João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Conto "Não é o Fim... Ou o Começo...", por Roberto Fiori

ISS: Estação Espacial Internacional: o início de sua montagem deu-se em órbita, em 1998 e o término de sua montagem e início de funcionamento foi em 8 de Julho de 2011, com o lançamento final de suas últimas partes dirigido para a órbita da Terra pelo ônibus espacial Atlantis.
               

                Era hora de movimento, na estação. Até o fim do dia terrestre, mil astronaves passariam pelo Portal, ilesas. Isso, se a hora de entrada, em que atravessassem o pórtico, fosse a mesma que a hora em que ressurgissem na superfície espelhada de destino. Computadores faziam o trabalho pesado de cálculo científico. Eu tinha de autorizar o fluxo de naves estelares, o que não era pouco. Mas, contanto que os horários coincidissem, haveria pouco ou nenhum problema.

As guerras haviam sido consideradas uma afronta ao intelecto do ser humano superior. E todas as cento e vinte raças que viviam no espaço com o volume de um tetraedro cósmico de mil anos luz de comprimento de aresta haviam concordado, quando Sir William Morris, nosso novo monarca terrestre, terminara de argumentar contra o genocídio que imperava em toda Via Láctea, isso vinte anos atrás.

Fora o começo de uma Paz Verdadeira, que nunca existira em planeta algum. Mas William, condecorado pelos lordes do Século XXVI como Sir, parecia um tanto desconfiado de que tudo aquilo era uma baixa imitação de um antiquíssimo ritual da passagem da coroa real britânica de um rei falecido para outro membro da realeza, vivo.

— Henry, venha cá, venha ver esse novo licor que os franceses me enviaram, na ocasião da minha condecoração e coroação, como rei William II. Vai adorar, tenho a certeza.

Henry teleportou cada uma de suas moléculas da superfície da capital mundial da Terra para a estação orbital terrestre em segurança.

— Pois não, Excelência, com sua permissão, posso avaliar as vinte bilhões de bebidas fermentadas ou destiladas existentes na Galáxia com eficiência.

— Dessa vez, Henry, terá de lidar com o subjetivo e a mente destruidora dos selenitas. Há quanto tempo não há um incidente em Sepcon-14?

— Qual das estações de transporte Sepcon-14 se refere, Majestade?

— Esta aqui, onde estamos.

— Houve uma única catástrofe nesta estação, Sir Morris. Deu-se no Interregnum, período há quatrocentos anos, em que, durante dez anos, não houve guerras. Foi no final desse período, quando o incidente se deu e foi arquitetado para que as colônias independentes de Marte fossem anexadas ao Império Terrestre.

— Exato, Henry. Você gostaria de ver os marcianos escravos dos terrestres até quando? Até que data os colonos de Marte deveriam ser obrigados a trabalhar nas minas radioativas da Terra, Marte, nas luas de Júpiter, Saturno e no cinturão de asteroides?

— Percebi aonde quer chegar, Vossa Excelência. Deseja libertar os colonos marcianos e torná-los seres humanos independentes... Mas, neste ponto, existirá motivo para guerra, Sir.

— É, eu li aquele calhamaço maçante e ridículo, As Leis da Colonização, pelo Rei Charles V. Ainda está valendo, caso contrário, um motim em Titâ teria sido engendrado há duzentos anos atrás. Mas você se engana, robô, quando fala em um novo início de guerras interestelares. Mostre isso no mapa — Sir Morris inseriu um cartão óptico em uma ranhura no pescoço do robô e, na parede próxima, um painel branco liso desceu. Do teto, luz laser foi disparada pela mente ágil de Henry, que manobrava as cores e desenhos no painel com a habilidade de um maestro de música.

— Sir, é o nosso Sistema. A Terra e a Lua, distantes trezentos e oitenta mil quilômetros entre si.

— Aquele tirano da Lua, Vanegard IV, sempre tramando! Pretende iniciar um novo ciclo de combates com a Terra, quando o trânsito entre os planetas habitados de nossa Galáxias atingir um pico máximo.

A imagem no painel mudou. Mostrou a superfície da Lua, iluminada. Tudo parecia em paz. O palácio selenita, naves da população do satélite sem indícios de que iriam decolar, era tudo, além de crateras sem fim. Mas no lado escuro, mostrado a seguir, via-se milhares de mísseis guiados por ondas eletromagnéticas, que atingiriam a Terra com a precisão de um neurocirurgião. Estavam, um a um, acoplados a plataformas de lançamento da altura de um prédio de sessenta andares.

— Diga-me o que vê.

— Será um massacre. O arsenal nuclear e orbital da Terra foi desmantelado, há cem anos, pelo rei Charles IX, após uma série de atentados bem-sucedidos contra os reis Charles VIII, VII, VI, V e IV.

— É aí que você entra. E eu, também. Sabia que construí uma estação de teletransporte do outro lado do Sol? Não? Você transportará as tripulações das naves de ocupação da Lua para a Terra e teletransportará os mísseis para junto da superfície espelhada de nossa estação. Os artefatos serão dirigidos para o Sol. Viu o tamanho deles? São mil mini ogivas para cada míssil. Na Terra, será o holocausto real, não o da ficção. No Sol, combustível para nossa querida estrela. O que acha?

— Seria preferível transportarmos os mísseis agora, interrompendo o tráfego das naves civis, no espelho.

— Vamos beber a isso. Boas ideias nós temos, não?

Eles beberam, até que Sir Morris começou a trançar as pernas.

— Essa... é minha ordem, Henry. Está... nesse nanochip proteico vivo e atuará no sentido de ativar seus sentidos da moral — o rei inseriu um cartão do tamanho de sua unha do polegar no pescoço da máquina, que se dirigiu para o teleporte. Começou a seguir a controlar da Terra a estação de transporte na órbita terrestre, evitando que qualquer nave viesse até o quadrante que englobava Terra, Lua, Vênus, Mercúrio e o Sol, incluindo a segunda estação de transporte.

Deve ser uma operação secreta, é claro, refletiu Henry, teclando o painel do computador nano quântico de décima-quinta geração. Era questão de quando Vanegard IV lançaria as naves de ocupação e os mísseis. Passaram-se as horas. Sir Morris esperava, sob a abóbada translúcida de seu palácio de cristal orbitando a Terra, que mostrava as estrelas, a Lua e deveria acusar a invasão, quando se desse.

— Não estou captando nada, no telescópio montado em minha sala de trabalho. O que vê, Henry? — a comunicação entre a Terra e sua órbita estava distorcida, mas não impossibilitada.

— Sua Excelência, captei um motor iônico sendo acionado. Vem do lado do palácio de Vanegard IV.

Demorou cinco minutos, mas foi o suficiente para que Sir Morris visse, vindo do lado escuro da Lua, objetos que cruzariam o espaço entre os planetas em cinco horas. a nave imperial viria a seguir, do lado iluminado do satélite natural.

— A bola está com você, Henry! Despache tudo o que puder para a área oposta ao Sol. Darei as coordenadas para você mandar tudo para o inferno. E Vanegard IV e sua tripulação têm de ser conduzidos à prisão mundial. Têm muito que se explicar.

O que significava aquele ataque? Que, por mais benevolente que fosse uma raça e por mais inocentes que fossem seus líderes, sempre haveria uma incógnita, um fator inusitado. E, para que a paz verdadeira se desse na Galáxia, armas tinham de ser construídas, na hipótese de que ameaças vindas do vácuo profundo, ou mesmo do próprio Sistema Solar, surgissem um dia desses e desembarcassem seus soldados. Ou aniquilassem um planeta, para a seguir, tomá-lo, sobre seus escombros fumegantes.



SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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