ponta, é feita no chão. Demônios não ultrapassam fileiras de sal, portando, ali será uma ótima barreira para que fiquem aprisionados apenas com o seu executor: Spadoni.
    Ele caminha calmamente entre os demônios. Empurra com violência um deles da cadeira e sobe sobre uma das mesas. Retira a jaqueta de couro, deixando sua batina negra à mostra, depois puxa sua espada, que estava acoplada num suporte de couro nas costas. 
    Alguns demônios ainda não viram o homem de batina. Spadoni pega uma garrafa de whisky que estava sobre a mesa e a atira na Jukebox. Acabou o som. Todos olham furiosos para o padre. Ele range os dentes enquanto retira de um bolso interno da sua roupa uma pequena garrafa contendo um líquido incolor, rosqueia e retira a sua tampa, para logo em seguida respingar o seu conteúdo nos que estão próximos.
    Fumaça.
    Odor de carne queimada.
    Água benta sempre foi muito eficiente nesses casos.
    O que padre Antonio Spadoni nunca entendeu foi por que os demônios nunca gostaram de usar armas. Eles preferem os punhos e os dentes, talvez para saborear ainda mais a carnificina. Mas isso era uma vantagem para ele que é um exímio espadachim. E sua espada não é tão simples como qualquer outra, ela fora benzida por doze padres, tornando-se num instrumento poderoso contra as forças do mal.
    Spadoni poderia usar armas de fogo. Seria muito mais fácil meter na testa de cada um daqueles demônios uma bala benzida em água benta. Mas ele também sente prazer em usar a sua espada. Fora isso, sua agilidade também não o difere muito de um franco atirador.   
    Os segundos passam lentos. Spadoni vê a feição demoníaca de cada um. Suas auras negras infestam o ambiente. As prostitutas ainda não entenderam que aqueles que aparentam homens não passam de terríveis e sanguinários demônios. Berith empurra as três prostitutas que estão sobre ele, puxa a calça para cima, fecha o ziper e se levanta da cadeira. Paimon já está de punhos cerrados, mas a primeira ordem do líder foi a de sair pela porta dos fundos. A segunda foi para os demônios trucidarem o padre.
    Spadoni sorri e sente prazer em enfrentar a morte armado. 
    Mesmo tendo confiança que vencerá àqueles asquerosos seres, ele sabe que poderá morrer se errar um mísero golpe.
    Ele segura as duas mãos com firmeza na bainha da sua espada na altura do seu umbigo, aponta a arma para frente, depois gira o corpo na velocidade de um relâmpago.
    Nove cabeças são decepadas.
    As prostitutas param de sorrir ao ver a violência e ficam atônitas em notar que o sangue derramado daqueles homens, não possuem a cor vermelha, mas sim, negra.
    Spadoni salta da mesa com sua espada nas mãos e divide ao meio o primeiro demônio em sua frente. Golpes certeiros o afasta de dentes sedentos por carne humana. Uma pesada cadeira de madeira é atirada. Ele cai e sente o chão girar, mas ainda segura com firmeza a sua arma. Os demônios se atiram sobre ele. Unhas e dentes pontiagudos arranham e fincam em sua carne. E com  força sobre-humana, ele se ergue em meio aos demônios e grita de tal maneira que todos do salão estremecem. Suas veias salientes e pulsantes. Seus olhos arregalados. Seus dentes à mostra. Alguns demônios rastejam para longe daquele homem. Os mais corajosos tem membros decepados. As prostitutas correm e passam pela fileira de sal. Estarão seguras lá fora, exceto pelo guardião que continua em pé, estático em seu posto. 
    Como uma máquina mortífera, Spadoni desfere golpes até o último demônio cair no salão. Mas ele sabe que ainda resta mais um escondido atrás do balcão: o barman.
    O padre caminha lentamente. Seus passos são leves e não causam ruídos. Ele sangra e seus braços estão cobertos por ferimentos, mas a dor é o gás necessário para fazê-lo ainda mais furioso.
    — Saia do teu esconderijo, demônio maldito. Chegou o dia em que retornará para tua morada, bem ao lado de Samael, lugar do qual nunca deveria ter saído — esbraveja Spadoni.
    Mas ele, experiente caçador de demônios, servo de Deus, também erra e seu excesso de confiança quase o faz perder a vida, não que ele dê valor à ela, mas simplesmente pelo fato de errar depois de mais de quarenta anos enfrentando o mal. 
    BUUUMMM!!!
    Ele sentiu o calor da bala calibre 12 passar próxima ao seu olho esquerdo.
    Para ele, demônios não usavam armas, pelo menos até segundos atrás. O barman estava pronto para dar o segundo tiro e provavelmente não erraria.
    Tempos modernos, pensamento humorado e inoportuno para àquele momento que exige uma rápida ação.
    Spadoni atira sua pequena adaga de prata e perfura o olho direito do demônio. Ela não estava benzida, mas foi tempo suficiente para alcançar e retirar a arma do atirador.
    A espingarda é jogada no chão.
    Spadoni recoloca a sua espada em seu suporte.
    O barman, sangrando à sua maneira, continua em pé e sem ação.
    1,2,3,4,5,6,7,8,9. Esta é a quantidade de vezes que Spadoni bateu a cabeça do demônio no balcão, até ela deixar de ter uma forma definida.
    Sim, por incrível que pareça, eles também possuem cérebro. Mas Spadoni já sabia disso.
    Ele pega a arma no chão, uma espingarda com o cano serrado, e caminha desviando dos corpos no chão e vai até a porta de entrada, que está aberta.
    Spadoni verifica rapidamente a situação e nota que o guardião está com as seis prostitutas presas, sendo três em cada um dos seus poderosos braços.
    Parece que o demônio vai tentar negociar com o padre a soltura delas...
    — Padre desgraçado, posso soltar cinco delas, mas levarei uma comigo, mas tenho algumas condições. Eu...
    BUUUMMM!!!
    Esta noite o padre fez algo inusitado: usou pela primeira vez uma arma de fogo. E se deu  muito bem.
    O guardião errou em tentar negociar, pois Spadoni nunca negocia com demônios.
    As garotas estão salvas e não tem tempo em agradecer ao padre. Elas correm desesperadas, exceto uma que caminha lentamente olhando para o chão.
    Spadoni está acostumado com isso: os herois reais são bem diferentes dos herois dos quadrinhos e dos seriados da tevê. Não existem mocinhas que se jogam em seus braços, não que ele queira isso, pois fez voto de castidade. Mas um obrigado de vez em quando seria bom.
    As dezenas de cicatrizes espalhadas pelo seu corpo clamam por isso.
    Mas ele mergulha mais uma vez na solidão e caminha entre as sombras até chegar na porta dos fundos da sua igreja. No ofertório, o padre retira um bilhete amassado. Ele sabe que ali está o endereço do próximo local que deverá visitar. Ao longe ele consegue visualizar o informante de costas e com um capuz sobre a cabeça, que sai apressado.
    Spadoni não sabe quem ele é. Podem ser anjo ou mesmo um demônio aliado. Ele só sabe que as informações chegam até ele sempre desta maneira: num bilhete amassado que é colocado todas as noites no ofertório da sua igreja. De qualquer forma, àquele informante sabe que ele é um caçador de demônios e que está neste planeta apenas para combatê-los.
    Quantos mais existem neste mundo? Quantos caçadores arriscariam a sua vida no anonimato para proteger outras vidas? Indagações que ficam sempre no vazio...
    Ele verifica o local que deverá visitar e nota que não é tão longe dali. Um prédio residencial  aparentemente comum.    
    Hoje ele está cansado e ferido, mas não lhe falta coragem para morrer. Enfrentar demônios sozinho é um trabalho arriscado e insano. Mas isso já se tornou num vício. É como um alcoólatra que diz que vai ingerir seu último copo com água ardente, mas que no dia seguinte repete a mesma promessa. Spadoni só pensa nisso: caçar demônios. Caçar demônios. Caçar demônios... Sua mão fica trêmula quando passa um dia sem o seu ofício. Parece que lhe falta ar ou que algo está errado e fora do lugar. Ele se sente completo quando sai às ruas e chega ao seu local de destino. E cada cicatriz em seu corpo corresponde a um prêmio que carregará consigo até o último dia da sua tortuosa vida.
    Ele se esquece constantemente que é um servo de Deus. E quando isso acontece, ele segura com firmeza o crucifixo que carrega no peito, símbolo daquele que morreu para salvar a humanidade, um dos maiores caçadores de demônios que já existiu: Jesus Cristo.    
    Isso injeta óleo em suas engrenagens desgastadas. Ele caminha mais rápido, mas mesmo o local sendo próximo, parece que seus largos passos nunca chegam ao seu local de destino.
    Ele está ansioso e acabou se esquecendo de ingerir os seus comprimidos. E isso não é nada bom.
    A fúria toma-lhe o corpo e o possui de maneira devastadora.
    Número 222. Spadoni nota estranhas inscrições e símbolos acima da porta de entrada do prédio. Embora seja uma língua semelhante, não é aramaico.      
    Spadoni entra. Não há ninguém na portaria e o silêncio absoluto o preocupa, pois demônios são barulhentos e desordeiros. Mesmo assim ele caminha pelo corredor central em busca de alguma pista. O luxo está por toda parte e obras de arte estampam as paredes. Spadoni notou que todos àqueles quadros pertencem a um único artista e verifica com assombro um deles.
    — William Blake é o autor destes quadros. Este do qual você tanto olha é “O grande dragão vermelho e a mulher vestida de Sol”. Blake foi o único ser humano que conseguiu ver a real aparência de nós demônios. Este retratado no quadro é o meu parceiro Paimon — disse Berith ao padre que já está com sua espada em mãos.     
    — Demônio maldito, não sabia que vocês também gostavam de arte. Mas isso irá durar pouco tempo, pois logo o mandarei de volta ao inferno — esbraveja Spadoni num mar de fúria.
    — Em sua cabecinha humana você acha mesmo que poderá nos enfrentar para sempre? Quantos anos mais você viverá? É claro que você não sabe, mas eu sei, mas não vou te contar, só digo que estou na Terra há milênios e nenhum outro caçadorzinho foi capaz de fazer eu retornar ao inferno. Paimon!
    Quando Spadoni percebe que não está só com Berith, já é tarde. Paimon derruba a sua espada com um único golpe do seu braço esquerdo, o segundo foi um soco duro e seco em seu queixo. No chão e completamente atordoado, ele cospe sangue, além de alguns dentes. Outros demônios chegam e o cercam. Desarmado, Spadoni começa a gargalhar. Ele sabe que algo está errado e que os comprimidos que não ingeriu são os malditos culpados.        
    — Berith, esse padre é louco? — pergunta Paimon.
    — Não, Paimon, aqui na Terra eles chamam isso de transtorno bipolar. Fora isso, ele não tem medo da morte e falta-lhe alguns parafusos. Mas a gente pode fazer ele sofrer... bastante! — Berith cruza os braços e ordena para que Paimon faça o que ele faz de melhor.
    Paimon se joga e cai de joelhos sobre as costelas de Spadoni. Som de ossos se quebrando. O padre coloca as mãos sobre o peito e dá um longo suspiro, para depois gargalhar ainda mais. Vidros são estilhaçados no chão. Os demônios rasgam a batina do padre e retiram a sua camisa. Paimon o arrasta pelos cabelos sobre o vidro deixando um rastro de sangue.    
    Spadoni, quando tem essas crises, se esquece de quase tudo, até de quem ele é. E quanto mais Paimon o arrasta sobre o vidro, mais ele sorri. A pequena garrafa de água benta em seu bolso é quebrada. A adaga de prata presa no cinto é inútil, pois ele nem sequer se lembra que ela está ali.
    — Pare, Paimon, isso não vai adiantar. Vamos ver se ele vai continuar sorrindo depois do que faremos com ele. Sente-o na cadeira e retire os seus sapatos. Depois me dê um martelo.
    Geralmente Berith apenas comanda, mas desta vez ele será o torturador. Ele chega próximo ao padre, que mesmo com os olhos lacrimejando, continua sorrindo. Levanta o martelo acima da sua cabeça e o desce com velocidade até atingir um dos dedos do padre. Esmagado.    
    Spadoni urra e cospe sangue, mas o que ele pronuncia em seguir é difícil de compreender. Berith encosta o seu ouvido na boca do padre para ouvir melhor.    
    — Ainda... ainda... ainda faltam nove dedos... hahahahahahahahaha.
    Em milênios, nenhum daqueles demônios jamais viram Berith tão furioso. Ele pega a espada do padre e está pronto para desferir o golpe que irá separar a cabeça de seu corpo. Spadoni olha para cima e vê no teto uma forte luz se aproximando.
    Seria a luz da qual tantas pessoas falam quando estão à beira da morte?
    Um estrondo faz Berith deixar a espada cair. Ele não previu isso, pois perdeu a concentração com o padre. Um opala preto e com os faróis altos arrebentou a porta da entrada e invadiu o salão do prédio.
    Todos ficam estáticos quando uma jovem garota de cabelos curtos, meia-calça preta rasgada e coturnos, salta do veículo com duas armas em punho.
    Ela tem uma ótima mira e os demônios vão tombando, um a um.
    Berith foge com Paimon, pois acabou de prever que o seu futuro não será nada bom, caso continue no prédio.  
    — Acabou, padreco, não restou nenhum, a não ser os dois covardes que fugiram. Apóie-se em meu ombro e vamos sair daqui — Spadoni se levanta com dificuldade e começa a se recordar do que ele realmente foi fazer ali. Ele segura o seu crucifixo e olha para a garota.   
    — Eu... eu a conheço... Você não é uma das prostitutas que estava lá no bar com os demônios?
    — Sim, padreco, e você acabou com tudo. Minha intenção era explodir àquele lugar e mandar todos de volta para o inferno. Mas você chegou e adeusinho plano.
    — Então... você também é uma caçadora de demônios?
    — Não, sou teu anjo da guarda. É claro que sou uma caçadora de demônios. E muito bem precavida e com balas benzidas em água benta. Agora vamos sair daqui antes que a polícia baixe por aqui. Vai ser difícil fazê-los entender e acreditar que esse monte de traste são demônios.    

    Spadoni olha para a garota e descobre que nem tudo está perdido. Pelo menos por enquanto...   


SOBRE O AUTOR

Ademir Pascale é paulista, escritor, digital influencer e ativista cultural. Criador e editor da Revista Conexão Literatura (www.revistaconexaoliteratura.com.br). Membro Efetivo da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba/PR). Chanceler da Academia Brasileira de Escritores (Abresc), título entregue por seu trabalho na disseminação da literatura e cultura. Participou em vários livros, tendo contos publicados no Brasil, França, Portugal e México. Autor do livro “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” (Editora Selo Jovem) e organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir).
Entre em contato: ademirpascale@gmail.com 

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