João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

  Querido(a) leitor(a)! Nossa nova edição está novamente megaespecial e destaca João Barone, baterista da banda Os Paralamas do Sucesso. Bar...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sobre o Conto Fantástico de Robert Silverberg, “O Homem que Jamais Esquecia”

Robert Silverberg - Foto divulgação
*Por Roberto Fiori
 
Eu não tenho sonhos. Vivo em um pesadelo acordado, com minha maldição. Encontro Bette Torrance, que mal conheci em um jogo de futebol, no Ano Novo de 1955, há dois anos. Tentei falar com ela, mas ela não se lembrava de mim. Eu lembro-me dela como se tivesse conversado com ela hoje mesmo. Afasto-me, o namorado dela não gostou de vê-la conversando com outro rapaz.

Tenho 29 anos. Chamo-me Tom Niles. Desejo “Feliz Aniversário” para mim mesmo, nos fundos de um prédio, num apartamento de 8 dólares por semana. Aos 12 anos, decidi que minha cidade de Lowry Bridge não servia mais para mim. Havia passado tempo demais nela e conhecia todos mais que o suficiente, o que se tornara um problema.

Todos em minha família eram “normais”. Menos eu. Eu me lembro de cada detalhe de minha vida, todos os dias, todos os anos. Ganhei um olho preto de Barry Harman, por ter vencido o Concurso de Memorização de Versículos Bíblicos da Escola Dominical. Eu os tinha lido uma única vez. Barry passara semanas a fio dando duro em cima do livro sagrado, para ver sua chance de ganhar do pai uma luva de boxe, caso vencesse o concurso. Mas eu o derrotei.

Com um ano de idade, repeti com exatidão o que a vizinha tinha dito em voz alta para minha mãe. Foi um acontecimento. “Como ele está crescendo!”, comentou a vizinha com mamãe. Fora uma repetição, sem eu ter entendido nada. Aconteceu. Um professor meu me dissera para não responder todas as perguntas que ele fazia na classe, ou eu iria ter problemas com o restante dos alunos, depois da aula.

Assim, tendo crescido demais, com a idade de 12 anos, achei que poderia cuidar de mim sozinho. Peguei algumas economias que minha mãe havia guardado numa caixinha que ela acreditava ser secreta, no fundo da prateleira da cozinha e tomei o trem para Chillicothe e saí de casa. Minha mãe havia mencionado o lugar em que guardava o dinheiro, cinco anos atrás. E eu recordava disso. Trabalhei em uma editora, num serviço de provas de originais. Fazia o dobro do trabalho exigido. Saí do serviço em um mês. Trabalhei como lavador de pratos em uma lanchonete, em Salt Lake City. Todos os empregos não duravam muito. Tive algumas garotas, mas elas se afastavam, logo que descobriam o meu talento especial. Um dia, não me aguentando mais de fome, supliquei ao dono de um parque de diversões que me desse uma chance. Eu poderia repetir qualquer coisa, sem erro nenhum. Ele leu um editorial de um jornal e eu o repeti, quando ele acabou. Fui admitido, mas fiquei lá por muito pouco tempo. As pessoas diziam coisas baixas e sórdidas, eu as repetia, para em seguida os fregueses já terem esquecido o que haviam falado para mim. Ninguém deu pela minha falta, quando me despedi dos colegas do parque.

Mudei-me a cada um ou dois meses de cidade para cidade: passei por Salt Lake City, Cheyenne, Denver, Wichita, de Wichita para Des Moines, para Minneápolis, Milwaukee, para então chegar em Indianápolis. Depois de três meses, cheguei em um bar à beira da estrada, em uma cidadezinha. Meti-me em uma conversa sobre quem havia vencido uma luta entre Joe Louis e Schmelling. Os homens que discutiram estavam bêbados, apostando. Com a minha opinião, um deles venceu a aposta. E o outro me deu uma surra que praticamente me enviou para o cemitério.

Acordo em uma cama de hospital. Era um pequeno hospital do Condado onde eu tinha sido agredido. Um homem e seu cachorro haviam me trazido. Uma mulher veio me visitar. É uma senhora. É minha mãe. Ela sorria para mim, estava com a aparência um pouco envelhecida pelo tempo. Eu não tenho raiva dela. Tinha, nos tempos antigos em que eu fugira de casa e me mudara para tantas cidades diferentes. Agora, não mais. Só sinto ternura por ela. Ela havia lido no jornal do Condado que alguém com características semelhantes a mim havia sido levado para o hospital.

Minha mãe me contou que meu avô também tinha o mesmo dom que eu, o de jamais esquecer. E fugira, abandonando minha avó e seus filhos. Minha mãe jamais havia dito algo para mim, em relação a este dom de meu avô. Percebi que meu dom nunca deveria ser perdido, e sim, passado de geração em geração. A enfermeira que me atendeu foi extremamente simpática, quando eu cheguei ao hospital. Recebeu-me com um sorriso não inteiramente profissional. Minha mãe me perguntara se eu já havia casado. Diante da negativa, falou que eu já deveria me decidir. Tinha quase trinta anos. Isso e mais o pensamento da passagem de meu dom para meus descendentes, me deu forças.
O médico que veio me atender me examinou. Disse que eu estaria bem em pouco tempo, era preciso alguns dias de descanso e cuidados médicos, nada de muito grave. Perguntou-me se precisava de alguma coisa. Disse-lhe que mandasse vir a enfermeira. Tão bela, simpática e sorridente. Enquanto ela não vinha ao meu quarto, fui decidindo o que diria para ela, que me era tão importante e tão caro.

“O Homem que Jamais Esquecia” (“The Man Who Never Forgot”, lançado primeiramente na revista Fantasy and Science Fiction, em 1957) foi publicado no Brasil pela Editora Cultrix, na antologia de histórias de Robert Silverberg “Outros Tempos, Outros Mundos” (“Parsecs and Parables”, em 1970). Robert Silverberg é, pelo volume de trabalho já publicado, e pela qualidade de seus textos, o expoente número um dos escritores de Ficção Científica e Fantasia. Venceu por quatro vezes o Prêmio Hugo e por seis vezes o Prêmio Nebula, os principais prêmios dados aos melhores trabalhos de Ficção Científica e Fantasia. Segundo Lee Child, "Bob Silverberg, um gigante da Ficção Científica... estava escrevendo dois livros por mês para um editor, um outro livro para um segundo editor e o equivalente a um outro livro para uma revista... Ele estava escrevendo um quaro de milhão de palavras por mês, sob muitos pseudônimos diferentes”. Isso foi entre 1956 e 1959.

Se alguém dissesse a Alex Mullen alguns anos atrás que ele seria capaz de memorizar as 51 cartas de um baralho em 21,5 segundos, o jovem de 24 anos não levaria a sério. Sua memória não era nada especial, ele a considerava abaixo da média.
Porém em Dezembro de 2015, este estudante de medicina da Universidade do Mississippi venceu o título de Melhor Memória do Mundo.

Neste Mundial de Memorização, disputado em Guangzhou, na China. Houve 10 rodadas de desafios para memorizar números, rostos e nomes.
O desafio final consistia em memorizar um baralho em menos tempo possível. Mullen, precisou de apenas 21,5 segundos para memorizar as cartas, um a menos que o então líder, Yan Yang. O americano agora também detém o recorde mundial de lembrar números, 3.029 em uma hora. Muller decorou também 3.888 números binários em 30 minutos. E garante que qualquer um pode chegar nesse nível. "Você apenas precisa criar um palácio mental", diz.
O "palácio mental" é a imagem que você guarda na cabeça de um lugar que conhece bem, seja sua casa ou o caminho para o trabalho.
Tanto nos livros de Sherlock Holmes, quanto na recente série de TV com o ator britânico Benedict Cumberbatch, o detetive volta e meia visitava seu palácio para fazer suas incríveis deduções.

É necessário apenas andar por seu "palácio" e deixar uma imagem de cada item em locais específicos ao longo da rota.
A técnica é atribuída ao poeta grego Simonides de Ceos, que viveu nos anos 400 a.C.
Reza a lenda que ele participava de um banquete na casa de um nobre quando precisou sair da sala para encontrar um mensageiro. Foi quando o teto da mansão caiu, matando todos no interior. Simonides percebeu que poderia lembrar onde todos os comensais estavam sentados, e assim identificou os corpos esmagados.
O evento teria levado o poeta a descobrir que a melhor maneira de lembrar-se de grupos de objetos ou fatos é ligá-los a imagens organizadas de forma específica e ordeira.

Nos dias de hoje, Eleanor Maguire, da University College London, no Reino Unido), escaneou os cérebros de dez finalistas do Campeonato Mundial de Memória.
Ela queria identificar se eles tinham diferenças estruturais cerebrais que resultariam em uma predisposição para memórias extraordinárias. Os testes não mostraram diferenças de intelecto ou alterações estruturais — a única diferença pareceu ser o uso de três áreas envolvidas na navegação. Os donos de supermemórias eram melhores puramente porque caminhavam em seus "palácios mentais".

Para lembrar-se de números, cada competidor tem seu sistema para convertê-los em imagens. Mullen usa um modelo de duas cartas para memorizar um baralho. Naipes e números viram fonemas: se o sete de ouros e o cinco de espadas estão juntos, por exemplo, o americano diz que os naipes formam o som "m", ao passo que o sete vira um "k", e o cinco, "l". Juntas, as três letras lembram a ele o nome Michael. É o que aprendemos na escola, desde cedo, como “processo mnemônico” de memorização.

Ele afirma usar outro truque que envolve 2.704 possíveis combinações, mas prefere não detalhá-lo. Mullen diz que se preparou apenas durante meia hora por dia para  participar do Mundial de Memorização.

É fato que, mesmo sendo perfeitamente normal, Robert Mullen se esforçou para chegar aonde está, no topo. Exige força de vontade, concentração e muita paciência. Porém, ele será substituído por outros, no lugar de memorizador mais perfeito. O cérebro humano envelhece, os neurônios morrem. Mesmo que ele se regenere, gerando novas sinapses, à medida em que morrem, há um limite de capacidade.

Mas tais métodos mnemônicos são muito úteis. Só não levam a uma pessoa a ter memória perfeita, como no conto de Robert Silverberg. Nesse caso, Tom Niles seria uma espécie de mutante, com o tipo de mutação favorável que só lhe traria benefícios, no futuro.


*Sobre Roberto Fiori:
Escritor de Literatura Fantástica. Natural de São Paulo, reside atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática. Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta, cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo. Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do espírito elevada e extremamente valiosa.

Sobre o livro “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, do autor Roberto Fiori:

Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas, demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.

Dizem que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que jamais será derrotada... Ou a fantasia que conta a chegada de um povo que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo. Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar, e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte... Ou, em outro mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem. 

Para adquirir o livro:
Diretamente com o autor: spbras2000@gmail.com
Livro Impresso:
Na editora, pelo link: Clique aqui.
No site da Submarino: Clique aqui.
No site das americanas.com: Clique aqui.

E-book:
Pelo site da Saraiva: Clique aqui.
Pelo site da Amazon: Clique aqui.

Crédito da imagem de Robert Silverberg: www.scottedelman.com
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Um comentário:

  1. Que crítica excelente! Acho importante falarmos sobre este tipo de assunto porque interfere nas nossas vidas. E eu adoro filmes que fazem ligação com assunto como política, afinal tudo é política ou a envolve. Adoro tudo que se relaciona ou usa o tema como pano de fundo, como livros e filmes. São sempre envolventes. Achei fantástico que estão produzindo um filme sobre um assunto tão importante, podendo ser um dos melhores filmes de drama atuais . Mal posso aguardar a estreia! Eu fiquei interessada porque parece ser uma megaprodução e conta com um elenco e direção excelentes, sendo muito aguardada e recebendo boas críticas.

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