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sexta-feira, 19 de junho de 2020

Conto "Vai me Levar para um Passeio no Bosque?"


*Por Roberto Fiori

Faltavam cinco minutos para a meia-noite. Quando o pior pesadelo da História da espécie humana teria início. Sem piedade, de lugar nenhum vieram as chuvas da morte: espécies de gases que torturavam, dissolvendo em cerca de uma semana os pulmões das vítimas. Até essa data, o paciente poderia estar conectado a qualquer tipo de máquina que substituísse as funções pulmonares, que o sofrimento era inconcebível e incontrolável. 
Pensava-se que induzindo a pessoa afetada pelos gases a um coma, ela deixaria de sofrer. Mas, do mesmo jeito, seu coração era sobrecarregado de maneira extrema, como o restante do corpo. O cérebro entrava em colapso, ao fim de uma semana de atividade anormal. As mãos do vitimado se crispavam sem relaxar por um segundo sequer e a expressão do rosto do homem, mulher ou criança era tão agonizante quanto a de uma pessoa sendo submetida à extração de seus órgãos. Estando acordada.
Alguns afirmavam que terroristas árabes haviam infiltrado as cápsulas do gás chamado de Neurin-B por meio de navios de cruzeiro e aviões de passageiros, sem dar mostras de um ataque em massa ao Ocidente. Mas isso era impossível. Na Síria, Assad tinha os mesmos problemas e o Estado Islâmico se perdera em meio a ataques neutralizantes com o gás. Coria do Norte poderia ser o país agressor, mas tinha cessado suas manobras na costa há um mês, pelo menos, e os satélites americanos eram incapazes de detectar movimentos do complexo jogo de guerra que se travava, quase todo o santo dia.
A China deixara de fabricar peças para informática e todo o resto das quinquilharias tecnológicas que exportava para o exterior. O que era certo era que o Primeiro e o Terceiro Mundo haviam estagnado suas atividades industriais e comerciais. Os hospitais estavam em colapso. Ninguém conseguia exercer tarefas produtivas, uma vez atingido pelo gás. 
Nem se cogitava em uma ameaça vinda do exterior do planeta, isso era inconcebível, por vários fatores. A menos que os gases tivessem chegado de surpresa e os humanos tivessem deixado de captar sinais de atividade belicosa vindas do espaço.

--//--

A cinco quarteirões de onde eu vivia, no bairro da Vila Mariana, fora visitar meus dois grandes amigos, Luís e Walmor. Havia algo de estranho, mágico e sobrenatural na casa dos dois irmãos. O pai era um engenheiro aeroespacial, dava aulas no ITA, em São José dos Campos, e os meninos o viam uma vez ou duas por semana. A mãe cuidava da casa e os garotos iam para o colégio, pegando o ônibus a duas quadras dali. Estávamos em férias escolares. Jogávamos Monopólio, no andar de cima do amplo sobrado de cinco quartos, construído há menos de um ano, no lugar de uma série de casebres que abrigavam antigos dependentes de crack.
Quando eu estava para fazer falir o Walmor, este pediu um tempo para reabastecer sua água da sorte, a garrafa PET de um litro de água mineral, que estava vazia. Apesar de ser uma garrafa especial, para meu amigo, deixava a desejar quando o assunto era ajudá-lo a ganhar neste jogo de tabuleiro. Que era de azar, em sua maior parte.
Ao voltar do térreo, onde enchera a garrafa na cozinha, foi que ouvimos os gritos abafados, vindos do meio da rua. E o ganir de cachorros e o chiar rouco dos gatos, por toda a vizinhança. Ignorávamos a ligação a ser feita entre os barulhos e o ataque com os gases. Na verdade, somente hoje fiquei conhecendo a fundo o que acontecera, com exatidão. Entreolhamo-nos, Walmor parado de boca aberta, segurando a garrafa PET ao lado do tabuleiro e das notas falsas do jogo. Jogávamos toda a semana, e daquela vez pensei que seria diferente o resultado do jogo, sem vencedor algum.
O ataque começara em nosso país, ao mesmo tempo em que em todas as outras nações. Tanto as potências econômico-tecnológicas, como os países emergentes e as nações pertencentes ao resto, as empobrecidas e miseráveis, começariam a sofrer os efeitos dos gases, durante uma semana exata e na mesma velocidade. Sem vencedores, pelo que posso dizer nesse exato momento.
Olhamos pela janela fechada do quarto de Luís, onde jogávamos, e vimos pessoas deitadas em posição fetal, de lado, no chão das calçadas e das ruas. Os automóveis haviam parado de circular e a luz dos postes de iluminação havia se extinguido, na metade deles. Os gritos e os ruídos distantes dos animais das ruas e becos haviam cessado. Ninguém se movia. Foi quando a mãe dos meus amigos entrou no quarto e fez um sinal de Cuidado! Não falem!, com a mão sobre sua própria boca. Abriu um dos guarda-roupas e começou a raspar com uma faca a cobertura de madeira falsa dos fundos dele, revelando um cofre.
Entreolhamo-nos e nos pusemos de pé. Ficamos em silêncio. Marta, a mãe de meus amigos, teclou a combinação digital do cofre e o abriu. Fez um movimento rápido com a mão e o chão sob o tabuleiro do Monopólio começou a se abrir para o lado oposto ao da parede exterior da casa. Uma escada se mostrou e Marta se afastou do guarda-roupas quando a metade do chão do quarto foi aberta por completo. A mulher fez sinal para que a seguissem. Descemos a escadaria em espiral e nos vimos diante de uma porta. Marta era uma mulher jovem. Ela guardara dos dois filhos o segredo de tudo aquilo, pelo que vi nas expressões assombradas dos meninos.
A moça colocou uma mão em uma parte da parede em frente à escada, e a outra mão sobre a outra, cruzada com ela, fazendo pressão. Um portão se abriu para cima, revelando um corredor. Quando a porta se fechou, abaixando-se devagar, e um clique se ouviu, Marta respirou fundo.
— Seguros. Estão seguros, a partir desse momento.
Desconhecíamos o horror da realidade exterior. Mas queríamos respostas, pois estávamos com um pressentimento de que algo de ruim, algo de terrível acontecera com todos no mundo. Marta nos disse que tudo seria resolvido, a seu tempo. Mas teríamos de esperar. Ela nos contou o que sabia.
Tínhamos vivido na Terra em paz, por mais relativa que fosse. Nenhuma pessoa na face do planeta poderia prever o que aconteceria naquele dia, exceto os homens e mulheres que viviam naquele bunker. Um pacote de energia viva, um nanoquark inerte vindo de outra dimensão, havia se infiltrado em nosso Cosmos. Isso ocorrera há uma hora, nas imediações de Marte, e ninguém naquela pequena fortaleza detectara algo, nem poderia ter evitado as consequências. 
O pacotinho de energia se multiplicara por uma escala de um decilhão, quando atingiu a órbita da Terra. Caíra sobre a superfície há quinze minutos e se espalhara como água em um leito seco de rio. Um dia, Marta nos disse, descobriríamos um antídoto contra os efeitos do gás. Mas havia uma dúzia de pessoas, naquele esconderijo, contra a atmosfera poluída de todo um planeta.
Acomodamo-nos o melhor que pudemos, em um quarto improvisado para nós. Por um segundo, detectei expressões de tristeza e horror no rosto de meus dois amigos. Pensei o mesmo que eles, era o pai, em São José dos Campos. E desconhecia um modo de aliviar a situação, de consolá-los, então deitei-me em minha cama-sofá e dormi.
Sonhei que havia um modo de fugir àquele inferno invisível, que sufocava e matava. Era tão fácil... mas acordei com o coração palpitando, a sensação de que teria de haver o sacrifício de todos, inclusive de Marta, para que nós, garotos, sobrevivêssemos. Andei pelo corredor principal do bunker, com acesso às salas de comunicações, cozinha, enfermarias e salas fechadas, com símbolos como o da Medicina gravado na porta, a serpente enrolada no caduceu. E havia símbolos de radiação, em cinco ou seis portas trancadas. Havia barulho algum, exceto quando uma sala se abria e saía um homem ou uma mulher. 
Durante os meses, que se passaram lentos, a atmosfera ficou pesada. Precisávamos de espaço, mas isso significaria a morte, fora daqui. Havia pouco a ser feito para passar o tempo. Sem livros, sem entretenimento algum, apenas tendo Marta com quem conversar. Os outros nos ignoravam. Walmor começou a apresentar sintomas de fadiga emocional. Envolveu-se três ou quatro vezes em lutas com o irmão e quase fomos às vias de fato. Ele teve de ser isolado, em outra sala.
— Luís — perguntei uma vez ao meu amigo mais próximo —, o que você acha que irá acontecer conosco, quando batermos os pinos, como ele?
— Olha, rapaz, acho que cada um irá para sua solitária. Terei apenas minha mãe com quem conversar. E você, no que está pensando?
— Walmor tinha claustrofobia, óbvio. Nós aguentaremos a pressão...
— Será? — interrompeu-me. — Será que não iremos ser mandados para fora, para que a pressão diminua aqui embaixo? Será que não seremos um fardo? Você viu como os caras neste lugar nos olham. Somos menos do que insetos, para eles.
Os anos se passaram. De Walmor, nunca soubemos o que lhe aconteceu. Amadureci, tornei-me duro, ríspido com Marta e Luís. Dedicava-me a exercícios físicos, que constavam em um livro de preparação para atletas olímpicos, com fotos e esquemas, que a mãe de meu amigo me trouxe, um dia. Eram outros tempos, em que eu tratava quem conversava comigo de outra maneira. 
Hoje, calei-me. Decidi acordar, fazer ginástica por doze horas por dia, passei a ignorar Luís. Marta, se ela se entristeceu com isso, ou se importava-se conosco, eu não percebia. Fazia as refeições junto aos outros integrantes da equipe do bunker, sozinho. A última palavra que disse para meus amigos foi “caiam fora”. 
Um dia, em que fazia minhas trezentas flexões de braço, com o braço direito, ouvimos um ruído. Luís entrou no nosso quarto e gritou:
— Saia daqui, seu louco, os inimigos chegaram!
Decidi começar a fazer outra série de trezentas flexões com o braço esquerdo. Era um alarme e ninguém ficara no corredor. Ouvimos os gritos curtos e secos e os gases entraram em nosso quarto. 
Continuei a fazer as duzentas flexões restantes. Iria para a calistenia com as pernas, com o abdome, os pés, as mãos. Luís caiu no chão a meu lado, a face retorcida, ele em posição fetal, as mãos agarrando os joelhos. 
Acabei de fazer as trezentas flexões. Pus-me de costas e iniciei as cinco mil flexões com o abdome, que completaria em uma hora. 
Os gases eram da cor âmbar do vinho doce da Lombardia. Eles me cercaram e tentaram me torturar. Estava na milésima abdominal, quando penetraram em mim. Eu continuei a me exercitar, sem perder o fôlego. Senti quando a matéria invasora deixou meu corpo hipertrofiado, de quinze anos de disciplina física. 
Fora salvo pelos meus esforços físicos. Pelo meu corpo desenvolvido e pelo entrar e sair do ar em meus pulmões. Pudera, enfim, ser considerado o último homem sobre a Terra.
Tinha consciência disso e saí para o ar livre, fora da casa. Tinha de haver outros ginastas no mundo. Outros tão desenvolvidos fisicamente quanto eu. Mas onde encontrá-los? Caminhei por muitos quilômetros, até alcançar uma cidade vizinha. Havia um estádio e um grande ginásio, nela. O nome da garota, cinco anos mais nova e dez centímetros mais baixa do que eu, era Carla. Estava nos aparelhos de ginástica, quando entrei no salão de exercícios. Ela estava nas barras ergométricas, subindo e descendo. 
Fiquei observando-a. Tive vontade de estar ao lado dela, no aparelho, para ver quem venceria no número de levantamentos do corpo. Caminhei até ela, que estava de olhos presos no infinito. Com um pequeno impulso, agarrei a barra e comecei a subir e descer devagar, respirando forte. A garota não fazia ruído. Meus braços, martelos de músculo, chegaram ao milésimo movimento, quando Carla se soltou. Sua face era de pedra. Apanhou uma corda de exercícios e seus pés se moveram no mesmo lugar, a corda passando rente a seus pés, a uma velocidade altíssima. O barulho de chicotear era relaxante. Em duas horas, cheguei ao meu terceiro milésimo movimento. Cansaço, nenhum.
Pousei meu corpo treinado no chão. Vi Carla, fazendo flexões de braço. Faltava alguma coisa. Ela nem me olhara. Nem falara comigo. Ela me ignorara por completo. Cheguei ao lado de seu corpo, subindo e descendo rápido sobre o chão. Falei:
— Eu já cheguei a mil flexões de braço. Com um braço só.
Ela não me respondeu. Comecei a contar seus movimentos. Ela fazia com os dois braços. Alcançou o número quinhentos, quando ficou de pé.
— Quando atingir cinco mil, vamos conversar — eu sorri um pouco. 
— Não disputo provas com uma garota mimada e de baixo intelecto. 
— E eu, deixaria de me mostrar. Como você fez, lá na barra — ela respondeu, olhando-me nos olhos com seus olhos pétreos.
— Quer apostar? Faço cinco mil barras e dez mil flexões, se concordar em me levar para jantar fora.
Ela permaneceu séria.
— E se não conseguir? Vai me levar para um passeio no bosque?
— Ao seu dispor, princesa.
Os primeiros quatro mil levantamentos na barra me extenuaram. Eu completei o de número cinco mil no limite. Deixei para descansar outra hora. Peguei pesado. Fiz cinco mil flexões de braço, achando que iria deslocar algo. Caí de cara no chão.
— Hmm. Se eu fosse você, teria parado na flexão de número quinhentos. Vamos passear? 
O passeio foi bom. O resto da noite, vocês podem imaginar que tipo de exercício ela me mandou fazer...

*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.

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