Em 1905, o editor da revista Je Sais Tout pediu ao escritor francês Maurice Leblanc que criasse um personagem para rivalizar com o britânico Sherlock Holmes.
Ao invés de
criar um detetive, Leblanc, que era um socialista radical e livre-pensador,
criou um sofisticado ladrão que enganava a polícia e conseguia realizar os
roubos mais assombrosos, sem no entanto, matar ninguém. Sua inspiração foi o
ladrão anarquista Marius Jacob, responsável por 150 assaltos que o fizeram
famoso na França.
A primeira
história já fugia do que era esperado ao mostrar a... prisão de Lupin!
Já nessa
primeira história, o escritor descreve a fama de seu personagem: “O impecável
ladrão de quem se contavam as proezas em todos os jornais há meses! A
enigmática personagem com que o velho Ganimard, o nosso melhor policial, tinha
iniciado um duelo de morte cujas peripécias se desenrolavam de modo tão
pitoresco! Arséne Lupin, o ladrão de casaca que só operava nos castelos e
salões e que, uma noite em que penetrara na casa do Barão Schormann, saíra de
mãos vazias deixando seu cartão com essa tirada ‘Arséne Lupin, cavaleiro
furtador, voltará quando os objetos forem autênticos’”.
O que destacava
Lupin era sua inteligência e sua capacidade de se fazer passar por outra
pessoa, como fica claro nesse primeiro conto. O sucesso foi tão grande que o
editor pediu outra história, e outra e outra.
A editora
Principis reuniu as primeiras aventuras do anti-herói no volume Arséne Lupin –
o ladrão de casaca, um livro de 192 páginas com uma bela capa, que peca apenas
pela falta de textos introdutórios.
Na antologia há
contos realmente empolgantes, como “A fuga de Arsène Lupin”, que conta a
maneira engonhosa como o personagem conseguiu evadir-se da prisão depois de ter
sido pego graças à paixão por uma garota. É uma trama realmente bem elaborada,
que mexe com as expectativas do leitor, apresentando mais de uma reviravolta. E
que se destaca pelas hilárias sequências de humor. À certa altura, por exemplo,
Lupin simula uma fuga (que tem como objetivo desnortear seus captores). Depois
de passear por Paris, tomar um café, ele volta para a prisão e apresenta-se:
- É aqui o
Santé?
- Sim.
- Desejava
voltar à minha cela. O carro me abandonou no caminho e não desejo abusar...
Em outra
história, Lupin engana a polícia e coloca dois agente para ajudá-lo a pegar de
volta o que lhe foi roubado, numa história com fino toque de humor.
Outras histórias
são previsíveis e até arrastadas, mas isso é compensado pela narrativa fluída
de Leblanc.
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