Fale-nos sobre você.
Eu poderia dizer que sou professora, pesquisadora e escritora, mas penso que, hoje, o que melhor me define, é que sou uma plantadora de letras, como eu sempre quis ser. Quando criança, observava meu avô no jardim; admirava o desvelo com que ele cuidava de cada flor: alices, margaridas, orquídeas, rosas... Eu pensava que um dia queria ser como ele e cultivar flores minhas. Descobri cedo que minhas flores e meu jardim seriam outros, mas não menos especiais. As letras me cativaram e desde então nunca mais nos separamos.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo?
A história da
escrita da “Menina que plantava letras” é extremamente especial! Desde que
comecei a escrever ficção, tive muita vontade de me comunicar com o mundo
lúdico da criança, mas eu não sabia se conseguiria resgatar aquele encantamento
do mundo infantil. A gente “adultece” e perde muito da liberdade que só as
crianças são capazes de cativar. Muitas vezes me peguei a pensar qual o tipo de
livro eu gostaria de ler quando era menina e me lembrei de que os livros dos
quais eu mais gostava, aqueles recheados de aventuras, como os da coleção
Vagalume, por exemplo, ou mesmo dos contos de fada, não os de princesa, mas
aqueles que seguravam pela emoção da aventura, não tinham meninas como centro
da trama. Eram sempre os meninos que perseguiam o vampiro, descobriam um
assassinato no hotel, enfrentavam piratas etc. Eu sempre amei O menino
maluquinho do Ziraldo, li muitas vezes e quando terminava, pensava: e se fosse
uma menina maluquinha?
Durante um tempo,
engavetei a ideia, até que conheci meu companheiro de vida e de trabalho, Hugo
Brasarock. Quando li o livro que ele havia publicado, o “Baltazar: o sapop star”,
pela editora Areia Dourada, percebi que estava diante de um duplo grande
trabalho: uma história linda e uma ilustração digna de um grande artista.
Foi nesse momento
que me inspirei para dar sequência a meu projeto, contando com o apoio de Hugo,
tanto no que se refere ao incentivo da escrita quanto na ilustração que completa
meu trabalho com uma harmonia incrível.
Foi nesse momento
que a menina Sophia, a pequena e corajosa personagem do livro, ganhou liberdade
de escrever seu destino, sem as sapatilhas e laços com que a mãe lhe
presenteara, uma menina maluquinha, descalça, livre e feliz. Foi nesse momento
que Sophia estava pronta para representar as mais diversas meninas, que assim
como eu, quando criança, sonharam com letras e história e jardins.
Quando terminei o
projeto, não consegui pensar em outra editora que não fosse a Uirapuru. Eu já
conhecia a excelência do trabalho do Egidio [Trambaiolli Neto] e de sua equipe,
sabia que Sophia estaria em excelentes mãos. E assim, o sonho aconteceu.
Que dicas pode fornecer a quem deseja ser escritor?
Ser escritor é um
exercício de coragem. É saber que haverá uma longa estrada a caminhar. Muito o
que aprender, muito mais do que para ensinar. É construir com letras pontes que
te levam a muitos outros, que te ligam a muitos mundos, e que nem sempre teremos
noção de quantas pessoas foram realmente atingidas por nosso trabalho, por isso
é também um ato de doação. De doação legítima, pois num país que não reconhece
seus artistas e escritores, é uma doação sem certeza de reciprocidade.
Eu estou nessa
estrada há mais ou menos 14 anos, claro que conto o tempo em que iniciei uma
jornada profissional, já que invento histórias desde que me entendo por gente,
e posso garantir que não foram poucas as vezes que me perguntei, bastante
desanimada: “Escrevo para quem? Escrevo por quê?”.
Essas duas
perguntas piscaram diante de mim muitas e muitas vezes. Hoje, mais amadurecida,
chego à conclusão de que escrevo porque isso faz parte de minha vida. Escrevo para
mim e para quem quiser me acompanhar. A felicidade que sinto a cada leitor que
envia seu parecer, sua pergunta, e mesmo uma crítica que indica a leitura de
minhas histórias, é incalculável.
Então, minha dica
para quem inicia esse caminho é: seja leal a seu estilo, a sua essência. Tire
dos ombros a necessidade de ganhar prêmios, entrar para a Academia de Letras,
estar entre os best-sellers. Escreva comprometido com o prazer da escrita.
Tenha como centro a Literatura, faça um pacto com as Letras. Se você não tiver
sucesso (acho bem problemático esse termo), aquele sucesso que hoje a maioria
das pessoas acredita estar traduzido por moedas, likes e seguidores, posso
garantir: você terá a liberdade de pertencer e servir única e exclusivamente ao
encantado mundo das letras e isso não há absolutamente nada que possa superar.
Eu aprecio demais
essa liberdade de poder moldar letras. Depois que iniciei meu trabalho com Hugo
Brasarock, especialmente na composição de músicas e contos de terror, pude
ampliar ainda mais minhas possibilidades e me reinvento todos os dias. Qual
outra profissão possibilitaria isso?
O que tem lido atualmente?
Estou lendo,
atualmente, Os subterrâneos da liberdade, de Jorge Amado e O mundo em que vivi de Ilse Lieblich Losa. Pretendo iniciar a Casa
de Bonecas de Henrik Ibsen.
Além desse livro, há algum outro projeto em
andamento?
Sim, são os projetos que mantêm a chama da vida acesa! Pretendo lançar um livro de poesias com Hugo Brasarock e seguir com nosso projeto de contos de terror, em forma de livro e com nosso canal “Contos de Encruzilhada”. Também estou escrevendo a sequência de A menina que plantava letras, preparando novas aventuras para a pequena Sophia.
Link para o livro:
https://www.lojaeditorauirapuru.com.br/produtos/a-menina-que-plantava-letras/
Link para o canal Contos de Encruzilhada:
https://www.youtube.com/channel/UCozQaX-CjreqO5F5ZqtCfpw
Link para uma entrevista com o professor, editor e escritor Egidio Trambaiolli Neto:
http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2019/07/o-professor-editor-e-escritor-egidio.html
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas
Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos
livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita:
atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca
(Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O
quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no
castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora
Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o
campus (Editora Verlidelas, 2020), O medo que nos envolve (Editora Verlidelas,
2021) e Queimem as bruxas: contos sobre intolerância (Editora Verlidelas,
2021). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde
1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de
gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil.
Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru.
Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se
intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora
Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto
número 2 (Editora Uirapuru, 2021).
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