Fale-nos sobre você.
Sou professor universitário com cerca de 25 anos de experiência no ensino superior privado e alguns anos no ensino superior público. A docência foi sempre exercida ao lado da pesquisa acadêmica, que desenvolvi na USP, na UNICAMP, na UNESP, na UERJ, na UEL e na UFMS. Atualmente, atuo como professor, pesquisador e orientador do Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade Brasil (UB) e como Coordenador do Centro e Núcleos de Pesquisa da UNIESP S.A. Minha atuação no ensino superior está atrelada também à criação de revistas científicas. Aprecio pesquisar e escrever sobre análise do discurso, sobre retórica, sobre educação ambiental e sobre literaturas de língua portuguesa.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo?
Fui convidado, muito gentilmente, a escrever o livro sobre Machado de Assis pela Editora Dragonfly. A editora, o Instituto Handel de Responsabilidade Social e a Premiatta já estavam engajados na reedição dos dez romances de Machado de Assis, que a editora apresentará ao público como uma coleção especial. Então, a certa altura do processo de reedição dos romances, me chegou o convite para escrever uma espécie de livro didático, que faria as vezes de uma introdução teórica aos volumes editados e futuramente acondicionados num box especial.
Fale-nos sobre seus outros livros.
Escrevo bastante porque gosto muito da atividade e também por conta das obrigações naturais da profissão. Entre livros de minha autoria e em regime de coautoria já são mais de 30 obras, sem contar os artigos, os verbetes e os prefácios. Tenho textos publicados no Brasil e alguns no exterior. Gosto de todas as obras que escrevo, mas algumas acabam por ser mais marcantes. É o caso do volume Épicos, da coleção Multiclássicos da Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP). O livro representou o milésimo título da Edusp. Participaram do volume destacados pesquisadores como Ivan Teixeira, João Adolfo Hansen e Paulo Franchetti; eu tive oportunidade de estar nessa equipe por indicação do professor Alcir Pécora, que foi meu supervisor de pós-doutorado na UNICAMP. O lançamento do livro ocorreu na FIESP com a presença do ilustre bibliófilo José Mindlin. Tenho muita simpatia também por livros que buscam simplificar um suposto conhecimento erudito, levando-o mais para perto dos não especializados. Foi com esse objetivo que escrevi Oratória Acadêmica, com o professor Roger Fernandes Campato, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi com tal finalidade que também escrevi o Manual de Literaturas de Língua Portuguesa. Uma obra de forte repercussão nacional e internacional da qual não posso esquecer é A Poesia da Guiné-Bissau: História e Crítica, que integrou a coleção “Marcos e Marcas”. E, para finalizar, menciono o livro Estudos sobre Dom Casmurro, organizado pelo professor Jean Pierre-Chauvin, do qual participei contribuindo com um capítulo. O livro consiste numa justa homenagem à professora Lineide do Lago Salvador Mosca, da USP, falecida durante a pandemia e uma das mais importantes estudiosas da retórica da América Latina.
Como analisa a questão da leitura no país, de modo geral?
Não é fácil tratar desse tema, pois, ao fazê-lo, cumpre especificar de qual leitura está a se referir exatamente. Há a leitura literária, que, com exceção talvez do universo da literatura infantil ou infantojuvenis, está em veloz processo de rarefação. A literatura literária está cada vez menos relevante, cada vez mais desaparecendo da esfera pública, da vida familiar, da vida escolar conforme sempre comenta o professor Fábio Durão da UNICAMP. Mas, seja como for, para quem tem a oportunidade de tê-la – mesmo em suportes digitais – é uma experiência reveladora e seminal. No que toca a mim, é interessante porque, como crítico de profissão, quase nunca consigo ler uma obra sem interpretá-la tecnicamente. É difícil ao crítico ceder lugar ao leitor que busca apenas o prazer estético ou o entretenimento. Ultimamente tenho me consagrado à leitura da literatura do Timor-Leste e da literatura africana de língua portuguesa, especialmente da Guiné-Bissau. Sugiro, por sinal, a quem lê esta entrevista a literatura de Tony Tcheka, de Odete Semedo, de José Aparício, de Saliatu da Costa, de Luis Cardoso, de Abdulai Sila, de Félix Sigá, de Rui Cinatti, de Fernando Sylvan, de Francisco Borja da Costa, de Xanana Gusmão, de Francisco Conduto de Pina, de Jorge Lauten, entre outros.
Como analisa a questão do ensino superior pós-pandemia?
O ensino superior, mesmo antes da pandemia, já vinha lidando com uma série de fantasmas, com uma série de questões, que, apesar de indigestas, devem ser claramente colocadas e, tanto quanto possível, refletidas: a exagerada lógica empresarial do ensino, a dificuldade das instituições menores em sobreviver, a questão da adequação curricular em relação a uma época na qual existe uma tensão mal resolvida entre o acadêmico e o profissional, entre a teoria e a prática, e a própria discussão do papel da universidade num país relativamente pujante, mas que precisa enfrentar altas taxas de analfabetismos, anacronismos tecnológicos e enormes distâncias entre ricos e pobres. Mais especificamente ao período pós-pandemia, creio que a questão do momento seja a do ensino a distância. Embora ele se apresente como inevitável e, em vários aspectos, muito desejável, não se pode simplesmente substituir, de uma hora para outra e automaticamente, o presencial pelo ensino a distância. Toda nossa experiência histórica de ensino e aprendizagem é, excetuando-se alguns casos, presencial, aí incluindo as epistemologias, as metodologias, as concepções de avaliação, as experiências de relação professor e alunos, a qualidade do profissional formado, seus parâmetros de atuação na sociedade e sua aceitação pelo mercado. Portanto, é preciso ter cuidado para não acabar por fazer uma “educação presencial a distância”, empregando a alma do ensino presencial e o corpo do ensino a distância. Para evitar a criação desse aleijão, é preciso ter paciência e a exata percepção da extrema complexidade das mudanças pelas quais se está passando. Isso deve ser tarefa de especialistas e não de aventureiros donos de fórmulas mágicas. Outro problema consiste em saber o quanto o ensino a distância, no futuro, se transformará no destino inescapável dos estudantes mais pobres e mais uma opção ou alternativa para os estudantes mais ricos.
Uma questão que não fizemos e que gostaria de responder.
Penso sinceramente que as questões apresentadas foram abrangentes e bem adequadas de tal forma que pude falar um pouco de tudo relacionado a minha experiência com os livros, com a docência e com o ensino superior. São assuntos de alta relevância e que merecem discussão contínua e frequente, de preferência, chegando ao maior número de pessoas. Muito obrigado pela rara oportunidade.
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura e apresentadora do programa “Nóis sabe português” na TV Cidade de Santo André: https://www.tvcsa.tv.br/nsp/.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Apresentador do programa “Nóis sabe português” na TV Cidade de Santo André: https://www.tvcsa.tv.br/nsp/.
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