Ela se vê, isto sim, em jornada. Se vê empreendendo, como o “Louco” do Tarô, uma viagem muito sua pelos caminhos da vida. Seu destino não é um lugar concreto, mas um estado de ser, um sentir-se inteira. Não resolvida, mas inteira, única, uma consigo!
De natureza reclusa e introvertida, passa muito do seu tempo no “Reino da Alma”. É lá que nascem seus poemas...
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Ocorre que durante a pandemia, naquele momento em que ficamos todos cara a cara com a morte, eu decidi que bastava de perambular sem rumo. Comecei participando de concursos literários, tanto de poemas quanto de contos. Publiquei em antologias poéticas, fui coautora do livro “Textos sensíveis demais pra não serem lidos”, da Editora Expressividade. E como a essa altura eu já tinha bastante material guardado, decidi que era chegando o momento de dar vida a ele.
Conexão Literatura: Você é autora do livro "Eu não sou uma mulher direita”. Poderia comentar?
Roberta Gonçalves: “Eu não sou uma mulher direita”, a princípio, é só mais um livro de poemas. Poemas que dialogam muito com o feminino. Um feminino profundamente ferido por um sistema patriarcal, capitalista e totalmente desprovido de alma como o que vivemos, sobretudo no Ocidente. Só por isso ele já é muito bonito. Mas uma escavação mais profunda pode revelar ainda mais. Em “Eu não sou uma mulher direita” eu conto uma história alquímica. Ele é sobre calcinação, sublimação, solução, fermentação, separação, coagulação e união... Ele é sobre encontrar “ouro” em si!
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
Roberta Gonçalves: Eu fui meu próprio objeto de pesquisa. Filha de pais muito conservadores e criada num contexto social/religioso extremamente machista, mas dona de uma natureza que ansiava por “liberdade”, eu me vi muito cedo diante de uma encruzilhada. Eu era o que a Dra. Clarissa Pinkola Estés, em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”, chama de “zigoto errado”.
Ter sido o “zigoto errado” da família foi o que me rendeu boa parte do material para “Eu não sou uma mulher direita". A outra parte veio da necessidade que eu tinha de me assumir como sou num tempo em que se ditam regras para tudo.
É um trabalho que reúne poemas de uma vida em jornada.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?
Roberta Gonçalves: “Avoa, brabuleta”
Não percebe que não faz sentido
Ter asa e cultivar âncora nos pés?
“Brabuleta” carece de voo
Se fica...
Definha!
Acho que este trechinho do poema “Avoa, brabuleta” fala bastante sobre meu livro...
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Roberta Gonçalves: “Eu não sou uma mulher direita” está em pré-venda no site da Editora Libertinagem. Há um link em minha biografia do Instagram (@robertafsgoncalves).
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Roberta Gonçalves: Existem sim, uma novela que pode se transformar em romance, inclusive.
Perguntas rápidas:
Um livro: “Mulheres que correm com os lobos”
Um (a) autor (a): Carlos Ruiz Zafón, que partiu tão cedo
Um ator ou atriz: Virgínia Cavendish, principalmente em “Lisbela e o prisioneiro”
Um filme: Internacional: Malena / Nacional: Abril Despedaçado
Um dia especial: O domingo em que adotei Pérola...
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Roberta Gonçalves: O poema que dá título a “Eu não sou uma mulher direita” nasceu em conversa com um senhor que me contava um “causo”. Ao iniciar o conto, ele dizia que aquela história havia se dado no tempo em que as mulheres eram direitas...
Mas sabe que tempo era esse? Sabe a que tempo ele estava se referindo? Aquele em que às mulheres só era reservado o direito ao silêncio. Minha avó viveu esse tempo, a mãe dela também, e ainda mais mãe da mãe dela... Mulheres que passavam da guarda do pai para a do marido, que eram estupradas em suas noites de núpcias (e talvez, em todas as outras depois), que pariam um filho atrás do outro porque a santa Igreja dizia que o sexo era para procriação, que sofriam caladas a dor do cajado patriarcal, e que quando gritavam eram internadas em hospícios como histéricas... Era a esse tempo que ele estava se referindo!
Ainda há pessoas em nossa sociedade que associam o feminismo à morte do feminino. Há pessoas bem mais jovens do que aquele senhor que compartilham dessa visão tão tacanha. Precisamos falar sobre isso. Precisamos ensinar aos nossos filhos que o tempo das “mulheres direitas” já passou. Graças à deusa, que está renascendo!
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