João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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quarta-feira, 8 de março de 2017

PARA AS MULHERES (e homens também)

Quando eu estava no colégio, ainda mocinha, veio uma senhora fazer uma palestra sobre “família feliz”. Nunca me esqueci de que ela dizia que tudo estava nas mãos da mulher, ou seja, a chave da felicidade da família. E que tal felicidade dependeria unicamente, segundo ela, da capacidade da mulher de compreender o estado de espírito de cada pessoa da família, e com incrível e hercúlea habilidade, reverter um mau humor aqui e ali, salvando tudo e todos. E o homem? E os filhos? Então cá eu fico pensando com meus botões, e reflito como sempre tanto foi exigido da mulher, quanto peso foi colocado em suas costas. Evidentemente que aquela palestra foi no tempo antigo, e óbvio que quase nunca haverá uma mulher assim com tamanha sabedoria e tanta perfeição. Sabemos que cada pessoa tem um temperamento, e que a felicidade sempre vai escapar não se deixando aprisionar a não ser por pequenos e poucos momentos. Caras feias, indiretas e diretas fazem parte da vida e do dia a dia, mas nada que não se resolva com o perdão diário.
            O homem, de maneira geral, salvo raríssimas exceções, ainda espera chegar a casa e encontrar uma mulher perfeita. Mas gente, ele também poderia ter uma cópia da chave da felicidade. Feliz o homem que se dispõe a lavar a louça, que também ajuda os filhos com as tarefas da escola e ainda sabe acolher sua mulher com um abraço apertado e momentos de amor. Feliz o homem que consegue compreender, melhor dizendo, que consegue aceitar as sutilezas da alma feminina. São poucos, viu?
Uma conhecida me contou que lá pelos idos de 70, após casar-se foi morar em Brasília. O marido só chegava à noite, e ela morria de saudades da família aqui em Minas. Chegou num ponto tal que um dia, ao entrar em casa ele deu com a mulher chorando sentada em cima da mala já pronta. Assustado, pensou que talvez alguém tivesse morrido, mas ela, entre soluços entrecortados lhe disse que eram só saudades, que sentia falta da mãe, das irmãs, que ia embora. Ele teve a maior paciência, abraçou a moça no abraço mais carinhoso de que foi capaz. Ela desistiu de voltar para Minas e eles foram felizes para sempre. Feliz o homem que sabe acolher as lágrimas de uma mulher que nem mesmo sabe por que chora, talvez a saudade da família, ou uma cena de filme, ou uma foto de alguém querido que já se foi, ou ainda pura e simplesmente uma ebulição dos hormônios. As mulheres são seres estranhos mesmo: são tão frágeis e delicadas como fortes e intensas!
Há mulheres que se contentam apenas com o trabalho de mulher, mãe e dona de casa. Tudo bem. Cada uma é cada uma. O foco é tentar ser feliz. Mas há outras que são dotadas de asas e ânsias. Querem voar, querem conquistar, almejam mais do que viver entre as paredes da casa. Certíssimo. Que vão e voem em busca de seus sonhos. Impossível não me lembrar de minha mãe que sempre dizia: se eu tivesse tido oportunidade, teria estudado “leis”. E agora voltando no tempo, acho mesmo que ela teria sido uma brilhante advogada ou talvez uma imponente juíza. Seu porte e seu jeito de ser não era para menos. E finalizo com a fala de Adélia Prado, que homenageia as mulheres anônimas e simples: “... exijo a sorte comum das mulheres nos tanques, das que jamais verão seu nome impresso e, no entanto sustentam os pilares do mundo, porque mesmo viúvas dignas não recusam casamento, antes acham o sexo agradável, condição para a normal alegria de amarrar uma tira no cabelo e varrer a casa de manhã.”
Para os homens deixo um conselho precioso que ninguém pediu, mas dou assim mesmo: querem ser tratados como reis? Então façam suas mulheres se sentirem rainhas. É infalível!
Parabéns para nós todas, mulheres maravilhas e maravilhosas que curtimos testar novas receitas, que curtimos ler, escrever, fazer sexo, cantar, cuidar de casa, do bebê, trabalhar no que gostamos e ainda curtimos um sapato bonito em alguma vitrine de uma loja qualquer.  

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