Lançamento de foguete ao espaço pela Empresa SpaceX: com ela e mais meia dúzias de poderosos fabricantes de foguetes, espera-se atingir Marte... e além |
“As forças armadas se reuniram em Ostrogod, à beira do Mar Negro, a Leste, e no Estreito de Gibraltar, a Oeste. Lançaram-se os primeiros e últimos mísseis termonucleares. Alguns foram eliminados, pela ação dos lasers em órbita da Terra e pelos mísseis antimísseis dos lados Ocidental e Oriental. Porém, muitos passaram pela cortina defensiva, e destruíram, primeiro, as forças bélicas de ambos os lados e, depois, as capitais de todas as cidades do mundo. A seguir, lançaram-se armas nucleares de menor poder destrutivo, as táticas. Acabaram com o restante de civilização que ainda havia, no mundo dito civilizado.”
Fazia
calor. Um mormaço abrasador de trinta e dois graus e um céu de brigadeiro,
azul, com rolos de nuvens flamejantes. O Sol estava sempre oculto pelas nuvens,
como se quisesse se esconder, se iludindo de repente ao perceber o quanto a
Humanidade o odiava. O resto dos seres humanos odiavam o Sol, o ar, a terra, o
mar, a água dos rios e lagos. O ar radioativo matava e isso fora alertado,
antes da Época do Massacre.
Analisando-se
o problema de outra forma, porém, erigira-se, entre os escombros da Cidade do
México, a mais populosa que houvera em qualquer época, uma estátua de Jesus
Cristo. Os que estavam em um raio de cem metros de distância da construção
podiam viver. Fora do raio de alcance dela, estava-se por sua própria conta e
risco.
As
refinarias haviam sido destruídas pelos mísseis nucleares táticos. Então,
acabara-se com os Séculos dos Veículos, como foram chamados os séculos XX e
XXI. Não havia navios, pois, sem combustível, eles não podiam mais navegar. Era
também óbvio que todo meio de transporte, mesmo os impulsionados por um sistema
elétrico de tração, foram eliminados da jogada. As usinas hidrelétricas, as
termelétricas e nucleares haviam sido alvos preferidos dos lados Oriental e
Ocidental, em seguida aos alvos militares.
Tudo
fora pensado. A falta de dinheiro redundou no sistema mais óbvio que se podia
pensar, para restabelecer a paz mundial, o sistema de troca de mercadorias. Mas
o homem, ambicioso, dava valor ao que era seu e não ao que era valioso para
outros. Um sistema de som profissional que custava dez mil reais passara a
valer duzentos reais ou menos, em comida.
Porém,
ninguém pensou que a radiação mataria o solo e, com isso, as sementes. Não existiam
suprimentos, após meio ano e, com a fome, veio o barbarismo. Grupos de bandidos
delinquentes resolveram aplacar a dor da fome por meio do canibalismo. Aos
poucos, os que foram bem vistos pela antiga civilização se juntaram a tais
grupos.
Você
poderia pensar que isso acabaria com os seres humanos. Na verdade, antes de se
devorarem, foi organizada, no mundo inteiro, a caça às espécies animais e
vegetais que podiam ser comestíveis. Todos invadiram as florestas que restaram,
em busca de fauna e flora que pudesse ser destrinchada e devorada. Bastou cinco
dias para os que enviaram noventa por cento dos integrantes dos grupos
selvagens percebessem que ninguém voltaria, jamais. Havia alguma coisa entre as
árvores, que impedira os homens, mulheres e crianças de voltarem com vida.
Decretou-se
Estado de Calamidade. Dez por cento da Humanidade sobrara. Caçaram-se uns aos
outros. O homem devorava o homem, até mesmo de forma crua e bárbara! A fome
continuava. Ninguém sabia no que a Terra se transformaria, após o último homem
ser extinto. Mas a radiação dera fim nos últimos dez homens, mulheres e
crianças que haviam restado. Todos adoeceram, seus órgãos internos apodrecendo,
sob a dose letal que precipitava e se espalhava pela crosta terrestre. Os que
se esconderam em “bunkers” mataram-se uns aos outros. Isso foi novidade.
Sob
as Montanhas Rochosas e sob o Himalaia, os figurões dos governos dos Estados
Unidos e Rússia viviam da noite para o dia, sabendo que, uma hora, as provisões
lá estocadas acabar-se-iam. Mas algo se infiltrara até mesmo a dez quilômetros
de profundidade e ordenara que os dirigentes mundiais se aniquilassem. No
“bunker” do Ocidente, detonou-se no Comando do NORAD uma bomba de cem megatons
de potência. O solo tremeu. A terra afundou um pouco. Mas no Oriente as coisas
foram trágicas. Lutou-se pelos mantimentos protegidos por guardas dos Exércitos
da China, Rússia e Coreia do Norte. A carnificina que sobreveio não pode ser
contida. À base de mordidas, socos e pontapés, mataram-se milhares. As
crianças... foram as primeiras a serem trucidadas. Depois, as mulheres. Os
homens formaram quadrilhas para roubar comida e matar para devorar. As
hortaliças, crescendo em soluções hidropônicas, foram arrancadas de seus nichos
e o caos imperou. Carne foi jogada entre as multidões das cavernas de aço e
sangue correu. Quem tinha uma faca, estava em vantagem, pois disparara-se toda
munição que se achara, até que, nos níveis inferiores, onde havia a maior parte
das munições e armas de combate, algo se misturara à atmosfera. Atuando no
cérebro dos homens, impedira que alguém descesse.
Era
como se a única forma de se destruir fosse pelo canibalismo.
Mas
uma única e numerosa família sobreviveu, nas praias do litoral Sul do Estado de
São Paulo, em um país chamado Brasil. Ninguém dera a mínima por esse grande e
pobre país, pois dele não se podia confiar em ninguém, em políticos, nos
empresários, no clero, nos cientistas e no povo em geral. Era uma das nações
que se supunha não poder sobreviver por si mesma, então, não se gastara mísseis
balísticos nas capitais do país. A única coisa que havia em comum com o resto
do mundo era o canibalismo e os efeitos dos ventos radioativos, que sopravam do
Golfo do México e do Oceano Atlântico.
Essa
família cresceu em meio à radiação, sem ser afetada por ela. Cresceu. Houve
vários desentendimentos e dos cinquenta membros, vinte partiram para o Sul,
Centro-Oeste, Norte e Leste. A maior parte continuou na Praia Grande, onde tinham
vivido, até então. Construíram casamatas, onde se abrigariam, caso houvesse
ameaças. Armaram-se com fuzis militares e toda sorte de munição e peças de
artilharia. Sabiam pilotar caças de guerra. Armazenaram milhões de galões de
gasolina e querosene para os aviões e reformaram automóveis de todos os tipos.
Formaram uma sociedade completa. Atingiram mil integrantes em um ano.
Determinados a sobreviver e lembrando-se da vida luxuosa que tiveram,
reconstruíram suas moradias. Inaugurou-se um centro para estudar os efeitos da
entidade que impedia que os homens dos outros países de lutarem com armas de
fogo.
Um
vírus, se é que se podia chamá-lo desse modo, controlava a mente do ser humano.
Levara à catástrofe nuclear e ao canibalismo. Quanto mais se matava desse modo,
mais ele se reproduzia. Isolou-se tal entidade e fizera-se experiências com
ele. Era fácil destruí-lo. Podia-se dar cabo dele com água e sabão, ou com
desinfetantes, álcool, gasolina, qualquer líquido que pulverizasse as moléculas
que o formavam.
“Sou
quem lhes conta esse relato fantástico. Mesmo que somente uma fração da Humanidade
tenha restado, nossa genética foi mais forte... Ninguém tem o direito de dizer
que não tentamos. Agora, nossa meta é colonizar a Lua. Temos uma plataforma
pronta, de onde subirá um foguete de vinte estágios, em que dez deles levará
astronautas à Lua e os outros dez estágios conduzirá o homem para Marte.
Terraformar-se-á o planeta vermelho e alcançaremos Júpiter, Saturno, Urano...
atingiremos em dez mil anos o restante da Via Láctea.
O
Destino do Homem está em suas próprias mãos.
O
Destino da Humanidade está em sua mente, suas emoções e sua bravura.
Um
viva aos que sobrevivem e sobreviverão!