Jefferson Sarmento - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.
Sou formado em Publicidade e Propaganda, mas desde muito cedo queria criar/escrever histórias. Meu primeiro livro foi publicado em 2007: “Velhos Segredos de Morte e Pecados sem Perdão”, que me iniciou num mercado bastante restrito a novos escritores, principalmente aqueles que não estão em grandes centros. De lá até aqui foram (até agora) sete livros, viajando entre o suspense, o terror, a fantasia, o policial... gêneros que me são caros e queridos.
ENTREVISTA:
Sobre seus livros, o que motiva a escrevê-los?
Costumo dizer que é uma necessidade quase fisiológica! Em geral a motivação para uma determinada história vem de uma cena do cotidiano, de uma informação interessante que passa por mim, de um tema que eu gostaria de abordar ou do qual descubro uma nova abordagem. A partir desse ponto, a motivação está em criar maneiras de tornar essa ideia interessante e divertida para mim e para outras pessoas. Para isso, é muito necessário que o escritor saiba o que está fazendo: outra premissa que sigo é a de que é preciso “respeitar” a ideia; é preciso tratá-la como você trataria um filho, dando-lhe não apenas o melhor de si, mas fazendo para ele as melhores escolhas, entendo quais são elas e onde buscá-las — e por isso sou defensor de que escrever não é só uma consequência de uma vontade surgida de uma ideia que emociona o escritor, mas uma responsabilidade, um ofício, e para cumprir com esse ofício, o profissional precisa estudar, entender os mecanismos que transformam uma ideia em uma boa história, dedicar seu tempo não apenas à escrita, mas ao estudo da escrita. E quanto mais o escritor se dedica a isso, melhor para sua história. Aí mora a minha motivação: fazer a ideia se tornar a melhor história que jamais poderia ser sem minha intervenção (pode parecer um pouco prepotente, mas esse “melhor” é uma “busca” e não uma certeza, porque sempre achamos que poderia ser melhor).
Como analisa a literatura de terror/horror escrita por autores brasileiros?
Preciso primeiro contextualizar: as histórias de
terror, o sobrenatural, a fantasia... estão no nosso cotidiano desde sempre.
Estão na formação do menino de interior que fui, sentado à mesa da cozinha dos
meus avós e ouvindo histórias de assombração, de mula sem cabeça, de casas
assombradas no final daquela rua mais escura do bairro. Machado de Assis,
Álvares de Azevedo, Aluísio de Azevedo, Guimarães Rosa e vários outros
escritores clássicos já escreveram histórias de terror, já abordaram o
sobrenatural. A maioria das pessoas têm interesse por coisas inexplicáveis e
que assombram, e uma boa história não passa incólume a seus olhos — seja por
qual plataforma vier: livros, podcasts, séries e filmes, novelas!
Mas o que é bem perceptível hoje é o crescimento do
número de escritores e histórias de terror sendo publicadas. Isso se dá muito
pela facilidade de publicação que experimentamos nos últimos anos. A
possibilidade da impressão sob demanda ou em pequenas tiragens, e mesmo as
plataformas de publicação de livros digitais (especialmente o Kindle),
movimentaram o mercado livreiro de uma forma que as grandes editoras não
conseguiram ainda compreender totalmente. Todo um novo mercado, dentro do
mercado editorial, foi criado. Algumas editoras médias e pequenas começaram a
buscar esses escritores autopublicados para apostar nesse ou naquele livro.
Ainda é um movimento em ascensão e tem muito para crescer, apoiado em perfis
literários de redes sociais como o Instagram e o Tiktok, que já têm e terão
cada vez mais uma responsabilidade enorme de fazer o mercado de livros de
gênero (não só os de terror) crescer cada vez mais.
Nesse ponto entra a necessidade de profissionalização do escritor, de encarar a escrita não apenas como uma expressão artística bruta, mas que precisa ser lapidada, estudada, melhorada com técnicas e o desenvolvimento das habilidades necessárias para se contar uma história. Existem muitos excelentes escritores de terror sendo publicados por médias e pequenas editoras hoje, e também por autopublicação. Escritores que visivelmente entendem o que estão fazendo, sabem como dar forma a uma ideia. Mas infelizmente também temos os que precisam se preocupar um pouco mais com a técnica, com as melhores formas de estruturar uma narrativa, com a fluidez do contar...
Você é o editor da editora Tramatura. Por que resolveu abrir uma editora?
Na verdade, não sei exatamente quando a ideia de
abrir uma editora me veio — faz bastante tempo. Acredito que isso tenha surgido
bem cedo por ser um apaixonado por livros. Contudo, esse era um mercado que eu
não conhecia até alguns anos, que estava distante de mim. Mesmo publicando
desde 2007, só em 2017 é que a ideia começou a tomar forma, quando meu livro
“Relicário da Maldade” foi publicado pela Transversal — que é um selo da
editora Oito e Meio.
Quando esse livro foi publicado, tive a
oportunidade de acompanhar muito de perto o processo editorial que transforma
um original em um livro de fato. Também foi o período em que me dediquei mais
ao estudo e especialização de escrita criativa e me dediquei à pós-graduação
nessa área — o que me deu a oportunidade de estar muito perto de grandes
profissionais do mercado.
Em 2018, embora estivesse começando a tratar da
publicação de “A Casa das 100 Janelas” com a editora de “Relicário da Maldade”,
decidi fazer uma experiência: e se eu mesmo editasse o livro, do começo ao fim?
E assim começou a jornada para não apenas “ver e entender” o processo
editorial, mas colocar a mão na massa. Passo a passo, o projeto foi ganhando
forma, fui entendendo a necessidade de contatar e contratar profissionais para
revisão, diagramação, gráficas, registros, distribuição... Posso dizer que “A Casa
das 100 Janelas” foi uma escola. E, a partir daí, sempre com o pé no chão,
vieram outras publicações — como os livros da coleção Biblioteca Clássica de
Espantos e Assombros (edições de histórias de escritores clássicos com viés
sobrenatural, especulativo, de ficção científica), as edições pulp Científica
Ficção e a recente Gritos de Horror...
E para este ano teremos pelo menos mais 2 escritores nacionais contemporâneos sendo publicados pela Tramatura.
Como é seu processo criativo?
Em geral a ideia surge de alguma fonte externa que
pode ser uma música, uma cena do cotidiano, um filme ou livro, um vídeo que
aborda certo tema. Aquela ideia fica me acompanhando por um tempo, feito um
fantasma me assombrando. E então, se ela ainda está ali depois de alguns dias,
é hora de prestar atenção nela e usar o que eu costumo chamar de “chave da
imaginação” — é o mecanismo que transforma a realidade em algo completamente
novo e vem na forma de uma pergunta: “e se...?”
Nesse ponto eu começo a moldar a história, ainda
sem me preocupar com a escrita, com a forma. Esse é aquele momento mágico em o
escritor se vê espantado e seriamente interessado pela chama criativa que nos
ilumina vez em sempre.
O passo seguinte é saber se a ideia sobrevive a
alguns parágrafos?
Então eu me sento e escrevo algumas páginas. Não necessariamente aquilo será um começo de história (na maioria das vezes é), mas uma proposta para mim mesmo. E, quando termino essas primeiras páginas, preciso ainda estar com aquela necessidade de continuar — mas aqui está a importância de recuar e entender que o processo de escrita é mais do que simplesmente colocar palavras no editor de texto. Esse é o momento em que paro tudo e começo a estruturar a história — começo, meio e fim, eventos catalizadores, forma de narrativa, qual o melhor protagonista para aquela ideia, que tipo de personagens serão necessários para levar a história adiante. Isso não significa que saberei exatamente como será o fim (às vezes acontece de o escritor saber como será o ponto-final da história, como eu sabia em “Alice em Silêncio” e em “Terra de Almas Perdidas”, mas não é necessário). O que é preciso é saber qual caminho será trilhado, em que ponto da história esse ou aquele tipo de evento vai acontecer, porque isso dá coesão ao texto, à narrativa, dá fluidez à história.
Qual o seu próximo projeto?
“A menina que fotografava estranhos” está programado para agosto — o mês do folclore! E isso tem tudo a ver com a história. “Terra de Almas Perdidas” foi um flerte com o folclore nacional, porque o objeto central da história é uma garrafa com um cramulhão que realiza os desejos de quem a toca. Mas em “A Menina que Fotografava Estranhos” eu queria mais do que um flerte, então busquei o máximo de referências da nossa cultura em pesquisadores como Câmara Cascudo, Januária Cristina Alves, cultura Tupi... para criar uma história que não deixasse nada a desejar aos grandes nomes da fantasia europeia e estadunidense. Se eles têm bruxos, magos, vampiros, lobisomens... nós temos centenas de criaturas mágicas no nosso imaginário. E que tal uma aventura cheia de fantasia e terror usando o que temos de melhor no nosso folclore?
Link da editora:
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas
Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros
O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades
para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora
Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto
número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência
Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a
aula de redação (Saíra Editorial, 2023). Colunista da revista Conexão
Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde
1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de
gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil.
Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru.
Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se
intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora
Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam
Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão
(Opera Editorial, 2023) e Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial,
2023).
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