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quinta-feira, 26 de maio de 2022

Conheça o livro Melancolicamente, da autora Renata de Alcântara Stuani


A jornalista paulistana Renata Stuani estreia na literatura com cerca de cem poemas que versam sobre temas variados, como a condição feminina; o imaginário infantil; a religiosidade; a disparidade social e as vivências da autora em cidades por onde passou.

O Eu-lírico de Renata está sempre em metamorfose e adquire formas e personalidades distintas: muitas vezes terna e infantil, e outras, sombria e violenta. Temas clássicos, como a morte e a divindade, se mesclam a composições intimistas. A política, a psicanálise, a tecnologia e até a música pop são base para a construção de poemas de grande musicalidade, com resultados muitas vezes surpreendentes.

PARA ADQUIRIR O LIVRO OU SABER MAIS:

https://luvaeditora.com.br

Instagram: renata.stuani

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quinta-feira, 25 de abril de 2019

Fernando Vugman e o livro A invenção do monstro, por Sérgio Simka e Cida Simka

Fernando Vugman - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Meu nome é Fernando Vugman. Sou bacharel em Biologia Médica pela Faculdade de Medicina (USP), mestre e doutor em Literaturas da Língua Inglesa (UFSC). Fui professor visitante do College of Communication (The University of Texas) e do Instituto de Investigaciones Gino Germani (Univ. de Buenos Aires). Tradutor de dezenas de livros e artigos e autor de A casa sem fim (2009), Ficção e pesadelos (pós)modernos (2012) e A invenção do monstro – do golem ao zumbi (2018), pela LUVA Editora. Em coautoria, assino outros livros sobre cinema e literatura. Depois de terminar uma especialização em patologia geral (USP), passei cerca de dez anos me ocupando em variados empregos, quando fui garçom, barman, pesquisador de mercado, motorista, agente da OXFAM em aldeias Guarani, e outras ocupações de que nem me lembro mais. Filho de professores da USP de Ribeirão Preto, cresci no campus daquela universidade, que na época ficava na zona rural da cidade. Morávamos numa das casas oferecidas aos professores e suas famílias, casas grandes, com ampla varanda e jardim na frente e um quintal com espaço para um pomar variado. Em torno, fazendas de gado, café, canaviais, milharais e outras plantações. Tinha meu próprio pangaré, Brioso, antigo puxador de carroça. Ao longo da minha vida, morei nos EUA, no Canadá, em Israel e na Argentina.  Também visitei outros países, nas Américas e na Europa. Uma vida em tão variados lugares e culturas e de tão diversas experiências certamente influenciou não apenas minha visão do mundo e do ser humano, mas também a minha literatura.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o livro "A invenção do monstro". O que o motivou a escrevê-lo?

A invenção do monstro é resultado de mais de vinte e cinco anos de pesquisa. Em minha dissertação de mestrado, analisei 1984, de George Orwell, e Brasil, o filme, de Terry Gilliam, o primeiro como exemplo de texto moderno e o segundo, como uma releitura pós-moderna do livro. Foi quando comecei a estudar as relações entre o texto e imagem. Foi também quando fiz a opção de sempre fazer minhas análises dentro de uma perspectiva histórica, e abracei os Estudos Culturais, que permitem abordar seu tema a partir da combinação de diferentes quadros teóricos. No final dos anos 1990, estudei o gangster hollywoodiano, objeto do meu doutorado. Nessa investigação, recuei até a segunda metade do século XVII, quando nascem as narrativas mitológicas dos EUA, com uma estrutura e personagens que seguem basicamente inalterados até o início do século XX. Nas primeiras décadas daquele século, surge o gangster, figura sem precedentes naquela mitologia. Para entender esse novo personagem, encontrei na figura do monstro o modo mais adequado para defini-lo, por sua capacidade de colocar em questão os valores morais dominantes, quando aparece como protagonista no filme. Foi aí que ampliei minha base teórica para também incluir noções da psicanálise, da sociologia e de economia.
Desde o princípio de minhas pesquisas no campo das ciências humanas, fui movido pela necessidade não apenas de melhor compreender meu objeto de estudo, mas também entre a ficção e o mundo. Ao me concentrar na figura do monstro, observei-o dentro de um mundo em que todas as referências tradicionais se desfaziam de forma radical. O capitalismo já mostrava evidentes sinais de fracasso, como possibilidade de gerar um mundo livre e justo. Por outro lado, as utopias de cunho socialista não apenas exibiam seu fracasso nos países em que haviam sido implantadas, como se mostravam incapazes de oferecer novas alternativas. O presente havia se tornado um cenário em que as pessoas, e mesmo os países, pareciam seguir adiante sem plano ou objetivo claro, em meio a um caos crescente. Conceitos como “Estado nacional”, “progresso científico”, “família”, “masculino e feminino”, “revolução”, entre outros, se tornavam cada vez mais indefinidos e insatisfatórios. Aliado a esse processo, a determinação de identidades individuais e coletivas também se mostrava um desafio cada vez mais insuperável. Reparei que, nesse contexto, a palavra “zumbi” adquiria uma popularidade cultural e linguística cada vez maior, como um sintoma cultural. Foi então que resolvi atualizar minha investigação sobre os monstros imaginários.
O livro A invenção do monstro, portanto, começou a tomar forma com minhas pesquisas sobre esse novo monstro, bem mais “jovem” do que os vampiros, lobisomens, criaturas frankensteinianas, múmias e que tais. Sempre interessado nos processos históricos, me voltei não apenas para a evolução da representação dos monstros na cultura ocidental, mas também para a questão de como, quando e por que essa figura surgiu no nosso imaginário.  Com base em estudos antropológicos e em conceitos da filosofia da linguagem, localizei sua origem milhares de anos atrás, na forma de um mito universal, que chamei de o Mito do Monstro.
Depois de propor uma teoria para a invenção do monstro, localizei algumas características que se repetem em todas as suas representações, bem como algumas variações e seu significado, situando-as no plano cultural, psicológico e existencial. Partindo dessa base, investiguei monstros canônicos, como o golem da lenda judaica, Caliban, da peça de Shakespeare, Dr. Frankenstein e sua criatura, Drácula, Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Depois, avancei na análise de monstros mais contemporâneos, como os protagonistas de filmes como Sexta-feira 13, Halloween e O massacre da serra elétrica. E finalizei com o zumbi, desde seu aparecimento nas telas de cinema, com Zumbi branco, nos anos 1930, até a representação atual dessa criatura, que nasce com A noite dos mortos-vivos, de George A. Romero.
O grande desafio para escrever A invenção do monstro, porém, mais do que oferecer um embasamento sólido para minhas teses em áreas tão diversas da ciência, foi encontrar um estilo que fugisse do formato e do jargão acadêmico. O grande desafio, que espero ter superado, foi escrever de uma forma acessível para o leitor não especialista, um texto de leitura fluida e agradável, mesmo que fundamentado em extensos e profundos debates teóricos. Agora, somente meus eventuais leitores poderão julgar se fui bem-sucedido.

Fale-nos sobre outros livros seus.


Meu primeiro livro, A casa sem fim, reúne uma seleção de contos escritos ao longo de cerca de trinta anos. Todos os contos se passam numa casa imaginária que, a cada narrativa, fala sobre diferentes momentos na vida de seu morador, num tom às vezes onírico, às vezes, fantástico, poético e dramático. Esse livro foi meu grande laboratório, já que em cada conto exercitei diferentes estilos, do lírico ao relato cronístico, da poesia em prosa ao gênero de terror psicológico. Bastante autobiográfico, ainda guardo grande carinho por esse livro, publicado em 2009.
Meu segundo livro, Ficção e pesadelos (pós)modernos, é, na verdade, minha dissertação de mestrado. Como fiz minha pós-graduação em um programa de inglês, esse trabalho foi originalmente escrito nessa língua, e eu mesmo fiz sua tradução para o português, para sua publicação no Brasil. Seu tema central é o gradativo avanço da imagem sobre o texto como dominante social e cultural no que tem sido chamado de pós-modernidade. Nesse trabalho me aprofundo numa discussão que acabaria por oferecer subsídios para A invenção do monstro, como, por exemplo, nas implicações de o zumbi ser um monstro sem fala, cujo maior impacto vem de sua aparência, sua imagem.

Como analisa a questão da leitura no país?


O Brasil tem um povo que não lê. Essa carência tem raízes históricas, já que a coroa portuguesa somente levantou a proibição de qualquer atividade de imprensa por aqui em 1808, com a chegada da família real no Rio de Janeiro. Além disso, de lá para cá, nossas classes dominantes, de espírito escravocrata e mentalidade tacanha, relutam em criar condições de educação e leitura para a maior parte da população. Como se não bastasse, essa mesma elite econômica é profundamente ignorante e desprovida do hábito da leitura. É uma situação que explica, ao menos em parte, as muitas e recorrentes dificuldades do nosso mercado editorial, que passa por mais uma crise. Para reverter essa situação seria necessário um intenso e continuado investimento público e privado no estímulo à leitura, especialmente focado nas crianças e nos jovens.
Por outro lado, como em toda crise, novas alternativas começam a aparecer. Enquanto as grandes redes de livrarias e casas editoriais enfrentam enormes dificuldades financeiras, assiste-se a um retorno das pequenas livrarias e editoras, com novas propostas, estratégias cooperativas, como forma de barateamento da produção, divulgação e distribuição de livros, atraindo um número inédito de novos e jovens escritores, muitas vezes originários das periferias. Junto com a crise, há resistência, criatividade, inovação e desejo de transformação. Vivemos uma transição, cuja duração não se pode prever, mas cujos resultados parecem, muitas vezes, bastante promissores.

Quais são os seus próximos projetos?


No momento, meu maior investimento está na divulgação e venda de A invenção do monstro. Isso inclui as postagens da minha Página do Monstro, no Facebook, que ampliam o escopo de minhas análises sobre o monstro para além da literatura e do audiovisual, incluindo a pintura, as artes plásticas, a fotografia, as HQs e assim por diante. Tenho uma novela de viagem e uma coletânea de crônicas “na gaveta”, esperando o momento de serem retomadas e concluídas. Mas, nem sempre planejo meu próximo texto. Muitas vezes sou surpreendido pelo chamamento de um tema, que pode se colocar diante de mim de forma surpreendente e inesperada.


*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Pelos Jardins do Inferno – Plácido Rodrigues

“O inferno são os outros”, disse Sartre. O filósofo e escritor francês foi um dos maiores representantes do existencialismo, uma corrente filosófica que reflete o sentido que o homem dá a própria vida. Nessa ótica apontada pelo filósofo, os nossos projetos entrariam em conflito com os projetos que os outros fazem para a nossa vida. No entanto, ao mesmo tempo seria pelo olhar do outro que nos reconheceríamos, uma vez que com a convivência expomos nossas fraquezas, por isso os outros seriam o inferno. 

Os outros despertam em nós o “inferno” que habitamos. Contudo, devemos frisar que não é por culpa do outro que adentramos o inferno, mas pelo outro vemos aquilo que há de pior em nós, porque somos sempre responsáveis por nossas ações e suas consequências.

De que forma o ser humano resolve abrir “portões proibidos” para passear “pelos jardins do inferno”? O caminho para chegar lá pode ser variado como demonstra Plácido Rodrigues no seu livro Pelos Jardins do Inferno, publicado pela Luva Editora em 2018.

A chegada ao inferno pode ocorrer pela falta de diálogo que leva à ocorrência de crimes que usurpam a vida de um entre próximo e de outras pessoas. Também pode aparecer de modo sobrenatural em escritos tenebrosos que levam alguém a ter sua sanidade questionada e que se revela de modo assustador naquilo que foi feito contra crianças. O inferno pode surgir num relacionamento que se desfaz em meio a ofensas, agressões e verbalizações terríveis que culminam em morte.

Os personagens dos contos emergem de sua vida cotidiana para um cenário de pavor, medo, aflição, terror e escuridão. Pode ser apresentado ao leitor num campo mais imaginário ou sobrenatural, bem como pode aparecer em aspectos concretos, mais realistas e palpáveis, como a ocorrência de um crime pelas mãos humanas.

“Vendo que não havia mais nada a fazer, soltou o papel no chão ao lado da cabeça da mulher e se afastou do corpo, rastejando, deixando atrás de si uma via de sangue; queria tomar outro trago. Só mais um. O último!”

Alguns dos contos trazem ao centro da cena um casal, mostrando o inferno que há na relação. Numa interpretação mais rápida logo após a leitura, podemos crer que trata-se da desconstrução daquilo que a sociedade prega como o paraíso: depositar no outro a busca de sentido pela sua própria vida. Ora, não era isso que Sartre questionava ao dizer que “o inferno são os outros”? Se o outro é capaz de despertar as nossas fraquezas e expor o nosso lado mais cruel, numa relação afetiva (ou que pelo menos começou dessa forma) não haveria de ser diferente. 

Os personagens criados pelo autor apresentam nuances que vão se destacando com o avançar do conto. E há neles um momento em que o seu psicológico ganha um contorno mais realçado e é daí que surgem os momentos mais impactantes de todas as histórias que nos são relatadas. É a partir desses pontos que o descontrole, a falta de empatia e o terror tomam conta, exacerbando as características mais cruéis e mais obscuras dos protagonistas.

A escrita de Plácido Rodrigues é esmerada e o texto tem fluidez que leva o leitor, o conduz pelas histórias bem montadas que revelam o inferno que é a vida de cada um dos personagens criados e que protagonizam os nove contos apresentados no livro. Para cada um deles a estrada que o levará ao inferno surge por uma pessoa, pelos atos que cometeu ou pelas consequências que advém dessas ações. Pode ser que o arrependimento surja, mas não é tão fácil assim quando eles já adentram os jardins do inferno.

Nos contos estão presentes a dor, o medo, o pavor, o suspense, os mistérios humanos, o fantasma da traição – com referências literárias à Dom Casmurro e Otelo, a piedade (ou a falta dela), entre tantos outros e tenebrosos elementos que movem o humano. Sangue, corpos sofrendo algum ferimento, questões psicológicas que abalam os personagens... caminho para o inferno que eles vivem são múltiplos.

Temos bons contos nesse livro para aterrorizar o leitor.  Me surpreendi positivamente com a escrita do autor e com os sentimentos que os contos nos despertam. Vale a leitura.

Sobre o autor:

Plácido L. Rodrigues nasceu no dia 7 de maio de 1982 em São Miguel, RN, mas reside em Guarulhos, SP, desde os 2 anos. Estudou em colégios públicos, graduou-se em Letras pela UnG (Universidade Guarulhos) em 2010 e é pós-graduado em Língua Portuguesa pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Publicou seu primeiro romance, Histórias Concêntricas — O Mistério do Viúvo Maldonha, em 2012, embora o tenha escrito em 2006. Venceu um Concurso de Poesia e de Miniconto com o soneto Vida Ausente, Morte Presente em maio de 2010, na VI Jornada de Letras, um evento promovido pela universidade na qual se formou. Além de sua paixão pela leitura e escrita, tem grande afeição pela música e tenta conciliar seu tempo entre escrever, ler e estudar música, enquanto tenta manter ativo seu blog, no qual posta crônicas, contos e alguns. Leciona Língua Portuguesa e Literatura desde 2010 e já atuou na rede particular e pública de ensino. Atualmente, é professor titular na Prefeitura de São Paulo, onde já coordenou projetos de escrita criativa com alunos do Ensino Fundamental II.

Ficha Técnica

Título: Pelos Jardins do Inferno
Escritor: Plácido Rodrigues
Editora: Luva
Edição: 1ª
Número de Páginas: 180
ISBN: 978-85-93350-14-6
Ano: 2018
Assunto: Contos brasileiros

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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A insignificância do ser em Vidas Irrisórias, de Jonatan Magella

Publicado pela Luva Editora em 2018, Vidas Irrisórias, livro do escritor Jonatan Magella, tem 85 páginas e é uma das publicações que integram o projeto Incubadora de Sonhos, desenvolvido pela Luva para investir em autores da baixada fluminense.

Trata-se de um livro de contos que coloca o leitor em contato com personagens que vivem nas periferias cariocas, mas que se pode ver em quaisquer periferias por todo o Brasil. Os contos presentes na obra revelam histórias intrigantes e que expõe facetas humanas. Ora nos assustam, ora nos trazem reflexões, ora nos perturbam por sabermos que o que ali está contado (embora seja um texto ficcional) é vivido por muitos e muitos e muitos e muitos brasileiros. 

É da noção da irrelevância da vida, sobre amplos aspectos, que surge a constituição da história de cada personagem que há presente no livro. Quando notamos que a vida é irrisória tomamos ações diferentes, de acordo com a personalidade de cada um, ou talvez da formação cultural, que não podemos negar, nos influencia. Algumas pessoas, ao ter a noção de sua irrelevância agem com ferocidade, outras seguem de maneira tranquila, reforçando sua invisibilidade diante dos outros, e há aqueles que tendem a buscar alguma transformação, por menor que possa parecer (ou de seu íntimo ou dos que estão a seu redor).

A marginalidade que toma conta do indivíduo, o abuso sexual infantil, a violência que ronda jovens de dezesseis anos e aterroriza professores, o erro que leva a mortes e causa uma falsa sensação de justiça, o confronto que parece inevitável, mas que torna-se um encontro. O som alto que é para divertir, mas incomoda, o desejo de melhorar de vida, a presença ainda real do analfabetismo. Todos esses são assuntos que são tratados nos contos de Magella.

Os acontecimentos podem parecer “naturais” (grifo meu) quando devem despertar em nós indignação: “Morreram três essa noite...”. O conto do qual esse trecho foi tirado e que leva o mesmo nome é um exemplo disso. A vida do outro ganha insignificância diante do desejo cotidiano de poder ir embora mais cedo de um lugar que, era para ser visto como algo bom. Quer ir embora dali, demonstra algo além do simples fato de ir embora. De tão corriqueiro que é o acontecimento, a vontade única e exclusivamente individual se sobrepõe a dor, que mais do que a expressão da dor individual, demonstra a veemência da violência que toma conta de uma sociedade.

Os temas são contundentes, como o do trabalho escravo fazendo contraponto com as brincadeiras de crianças. E há ainda a história de um homem que faz favores para se livrar de remorsos, o que o leva a ver a morte como um alívio, uma oportunidade de que agora possa viver mais para si.

Percebemos que os personagens que aparecem nos contos tem de lidar com a insignificância. Ou suas vidas não tem valor ou, para eles, a vida dos outros não tem valor. Aqui temos um aspecto importante para reflexão do leitor. O fato de olharem para o outro como insignificantes, por vezes não acontece de forma premeditada. Essa visão que os humanos tem em relação ao outro, muitas vezes se dá pelo ambiente no qual está inserido, pela vida rota e pela cultura de uma sociedade que valoriza o “eu”, a individualidade, o cuidar do próprio umbigo. No entanto, há que se frisar que a vida irrisória que levam também advém do ambiente, da condição social e econômica, da cultura e até de aspectos pessoais, traços próprios da formação da personalidade do indivíduo.

Os contos tem um ar de crônica, pois vemos neles a percepção aguçada de quem traça fatos cotidianos, que observa gente comum com situações das mais diversas pelas quais passam. Fatos e sentimentos que permeiam a vida de gente simples e que revelam o lado demasiadamente humano. 

Mesmo quando há uma tinta forte na ficção que nos é contada, Jonatan Magella consegue transmitir a humanidade de seus personagens, com suas mazelas, anseios e visões acerca da vida. E também traz ao texto a provocação da reflexão para o que se vive nas periferias e na sociedade como um todo.

O livro conta ainda com fotos de Gabriel Daras Lourenço. Fotos que realçam o clima da obra e que causam impacto.

Vidas Irrisórias traz personagens que vivem seu mundo, como todos nós. Neles estão a insignificância ou o poder de serem quem são. Suas vidas podem parecer irrisórias para quem não os vê, mas eles demonstram uma vida como a de muitas pessoas reais. Passam despercebidos pela maioria, como se tivessem vivendo num mundo paralelo. Suas dores, lamentos, aflições recebem a indiferença. São irrisórias. Mas também, pelo seu olhar a vida dos outros se tornam insignificantes. Fica a mensagem. Recomendo a leitura.

Sobre o autor

Jonatan Magella é escritor, roteirista, dramaturgo e professor de História pós-graduado em relações étnico-raciais. Publicou a novela Tempo Severo em 2017. Colaborou por anos nos portais Baixada Fácil e O Melhor da Baixada, como cronista dominical. Venceu Festival de esquetes FAMA com o melhor texto de dramaturgia. Atualmente ministra oficinas de escrita criativa no SESC Madureira, integra o Núcleo de Dramaturgia do SESI.

Ficha Técnica

Título: Vidas Irrisórias
Escritor: Jonatan Magella
Editora: Luva
Edição: 1ª
Número de Páginas: 85
ISBN: 978-85-93359-12-2
Ano: 2018
Assunto: Contos brasileiros

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sábado, 6 de outubro de 2018

A Balada do Esquecido – Thiago Kuerques

“Somos excluídos o tempo inteiro. Se for pobre, preto, mulher, gay, gordo, deficiente, muito alto, muito baixo, será excluído. A gente pode andar na boa na rua? Claro que não. E nos fazem acreditar que tudo isso está certo. Existem vários lugares que só é tranquilo se entrarmos pela porta dos fundos para arrumar a privada que tá entupida, para vestir o uniforme para servir. É certo a gente ser o que querem que a gente seja? É certo tirarem a nossa liberdade?”

A Balada do Esquecido, livro de Thiago Kuerques, foi publicado pela Editora Luva em 2018. ano.

A memória é o cofre em que guardamos todas as emoções vividas. Depositamos nela os nossos anseios, desejos, as recordações de um passado próximo ou muito distante. Seja esse pretérito repleto de momentos felizes ou de tristezas infinitas, a memória está ali; pronta e disponível. Na hora em que quisermos podemos recorrer a ela e reativar as impressões sobre os momentos pelos quais passamos e tudo que sentimos.

Nuno, o protagonista do livro de Thiago, perdeu a memória, portanto o passado aparece como um vácuo, a ser preenchido. Ele fora baleado (não se sabe por quem) e acordou no Uruguai, ao lado de uma mulher misteriosa a quem ele chama de Flor. E, com ela, utilizando-se de uma fita k-7 e das músicas que estão gravadas nela (tal qual deveria estar o seu passado na memória), Nuno tenta recompor a sua história.

Para além da questão da busca pelo seu passado, vem a tona na vida de Nuno, questões que suscitam reflexões. Nuno é músico, negro, nascido numa família de poucos recursos financeiros. Da sua mente ressoam imagens típicas de grandes (e pequenas) cidades. Cenas com as quais temos que lidar no cotidiano. Ou lidamos com isso porque vivenciamos ou lidamos com tais fatos ao vê-los narrados nos noticiários. Violência, intervenção militar, questões políticas que nos levam a indagar sobre a semelhança com a ditadura. Por vezes, Nuno foi abordado em batidas policiais, pela sua cor, pela sua condição social. O personagem enfrentou dilemas de uma sociedade em que os excluídos travam uma luta insana pela sobrevivência, ou por vezes é conduzido por alguém.

“Atestamos nossa falência, não só como sociedade, mas como indivíduos. Começamos nos destruindo, uma sabotagem imposta a nós mesmos, e contagiamos como uma praga a todos os outros próximos.”

Recordações sobre a morte de sua mãe surgem na mente de Nuno. Nós, leitores, saberemos também sobre relatos de outros abusos sofridos por mulheres na trama. Há ainda um mistério na vida de Nuno. Algo de que ele não lembra, mas que dizem a ele: Nuno teria matado a sua própria irmã.

Ao mesmo tempo que temos a contundência da crítica social e política, temos no personagem uma leveza que se caracteriza pela musicalidade que expressa, pelas canções que ouviu por meio da voz de outros artistas e também da sua própria voz. A trama apresenta inúmeras citações de canções brasileiras e internacionais. A música dita a sequência de flashes que o protagonista tem sobre sua vida. Elas embalam suas recordações. A música também nos conecta com o efeito afetivo.

Nuno é um personagem que tem um ar de simplicidade, muito parecido com muita gente real que conhecemos, no entanto ele carrega uma complexidade que emana justamente da sua vida. A personagem feminina que o acompanha, provoca sua mente, faz aflorar desejos e faz aflorar suas impressões sobre a vida e sobre si mesmo.

A esquizofrenia é mencionada, o que nos leva a crer que Nuno talvez esteja lidando com a doença. Flor seria fruto de sua imaginação? Seria ela e as músicas a leveza que ele busca para enfrentar a posição amarga que tem que assumir na sociedade?

A Balada do Esquecido surpreendeu-me positivamente pela narrativa fluída, pela forma perspicaz com que o autor aborda temas sociais e políticos dentro do contexto de sua criação, pelas palavras bem colocadas. As críticas que notamos e que nos levam à reflexão não estão na obra por acaso, elas tem coerência com tudo que está sendo contado, com as agruras pelas quais os personagens tem de passar, pelo passado que eles possuem e com o qual precisam lidar.

A publicação faz parte do projeto Incubadora de Sonhos, lançado pela  Luva Editora. A inciativa visa promover novos talentos da literatura da Baixada Fluminense – Rio de Janeiro. Todo o lucro arrecadado com a venda dos livros será revertido para investimentos em novas publicações. 

Sobre o autor:

Thiago Kuerques, escritor iguaçuano, nascido em 1985, é contista, cronista, poeta e turismólogo. Foi premiado em concursos de poesia em Nilópolis (Nilópolis Square, 2001). Nos anos de 2014, 2016 e 2017 foi finalista no Prêmio Baixada do Fórum Cultural da Baixada Fluminense na categoria literatura. Em 2017 realizou um circuito de palestras nas Bibliotecas Comunitárias de Nova Iguaçu através da rede Baixada Literária. Também realizou Prosa de Oficina na Biblioteca Cial Brito, em Nova Iguaçu, em parceria do escritor Jonatan Magella. Possui canal no Youtube (Canal do Kuerques) para falar sobre literatura. Ministra palestras sobre literatura, turismo literário, valorização das raízes e de territórios.

Ficha Técnica:

Título: A Balada do Esquecido
Escritor: Thiago Kuerques
Editora: Luva
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-93350-13-9
Número de Páginas: 96
Ano: 2018
Assunto: Literatura brasileira


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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Autor mineiro Duílio Souza lança seu primeiro livro solo

A literatura nacional de ficção está ganhando cada vez mais força no país e descobrindo novos autores que apresentam cenários fantásticos e, nos aproximam da história, ambientando-as no Brasil. Esse é o caso do livro Sangue Real, que narra a batalha entre vampiros e lobisomens sob a óptica de um garoto morador de uma comunidade em Belo Horizonte. O livro é de autoria de Duílio Souza e será publicado em setembro pela Luva Editora. 
O autor tem 38 anos, é cirurgião de cabeça e pescoço e nasceu em Diamantina, Minas Gerais, mas atualmente reside em Belo Horizonte, onde mora com sua esposa e seus dois filhos. A agitada rotina dentro do centro cirúrgico não o impediu de iniciar sua carreira como autor em 2018 e, além de Sangue Real, seu primeiro livro solo, ele está publicando contos em três antologias “As faces do Horror, pela editora Illuminare, “Eles estão entre nós”, pela editora The Books e “Apocalipse”, pela editora Rico.

As antologias “Eles estão entre nós” e “Apocalipse” foram lançadas na Bienal Internacional do Livro 2018 e apresentam contos de diversos autores nacionais. 
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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Márcia Medeiros e o livro "A idade média narrada por um vampiro"


SOBRE O LIVRO:
Boa noite caros senhores, boa noite caras senhoras. Permitam-me que eu me apresente. Chamo-me Demétrius e sou tão velho quanto me lembro de ser. Demétrius somente. Esqueci o resto do meu nome nas areias de um tempo muito antigo. Eu vi o Império Romano arrojar-se em sua queda e vi a sua destruição. Vi o grande imperador Carlos Magno tornar-se um senhor coroado por um manto de estrelas. Querem saber mais sobre mim? Ouçam a minha história! Eu irei lhes contar a verdadeira história da Idade Média... Coisas que só um vampiro poderia saber.

SOBRE A AUTORA:
Márcia Medeiros é historiadora e professora universitária há 21 anos. Apaixonada por literatura fez doutorado em Letras. Em sua tese estudou romances de cavalaria. Sua especialidade é a História Medieval. É fã de jogos de RPG, principalmente Vampiro – Idade das Trevas. É colunista do site Culturograma onde escreve semanalmente sobre literatura e leitura literária e em breve fará estreia também como colunista em um novo site (mas esse projeto ainda é uma surpresa!)

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Marcia Medeiros: Eu gosto muito de literatura e desde a minha infância os textos literários fizeram parte da minha vida. Sou uma leitora contumaz e vou já percorri desde os clássicos da literatura universal (Homero, Virgílio, Dante Alighieri) até Stephen King. Comecei escrevendo alguns textos na minha página no Facebook, coisas sem muito compromisso: pequenas crônicas, poesias... Até que um dia resolvi iniciar um blog. Mas o tempo ficou curto e depois de um ano tive que deixar as postagens de lado. No entanto, a vontade de escrever nunca me abandonou. Foi aí que nasceu A idade média narrada por um vampiro.

Conexão Literatura: Você é autora do livro “A idade média narrada por um vampiro” (Luva Editora). Poderia comentar?

Márcia Medeiros: O livro conta a história da idade média através dos olhos de um vampiro chamado Demétrius. Ele não tem mais ideia de quantos anos tem, mas sabe que foi abraçado no final do Império Romano, quando o cristianismo chegou a Roma. Demétrius é um vampiro meio maluco e vê o mundo através de uma série de peculiaridades. No livro ele relata como a idade média teve seu início na Europa Ocidental; explica o que são as heresias; fala sobre personagens do universo medieval como Santo Agostinho e Bento de Núrsia; e vive uma aventura ao lado de seus amigos Bardanus, Tarim e Anatoli na corte de Átila, o Huno. Ah! Ele tem também um animalzinho de estimação, chamado Porconius Suinus Anonius. Demétrius precisa protegê-lo, do contrário não alcançará um dos seus maiores objetivos, que é ter um mortal que lhe preste serviços, assim como todos os outros vampiros tem.

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?

Márcia Medeiros: Eu sou especialista em história medieval, ministrei aulas sobre o tema durante pelo menos 10 anos da minha carreira.  Na minha tese de doutorado estudei romances de cavalaria, por mais 2 anos e meio. Também joguei muito o RPG Vampiro – Idade das Trevas. Então, tenho conhecimento sobre o universo da idade média, devido a várias leituras sobre o assunto. Comecei o livro em janeiro de 2016 e concluí sua escrita 5 meses depois.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do qual você acha especial em seu livro?

Márcia Medeiros:  Acho que o trecho mais especial do livro para mim é quando Demétrius visita a corte de Átila, o Huno. Ele e seus amigos devem descobrir se Átila é ou não um vampiro, pois as ações que ele vem promovendo trazem um grande desequilíbrio ao universo do medievo o qual precisa ser restabelecido. Então, Demétrius conversa pessoalmente com Átila e apronta grandes confusões na corte!

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir um exemplar do seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho?

Márcia Medeiros: O livro está disponível no site da Luva Editora (Clique aqui.) pelo valor de 26,90 mais frete. A Luva envia para todo Brasil e também para o exterior.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Márcia Medeiros: Sim. Até outubro de 2018 devemos lançar também pelo selo Luva Editora, o volume 2 de A idade média narrada por um vampiro. Este projeto prevê uma trilogia, sendo que o último volume deverá sair em 2019. Depois pretendo escrever uma aventura solo sobre Anatoli. Vocês estão sabendo desse projeto em primeira mão. O livro se chamará Anatoli: O Cavaleiro Vampiro e terá um estilo bem diferente do que os leitores de A idade média narrada por um vampiro estão acostumados a ler.

Perguntas rápidas:

Um livro: Drácula de Bram Stoker
Um (a) autor (a):  Ferenc Molnar
Um ator ou atriz: Al Pacino
Um filme: 2001: uma odisseia no espaço
Um dia especial: O lançamento de A idade média narrada por um vampiro em novembro de 2017.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?


Márcia Medeiros: Eu agradeço muito a vocês pela oportunidade de divulgar meu trabalho. Gostaria de deixar minha página no Facebook https://www.facebook.com/medeirosmarciamaria. Aqui disponibilizo alguns links para leitura gratuita de meus livros e contos e também promovo alguns sorteios de obras literárias. Desejo muito sucesso para vocês e obrigada mais uma vez!
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