Evelyn Mello - Foto divulgação |
Fale-nos sobre você.
Sou professora da ETEC Paulino Botelho de São Carlos há 11 anos, onde comecei minha carreira como docente de língua espanhola, atuei em projetos ligados à Sociologia e Filosofia, em parceria com a The World Children’s Prize Foundation, uma organização sueca, que atua especificamente na defesa aos direitos da criança e do adolescente. Atualmente, sou professora de língua portuguesa e literatura.
Tenho graduação em Letras – Licenciatura Plena em Português e Espanhol – pela Universidade Federal de São Carlos.
Em 2011, concluí meu mestrado na UNESP, na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Logo em seguida, dei sequência ao doutorado, concluído no ano passado, igualmente na FCLAr. Atualmente, sou estudante de pós-doc na Universidade Federal de São Carlos.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro O degrau. O que a motivou a escrevê-lo?
A escrita de O degrau nasceu de uma reflexão muito particular sobre o estilo de vida que adotamos atualmente. Explico-me melhor: quantas vezes nos damos conta de que sequer observamos o caminho que percorremos com nosso carro, ou mesmo a pé, não importa como nos deslocamos, mas a verdade é que não faz diferença se no percurso há árvores, pessoas, prédios ou casas.
Simplesmente traçamos uma reta e quando vemos, lá estamos nós em nosso destino. Mas não sabemos muito bem o porquê de corrermos tanto, qual a razão de escolhermos um dado objetivo ou outro; suamos para alcançar metas: para quem?
Nossas metas são realmente escolhidas? Existe escolha? Ou negligenciamos nossas vontades da mesma forma que apagamos paisagens porque estamos sempre apressados demais, ocupados demais?
Por isso a obra traça uma única personagem, cuja principal preocupação é subir uma escada, único espaço presente na obra. Sua preocupação também é uma só: vencer degrau por degrau para atingir o último, o que lhe garantiria o topo e, por conseguinte, o fim de uma jornada. Mas e este fim? O que ele garante? O que fazer depois do fim?
Creio que O degrau foi um grito contra imposições, formas e fôrmas, um desafio à pressa e às imposições. Ele não tem forma; pode ser encarado como poesia, como romance experimental, como nada... Ele nasceu do nada, se inspirou por causa do nada, ou seja, é fruto do vazio de todo aquele que segue o comportamento de manada, um sintoma bem específico destes tempos tão robotizados que temos vivenciado. Nós não temos a medida do que somos, também não enxergamos os outros. Somos irremediavelmente cegos e falsamente crentes de que dominamos nossa caminhada.
Eu penso que O degrau é realmente muito irracional, mas duramente sóbrio; é sensível para se opor ao excesso de racionalidade da sociedade, mas também é realidade crua contra a irracionalidade que predomina em sociedade. Em suma, ele condensa e expõe questões existenciais que nos são caras, mas nem sempre estamos prontos a confrontar.
Sou professora da ETEC Paulino Botelho de São Carlos há 11 anos, onde comecei minha carreira como docente de língua espanhola, atuei em projetos ligados à Sociologia e Filosofia, em parceria com a The World Children’s Prize Foundation, uma organização sueca, que atua especificamente na defesa aos direitos da criança e do adolescente. Atualmente, sou professora de língua portuguesa e literatura.
Tenho graduação em Letras – Licenciatura Plena em Português e Espanhol – pela Universidade Federal de São Carlos.
Em 2011, concluí meu mestrado na UNESP, na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Logo em seguida, dei sequência ao doutorado, concluído no ano passado, igualmente na FCLAr. Atualmente, sou estudante de pós-doc na Universidade Federal de São Carlos.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro O degrau. O que a motivou a escrevê-lo?
A escrita de O degrau nasceu de uma reflexão muito particular sobre o estilo de vida que adotamos atualmente. Explico-me melhor: quantas vezes nos damos conta de que sequer observamos o caminho que percorremos com nosso carro, ou mesmo a pé, não importa como nos deslocamos, mas a verdade é que não faz diferença se no percurso há árvores, pessoas, prédios ou casas.
Simplesmente traçamos uma reta e quando vemos, lá estamos nós em nosso destino. Mas não sabemos muito bem o porquê de corrermos tanto, qual a razão de escolhermos um dado objetivo ou outro; suamos para alcançar metas: para quem?
Nossas metas são realmente escolhidas? Existe escolha? Ou negligenciamos nossas vontades da mesma forma que apagamos paisagens porque estamos sempre apressados demais, ocupados demais?
Por isso a obra traça uma única personagem, cuja principal preocupação é subir uma escada, único espaço presente na obra. Sua preocupação também é uma só: vencer degrau por degrau para atingir o último, o que lhe garantiria o topo e, por conseguinte, o fim de uma jornada. Mas e este fim? O que ele garante? O que fazer depois do fim?
Creio que O degrau foi um grito contra imposições, formas e fôrmas, um desafio à pressa e às imposições. Ele não tem forma; pode ser encarado como poesia, como romance experimental, como nada... Ele nasceu do nada, se inspirou por causa do nada, ou seja, é fruto do vazio de todo aquele que segue o comportamento de manada, um sintoma bem específico destes tempos tão robotizados que temos vivenciado. Nós não temos a medida do que somos, também não enxergamos os outros. Somos irremediavelmente cegos e falsamente crentes de que dominamos nossa caminhada.
Eu penso que O degrau é realmente muito irracional, mas duramente sóbrio; é sensível para se opor ao excesso de racionalidade da sociedade, mas também é realidade crua contra a irracionalidade que predomina em sociedade. Em suma, ele condensa e expõe questões existenciais que nos são caras, mas nem sempre estamos prontos a confrontar.
Fale-nos sobre sua obra anterior.
Minha obra anterior, Femiversomulti, igualmente publicada pela editora Todas as Musas, foi minha primeira experiência com ficção. Aliás, eu realmente nunca havia considerado enveredar por este caminho. Entretanto, as crônicas ali presentes foram frutos de muita observação, mais precisamente ao longo de 14 anos; são fatos que acompanhei na pele de diferentes mulheres, cada uma delas com uma vivência absolutamente diferente, mas todas muito ansiosas e necessitadas de um ouvido que pudesse captar, principalmente, suas dores, opiniões, sonhos e experiências. Trabalhei no comércio durante quatro anos e meio, o que me garantiu um grande laboratório literário.
Depois, realizei um curso de direitos humanos no Memorial da Resistência, ocasião em que pude conhecer a cracolândia e toda sua miséria, visitei as esquinas de São Paulo e sorvi cada gota do que ela poderia me proporcionar quanto ao material humano, tão desumanizado, ali presente.
Comecei a prestar atenção nas conversas em pontos de ônibus e nos corredores de supermercados e me peguei a pensar, como mulher, quantas outras mulheres havia com experiências tão diferentes das minhas e o quanto seria rico dar voz a elas, posto que nem sempre essas pessoas encontravam locutores verdadeiramente interessados em suas histórias.
Também comecei a pensar o quanto nossa noção de mulher e de “coisas de mulher” ou “feminilidade” é limitada. Toda mulher, individualmente, é um universo, absolutamente complexo, o que implica dizer que há diversas formas de ser mulher e seus problemas são tão múltiplos e diversos que encapsulá-los no rótulo feminino é absolutamente redutor.
Foi dessa percepção que a obra Femiversomulti nasceu. Uma obra composta por 8 crônicas, número que, uma vez invertido, assume o símbolo do infinito. Cada uma das crônicas, portanto, dá voz e espaço para mulheres diferentes, em situações diversas, conferindo liberdade para que cada uma delas se expresse como bem entender e adquiram a notoriedade que as cidades, tão gulosamente, devoram em seu cotidiano.
Como analisa a questão da leitura no país?
É angustiante para alguém que cresceu entre livros, meu caso, e teve seu primeiro compromisso e único com a Literatura, igualmente meu caso, conviver com a realidade de viver em um país onde por volta de 40% da população nunca comprou um livro. Mais sufocante ainda é ser escritora numa sociedade que passou a perseguir abertamente os intelectuais porque estão muito distantes de ter condições de perceber a grande miséria em que se encontram.
Entretanto, obviamente, sabemos que há um plano muito bem orquestrado para manter a população neste estado de transe, distante da leitura e inimiga declarada das causas culturais: um povo que não lê, não conhece, não delibera, será para sempre refém de políticos sem talento, mas oportunistas o suficiente para mantê-los em sua cegueira e analfabetismo funcional.
Contudo, como intelectual, produtora de cultura e professora encaro com muita coragem o meu papel de formadora de opinião e assumo minha posição de batalha contra este sistema. Formo rodas literárias, faço leitura conjunta com meus alunos, escrevo livros, ainda que seja para que ninguém leia. Aquela velha história de quem planta árvores, mesmo sabendo que não se beneficiará de sua sombra.
O que tem lido atualmente?
Eu tenho um ritmo bem curioso de leitura, pois leio bibliografias pertinentes ao pós-doc e, ao mesmo tempo, tenho meus livros de descanso para as horas de lazer. Ou seja, para trabalho, estou lendo A noite dentro da noite de Joca Reiners Terron; para descanso, o livro de Contos Completos de Clarice Lispector e Villete de Charlote Bronte. Isto significa que leio no mínimo três livros por semana.
Quais são os seus próximos projetos?
Como próximos projetos, tenho a reescrita de meu primeiro livro, resultado de minha dissertação de mestrado, pois gostaria de adequá-lo aos resultados obtidos em meu doutorado, em outras palavras, atualizá-lo à luz da pesquisa de doutorado. Também pretendo escrever um romance, já iniciado, e um livro de contos (engavetado, mas em processo de formação).
Ou seja, a única certeza é continuar trilhando os caminhos da literatura, à contramão, sempre, deste desprestígio cultural, desse baixo-astral institucionalizado pela política vigente. Se eles querem silêncio, nós oferecemos a balbúrdia.
Link para a compra do livro: https://todasasmusas.com.br/livro_degrau.html
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
Minha obra anterior, Femiversomulti, igualmente publicada pela editora Todas as Musas, foi minha primeira experiência com ficção. Aliás, eu realmente nunca havia considerado enveredar por este caminho. Entretanto, as crônicas ali presentes foram frutos de muita observação, mais precisamente ao longo de 14 anos; são fatos que acompanhei na pele de diferentes mulheres, cada uma delas com uma vivência absolutamente diferente, mas todas muito ansiosas e necessitadas de um ouvido que pudesse captar, principalmente, suas dores, opiniões, sonhos e experiências. Trabalhei no comércio durante quatro anos e meio, o que me garantiu um grande laboratório literário.
Depois, realizei um curso de direitos humanos no Memorial da Resistência, ocasião em que pude conhecer a cracolândia e toda sua miséria, visitei as esquinas de São Paulo e sorvi cada gota do que ela poderia me proporcionar quanto ao material humano, tão desumanizado, ali presente.
Comecei a prestar atenção nas conversas em pontos de ônibus e nos corredores de supermercados e me peguei a pensar, como mulher, quantas outras mulheres havia com experiências tão diferentes das minhas e o quanto seria rico dar voz a elas, posto que nem sempre essas pessoas encontravam locutores verdadeiramente interessados em suas histórias.
Também comecei a pensar o quanto nossa noção de mulher e de “coisas de mulher” ou “feminilidade” é limitada. Toda mulher, individualmente, é um universo, absolutamente complexo, o que implica dizer que há diversas formas de ser mulher e seus problemas são tão múltiplos e diversos que encapsulá-los no rótulo feminino é absolutamente redutor.
Foi dessa percepção que a obra Femiversomulti nasceu. Uma obra composta por 8 crônicas, número que, uma vez invertido, assume o símbolo do infinito. Cada uma das crônicas, portanto, dá voz e espaço para mulheres diferentes, em situações diversas, conferindo liberdade para que cada uma delas se expresse como bem entender e adquiram a notoriedade que as cidades, tão gulosamente, devoram em seu cotidiano.
Como analisa a questão da leitura no país?
É angustiante para alguém que cresceu entre livros, meu caso, e teve seu primeiro compromisso e único com a Literatura, igualmente meu caso, conviver com a realidade de viver em um país onde por volta de 40% da população nunca comprou um livro. Mais sufocante ainda é ser escritora numa sociedade que passou a perseguir abertamente os intelectuais porque estão muito distantes de ter condições de perceber a grande miséria em que se encontram.
Entretanto, obviamente, sabemos que há um plano muito bem orquestrado para manter a população neste estado de transe, distante da leitura e inimiga declarada das causas culturais: um povo que não lê, não conhece, não delibera, será para sempre refém de políticos sem talento, mas oportunistas o suficiente para mantê-los em sua cegueira e analfabetismo funcional.
Contudo, como intelectual, produtora de cultura e professora encaro com muita coragem o meu papel de formadora de opinião e assumo minha posição de batalha contra este sistema. Formo rodas literárias, faço leitura conjunta com meus alunos, escrevo livros, ainda que seja para que ninguém leia. Aquela velha história de quem planta árvores, mesmo sabendo que não se beneficiará de sua sombra.
O que tem lido atualmente?
Eu tenho um ritmo bem curioso de leitura, pois leio bibliografias pertinentes ao pós-doc e, ao mesmo tempo, tenho meus livros de descanso para as horas de lazer. Ou seja, para trabalho, estou lendo A noite dentro da noite de Joca Reiners Terron; para descanso, o livro de Contos Completos de Clarice Lispector e Villete de Charlote Bronte. Isto significa que leio no mínimo três livros por semana.
Quais são os seus próximos projetos?
Como próximos projetos, tenho a reescrita de meu primeiro livro, resultado de minha dissertação de mestrado, pois gostaria de adequá-lo aos resultados obtidos em meu doutorado, em outras palavras, atualizá-lo à luz da pesquisa de doutorado. Também pretendo escrever um romance, já iniciado, e um livro de contos (engavetado, mas em processo de formação).
Ou seja, a única certeza é continuar trilhando os caminhos da literatura, à contramão, sempre, deste desprestígio cultural, desse baixo-astral institucionalizado pela política vigente. Se eles querem silêncio, nós oferecemos a balbúrdia.
Link para a compra do livro: https://todasasmusas.com.br/livro_degrau.html
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
A prosa em tom quase de verso, uma das grandes características de Evelyn Mello, dão um ritmo impecável à leitura. Sou fã número um!
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