Eduardo Cardoso - Foto divulgação |
Fale-nos sobre você.
Eduardo Cardoso é formado em Letras pela Universidade do Grande ABC. É professor de Língua Portuguesa da prefeitura do município de São Paulo. Especialista em Filosofia e Pensamento Político Contemporâneos pelo Centro Universitário Assunção e graduando em Filosofia pela Universidade Paulista, além de pós-graduando em Educação Transformadora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e psicanalista em formação pela Escola de Psicanálise de São Paulo. Na área literária, participou da “1ª. Antologia Literária do Grupo de Escritores da UniABC” (livro organizado por Adriano Calsone e Sérgio Simka, publicado pela Editora da UniABC, em 2006) e da coletânea “Contos (para Ler) na Universidade” (livro organizado por Sérgio Simka e ítalo Bruno, publicado pela Editora Iglu, em 2009). “Corpo-luto” é o seu romance de estreia (publicado pela Editora Todas as Musas, em 2020).
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro. O que o motivou a escrevê-lo?
Um dos motivos que me levaram a escrever a obra Corpo-luto foi a questão de que parte dos jovens e idosos estão desistindo de viver. Por que isto está acontecendo? Por que adolescentes simplesmente não querem mais viver? Por que há uma taxa altíssima de suicídios entre os idosos? Diante destes fatos, passei a fazer leituras sobre o assunto. Além disso, vejo o descaso de parte da sociedade em como trata as pessoas de idade avançada - um objeto envelhecido, obsoleto que não serve mais para nada. Sendo assim, a escrita de Corpo-luto é social - foi direcionada para as relações de afetos que estão ocorrendo entre as pessoas, cujas amizades ou relacionamentos terminam por apenas um clique - o quanto essas relações no fundo são vazias. E as plataformas digitais? Elas nos dão a ideia de que temos realmente cinco mil amigos - olha que loucura? No máximo, conhecemos umas cinquenta pessoas de forma não virtual - as relações se tornaram "líquidas”, como escreveu o sociólogo Zygmunt Bauman (infelizmente já falecido). Obviamente, que fiz um recorte, pois não posso escrever ou determinar que todas as pessoas pensam ou agem desta forma.
A personagem principal Domenico é um acadêmico em idade avançada, com grandes perdas em sua vida, que passa a se questionar "o que é o morrer?". Portanto, o fluxo narrativo ocorre com o processo narrador-personagem que apresentam ao leitor as suas angústias, seus medos, suas ausências e seus amores - e são seus questionamentos que podem levar os leitores e leitoras a refletir um pouco mais sobre suas próprias vidas.
Como analisa a questão da leitura no país?
Infelizmente o cenário da população brasileira em relação à leitura é caótica, pois as pessoas, em sua maioria, não têm o hábito de ler. É um processo histórico. Se analisarmos o Brasil do século XX, como os jovens eram educados? As famílias mais abastadas mandavam seus filhos estudar fora do país ou o acesso à educação era apenas para as famílias burguesas. Depois, tivemos o rádio no Brasil a partir dos anos 20 - como meio de entretenimento e a partir dos anos 50 a tevê Tupi com Assis Chateaubriand. Sendo assim, se algum dia, tivemos uma cultura de leitores, logo foi substituída pela cultura dos telespectadores. Então, "ser" leitor ou leitura tornou-se coisa de intelectuais - a massa passou a não ter mais tempo para isso (se é que algum dia teve). A indústria cultural deu um jeito de entreter as pessoas com seus filmes hollywoodianos, ou suas as novelas brasileiras. A leitura, como se sabe, inicia-se em grande parte por modelos que as crianças têm ou tiveram das figuras paternas e maternas, ou educadores. Entretanto, a questão é que os responsáveis por esses menores de idade estão fora o dia inteiro, pois precisam trabalhar, e indiretamente, não têm tempo ou disposição para ler alguma coisa (há as exceções, obviamente) - porém, para algumas pessoas, o ato de ligar a televisão quando chega em casa é automático. Ou se quiserem ler um livro, o cansaço é tanto, que alguns decidem parar a leitura ou acabam dormindo com o livro na mão. Sem falar dos educadores que exigem leituras de seus educandos, mas não leem ao menos um livro por ano. Faço o que eu digo e não o que faço? Então, logicamente, teremos adultos que não terão o hábito de leitura - tudo é proposital, quanto menos leitores tivermos, mais pessoas dispostas a seguir comandos teremos. Pois a leitura leva a um processo de reflexão. Portanto, vejo com muita tristeza o cenário brasileiro, porque a média do leitor ou leitora brasileiro(a) é de dois ou três livros por ano. Como pode? A quem interessa a produção de analfabetos funcionais? Fica esta pergunta.
O que tem lido ultimamente?
Sobre minhas leituras, bem, sou um leitor assíduo que consigo ler vários livros concomitantemente, em outras palavras, um dia estou lendo um romance e em outro, um livro filosófico - um processo de ir e vir. Porém, para delimitar, estou lendo ultimamente os livros dos filósofos Gilles Deleuze e Felix Guattari (Mil Platôs) e a obra de Freud, especificamente O Futuro de Uma Ilusão - essas leituras estão me ajudando a entender um pouco os processos existenciais de minha vida e as possíveis "linhas de fuga" ou sublimações (em termos psicanalíticos), que podem me ajudar a ter uma vida melhor.
Quais são os seus próximos projetos?
Ainda não parei para pensar... Acabei de lançar um livro. Estou aproveitando esse momento feliz, mas espero que o livro tenha uma boa receptividade e que, em breve, eu possa escrever outra obra.
Uma pergunta que gostaria de responder: Por que as massas aceitam ser exploradas passivamente?
Porque, no fundo, essas pessoas desejam fazer parte de uma engrenagem capitalista – que, em suma, envolve o "desejo” ou a ideia de que "somos donos da nossa própria vida”, e isto realmente é sedutor.
Link para o livro:
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros: Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Colunista da Revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e colunista da Revista Conexão Literatura. Seu mais novo livro se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020).
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