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Ricardo Pontes Nunes - Foto divulgação |
Ricardo Pontes Nunes nasceu numa família de sete irmãos
em Timon, interior do Maranhão, onde na infância, segundo conta, vivia grande
parte do tempo dentro de um mundo povoado por seres e lugares que lhe pareciam
assombrosos e irreais, o mesmo mundo fantástico que mais tarde, na
adolescência, se lhe depararia novamente em seus primeiros contatos com a
literatura. Morando atualmente em Manaus, depois de ter vivido no Rio de
Janeiro e em São Paulo, busca recriar aquela antiga atmosfera em contos e
ensaios. Afirma não crer na desalentada máxima teosófica de que, em essência,
na ficção sejamos incapazes de criar coisas novas, como se nos limitasse um
círculo de mitologemas que apenas se rearticularia e repetiria. “Pensar assim é
acreditar que a vida já está dada”, declara. Demonstrar isso, segundo o autor,
é uma das metas do seu livro de estreia na ficção Entre Fados e Tumbas - e outros relatos mundanos.
Conexão Literatura: Poderia contar
para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Ricardo Pontes
Nunes: Não saberia dizer se houve um começo, um quando. Penso que isso já
está na gente desde sempre, ainda que em germe, mesmo que não saibamos. Com o
tempo, vamos percebendo que na verdade, como tudo, é uma espécie de reencontro.
Ou seja, creio que existe algo que buscamos, enquanto leitores e autores, e que
parece que nos espera, assim como na arte em geral, na espiritualidade.
Conexão Literatura: Você é autor do livro
"Entre Fados e Tumbas". Poderia
comentar?
Ricardo Pontes
Nunes: É uma compilação de histórias, impressões, relatos que fui juntando,
reais, imaginários, mistos, ao quais eu pretendi dar uma roupagem, um contorno
literário, uma linguagem poética, reflexiva talvez. Penso que a literatura não
é constituída só pelas histórias em si, mas sobretudo pela forma em que são
contadas. Mas sem o recheio das histórias em si, comete-se um abuso com a
linguagem. O fato é que eu me reconhecia nas histórias que ouvia, em fragmentos
de coisas que via acontecer, na vida mesma ou nos próprios livros, que eu
passei a tentar reconstruir, desenvolver um enredo por trás dos fatos centrais
dessas experiências. Tenho para mim que a meta principal de Entre Fados e Tumbas é fazer com que o
leitor compartilhe um pouco do que viveram aqueles personagens, suas dores,
seus mistérios, suas esperanças.
Conexão Literatura: Como foram as
suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
Ricardo Pontes
Nunes: Eu já possuía os esboços de alguns dos contos pelo menos há uns cinco
anos. Depois que sentei decidido a concluí-lo no começo deste ano, acho que
levei mais uns seis meses. Nesse meio tempo ainda escrevi os contos Os Deuses Facínoras e O Sonho de Viriato,
assim que vi que dava para publicar. Alguns dos contos envolveram pesquisas
relativamente longas, como O Cognoscível
Paradeiro de Fawcett, porque baseava-se em fatos reais, e tive que ler
livros inteiros para me aprofundar nos detalhes do misterioso desaparecimento
do personagem; assim como para compor Aos
Deuses Manes, que partiu de um epitáfio em latim de um túmulo encontrado em
uma escavação no séc. XIX, e requereu uma certa pesquisa histórica, desde o
sebo onde encontrei o livro contendo a inscrição do séc. III d. C.
Conexão Literatura: Poderia destacar
um trecho que você acha especial em seu livro?
Ricardo Pontes
Nunes: Como se trata de um livro de contos, cada um deles é como um trecho do
livro todo, não é mesmo? Tenho, evidentemente, os meus preferidos, que nem
sempre coincidem com os dos leitores. Mas posso dizer que as histórias em que
atuam as personagens femininas como protagonistas são os mais emocionais para
mim, porque falam de situações que sucederam na realidade com aquelas mulheres,
neles, além da questão cronológica, quase não precisei inventar nada. Mas todos
eles são também um pouco autobiográficos, inevitavelmente, obviamente até,
porque são também fruto da própria maneira com que marcaram minha vida, da
forma como eu apreendi aqueles acontecimentos, na linguagem que precisei utilizar
para descrevê-los tal qual eu os havia sentido, recontá-los.
Conexão Literatura: Como o leitor
interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais
sobre você e o seu trabalho literário?
Ricardo Pontes
Nunes: O livro Entre Fados e Tumbas – e
outros relatos mundanos está disponível no site da Amazon.com.
Conexão Literatura: Existem novos
projetos em pauta?
Ricardo Pontes
Nunes: Atualmente estou terminando a tradução de The Rise of Anthropological Theory (Marvin Harris), que resolvi empreender
por conta própria; nas últimas semanas iniciei um ensaio mais longo que
pretendo lançar em livro, em linguagem literária, no começo do próximo ano, é
sobre questões históricas relacionadas à primazia do advento das ciências modernas
no mundo ocidental.
Perguntas rápidas:
Um livro: A História Social da Arte e da Literatura (Arnold Hauser)
Um (a) autor (a): Jorge Luis Borges
Um ator ou atriz: Lima Duarte
Um filme: Sangue Negro
Um dia especial: Existem muitos, em diferentes instâncias das nossas
vidas. Hoje, por exemplo, é um deles, por que não?
Conexão Literatura: Deseja encerrar
com mais algum comentário?
Ricardo Pontes
Nunes: Apenas meu muito obrigado ao Conexão Literatura. Acho que disse o
suficiente, o restante está no livro.