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terça-feira, 28 de março de 2023

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Andréa Berriell e o livro Roxo, por Cida Simka e Sérgio Simka

Andréa Berriell - Foto: Alexandre Kenji

Fale-nos sobre você.
 

Sou latino-americana, autora de suspense, policial, horror e insólito. Nasci em Bauru, interior de São Paulo. Vivo em Curitiba desde 1998 onde sou professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Paraná. Ecofeminista, gosto de pensar que sou uma agricultora urbana em formação; tenho um vício: recolher folhas secas da rua para fazer compostagem. Pratico meditação transcendental diariamente. Escrevi o romance Mulheres que plantam a Lua (2018), contemplado no 1º Edital de Fomento à Cultura do Estado do Paraná. Tive um conto A descida finalista no Prêmio Off Flip 2021. Roxo, meu primeiro romance policial e de mistério, foi publicado no kindle (2021) e pela Editora O Grifo (2022). Os contos O Bedel (“Escola do Horror”, 2022), A Estrela ("Amores Macabros", 2022), Mais Grimpa (“Dia das Bruxas”, 2022) e Onome (“Férias macabras, 2023) integram coleções organizadas por autoras e autores do Clube de Leitura Escuro Medo. E o conto O carpete cor de vinho (“Gótico Natalino”, 2022) faz parte da coleção organizada pelo Coletivo Nídaba. No momento divido meu tempo entre dar aulas, e escrever contos; uma novela (em andamento) que tira meu sossego e me assombra; e o livro que tem a história em sequência do Roxo (serão quatro livros no total). Minha ideia para essa tetralogia é que as histórias são independentes umas das outras, a cada livro uma investigação é concluída, mas as personagens investigadoras se mantêm as mesmas. 

ENTREVISTA: 

Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo? 

Fui escoteira, por um curto período, quando criança; então, um dia, me veio uma imagem de uma cena que vivi num acampamento, de um banho coletivo depois de uma festa à fantasia. Na imagem, que era cheia de movimento, então era mais um filme, as meninas iam entrando numa banheira e, como as fantasias eram de papel crepom, a água foi ficando colorida e suja. No final havia uma água cinza chumbo e gelada onde minha prima e eu entramos. Éramos as mais novas, as últimas na fila do banho. Por incrível que pareça, Roxo nasceu no dia do lançamento do meu primeiro livro, o “Mulheres que plantam a Lua”. Depois do lançamento na Livraria da Vila – onde não consegui piscar por causa do tamanho da fila para as dedicatórias –, eu estava devorando salgadinhos da festa com uma amiga, minha prima (a do acampamento) e outros familiares que vieram da minha cidade natal e estavam hospedados na minha casa ou em hotéis. Finalmente eu estava tomando uma taça de vinho e experimentando aqueles salgados à mesa da minha casa, na companhia das pessoas que amo. Então, foi um momento feliz, com sensação de tarefa cumprida. E me perguntaram o que eu ia escrever agora. E eu respondi: já estou escrevendo um romance policial, que vai se chamar Papel crepom. Inventei na hora. A imagem daquele banho com as escoteiras, uma imagem coagulada, em movimento, acompanhada de uma sensação profunda e desconfortável na pele e dentro do estômago. Isso se somou ao meu interesse por literatura de suspense e policial, e à observação de muitos anos de tudo que se refere a crimes e performances praticados por assassinos seriais. Foi assim que nasceu o Roxo. 

Fale-nos sobre seu outro livro. 

O “Mulheres que Plantam a Lua” é um romance sobre uma professora universitária enlutada pela perda do filho com síndrome na gestação, que sofre violência no trabalho e se sente desconectada das pessoas. A personagem, talvez pela imensa vontade de viver outra vida, alimenta um amor platônico que a afasta do companheiro, e vai, junto com a omissão dele, degradando progressivamente o casamento de muitos anos. No momento de maior dor e sofrimento, essa personagem decide participar de um encontro de mulheres, relutante e cética no início, acaba descobrindo coisas estranhas sobre si mesma, faz amizade com mulheres que vivem uma relação mais profunda com seus corpos, sua sexualidade e o sangue menstrual. Plantar a Lua é um ritual originário dos povos ameríndios, as mulheres indígenas são consideradas sagradas durante o período menstrual chamado de Lua, um período em que acreditam entrar em conexão profunda com os espíritos e a sabedoria da natureza. O ritual consiste em derramar o sangue sobre a terra, não em absorventes, não no lixo. O sangue é considerado sagrado e capaz de fazer uma ponte entre o mundo material e o mundo espiritual. E essa personagem, a professora do Mulheres que plantam a Lua se lança numa aventura de autoconhecimento, de um estreitamento da relação com seu próprio corpo. O livro é insólito, fala de questões obscuras da sexualidade das mulheres, ainda pouco exploradas na literatura. 

Como analisa a questão da leitura no país? 

Comparativamente com outros países com muito menos extensão territorial e número de habitantes, somos um país que quase nada lê. Embora eu acredite que nenhum cenário deva ser visto como algo consolidado ou imutável, sei que algumas coisas são resistentes às mudanças, como a cultura do consumo e do imediatismo que vivemos hoje. Mas acredito no poder regenerativo da educação pública, gratuita e de qualidade. Acredito que toda pessoa, se tiver uma única chance de experimentar um período de leitura agradável, sem interrupções, adequada à sua capacidade de apreensão naquele momento, e com alguma aderência aos seus interesses, essa pessoa se apaixonará pelos livros para todo o sempre. A partir de então, teremos mais leitores, pessoas capazes de desenvolver suas subjetividades através do pensamento crítico. E as escritoras e escritores poderão viver de escrita no nosso país. O que fará a qualidade da literatura aumentar e essa roda entrará num movimento de abundância e inteligência, exigindo menos esforço do que hoje em dia. 

O que tem lido ultimamente? 

Leio cada vez mais mulheres. Comecei o ano lendo as estupendas Verena Cavalcanti (Inventário de Predadores Domésticos), Irka Barrios (Júpiter, Marte Saturno), Annie Ernaux (O lugar / A vergonha). Essa semana (hoje é 20 março de 2023) acabei de ler De profundis do Oscar Wilde e estou começando Mil Placebos do Matheus Borges, esse último para o Clube de Leitura Escuro Medo, mediado pela Irka Barrios, que tem o ROXO como o livro de abril. No final de 2022 me impressionei muito com os contos da Mariana Enríquez. Pretendo ler e estudar autoras latino-americanas. Me interesso cada vez mais pelo que elas têm a dizer. 

Você transita em outras esferas da arte. Você pintou a imagem da capa do ROXO. Como é isso? 

Era muito sofrido para mim quando eu era jovem e tinha muitas ideias e o impulso de fazer coisas tão diferentes ao mesmo tempo, como literatura, pintura e arquitetura. Depois compreendi que eu sou assim, que preciso respeitar esses diferentes fluxos criativos. Eles não se atrapalham, ao contrário: um alimenta e potencializa o outro. Quando eu pinto, materializo imagens que eu vejo na minha escrita. E muitas vezes, acontece o seguinte: crio cenas a partir de imagens que eu pinto. Com a arquitetura é a mesma coisa, penso os cenários o tempo todo a partir do meu repertório como arquiteta. Dou aulas de projeto, vivo pensando em espaços e formas e na sua conexão com as cidades e o campo. Existe um extenso litoral complexo e cheio de vida entre essas diferentes práticas. Quando me coloco em ação, em qualquer uma delas, a magia acontece. 

Link para o livro:

https://www.ogrifo.com.br/pd-9355cb-roxo.html?ct=1b3f05&p=1&s=1 

 

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura. 

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). 

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sexta-feira, 13 de maio de 2022

ENTREVISTA COM ESCRITOR: Mônica Henriques e o livro O julgamento, por Cida Simka e Sérgio Simka


Fale-nos sobre você.

Sou carioca, escritora de ficção e advogada formada pela UFRJ. Membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira. Iniciei a minha vida de escritora, oficialmente, em 2019, com os contos: “Anaxágoras Xerxes - gato, filósofo e guerreiro" e "Julieta & Shakespeare – Um plano perfeito", publicados em e-book no Kindle. Depois publiquei nessa plataforma os contos “O renascer na pandemia” (2020) e “O vírus e o que orbita ao seu redor” (2021).

Participei das seguintes antologias: “Pélagos – Contos do Mar” com o conto "Carpe Noctem"; "23 Formas de Morrer" com o conto "A dama de negro do Chiado"; "Parem as máquinas" com o conto "Alma Mater"; “Off Flip” com o conto “Tempos hipocôndricos”.

“A livraria mágica da Rua do Ouvidor”, um conto de fantasia, selecionado no Prêmio Literário Cataratas de Contos e Poesias – 2019, será publicado em antologia digital.

Em 2021 o meu conto “Assassinato no Sarau” integrou a Revista Mystério Retrô 6.

O meu primeiro romance, “O julgamento”, um thriller com elementos sobrenaturais, foi lançado pela Caravana Grupo Editorial e convido todos a conhecê-lo. 

Atualmente desenvolvo um romance de fantasia, com temática de viagem no tempo, o que me leva a muitas pesquisas.

ENTREVISTA:

O que motivou a escrita do romance “O julgamento”?

Esse romance seria um conto, porém, durante a escrita, percebi a potência para transformá-lo em uma história mais longa. Eu ansiava por falar de um tema que nos confronta a cada dia, que é a violência, e mais especificamente, a praticada contra mulheres. No desenrolar da trama utilizei de elementos sobrenaturais para abordar a percepção que temos do mal, que, muitas vezes, se apresenta com a roupagem do bem. Como perceber isso? Como nós, mulheres, estaremos atentas a fim de nos proteger? Como os homens devem se portar, e, melhor, entronizar em seus atos e falas o respeito para com as mulheres? Entender a mulher como ser humano de direitos iguais aos seus. Esse romance, fluido em sua escrita, ágil em sua estrutura, nos leva a pensar essas questões enquanto ansiamos pela resolução do julgamento.

Dicas para quem quer ser escritor.

O escritor é aquele ser que deseja colocar no mundo as suas ideias, os seus sonhos. Quer trabalhar a palavra, para ser compreendido. Quer trazer aos leitores conhecimento, vivência, deleite, construir mundos fictícios, mas verídicos em sua essência; ou trabalhar a não ficção, relatando os acontecimentos, as verdades do mundo. Se você quer ser escritor, e acredito que a maioria das pessoas possam escrever, porém não colocam essa habilidade em prática, precisará perder o medo da escrita. Sentar e colocar no papel ou no computador ideias e sentimentos. Escrever um pouco a cada dia, ou quando der. Mas isso precisa se tornar um hábito! E ler muito. Não abdicar da leitura. Muitos reclamam da falta de tempo para ler, mas perdem pelo menos uma hora do dia navegando aleatoriamente nas redes sociais. Acredito que, se separarem pelo menos trinta minutos do dia para a leitura, em pouco tempo terão lido um livro inteiro e, assim, no correr de um ano, pelo menos doze livros. Então, leiam! Não abram mão dos clássicos, porque darão o substrato para compreender o mundo antes de nós; e leiam os contemporâneos, que trazem o estilo de escrita e temáticas atuais. E prestigiem os autores nacionais, assim estarão fortalecendo a literatura brasileira.

O que tem lido atualmente?

Sou uma leitora eclética, não me prendo a gêneros. Recentemente concluí a leitura de “O último tiro da Guanabara” da Bruna Meneguetti. É um livro denso, de ficção histórica, que aborda um episódio do início do período JK, as artimanhas da política etc.; então precisa de muita concentração para a leitura, apesar da escrita da autora ser muito agradável e tratar do tema histórico com maestria, mesclando com personagens fictícios. E já iniciei a leitura do romance da Jenny Rugeroni, “O ano em que não choveu”, que trata de relacionamento abusivo, alcoolismo, relações familiares e assuntos conexos. Temas que serão sempre atuais.

Nos últimos tempos tenho lido muitos escritores nacionais contemporâneos: Nara Vidal, Eury Donavio, Anita Deak, Ana Lúcia Merege, Marcelo Maluf, Paola Siviero, Vanessa Passos.

Como estimular a leitura em um mundo seduzido pelo audiovisual?

Acredito que o amor pelos livros deve começar na primeira infância. Os pais lendo livros para os bebês, deixando que manipulem os livros e que contem a história em sua linguagem ininteligível para os adultos. E esse encantamento perdurará, a criança aprenderá a ler e buscará as suas próprias leituras. E o hábito, assim formado, permanecerá durante toda a vida. Não há como se competir com o audiovisual, ao contrário, a leitura deve caminhar junto com as novas mídias. Entendo que o livro já encontrou o seu lugar com a divulgação pelos booktubers e amante dos livros, assim como pelo reavivamento dos clubes de leitura. Importante destacar que toda produção audiovisual passa pela escrita, e esta é o amálgama de todo o conhecimento adquirido seja por um escritor ou por uma equipe de roteiristas; o que vemos nas telas, primeiro nasceu do encontro das letras. Há que se separar um momento do dia ou da noite para a leitura, e isso é um momento íntimo, é a conexão do leitor com o mundo mágico que o livro oferece. Toda leitura e releitura revela matizes diferentes, por isso acharmos que o livro é melhor do que o filme, isso porque colocamos no ato de ler e compreender um pouco de nós, da nossa vivência e dos nossos sonhos. Então o audiovisual, ao invés de afastar as pessoas da literatura, as estimulará, fazendo com que busquem mais informações sobre aquele enredo e leiam o livro que inspirou o filme. E é claro, precisamos de políticas públicas que coloquem a educação em primeiro lugar, com a valorização dos professores, com escolas bem estruturadas e equipadas, com livros à disposição de quem os quiser ler, mais bibliotecas comunitárias. Pessoas informadas e questionadoras mudam o mundo para melhor.

Link para o livro:

https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/o-julgamento/


CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.


SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021).

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sexta-feira, 15 de março de 2019

Guilherme Fostek e o livro A canção de um pássaro quebrado, por Sérgio Simka e Cida Simka

Guilherme Fostek - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Olá, leitores da Conexão Literatura! Meu nome é Guilherme Fostek de Oliveira e lancei o meu primeiro livro intitulado “A Canção de Um Pássaro Quebrado” pela Editora Uirapuru. Bom, sou natural da longínqua cidade de Pariquera-Açu, no interior do estado de São Paulo. Ao contrário da sua tradução da língua tupi (Pariquera-Açu significa Cercado de Peixe Grande) a cidade em si não é lá muito grande, mas tem os seus atrativos.  Eu tive uma infância típica de um garoto do interior de São Paulo e não escrevo isto com demérito, pois é nesta fase que geralmente formamos nosso caráter. E em particular, devo muito ao meio social de família e amigos da qual tive o prazer de participar.  Fui criado apenas pela minha mãe, Elisa da Silva. Ela é o alicerce moral da qual minha vida se fundamenta e observando em retrocesso, a agradeço imensamente pela educação que tive e por ela ter me aturado durante todos estes vinte e quatro anos e sete meses e mais alguns dias. Eu sou geólogo e atualmente estou terminando meu mestrado em geologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de Geologia Estrutural e Geocronologia. Eu sei, você deve estar se perguntando “O que geologia tem em comum com a história do livro?” Bom, de fato não tem nada mesmo. Mas criar uma história do zero tem um poder absurdamente apaziguador sobre você e te tira muitas vezes das obrigações rotineiras que uma graduação te exige, como entrega de relatórios, trabalhos e pesquisas etc. A Canção de Um Pássaro Quebrado nasceu dessa forma, enquanto em uma aba do Word estava a história de Benn e na outra aba estava algum relatório que eu deveria entregar até o fim da semana, e que com certeza eu estava atrasado.  E em 2015, fiquei sabendo de um concurso para a Editora Uirapuru que buscava novos autores e, assim, decidi mandar o livro para o concurso. Criança que não chora, acaba não mamando. E para minha surpresa o livro foi selecionado para a publicação.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o seu livro.

A Canção de Um Pássaro Quebrado é um conto que conta a história de um menino chamado Benn. Benn é um garoto relativamente sisudo e teimoso, como qualquer criança de oito anos relativamente o é (Alguns amigos até me disseram que ele é um Alter Ego meu. Prefiro não comentar sobre isto).  Ele tem uma amiga, a Velha Dóris, que conta histórias para ele na beira de sua cama. E uma destas histórias é a história de Eddard, um jovem rapaz irônico, narcisista talvez, mas com as melhores intenções do mundo. Mesmo que no final, o resultado prático de seus atos não sejam o dos melhores. E é através da história de Eddard que a Velha Dóris está tentando ensinar algo a Benn. A Canção de Um Pássaro Quebrado retrata um pássaro que possui desejos questionáveis e acaba se quebrando por conta deles. Através desta fantasia eu levanto os seguintes questionamentos: Você realmente quer aquilo que deseja? Você realmente sabe aquilo que deseja? Alguns diriam que saber o que você deseja é aquilo que define o seu eu mais íntimo. Mas não estou muito certo quanto a isto. Aliás, eu creio que talvez, você já tenha aquilo que deseja. No entanto, saber apreciar aquilo que já temos é um ensinamento difícil, como diria Siddhartha Gautama (Buda). Eddard possui desejos dentro dele que o anseiam e ele não vê o quanto tais desejos o fazem mal. Nesta história, o leitor conhece o que acontece quando um pássaro quebrado almeja lançar voos mais altos. Você pode pensar: “Ah legal. É uma história de superação. Um pássaro quebrado que consegue mesmo assim, voar”. Mas não é esta história retratada aqui. Na verdade, está longe de ser.

O que o motivou a escrevê-lo?


Estou muito feliz em responder esta pergunta. O livro nasceu de um pedaço de um poema de George Ripley que foi um importante alquimista do séc. XV. A parte em questão é: The Bird of the Hermes is my name. Eating my wings to make me tame. Que em tradução livre seria: O Pássaro de Hermes é o meu nome. Devorando minhas asas para assim me domar. Esta frase também é ilustrada no excelente anime japonês, Hellsing. Há muitos debates em fóruns sobre o que Ripley gostaria de dizer com esta frase. A minha interpretação sobre ela é uma alegoria relacionada a desejos e a psique humana da qual eu tento representar neste conto. O livro até tem um capítulo chamado Devorando suas asas para assim se domar (E a frase inteira eu tenho tatuada nas costas, aliás). Muitas vezes, temos desejos dentro de nós que não são muito benéficos. Um emprego que você almeja, por exemplo. Você o quer, mas para isto, talvez você tenha de perder a formatura da sua filha. A apresentação de teatro do seu filho. Isto sem falar no caso clássico em que você sabe que para chegar a um determinado emprego, talvez você tenha que passar por cima de alguém ou mesmo fazer algo não muito lícito e moral. Aí vem a pergunta: “Isto que você acha que deseja é realmente aquilo que você quer?” Muitas vezes, eu acredito que devamos devorar nossas asas para assim domar algo que esteja dentro de nós. É uma ótica diferente daquela que o saudoso Chorão do Charlie Brown Jr. retratava: O Impossível é só questão de opinião.  Apesar de eu gostar muito desta ótica, que ajuda as pessoas a tomarem as rédeas da própria vida, eu creio também que a precaução é sempre uma boa amiga. Um amigo me perguntou uma vez se eu era budista, após ele ler o meu livro, devido ao fato de que os ensinamentos de Buda falam exatamente sobre isto. O nirvana está logo ali, é só controlarmos nossos desejos que o alcançamos, dizia Buda. Segundo o próprio Siddhartha Gautama, este anseio em ser feliz, em ter uma vida equilibrada, em ser respeitado e quando estamos tristes, o anseio que a tristeza acabe é o que nos prejudica em sermos de fato... felizes. E o livro A Canção de Um Pássaro Quebrado retrata isto ao extremo. Um pássaro que tinha tudo para alcançar voos altos e quem saber ser feliz, se quebra devido ao não controle de suas emoções e desejos.

Como analisa a questão da literatura no país?


Eu não gosto muito de ser pessimista e na realidade, creio que não o sou. E não gosto também de começar frases com infelizmente..., mas, infelizmente, não vejo uma luz no fim do túnel. Se ela existir, talvez esteja tão fraca que precise trocar a bateria. Ou quem sabe, o túnel não tenha fim. A falta de leitura no Brasil é um problema endêmico e todo mundo conhece o diagnóstico e a cura para isto. Apesar de ela ser trabalhosa, esta eventual cura é muito simples: Incentivar a leitura. Não somente em crianças, mas também no público adulto. A falta disto ainda tem como resultado manchetes como: O povo brasileiro é um dos povos com menor noção da própria realidade. Sinceramente, acho isto assustador, pois isso reflete diretamente na vida de todos, desde a escolha de governantes até mesmo um espancamento de um rapaz por sua orientação sexual e/ou política. Com este cenário, o mais desolador, no que tange à literatura, é ainda ver livros e manuais de respostas fáceis, sem embasamento acadêmico algum, ganhando o aceite da população. Ou ainda textos que trazem revisionismos históricos com “novas” ideias que não são novas e muito menos têm embasamento teórico para tal. Eu, honestamente, gostaria que livros que trouxessem questionamentos ao invés de respostas fáceis, pudessem ter mais espaço nas vitrines. Em A Canção de Um Pássaro Quebrado eu tento trazer estes questionamentos da psique humana relacionada a desejos como um plano de fundo para uma história de fantasia. Talvez, seja esse o caminho, para atrair a atenção do público. Trazer questões que possam abranger o espectro humano através de histórias sobre ficção, fantasia, romances... E esta não é nem uma tática nova. Isaac Asimov fazia isso de forma assustadora em seus contos. George Orwel, Aldows Huxley e mais recentemente Patrick Rothfuss (do qual sou imensamente fã) já traziam esta temática há tempos. Em suma, era isso que eu gostaria de ver mais na literatura brasileira. Livros que trazem mais questionamentos ao invés de respostas. Pois se não houvesse uma pergunta, talvez ainda estivéssemos caçando alces como as antigas tribos de caçadores coletores que existiam no mundo Pré-Neolítico.

Quais os seus próximos projetos?

Primeiro, terminar a minha dissertação. Quanto aos livros, o final um tanto “maluco” de A Canção de Um Pássaro Quebrado deu brecha para uma continuação. A qual, eu ainda estou trabalhando nela. O segundo livro apesar de ainda não ter nome, é onde eu tento aprofundar um pouco mais a mitologia do mundo em que apresento no primeiro livro e ampliando um pouco mais os horizontes.


*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
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