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terça-feira, 12 de setembro de 2023

LANÇAMENTO LITERÁRIO - Bívio e a matemática lírica

Fred Caju - Foto divulgação

O título do livro, segundo o Aurélio, quer dizer lugar em que há duas vias, ou do qual partem, ou ao qual chegam dois caminhos.  Se desenhada, a palavra Bívio (Cepe Editora) - título do novo livro de poesias de Fred Caju - resulta nos sinais bipartidos 'maior que' e 'menor que' da matemática, uma situação de desigualdade entre os números. Nesta publicação, eis os algarismos que a definem: 108 páginas, divididas em Livro I e Livro II, 21 poemas e 40 versos em cada um deles. A obra será lançada dia 15 de setembro, às 19h, na Livraria Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro, com direito a bate-papo com o autor, mediado pela professora de Literatura da UFRJ, Luciana Di Leone.

Diz a editora-assistente da Cepe, Gianni Gianni, na sinopse: "Nesta lírica amorosa, que se debruça muitas vezes sobre questões cotidianas, Fred Caju recorre a essa imagem dual – tanto na estrutura do texto quanto nos seus assuntos – para compor o seu próprio Bívio."

Mal sobrava tempo/ pra cuidar das suas/ velhas cicatrizes/ e novas feridas/ que você — felina —/ já se colocava/ pronta pra batalha:/ de navalha aberta/ e pés serelepes,/ com sua habilidade/ de rasgar as sombras/ com a luz sagitária/ do seu peito exposto/pelas ruas do mundo./ Você, barco a vela,/ disco-voador,/ submarino amarelo,/ metrô, bicicleta;/ seguia pra bem longe/ sem se importar como.

Amor, água, barcos, natureza, urbanidade e literatura são referências do conteúdo poético. Na estrutura, a quadratura do objeto livro é inescapável ao autor, que vê nela uma aliada de sua escrita, menos na rima do que na métrica. "Com o tempo, passei a usar métricas visuais, contar caracteres de cada linha e pensar sempre na quantidade de versos ou estrofes de cada poema, como se fosse uma métrica vertical", declara o editor e artesão da Castanha Mecânica, autor de mais de 20 títulos. Entre eles, Nada consta (Cepe Editora, 2018), vencedor do então Prêmio Pernambuco de Literatura, atual Prêmio Hermilo Borba Filho. 

Despetalei guirlandas/quando setembro veio/dançar no calendário./

Demos à brisa aval/pra virar vendaval/e impiedosamente/varrer as peripécias/que escrevemos nas folhas/onde nós misturávamos/nomes em anagramas./Isso quando sobrava/espaço nas centenas de partidas de jogo-da-velha que empatávamos,/eu sempre usava xis/e tu repetias bola.

Não sei se isso também/te coloca em alerta,/mas notei o quanto um xis/pode ser alarmante.

Em Bívio aparecem mais elementos de prosa que seu O Revide das Pequenas Maldades (Castanha Mecânica, 2017), única coletânea de contos do autor pernambucano. O brincante da matemática interna das palavras se diverte com a quebra do verso e da normatividade da separação silábica. O contexto é político, de não dizer 'sim, senhor' à língua portuguesa. "É o idioma do colonizador que se firmou com o etnocídio dos povos originários", lembra o poeta. 

Que força é esta/ que exige a carne/ dura, a armadura,/ a arma na agulha,/ o corpo hirto,/ os ossos para fora/ da pele, os olhos/ secos e a palavra/ sempre grave dentro/ da boca. Que força é/ esta que nunca me/ habitou — me diga?/ Falhei mil ilhas,/ errei outros tantos/ oceanos e não sei.

Serviço

Lançamento do livro Bívio (Cepe Editora)

Quando: 15 de setembro

Onde: Livraria Travessa de Ipanema - Rio de Janeiro

Horário: 19h

Preço do livro: R$ 35 

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segunda-feira, 20 de março de 2023

Obra clássica sobre cangaceirismo ganha nova edição pela Cepe

 


Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil é um livro que não pode faltar na estante de leitores interessados no tema do cangaceirismo. O título é de autoria do pesquisador Frederico Pernambucano de Mello, que faz um estudo detalhado do cangaço à luz do poder, da estética e da mística em volta desse período da história. Foi publicado pela primeira vez em 1985, estava esgotado e chega à 6ª edição pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O lançamento será nesta quinta-feira (23/03), às 19h, na Academia Pernambucana de Letras, localizada no bairro das Graças, Zona Norte do Recife.


Advogado de formação, Frederico Pernambucano de Mello é referência em estudos sobre o cangaço e Guerreiros do Sol é considerado um clássico nessa temática. O livro tem 544 páginas, ricamente ilustrado e ancorado numa extensa pesquisa realizada em jornais, na poesia sertaneja, em documentação histórica e em depoimentos escritos e orais. Segundo ele, a nova edição traz poucos acréscimos. “O que predomina é a purificação dos dados, dever interminável de quem escreve”, declara o escritor.


No livro, ele traça um panorama do homem sertanejo, descreve a violência instalada no país, analisa as formas de cangaço e ressalta a teoria do escudo ético, argumento da vingança usado por cangaceiros para exercer a bandidagem. “Com a franqueza e a ausência de inveja com que procuro me pautar, digo que, sem sombra de dúvida, a teoria do escudo ético, de Frederico Pernambucano, foi a única que, até o dia de hoje, me pareceu convincente: foi a única que explicou a mim próprio os sentimentos contraditórios de admiração e repulsa que sinto diante dos cangaceiros”, disse, sobre essa teoria, o escritor Ariano Suassuna.


Lampião e Maria Bonita em Sergipe. Cena do filme de Benjamin Abrahão. Cortesia da Aba-Film, CE


O mais famoso dos cangaceiros, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938), justificava sua entrada no cangaço como vingança pela morte do pai e prometia retaliações contra José Saturnino e José Lucena de Albuquerque Maranhão, a quem responsabilizava pela vida que levava. “Curiosamente, a propósitos tão firmados e melhor alardeados não se seguiam ações de mesma intensidade. Pode-se mesmo conjecturar que Lampião jamais tentou sinceramente destruir os seus dois grandes inimigos”, relata o pesquisador em uma das passagens da obra.


Frederico Pernambucano analisa as figuras do cangaceiro, jagunço, pistoleiro, capanga, cabra e valentão. “O cangaceiro mostra não ter sido fenômeno homogêneo, divergindo segundo a motivação que levava o indivíduo a tomar armas, bem assim pela conduta adotada”, destaca. Assim, ele identifica o cangaço como meio de vida (Lampião e Antônio Silvino são os principais representantes), o cangaço como instrumento de vingança (Jesuíno Brilhante e Sinhô Pereira são os grandes exemplos) e o cangaço como refúgio (Ângelo Roque é o mais expressivo).


Elogiado por pesquisadores nacionais e estrangeiros, como o sociólogo Gilberto Freyre e Billy Jaynes Chandler (escritor norte-americano com livros lançados sobre o cangaço brasileiro), Guerreiros do Sol é o resultado de uma vida dedicada à pesquisa. “Seguindo Gilberto Freyre, com quem trabalhei por quinze anos na Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, vali-me da mais aberta pluralidade de fontes, das mais carrancudas, cartório etc, às mais insuspeitadas, sem desprezar a poesia dos cantadores e os folhetos ditos de cordel, como os anúncios de jornal, sempre uma fonte purificando a outra”, diz Frederico Pernambucano.


Num texto publicado na 5ª edição (Selo A Girafa/SP, 2013), Evaldo Cabral de Mello, tido como um dos maiores historiadores do Brasil, define Guerreiros do Sol como “o mais abrangente e profundo estudo do cangaceirismo, tema sobre o qual muito já se escreveu, mas que só este livro aborda desde uma variedade de ângulos que vão do seu condicionamento socioeconômico pelo ciclo do gado à análise do arcaísmo cultural em que seus comportamentos deitam raízes, e ao acobertamento ético que habilita o cangaceiro a justificar o uso sistemático da violência perante si mesmo e perante a sociedade.”



Entrevista com Frederico Pernambucano de Mello


Pergunta - Queria que o senhor definisse em poucas linhas o que é fazer-se cangaceiro.


Frederico Pernambucano - Fazer-se cangaceiro era protagonizar uma tradição brasileira de insurgência coletiva, rural, armada e metarracial, essa última característica significando que se podia ascender na hierarquia dos bandos de cangaceiros independentemente do tipo racial a que se pertencesse. Lampião era caboclo; Corisco, louro dos olhos claros; Luiz Pedro, Candeeiro e Elétrico, sararás; Zé Baiano, negro; Zé Sereno, negroide; Cobra Verde, moçárabe; Gato e Peitica, índios quase puros; Maria Bonita, alva; Dadá, mulata; Inacinha, índia.


Pergunta - O que o senhor destaca como a grande contribuição do livro para as pessoas interessadas neste período da história?


Frederico Pernambucano - O livro salienta a existência de dois Nordestes, o da agricultura de exportação, à frente a cana-de-açúcar, e o da pecuária, o ciclo do gado e do couro. Dois mundos, duas sociedades, dois homens, duas formas de motivação e exteriorização da violência, presente em ambos. Salienta, individualiza e conceitua os protagonistas dessa violência: o cabra, o capanga, o "matador de pé de pau" ou pistoleiro, o jagunço e o cangaceiro. Há ainda a salientar no livro uma teoria proposta e hoje adotada em geral, a do "escudo ético". Em essência, a narrativa adotada pelo fora da lei logo que vai ficando famoso, destinada a lhe justificar a conduta. Afinal, coragem, bravura e audácia produziam simpatia no universo rural, contudo, para a imortalização pela poesia de gesta era necessária uma justificativa moral compreensível.


Pergunta - O livro lançado em 1985 é o resultado de um extenso trabalho de pesquisa em documentação histórica, jornais, depoimentos orais e escritos e em poesia sertaneja. Quanto tempo o senhor levou para fazer esse levantamento?


Frederico Pernambucano - Há um tempo de vivência e de convivência que cobre a vida inteira do observador, notadamente os verdes anos, tempo em que pude estar com muitos remanescentes do ciclo histórico do cangaço, em andanças intermináveis pelo Sertão. Dos remanescentes, quem mais me ajudou foi Miguel Feitosa Lima, o cangaceiro Medalha, que andou com Lampião de 1921 a 1925, de quem findei me tornando "afilhado de fogueira", instituição sertaneja hoje em desuso. E há o tempo sistemático de pesquisa, desenvolvido, no meu caso, sobre o cabedal de vivências mencionadas acima. Nesse segundo domínio, levei cerca de dez anos, gastando saliva em entrevistas e comendo poeira em arquivos.



Serviço


O que: Lançamento do livro Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil, em evento aberto ao público


Quando: 23 de março


Local: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife)


Hora: 19h


Preço: R$ 80 (impresso) e R$ 32 (e-book)

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sexta-feira, 4 de junho de 2021

Livro da Cepe analisa discursos de ódio na internet


Em Nós versus eles, editado pela Cepe, a doutora em Linguística Mércia Regina Santana Flannery pensa nas consequências da linguagem de preconceito disseminadas nas redes sociais

 Nos debates e conversas virtuais da atualidade, o diálogo diminui à medida que os discursos de ódio e preconceito aumentam exponencialmente. A julgar por comentários na imprensa e redes sociais, o brasileiro passou do estereótipo de cordial para o de intolerante e autoritário. A narrativa que impera em fóruns de discussões online é de racismo, xenofobia, polarizações políticas, intolerância religiosa, homofobia e machismo. Uma análise crítica e profunda dessas narrativas está presente no livro editado pela Cepe, Nós versus eles - discurso discriminatório, preconceito e linguagem agressiva na comunicação digital no Brasil, escrito pela professora e doutora em Linguística, com especialização em Sociolinguística e Análise da Narrativa Oral pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, Mércia Regina Santana Flannery. A obra será lançada dia 8 de junho, às 19h, em live no canal da Cepe Editora no YouTube, com participação da autora, dos linguistas Antonio José e Kleber Silva, e mediação da repórter especial da Revista Continente (Cepe), Débora Nascimento.

"As análises linguísticas de textos e comentários da internet feitas por Mércia Flannery são um caminho para tentarmos compreender o cenário da intolerância no Brasil atual. O livro ressalta como, mais do que nunca, é essencial desarmar, inclusive no campo da linguagem, os preconceitos, discursos de ódio e violências que invadem o campo dos debates, das conversas e da vida cotidiana, seja no ambiente virtual ou não", declara o editor da Cepe, Diogo Guedes. 

Com 304 páginas divididas em 13 capítulos, o livro traz enxertos de comentários de internautas (sob anonimato) para esmiuçar seus discursos e, dessa forma, mostrar ao leitor como a linguagem agressiva age no ambiente virtual para, quem sabe, fazer com que seja neutralizada. Uma das maiores características apontadas é a tendência à polarização. Segundo Mércia, essa tendência existe tanto no discurso político, quanto público e midiático. "Qualquer tema, pode-se afirmar, tem o potencial de causar pequenas batalhas ideológicas, que fazem as pessoas se esquecerem de que, possivelmente, têm mais em comum do que imaginam. Este traçar de trincheiras e estes posicionamentos polarizados, muito rígidos e antagônicos são apropriadamente capturados na expressão 'nós versus eles', explica Mércia.

A pesquisadora conta que passou um ano escrevendo o livro. Após defender sua tese de doutorado sobre narrativas de discriminação racial no Brasil, Mércia que resolveu revisitar o tema nos últimos anos, focando no contexto da comunicação digital. "Quando comecei a investigar, me deparei com muitos outros tipos de discriminação e de linguagem agressiva, o que me motivou a ampliar o foco da minha pesquisa para incluir outros casos e episódios da manifestação do preconceito", esclarece a autora. 

Em sua análise sociolinguística ela constata que "a sociedade brasileira não é, infelizmente - e ao contrário do que ainda se pode pensar -, um modelo de harmonia e inclusividade. Muito pelo contrário. Eu sei que muitas pessoas que visitam o Brasil e que conhecem brasileiros têm a ideia de se tratar de uma sociedade muito tolerante, sobretudo se comparada a outras, nas quais o preconceito e a discriminação talvez sejam imediatamente mais sentidos", ressalta a pesquisadora, exibindo os inúmeros preconceitos da nossa sociedade e ainda o fato de muitas pessoas não terem o menor pudor em divulgá-los. "Um breve pousar de olhos sobre as páginas de jornais brasileiros revela a permanência e persistência do preconceito, manifestado de variadas formas. Isso precisa ser entendido e discutido, sobretudo numa época em que a comunicação digital tem proporcionado impressões de liberdades falsas, no que se refere à falta de respeito com as liberdades alheias", analisa a escritora, que é recifense. 

E como mudar esse panorama sombrio? "Eu sou professora e acredito muitíssimo no poder da educação. A mensagem mais importante para qualquer geração é que precisamos aprender bem sobre o nosso passado, primeiro, para compreender o nosso presente e descobrir o que queremos mudar, e as formas de fazê-lo. Crescendo no Brasil, eu não me lembro de ter ouvido tantas discussões sobre as relações raciais, ou os direitos de diferentes minorias, o que hoje já é muito mais presente. Quanto mais consciência tivermos do que podemos fazer, e de fato fazemos, por meio da linguagem, melhor", ensina. 

Para a linguista, também está faltando algo essencial: o diálogo. Não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo.  "Parece que as pessoas esqueceram que não precisamos ter as mesmas opiniões, e que dialogar sobre as diferenças é algo muito saudável. Dialogar, porém, envolve a noção de troca, o que não ocorre se, a priori, as partes já sabem - ou acreditam- que estão certas", pontua a pesquisadora.

Educação e diálogo poderiam sanar a falta de conhecimento ou mesmo o descrédito nas leis e nas obrigações do estado para com seus cidadãos, como mostram os enxertos presentes na obra. "Eu arrisco afirmar - lembrando que sou sociolinguista, e não socióloga - que a explicação para isso está relacionada à nossa herança colonial, aos abusos de poder e à exploração de minorias. Mas os avanços vistos hoje na sociedade brasileira são também frutos de progressos na educação, na formação de uma geração que não vai se contentar com maus-tratos e injustiças. A história recente do Brasil, por mais que às vezes seja desapontadora e inquietante, também justifica algum otimismo, sobretudo na necessidade de mais inclusão", avalia Mércia.

Se por um lado a internet é veículo de propagação de discursos de ódio e violência, por outro ela representa um espaço importante de muitas outras modalidades de comunicação. "Isso tudo é relativamente novo e um tanto experimental. Como no caso de muitas outras invenções, com o tempo vamos descobrir o que precisa ser ajustado e melhorado. Arrisco afirmar que as manifestações de intolerância que se têm visto nas várias modalidades comunicativas viabilizadas pela internet são reflexos de uma época de transformações, descontentamentos e de acirramento das diferenças", enxerga a pesquisadora. Tudo isso, no entanto, segundo ela, nos "leva a mais reflexões sobre quem queremos ser como cidadãos e como seres sociais. A própria solidariedade que se mostra nos mesmos espaços onde a linguagem violenta aparece e as ações dentro e fora desses espaços virtuais são razão para algum otimismo", conclui a linguista. 

SOBRE A AUTORA

Mércia Regina Santana Flannery é licenciada em Letras, mestre e doutora em Linguística, com especialização em Sociolinguística e Análise da Narrativa Oral. É diretora do Programa de Língua Portuguesa e Cultura Lusófona do Departamento de Estudos Hispânicos e Portugueses da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, Estados Unidos.

Confira trechos do livro:

"BASTARDOS DA PUC" NARRATIVAS DE DISCRIMINAÇÃO SOCIAL NO FACEBOOK

A página do Facebook "Bastardos da PUC" foi criada por estudantes da PUC-RJ com o objetivo de divulgar episódios de discriminação enfrentados por estudantes da instituição beneficiados pelo programa social de bolsas de estudo do governo. O título da página faz trocadilho com o apelido dos alunos da universidade, conhecidos como "Filhos da PUC". Dessa forma, a referência aos "bastardos" da PUC é uma alusão à situação de discriminação que os estudantes bolsistas relatam enfrentar em diversos episódios no cotidiano acadêmico na instituição (...)

O excerto 1 contém a descrição de um estudante que, usando o discurso reportado, comenta um episódio ilustrativo da discriminação dirigida a indivíduos de comunidades de baixa renda. A discriminação consiste na suposição de ilegalidade na obtenção de serviços tais como eletricidade. 

Ex. 1: Entrei na Puc em 2008.1 mas em 2010 mudei de curso para administração. Em um curso, não lembro qual, um professor estava explicando porquê do salário mínimo ser considerado tão ruim. Ele fez uma simulação de contas que as pessoas normalmente pagam com seus salários por exemplo aluguel e fatura de eletricidade, uma aluna o interrompeu para dizer que "essas pessoas não pagam eletricidade, que é tudo gato nas favelas", ninguém a contestou, nem eu que nunca tive gato em casa.

IMIGRANTES NO BRASIL: XENOFOBIA E RACISMO

(...)Nesse capítulo, apresenta-se uma discussão e análise de exemplos de declarações racistas e xenofóbicas, tais como encontradas em sites de notícias online. Trata-se de contribuições em fóruns de notícias, em reposta a artigos sobre o tema. Especificamente, os primeiros exemplos aqui analisados foram recolhidos no site de notícias G1, relativos ao artigo Em dez anos, número de imigrantes aumenta 160%, diz PF (...)

Ex. 1: FS: Esse país virou a casa da mãe Joana, já n chega os problemas internos, agora vem pessoas de fora pra tumultuar mais ainda, se n me engano haitianos, cubanos, sei lá mais oq, já estavam recebendo o tal bolsa, nós brasileiros trabalhamos p sustentar gente de fora, violência aumentando, caos, esse país é uma piada

DISCRIMINAÇÃO SOCIAL E RACIAL: OS ROLEZINHOS

(...)Tratava-se da presença repentina e em massa de um grande número de adolescentes, que combinavam encontros à moda flash mobs em shopping centers locais, marcando sua presença com um modo de vestir-se característico, e ouvindo música de protesto, tais como o funk e o rap. Esses encontros chamaram de imediato a atenção das autoridades e da mídia, que tentavam compreender os rolezinhos, classificando-os ora como protesto e resistência, ora como encontro inconveniente de jovens pobres e desocupados. (...)

(...) O enxerto 1 apresenta algumas dessas caracterizações sobre os rolezinhos e seus participantes. O autor questiona a legitimidade dos encontros ao referenciar espaços públicos frequentemente usados para celebrações de massa no Brasil e tecendo suposições sobre o que os rolezeiros fazem e não fazem.

Ex. 1: B: Vão dar Rolezinho no Sambodromo, Ibirapuera, Interlagos, ta na cara que eles querem so marcar presença impor medo e fazer baderna ..dar um rolezinho com a mina e pagar um sorvete , um cineminha ou pipoca isso eles não fazem ! A cara e a conduta deste povinho faz medo ate em camelos da 25 de março e ponto final.

Serviço:

Lançamento do livro Nós versus eles - discurso discriminatório, preconceito e linguagem agressiva na comunicação digital no Brasil (Cepe Editora)

Quando: 8 de junho, às 19h

Onde: Live no canal da Cepe Editora no YouTube (youtube.com/cepeoficial) com participação de Mércia Flannery, Antonio José, Kleber Silva e Débora Nascimento.

Preço do livro: R$ 30 (impresso); R$ 12 (e-book)

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segunda-feira, 22 de março de 2021

Cepe lança obra crítica sobre a produção de Janete Costa

Janete Costa - Divulgação

Janete Costa - Arquitetura, Design e Arte Popular, da Cepe Editora, traz textos em inglês e português assinados por especialistas e um precioso acervo fotográfico. O livro de arte e

será lançado dia 25 de março, às 19h, em live.


Grande nome da arquitetura pernambucana, Janete Costa (1932-2008) ficou conhecida por inserir em seus sofisticados projetos de interiores a junção perfeita entre arte popular e erudita, aliado ao design pós-modernista, agregando várias épocas a um mesmo ambiente. Mas Janete fez muito mais: foi colecionadora de arte popular, designer de móveis e objetos, curadora; foi vanguardista no incentivo à economia criativa ao trabalhar em conjunto com artistas populares, contemporâneos e artesãos; ensinou as classes altas brasileiras a valorizar suas raízes em detrimento ao que vinha da Europa; inseriu plantas tropicais nos ambientes quando ninguém falava em valorizar o verde. Mesmo assim ela ainda não tem o devido reconhecimento nem no Brasil, nem no exterior. “Talvez por ser mulher e nordestina, uma combinação ainda muito subestimada no meio arquitetônico nacional”, acredita o crítico, jornalista e escritor Júlio Cavani, um dos autores do livro de arte Janete Costa - Arquitetura, Design e Arte Popular, editado pela Cepe. A obra vem para mostrar a contribuição técnica e estética do trabalho de Janete através de um rico material fotográfico e de textos críticos, em inglês e português, assinados também por Adélia Borges, Lauro Cavalcanti, Marcelo Rosenbaum e Marcus Lontra. O lançamento acontece dia 25 de março, às 19h, em live no canal da Cepe Editora, com a participação de Adélia Borges, Júlio Cavani, da arquiteta e filha de Janete, Roberta Borsoi, e do editor da Cepe, Diogo Guedes. 


“Ao oferecer um panorama de seus principais projetos e criações, esse livro torna-se um importante documento de valorização, divulgação e reparação, que servirá de referência para novos olhares e ressignificações”, declara ainda Júlio Cavani, para quem Janete é uma verdadeira artista, pois “elabora discursos poéticos a partir do cruzamento entre signos visuais e em que transmite uma expressão humana essencialmente criado. Apesar de associada à cultura popular, “suas ambientações nunca caem em uma representação estereotipada”, analisa Júlio.


“São ensaios que se aprofundam no legado de uma das maiores arquitetas de Pernambuco.O volume busca não só valorizar a produção de Janete Costa na arquitetura de interiores e no design, mas também refletir, mostrar os caminhos que ela percorreu e abriu. Além disso também ressalta a sua parceria com a arte e os artistas populares, em uma curadoria que ampliava o alcance e o potencial deles”, declara Diogo Guedes.  


A crítica, historiadora de design e curadora Adélia Borges escreveu que, para Janete, nascida no município de Garanhuns, ser brasileira foi decisivo como norte de sua atuação. “Daí decorreu uma ação determinante em valorizar a criação popular do Brasil, e a procura contínua por induzir a inclusão social através de seus projetos”. Ao abrir espaço para a criação popular, Janete Costa estava expressando a cultura de seus clientes e os ajudando a valorizar suas raízes. O caminho foi difícil pois, como lembra Adélia, “a criação popular era associada, em princípio, à pobreza, algo que se quer apagar, esquecer, superar”.


Desbravadora do mundo, Janete viajava tanto pelo Brasil em busca de artesãos como pela Europa à procura do que havia de mais cosmopolita. Nessa caminhada descobriu que o Nordeste é muito mais rico em quantidade de mestres artesãos devido à influência dos contrastes sociais. Precisava desse contraste.  “O contraste não é só na cor, na proposta; é também no comportamento, no sentimento. Uma parte feita à mão humaniza o espaço. Porque você terá dentro desse espaço o elemento técnico, o elemento industrial, e também o elemento emocional”, disse a própria Janete, em entrevista a Adélia, para uma revista italiana. 


Janete foi vanguardista ao pensar em interação com a natureza dentro de casa quando ninguém se importava com isso, e ao afirmar que o ponto de partida de industriais e designers brasileiros para a criação de peças com identidade própria deveria ser o nosso artesanato. 


Desde os anos 1960, a arquiteta projetou centenas de residências e dezenas de hotéis, onde inseriu seus trabalhos com vários materiais como granito, mármore, vime, vidro, madeira, metal, tecidos, acrílico. Criou uma linha de móveis de madeira desmontáveis e modulados que batizou de Senzala. Foram também mais de 50 expografias e curadorias de exposições que Janete assinou, sendo a maior parte em torno da arte popular.


O designer e arquiteto Marcelo Rosenbaum ressalta a importância de Janete na formação de colecionadores de arte popular brasileira, tendo sido ela também uma colecionadora. “Das coisas mais lindas que já ouvi de Janete Costa foi quando contou que seus brinquedos de infância eram a boneca de pano, o pote de barro, objetos cotidianos. Eu a vejo como a fusão do simples com o sofisticado”. Marcelo conheceu Janete pessoalmente na Fenearte, onde a partir de 2002 ela passou a organizar o Espaço Interferência, cuja proposta era selecionar objetos entre os vendidos na feira e apresentá-los com a sua leitura, em ambientações que permitissem ao público o seu (re)conhecimento. 


Já o curador Marcus Lontra conta que teve o privilégio de trabalhar com Janete na curadoria da mostra Viva o povo brasileiro, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1992. “Poucas vezes na minha vida aprendi tanto e em tão pouco tempo com alguém. As obras chegavam de diversas partes do Brasil e encantavam pela sua força e criatividade”. O curador descreve os ambientes criados por Janete como momentos de cultura que refletem sua formação acadêmica modernista de integração entre as artes e recusa de dogmas. “São lugares de convívio, de troca, de festa, mas são também lugares de recolhimento, de silêncio e contemplação”.


Serviço:


Lançamento do livro Janete Costa - Arquitetura, Design e Arte Popular


Quando: 25 de março, às 19h, no canal da Cepe Editora no YouTube, com participação de Adélia Borges, Júlio Cavani, Roberta Borsoi e Diogo Guedes


Preço do livro: R$ 100 (impresso); R$ 40 (E-book)

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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Cultura perde Tarcísio Pereira

 

Tarcísio Pereira - Foto divulgação

Livreiro, editor e superintendente da Cepe faleceu em consequência de complicações da Covid-19


Faleceu às 22h dessa segunda-feira (25), aos 73 anos, vítima de complicações da Covid-19, o livreiro, editor e superintendente de Marketing e Vendas da Cepe, Tarcísio Pereira. Internado no Hospital Português, ele lutou intensamente por mais de 60 dias contra a doença. Em consequência da Covid-19, Tarcísio sofreu Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que prolongou sua permanência no hospital. O velório acontece das 11h às 15h desta terça-feira (26) no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, município do Grande Recife, onde o corpo será cremado.


Profundamente abalado, o presidente da Cepe, jornalista Ricardo Leitão, destacou a amizade de 50 anos que os unia e a importância de Tarcísio Pereira para a cultura. "Conheço Tarcísio Pereira desde os anos de 1970, quando a Livro 7 ainda era uma pequena livraria em uma galeria da Rua Sete de Setembro. Sua relação com escritores e editoras fez dele uma âncora cultural de Pernambuco. Tinha uma grande preocupação em trazer livros de qualidade do Sudeste do país e sempre teve o cuidado de treinar seus vendedores para que entendessem a importância e a qualidade literária do livro. Não era uma pessoa que apenas vendia livros. Ele os amava e sabia da importância do seu papel na produção literária.  Tarcísio foi único. Em importância, depois dele, ninguém conseguiu cumprir o papel que executou pela  literatura pernambucana. Foi em função desse perfil, de pessoa que conhecia profundamente o meio literário porque amava o que fazia, que eu o convidei para o Conselho Editorial da Cepe e, logo depois, para assumir a Superintendência de Marketing e Vendas. Perdemos todos com a partida de Tarcísio. Um dia triste para os amigos e para a cultura de Pernambuco".


“Ele lutou bravamente, por mais de sessenta dias, como sempre lutou por tudo aquilo em que acreditava - livros, talentos, cultura nordestina. Continuará conquistando amigos com seu sorriso e maneiras gentis, mas desta vez num plano superior”,  disse Joana Carolina Lins Pereira, juíza federal e uma das filhas de Tarcísio.


“Foi uma decisão difícil fazer o velório aberto, sabemos que esta é uma época em que o imperativo é permanecer em casa. Mas como ele não mais era considerado um paciente de Covid, resolvemos que não poderíamos subtrair àqueles que desejarem a oportunidade de, com todas as cautelas do distanciamento social, prestar uma última homenagem, ele era muito querido’, declarou Joana Carolina.


Tarcísio, diz ela, era uma pessoa extremamente generosa. “A pessoa mais generosa que eu conheci. Me proporcionou uma infância muito feliz, recheada de livros, foi incentivador da minha carreira e um avô maravilhoso”, afirmou Joana Carolina. Tarcísio criou a famosa livraria Livro 7 em 1970, no Centro do Recife. Era ponto de encontro de intelectuais e estudantes. A Livro 7 fechou em 2000.


O editor da Cepe, Diogo Guedes, também lamentou a morte de Tarcísio e ressaltou seu inestimável legado para a cultura e para o cenário literário pernambucano. "Tarcísio foi um visionário quando criou a Livro 7, uma livraria que antecipou em décadas o que se tornaria tendência de certo modo. Um livreiro que acreditava no livro, nas conversas, nos encontros como algo essencial para o desenvolvimento da leitura, da literatura. E Tarcísio continuou esse trabalho na Cepe coordenando nosso marketing, sempre com a mesma empolgação, mesmo envolvimento, com a ideia de tornar o livro algo acessível para as pessoas. É uma perda imensa para os pernambucanos. Uma tristeza".


O cartunista, chargista e músico Lailson de Holanda, grande amigo de Tarcísio, também se ressente com o falecimento do livreiro. “É uma perda enorme para as possibilidades futuras da cultura. Tarcísio é um ícone referencial para todo mundo que fez cultura a partir dos anos 70. É um mecenas e um incentivador. Agradeço a presença dele entre nós. Ele deu muito para a arte e a cultura. É uma lenda. Fico feliz de tê-lo conhecido pessoalmente”, declarou Lailson de Holanda.


Triste com a notícia, o poeta Juareiz Correya falou sobre a perda do amigo: “Não tenho palavras sobre a morte de Tarcísio Pereira, o governador dos nossos infinitos 7 livros... Tenho sua lembrança viva, como quem vai daqui a pouco encontrá-lo na Cepe, trabalhando com a

gente, ou na Rua Sete de Setembro, que ele reinventou para a história e a geografia do Recife. Tarcísio está vivo entre nós, leitores, escritores, amantes e curtidores de livros, abertos para sempre na sua presença amiga”.

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Cepe Editora lança Brasileirismos e conexões em Gilberto Freyre, novo livro de Raul Lody


No ano em que se comemora os 120 anos de nascimento do sociólogo, antropólogo e escritor Gilberto Freyre, um dos mais importantes pensadores brasileiros do século 20, a Cepe Editora publica Brasileirismos e conexões em Gilberto Freyre, novo livro do também antropólogo, pesquisador e escritor Raul Lody. O lançamento acontecerá nesta sexta-feira,  11 de dezembro, às 19h, dentro do Circuito Cultural Digital de Pernambuco. Em live transmitida pelo portal www.circuitoculturalpernambuco.com.br, o autor conversará com Kika Freyre, professora da Universidade de Cabo Verde, neta de Gilberto Freyre, e que assina o prefácio do livro. A mediação será do jornalista e crítico de arte Bruno Albertim. 

Com 252 páginas, e ilustrado pelo próprio autor, Brasileirismos e Conexões em Gilberto Freyre reúne 25 artigos escritos por Raul Lody que relacionam seu apuradíssimo olhar antropológico aos grandes temas tratados por Gilberto Freyre em sua vasta obra É assumidamente uma homenagem ao mestre de Apipucos, com quem Lody manteve uma profunda relação de amizade ao longo de dez anos (1977-1987). “Os artigos abordam as matrizes étnicas na multiculturalidade brasileira por meio de etnografias que recuperam questões históricas, patrimoniais e contemporâneas. Por tudo isso, o livro é realmente uma série de conexões já amadurecidas na obra de Gilberto e, também, recupera o precioso tempo que pude conviver com ele”, destaca. 

Desde 1972, Raul Lody tem se concentrado no estudo de importantes eixos da formação identitária brasileira: a arte e a cultura popular, a antropologia da alimentação, a cultura e patrimônio de matriz africana. É autor de uma obra plural, com cerca de 980 títulos, entre pesquisas, artigos, textos para jornais e revistas, roteiros de cinema e vídeo, obras coletivas e mais de 70 livros já publicados. Formado em Etnologia e Etnografia pelo Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra, com especialização no Instituto Fundamental da África Negra (Dakar) e doutorado pela Universidade de Paris, tem seu trabalho reconhecido por inúmeras premiações nacionais e internacionais.

Antropólogo, museólogo, curador, escritor, desenhista, ilustrador e fotógrafo carioca, Raul Lody tem sua produção intelectual fortemente influenciada por Gilberto Freyre, do qual se considerava um aluno. Seu novo livro vem ratificar essas múltiplas interseções também evidenciadas em outros títulos já lançados, como À mesa com Gilberto Freyre (2007); Do mucambo à casa grande, desenhos e pinturas de Gilberto Freyre (2007);  Caminho do Açúcar (2012) e A cozinha pernambucana em Gilberto Freyre, um encontro entre povos e culturas (2013). “Conhecer Gilberto, certamente, foi iniciar uma profunda imersão no Brasil; principalmente no Nordeste, em Pernambuco e no Recife”, assegura. Os artigos reunidos no seu mais novo livro, alguns escritos há duas décadas e revistos pelo autor.   

Entrevista/Raul Lody 

Pergunta -  Como e quando surgiu a ideia do livro?

Raul Lody - “Brasileirismos” é um livro da maturidade, porque reúne muitos e múltiplos olhares que combinam o sentimento tropical do sociológico Gilberto sobre o Nordeste, com os meus olhares plurais que nascem das muitas etnografias, estudos e pesquisas, que realizei no Brasil e no mundo. Nessas buscas, Gilberto se encontra comigo nas leituras contextuais que privilegiam os cenários da cultura combinados com os cenários do meio ambiente. O livro é um acervo amplo sobre o Brasil, e traz diversos temas, como o pantanal de Mato Grosso do Sul; os festivais do “bumbá” de Parintins, Amazonas; e, em destaque, os temas regionais do Nordeste. Os 25 artigos são sempre introduzidos com questões que chegam da ampla obra de Gilberto Freyre. E assim, começam as conexões que se multiplicam nas pesquisas e nos meus depoimentos, porque cada tema deste livro tem uma emoção vivencial. São experiências de campo que legitimam cada abordagem. São textos híbridos de emoção e de antropologia. Desse modo, eu entendo que a antropologia pode se manifestar como uma energia tradutora das relações entre o homem, a   cultura e a sociedade. 

 

Pergunta – Os artigos que integram o livro são inéditos ou já publicados? 

 

RL - O livro reúne 25 artigos, alguns já editados há 20, 25 anos, e que foram ajustados, e emocionalmente trazidos para os meus olhares mais sensíveis e atuais. Outros artigos foram reescritos e mantidos nas suas potencialidades, porque as etnografias são fundamentos para os relatos inéditos, aqueles que fazem em outros momentos as mais suculentas bibliografias. E assim cada artigo traz uma originalidade, uma intencionalidade, um valor que se relaciona com as minhas interpretações sobre Gilberto e sua obra civilizadora. 

Pergunta - O livro é uma grande homenagem a Gilberto Freyre. De que forma ele influenciou sua formação profissional e literária?

RL - Gilberto, sua mulher D. Magdalena e seu filho Fernando marcaram, e marcam com doçura um sentimento de afeto, cada relato e cada texto do meu livro “Brasileirismo”. Assim, eu realizo cada texto a partir das muitas interações de humanidade e de aprendizado sobre Pernambuco, terra querida na qual plantei meus carinhos e os meus desejos mais verdadeiros. E meu processo de me ‘pernambucanizar’, deu-se aos goles do conhaque de pitanga, uma bebida ritual e secreta de Gilberto. E, em Apipucos, na sua casa inundada de verde, de pássaros, de experiência tropical, pude conviver com as diferentes maneiras de interpretar a região e de fortalecer os meus mais profundos laços com o Nordeste. E certamente estes mergulhos na pluralidade e nas relações com a multiculturalidade na obra de Gilberto trouxeram e trazem inúmeros sentimentos que fortalecem a minha obra e os meus compromissos como um antropólogo militante pela cultura e pelos patrimônios culturais. Seja um doce jaca ou um cortejo de caboclos de lança, todos estão repletos de açúcar; e, ainda, seja diante de um altar barroco ou mesmo no Xangô, vive-se um mesmo sentimento de humanidade. 

Pergunta - De que forma você espera que o livro atinja os leitores?

 

RL - Para o autor o livro é um encontro com o público. A obra publicada está sempre aberta ao olhar público, ao sentimento, e as muitas interpretações. Assim, cada livro, cada artigo e cada ilustração, é um processo complexo de significados e de emoções. Ainda, “Brasileirismo” é uma homenagem, um ato de afeto na forma de livro que dedico a Gilberto. VIVA!!!!!!! 

 

Serviço:

 

Live de lançamento do livro Brasileirismos e Conexões em Gilberto Freyre

 

Dia: 11 de dezembro de 2020, sexta-feira

Horário: 19h

Local: Circuito Cultural Digital de Pernambuco (www.circuitoculturalpernambuco.com.br)

 

Preço do livro: R$ 55,00(impresso) e R$ 22,00 (e-book)

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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Romance fantástico revela contraste entre moderno e arcaico no Recife


Cepe lança Não me empurre para os perdidos, de Maurício Melo Júnior, dia 13 de novembro, às 19h, dentro da programação do Circuito Cultural Digital de Pernambuco


A convivência entre o moderno e o arcaico em Pernambuco é pano de fundo para a narrativa do romance Não me empurre para os perdidos, editado pela Cepe e escrito pelo jornalista, crítico literário e escritor Maurício Melo Júnior. O olhar de quem vem de fora - um estrangeiro de formação requintada, tradutor, escritor, F. - se volta para um país ainda marcado pela cultura da escravidão em pleno ano de 1924, e mesmo assim preocupado em criar um ambiente de modernidade. "Foi em busca dessa resposta que escrevi esse romance", revela Maurício. A obra será lançada dia 13 de novembro, às 19h, dentro da programação do Circuito Cultural Digital de Pernambuco, com conversa entre o autor e a crítica literária Gianni Paula de Melo. 

Não está explícito, mas para os iniciados há pistas de que F. é o escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924).  "Ao usar a epígrafe de Kafka  - 'Tive algumas apreensões no tocante a descobrir se a minha vida seria bastante para a duração de minha existência' —, traz na verdade o mote deste livro", escreve na orelha o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Nejar. Há outras referências kafkianas que o leitor mais atento encontrará pelo caminho. A proposta de não falar claramente em Kafka, segundo o autor, é "para não criar aquele sentimento comparativo na leitura de mais um romance kafkiano".

Utilizando o recurso da metalitetura, Maurício costura três histórias que convivem em paralelo. Enquanto F. vive a defender a importância da leitura e da escrita, duas coisas para as quais se dedica com prazer, demonstrando claramente sua erudição no campo da literatura, também maldiz seu ofício burocrático de tradutor em um escritório de exportação e importação. Por outro lado mostra ao leitor e aos intelectuais que se reúnem no Café Continental seus escritos sobre Max, um judeu que demora nove dias para enterrar um amigo. Algo bizarro diante de uma tradição judaica que pede que a cerimônia seja realizada de imediato. 

Detalhe: esse judeu é Kafka, segundo o autor, que soube da saga de seu enterro ao ler a biografia escrita pelo francês Gérard-Georges Lemaire. "O que ele teria feito durante esses nove dias até o sepultamento? Esta foi a pergunta que  respondi pela ficção: veio para a América, seu grande desejo. E por que não foi logo sepultado? Como nenhum biógrafo responde, criei este caminho burocrático absurdo", esclarece Maurício. O amigo, por sua vez, escreve um romance sobre as aberrações de uma guerra. É nesses despropósitos contidos em cada texto que eles interagem. "O texto se alinha no escrever sobre a guerra e nas lutas inócuas, nas tarefas inglórias que nos rodeiam, porque as coisas têm sentido, na medida de estarmos vivos, raciocinantes, apesar das calamidades", escreve Nejar.

O romance também se propõe a entender o Brasil de contrastes a partir do Recife. "Esse nosso país tão complexo quanto fascinante", nas palavras de Maurício. Por isso a escolha pelas décadas de 1920 e 1930, consideradas os melhores pontos de partida. "Foi a partir da década de 1930 pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Câmara Cascudo, Viana Moog, entre tantos outros, começaram a trabalhar", explica o autor. Daí a citação de tantos intelectuais desse período, principalmente os pernambucanos. A narrativa se passa em Pernambuco e qualquer recifense ligado em sua própria história reconhece lugares e fatos icônicos do período, enriquecidos por supostos diálogos de F. com escritores e intelectuais da época. O mergulho profundo nos emaranhados recifenses se faz não sem razão: Maurício é radicado em Brasília mas nasceu em Catende e foi criado em Palmares, cidades da Mata Sul de Pernambuco e aqui viveu até os 18 anos. Dos anos 1920 para cá, a desigualdade continua sendo traço marcante da capital pernambucana que reflete o restante do Brasil. "O Recife, como todas as grandes cidades brasileiras, cresceu desordenadamente. Já em 1924 se tinha problemas urbanísticos complexos, como os cortiços do centro da cidade, que estavam sendo demolidos, e os mocambos ao longo dos rios. A cidade também começava a migrar para os lados da praia, abria-se a Avenida Boa Viagem e a antiga aldeia de pescadores era engolida pelo 'progresso'. É com certa perplexidade que vejo hoje a mesma cidade que li no romance O Moleque Ricardo, de José Lins do Rego, que se passa no Recife dos anos 1920, e a cidade que vivi plenamente no início da década de 1980", reflete Maurício.    


Autor de 25 livros publicados, sendo a maioria infantojuvenil, Não me empurre para os perdidos é o segundo romance de Maurício. O primeiro, Noites simultâneas, foi lançado em 2017. O autor também publicou uma reunião de duas novelas, Andarilhos, em 2007.


Trechos da obra:


No fundo da rua, o domínio da Praça do Arsenal em que se abre a Torre Malakoff martelando o tempo em seu relógio. Está ali há muitos anos: um observatório astronômico nascido como portal militar. Não entendo porque conto tais fatos se esta cidade não é minha, se aqui nunca a vivi de fato, tenho uma terra antiga na epiderme, uma cidade velha, milenar.


Parece que vivi aqui todos os meus dias, embora saiba que a minha presença é inaugural, embora a cálida temperatura destas horas tropicais me seja tão íntima. Estou neste país solar onde sempre quis estar, mas não lembro a viagem, a partida, as despedidas. Apenas acordei aqui e isso me basta. 


Preciso parar a narrativa, a vida dos soldados, mas voltarei, pois são ainda os medos e os barulhos da maldita guerra que me assombram, ela é parte da essência humana enquanto aqui me ocupo com futilidades, com literatura: uma arte destinada ao nada, e os homens se matando pelos séculos afora e eu fugindo de tudo, até mesmo do desejo de combater, coisa que já me domou, mas que o corpo frágil e doente podou qualquer possibilidade, e fiquei a escrever livros inúteis, tão desnecessários quanto este. 


As dores são passageiras, a escrita é o que fica e mesmo uma escrita pífia é o depoimento de um homem, de uma vida e deve permanecer perpetuando o privilégio de ter acontecido. 

Nenhum rito satisfaz minha ânsia de olhar o mundo como algo permanentemente novo, que se reinventa em cada novo dia. Assim sigo, procurando romper laços e nós. Não pertenço a nada, a nenhuma crença, por mais fundamentada que seja. E o que me interessa como fé compro nas livrarias. 


A rua mais elegante da cidade, a Rua Nova, é um desfile de novidades...Penso que estou em Paris, uma Paris raquítica, mesmo assim Paris.


Escrever um romance é também pescar baleias. Precisamos do mesmo esforço físico e fatalmente da mesma incompreensão. 


Contato para entrevistas:


Maurício Melo Júnior - (61) 9975-7748 - celular e Whatsapp/ mmelo@senado.leg.br


Serviço:


Lançamento do livro Não me empurre para os perdidos (Cepe), de Maurício Melo Júnior, com conversa entre o autor e a crítica literária Gianni de Paula Melo


Quando: 13 de novembro

Horário: 19h

Onde: Circuito Cultural Digital de Pernambuco (circuitoculturaldepernambuco.com.br)

Preço: R$ 25 (livro impresso); R$ 7,50 (e-book)

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