João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Conto "E, Quanto Mais Erram, Mais Continuam a Errar...", por Roberto Fiori

            

Foguete Falcon Heavy, da Space-X: o foguete mais poderoso da Terra, bem mais capaz de levar homens à Lua do que o Saturno V, devido a seus motores mais potentes e tecnologia superior à de 1969.

 Em um quarto do campus do Centro Espacial e Temporal de Viagens Interplanetárias, Maddox teve um sonho.

Em t-1 minuto saberemos se as curvas assimétricas de espaço-tempo da equipe de sábios, liderada pelo Dr. Mitchum, são confiáveis ou não. No topo da espaçonave Z-3001, o 3001º protótipo a tentar a viagem na 4ª dimensão começa a reluzir com as cores vivas do arco-íris, enquanto as garras de atracagem soltam-se de dez conectores do foguete. Sem ninguém no solo, os propulsores para atingir a órbita deixam uma nuvem de fumaça e fogo escaparem de sua saída, em turbo-ejetores de dez metros de altura.

O foguete eleva-se, a princípio lento, mas com aceleração constante. Mas esta não é uma nave comum, seus dez propulsores químicos são cem vezes mais potentes que os do Saturno V, de cem anos atrás. A nave sobe, atingindo sua potência máxima em cinco segundos. Por trás dos vidros translúcidos inquebráveis de cada uma das quinze câmaras de observação semelhantes à nossa, dez controladores robóticos levam a Z-3001 para as alturas e para o espaço sem fim.

Agora, a espaçonave atinge uma altitude de cem quilômetros. O primeiro dos cinquenta estágios se desprende e um satélite-laser dispara um feixe de raios, que pulverizam o estágio. Em uma altura de mil quilômetros, outro estágio...

Maddox se agita na cama anti-G. Seu inconsciente pressente algo. Vira-se para um lado e para o outro e, em uma dessas viradas particularmente violenta, cai no chão de madeira laminada. Acorda, esmurrando o ar. Atira as cobertas e o lençol juntos a ele para cima da cama e caminha até o armário. Abre a porta da direita e apanha suas roupas, a camisa azul platinada, as calças novas pretas. Veste-se. Pensa. Toma uma decisão. Da porta do centro do armário, apanha um objeto em forma de cilindro. Coloca-o na cintura. Sai do aposento, deixando a porta aberta.

Corre pelo corredor principal entre as câmaras de observação, sem esforço. Entra na primeira sala dos controladores robóticos e os destrói, com um feixe contínuo de raios-gama, que dispara do cilindro de sua cintura. Antes de Maddox ser agarrado, na décima-quinta câmara, ele já reduzira a metal liquefeito todos os controladores.

Z-3001 perde a estabilidade. Há dois estágios e dez mil metros para que atinja a órbita geoestacionária. O foguete gira sobre si, rodopia e inicia uma queda, acelerando com o protótipo iniciando sua queima. O conjunto espaçonave-protótipo se desintegra, ao passar para a atmosfera, a uma velocidade de cem mil quilômetros por hora.

A população da Terra assiste horrorizada a outro fracasso, desta vez ocasionado por um terrorista. 

# 

O vigésimo chute atinge Maddox no queixo, deslocando a mandíbula.

— Chega. Dougall, vá para o corredor. Ele está pronto para falar — o Dr. Mitchum põe a mão no braço reforçado do segurança e senta-se na poltrona, à frente da cadeira de madeira caída. Maddox, esparramado no chão, recusava-se a entender o que fizera. — Para você, é tudo um truque, um joguinho repulsivo que o fez ter pesadelos durante a subida da Z-3001. Correto?

— Eu deveria proceder de outra forma, Dr. Mitchum?

— Deveria ter permanecido no outro lado da Segunda Cortina de Ferro, que o louco tirano da Rússia resolveu construir. Mas, por hora, é só. Será conduzido à prisão política de Saint-Michelle, no Monte Saint-Michelle, onde aguardará a ordem para sua execução. Você custou aos Estados Unidos e à Humanidade um prejuízo incalculável. Novecentos bilhões de dólares americanos e uma oportunidade de visitarmos o futuro.

— Faria isso mil vezes, Mitchum. Seu projeto era o holocausto orbital. O dinheiro daria para alimentar dez milhões de pessoas, por dez anos, mesmo que fosse com comida para cachorro.

— Cale a boca, seu louco! Tínhamos de saber o que nos aguarda, no futuro! Agora, precisaremos de mais dez anos e pelo menos um trilhão de dólares para reconstruir o que você destruiu em quinze minutos!

O Dr. Mitchum levantou-se da poltrona confortável e saiu pela porta.

— Pode executá-lo agora mesmo, aí dentro, Dougall. Vai receber um aumento na sua conta, de cem mil ao mês. Vai poder se divertir bastante, com o dinheiro. Estamos no dia trinta de Outubro, não é? Mais outra dessas perdas e o Centro vai à falência, certo? — Ele deu uma risadinha, gostando da piada que criara. — Ficarei esperando do lado de fora. Pode ir.

Enquanto Dougall abria a porta, o Dr. Mitchum caminhou de um lado para o outro.

— Dr. Mitchum? — Era Maddox. — Entre na sala, ocorreu um terrível acidente. 

# 

— Ele pirou! Como deixaram que fizesse isso? Agora, o crânio responsável pelo projeto se foi! — O General Peters continuou: — Quero ele morto! Pode provocar mais estragos.

— General, não podemos fazer nada. Ele entrou na fronteira, na Cortina.

— Ponham-me em contato com o Presidente Andrei. Estamos a quinhentos quilômetros de Moscou e não podemos fazer nada?

Houve um início de tumulto, quando os outros assessores saíram da sala e Peters sentava-se na cadeira acolchoada.

— Como vai, General? — a imagem da tela era perfeita, instalada nos fundos da sala do alto oficial aeroespacial.

— Minha úlcera vai começar a sangrar de novo, e você sabe o que quero, Presidente. Sabotou-nos no nosso momento de revelação! Não há mais nada a fazer, não compreende? Não há ninguém com a nossa capacidade tecnológica e dinheiro para levar outro androide para cem anos no futuro!

— Exceto nós.

Peters levantou-se da cadeira, apertou os olhos e disparou:

— Bastardo! Como conseguiu, como fez isso, debaixo do nariz de nossos agentes? Vai mandar um astronauta para quinhentos anos no futuro, em vez de um androide? Você...

— Shh... Shh... Calma. Vamos enviar um homem, para cento e cinquenta anos além do agora. Não se descontrole. Não se descontrole ou vai jogar uma bomba de antimatéria em seus pés. Precisamos de comida, mais do que vocês, americanos. Noventa e nove por cento do nosso povo passa fome. Eu também. Temos de ter a tecnologia para o plantio sem os transgênicos. Eles acabaram com as lavouras, onde há alface, não há tomate, onde há trigo, não há milho... Mas já chega, vou desligar. Temos tantas bombas de antimatéria quanto vocês. E algumas em suas principais cidades.

A tela ficou branca, o contato desligado por Andrei. O General Peters ficou olhando, petrificado, para a tela. Em dez minutos voltou à realidade, ninguém se atrevendo a entrar em sua sala.

Em um minuto, vestiu o casaco, as luvas de couro e caminhou com passos incertos para a porta. Ignorou os jornalistas, assessores, oficiais de baixo escalão, apertou um interruptor no bolso do casaco e o carro oficial estacionou em frente ao edifício principal do Centro.

Ele entrou no automóvel e partiu, a neve caindo com suavidade no lado de fora. 




SOBRE  O AUTOR:
Roberto Fiori é um escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Roberto Fiori sempre foi uma pessoa que teve aptidão para escrever. Desde o ginásio, passando pelo antigo 2º Grau, suas notas na matéria de redação eram altas, muito acima da média. O que o motivava a escrever eram suas leituras, principalmente Ficção Científica e Fantasia. Descobriu cedo, pelo mestre da Fantasia Ray Bradbury, que era a Literatura Fantástica que admirava acima de qualquer outro gênero literário.

Em 1989, sob a indicação de uma grande amiga sua, Loreta, que o escritor conheceu a Oficina da Palavra, na Barra Funda, em São Paulo. E fez uma boa amizade com o maior professor de literatura que já tive, André Carneiro. Sem dúvida alguma, se não fosse pelo André, Roberto nos diz que jamais saberia o que sabe hoje, sobre a arte da escrita. Nos cursos que ele ministrava, o autor aprendeu na prática a escrever, as bases de como tornar uma mera história de ficção em uma obra que atraísse a atenção das pessoas.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma obra parte Fantasia, parte Ficção Científica, parte Horror, e que poderá vir a se tornar realidade, quer em outra época, no futuro, quer em outra dimensão paralela à nossa. Vivemos em um Cosmos que não é o único, nessa teia multidimensional chamada Multiverso. Ele existe, segundo as mais avançadas teorias da cosmologia. São Universos Paralelos, interligados por caminhos ou “wormholes” – buracos de minhoca. Um “wormhole” conecta dois buracos negros, ou singularidades, em que a gravidade é tão elevada que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Em tais “wormholes”, o tempo e o espaço perdem suas características, tornam-se algo que somente pode-se especular e deduzir matematicamente.

“Futuro! – Contos fantásticos de outros lugares e outros tempos” é uma coletânea de treze contos e noveletas. Invasões alienígenas por seres implacáveis, ameaças vindas dos confins da Via Láctea por entidades invencíveis, a luta do Homem contra uma raça peculiar e destrutiva ao extremo, terrível e que odeia o ser humano sem motivo algum. Esses são exemplos de contos em que o leitor poderá não enxergar qualquer possibilidade de sobrevivência para o Homem. Mas, ao lado de relatos de pesadelo, surgem contos que nos falam de emoções. Uma máquina pode apresentar emoções? Ela poderia sentir, se emocionar? Nosso povo já esteve à beira da catástrofe nuclear, em 1962. Isso é realidade. Mas e se nossa sobrevivência tivesse sido conseguida com uma pequena ajuda de uma raça semelhante à nossa em tudo, na aparência, na língua, nos costumes? E que desejaria viver na Terra, ao lado de seus irmãos humanos? Há histórias neste livro que trazem ao leitor uma guerra milenar, que poderá bem ser interrompida por um casal, cada indivíduo situado em cada lado da contenda. E há histórias de terror, como uma presença, não mais que uma forma, que mata, destrói e não deixa rastros. 
Enfim, é uma obra de ficção, mas que poderá vir a se revelar algo palpável para o Homem, como na narrativa profética da destruição de um planeta inteiro.

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