João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Entrevista com Daniela S. Terehoff Merino, autora do livro Brilha Brilha Adelina, ilustrado por Cláudia Andréia Terehoff Merino


Daniela S. Terehoff Merino (@daniterehoff) é doutora em Letras pela USP, tendo sido bolsista FAPESP orientada por Elena Vássina tanto no mestrado quanto no doutorado. Desde 2011 suas dramaturgias são encenadas em mostras teatrais da cidade de Ribeirão Píres. Ganhou 3 menções honrosas em concursos e publica seus contos, crônicas e poemas no próprio blog, no instagram e antologias de diversas editoras. Tem vários trabalhos em parceria com a ilustradora Cláudia (@caucauilustra). É autora de "Sulerjítski: mestre de teatro, mestre de vida" (Perspectiva, 2019), de "O sabiá carnívoro" (Dialética, 2022) e agora também de "Brilha brilha Adelina", que está para ser lançada na 1ª FLIRP este mês.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como e quando surgiu essa sua grande paixão pela escrita?

Daniela Simone Terehoff Merino: Em abril deste ano, ao falar nesta mesma revista sobre a obra “O sabiá carnívoro” — que havia sido lançada há pouco, em fevereiro —, tive a felicidade de poder contar aos nossos leitores um pouco sobre a minha infância e a forma como a paixão pela escrita foi tomando conta de mim. Como eu disse na ocasião, desde que me entendo por gente, repetia: “Quero ser escritora” cada vez que me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. Influenciada por meus pais, lia contos de fadas e fábulas, escrevia muito em caderninhos (principalmente poemas com rimas) e adorava brincar de criar e contar histórias para a minha irmã mais nova, Cláudia (hoje ilustradora), sobretudo com bichinhos de pelúcia e outros bonecos. Nós brincávamos de criar histórias todas as noites, sem falta! Bem, uma vez que essa história de como nasceu a paixão pela escrita já ficou mais detalhadamente registrada na revista de abril, gostaria de pedir licença para contar, em poucas palavras, a narrativa de como renasceu essa paixão depois de sua quase extinção, pois pode não parecer, mas em determinado momento da vida o gosto pela escrita foi perdendo muito espaço para outras atividades menos prazerosas ou mais urgentes e eu precisei buscar meios, aos poucos, de reacender a paixão que vinha desaparecendo. Para ficar mais compreensível do que estou falando, é preciso mencionar o fato de que entrei na faculdade de Letras em 2008 por ver nisso uma forma de estar próxima da literatura e da escrita e, consequentemente, de realizar um sonho antigo. Mas, com o passar dos anos, algo inexplicável foi acontecendo e eu já não escrevia mais por prazer — todo o contato com a escrita era destinado apenas à escrita de trabalhos acadêmicos, análises de textos de escritores consagrados, etc. Não está muito claro para mim o que acontece nesse momento, mas uma coisa é fato: muitas pessoas entram em uma faculdade de Letras dizendo “Quero ser escritor/a” e ,com o tempo, vão deixando esse sonho para trás. Por quê? Talvez a gente não veja muitos meios de ser um autor publicado depois que entra na faculdade; talvez seja apenas medo de arriscar, ou, quem sabe, seja falta de conhecimento para compreendermos como chegar lá; quem sabe tenha a ver também com a falta de uma grade com matérias destinadas à prática exclusiva da escrita criativa, ou, talvez, seja apenas consequência da vida mesmo, que vai levando a gente por caminhos tortuosos e que nos desconectam da nossa própria essência. Seja lá como for, na faculdade eu não praticava a minha criatividade literária, e o reencontro com a escrita criativa, para a minha surpresa, deu-se apenas através do teatro. Foi escrevendo peças — a convite de amigos, atores e diretores — para serem apresentadas por alunos das oficinas de Ribeirão Píres que eu realmente comecei a me sentir um pouco escritora. Mas as peças eram apresentadas e desapareciam: além das fotos da lembrança e, vez por outra de uma gravação, não restava nada. E então, a sensação era de ser impossível virar uma autora publicada. Não que isso fosse o mais importante! De maneira alguma. Mas o fato é que eu continuava a sonhar (cada vez menos) em, algum dia, quem sabe, ter livros circulando por aí e poder imaginar que alguém, em algum lugar do vasto mundo, está se conectando comigo através de um livro. Eu não tinha amigos com textos publicados, não sabia como proceder e, verdade seja dita, nem ia atrás de saber como publicar um livro literário — infelizmente, às vezes apenas sonhamos, mas não nos movemos muito do lugar para realizar nosso sonho. Voltando ao teatro, entre 2011 e 2019 escrevi 11 dramaturgias, quase todas encenadas por alunos da cidade. E isso me deixava imensamente feliz e grata, pois era praticamente o único contato que eu tinha com a escrita criativa. Mas eis que em 2020 veio a pandemia e a pequena chama foi se extinguindo de vez. Além de eu ficar afastada das matérias que seriam presenciais no doutorado, ainda me encontrei sem o teatro e a chance de escrever algo para ser encenado no fim do ano. Ou seja, eu não tinha mais nenhuma meta com a escrita, nada em que me agarrar. Passei então a escrever apenas por distração ou necessidade. Era algo intenso e eu escrevia principalmente com base em notícias que via na TV. No entanto, todas as poucas vezes que tinha acesso a saber sobre concursos literários e inscrevia algum texto, não ganhava nada. E quando mostrava minhas narrativas a conhecidos, não surtiam muito efeito – na maior parte das vezes, havia apenas críticas vagas.  Estava realmente começando a pensar: “Será que eu não devia desistir de tudo isso e mudar de vida? Será que eu tenho mesmo jeito para isso ou era tudo ilusão? Com que fim eu escrevo, afinal?” quando três acontecimentos principais mudaram o rumo da história: 1) comecei a fazer cursos online, entre os quais o de bioescritas, no qual tive contato com gente que realmente amava escrever e voltei a me empolgar; 2) a minha amiga Irene Godoy leu textos que eu havia inscrito em concursos e com os quais eu não ganhara nada e finalmente me deu dicas certeiras sobre o ritmo e a forma de construir as frases – isso me ajudou a entender como eu podia melhorar; e, 3) para terminar, conheci através da amiga Priscila Marques um site chamado Seleções literárias. Ali eu encontrei milhares de editais e entendi que não era tão impossível assim publicar. Mandei um texto para a editora Ao Vento Editorial em janeiro de 2021, fui aceita com um “Nossa equipe amou o seu texto!” e de lá para cá, resolvi investir de vez nesse sonho e vim publicando em diversas antologias de diferentes editoras. Também foi aí que eu conheci a revista Conexão Literatura, na qual publiquei contos e crônicas mais de uma vez.

Conexão Literatura: Você é autora do novo livro "Brilha Brilha Adelina”. Poderia comentar? 

Daniela Simone Terehoff Merino: O livro “Brilha Brilha Adelina” surgiu especificamente durante a pandemia e foi totalmente influenciado por tudo o que eu via e ouvia durante o ano de 2020, sobretudo nos noticiários. Eu andava ouvindo muito sobre o sofrimento das crianças e pré-adolescentes e também sobre como seria difícil para eles reaverem uma vida normal após tanta tristeza e tensão. Ao mesmo tempo, havia, volta e meia, reportagens falando sobre a necessidade de fazermos algo para mantermos a esperança dentro das crianças apesar de tudo o que se passava.  No próprio ano de 2020, com tudo isso na cabeça e a vontade de participar do concurso Giostrinho (a proposta era falar sobre o tema da pandemia em um livro infantil), comecei a ter ideias. Comecei a imaginar como o mundo estaria sendo visto pelas estrelas naquele momento e acordei certa manhã com uma frase na cabeça: “Brilhava no céu, pequenina, uma estrela chamada Adelina.” Pronto! Eu tinha um ponto de partida que, aliás, virou mesmo a primeira frase do livro. Consegui terminar o texto a tempo, mas não ganhei o concurso Giostrinho. Quando a minha amiga Irene leu o texto pela primeira vez e deu algumas dicas de ouro, resolvi mexer nele e tentar a participação em outro concurso. Arrumei o texto, adaptei-o, e inscrevi-o, desta vez com algumas ilustrações feitas por minha irmã. Também não ganhamos nada. Porém, eu gostava da minha história e não queria desistir dela. Tanto é que voltei a mexer no texto, trabalhando nele tanto quanto pude. Em 2021, ao saber sobre o Primeiro Prêmio Travassos de literatura por um grande acaso — afinal, eu soube no último dia das inscrições! — acabei enviando o livro. Por que não enviaria, se já estava praticamente pronto? E, desta vez, deu certo! Ganhamos o segundo lugar e, com isso, a publicação, feita pela Editora Travassos com muito capricho. 

Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro? 

Daniela Simone Terehoff Merino: Levei menos de um ano escrevendo e, como comentei acima, minhas principais fontes de pesquisa foram, sem dúvida, os noticiários. No entanto, é preciso mencionar outros detalhes. Primeiro: fiz pesquisas e cursos mais focados no universo infantil e descobri alguns pontos importantes como, por exemplo, colocar situações bem próprias da vida de uma criança dentro da vida do protagonista a fim de criar identificação. Foi aí que me vieram ideias como a de fazer a estrelinha estar em uma sala de aula. Foi o mesmo quando comecei a pensar: o que será que as crianças estão sentindo em suas casas, presas o dia todo? E aquelas que passam por dificuldades, por exemplo, no caso de os pais terem perdido o emprego durante a pandemia? E as que gostam de desenhar ou estudar, e não conseguem fazer isso em casa por falta de materiais? E as que estão passando fome? Se uma estrela visse tudo isso, se importaria? Outro ponto importante: decidi que em momento algum do livro eu mencionaria a palavra “pandemia”. Eu não queria que o livro ficasse restrito a isso; gostaria que ele trabalhasse outros aspectos, e não que fosse algo feito para as crianças se lembrarem do período com todas as letras. Também foi importante eu ter procurado estabelecer relações diretas com a música “Brilha Brilha estrelinha”. Assim como foi fundamental ouvir o escritor Pedro Bandeira no evento online Conaler, em 2020, dizendo que um escritor ama o seu leitor e precisa dar esperança a ele. Precisa mostrar que apesar dos erros cometidos e dificuldades da vida, ele ainda tem chance de ser feliz.  E por fim, não poderia deixar de dizer que, como sempre, minha irmã e eu trabalhamos em conjunto. Ela ia fazendo desenhos que influenciavam o meu trabalho diretamente, tal como em “O sabiá carnívoro”. 

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?  

Daniela Simone Terehoff Merino: Foi então que o sinal bateu e todas as trinta estrelinhas ali presentes voaram felizes para a saída. Como era bom ir embora! Iupi! Viva! 

Apenas Adelina seguiu seu caminho para casa de outro jeito, cabisbaixa e pensativa. Afinal, ela também tinha, como todas as outras estrelas, o sonho de ganhar o Concurso anual e virar uma estrela cadente. Ah! Que maravilha! Um sonho para lá de estelar! Mesmo assim, não conseguia concordar com tudo o que a professora havia dito. Seriam todos tão maus assim lá na Terra? Impossível acreditar! Se ela ao menos pudesse ter certeza... “Ah! Já sei!”, pensou Adelina, tendo subitamente uma grande ideia: “Eu vou lá dar uma olhadinha por mim mesma e se eles forem mesmo muito ruins, fujo num piscar de olhos, mais rápido do que um cometa! Agora, se forem bons, eu vou consolar todos eles, abraçar e ainda por cima ter a prova de que a professora estava errada enquanto a minha mãe estava certa.”   

Mal teve essa ideia, olhou para os lados, tomou fôlego e... Zás! Voou para a Terra. E seu voo foi tão rápido, mas tão rápido, que Adelina nem conseguiu escolher onde cairia e acabou parando perto de uma casa minúscula onde um menino chorava no parapeito da janela. 

A princípio Adelina quis se esconder desse menino e foi para trás de uma grande árvore, pois teve medo de a professora ter razão e o menino querer fazer-lhe algum mal. Acontece que o brilho de Adelina era muito forte e o menino logo a enxergou apesar de toda a escuridão. Em seguida, parou de chorar e, percebendo tratar-se de um rosto amigo, sorriu para a estrelinha. 

Conexão Literatura: Você é irmã da Daniela e também trabalha em seus livros com suas lindas ilustrações. Conte como isso funciona; você lê o texto da Daniela para criar as ilustrações ou vocês debatem sobre isso para entrarem num acordo?

Cláudia Andréia Terehoff Merino: Primeiro leio as histórias dela. Vejo as cenas que são mais importantes e então conversamos para ver o que ela gostaria que fosse desenhado.

Conexão Literatura: Fale mais sobre as ilustrações que você desenvolveu para esse novo livro da Daniela.

Cláudia Andréia Terehoff Merino: As ilustrações para o “Brilha Brilha Adelina” foram feitas para agradar o público infantil. Então as fiz com formas mais arredondadas, que mostram um pouco mais de suavidade, e cores mais alegres. 

Conexão Literatura: Como os leitores poderão saber mais sobre você e suas ilustrações? É possível contratá-la para o trabalho de ilustração? 

Cláudia Andréia Terehoff Merino: Os leitores poderão me acompanhar por meu instagram @caucauilustra. E sim: basta entrar em contato comigo que eu posso passar um orçamento. 

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o novo livro? 

Daniela Simone Terehoff Merino: O lançamento do livro será realizado no dia 24 de setembro, às 15h, durante a 1ª FLIRP (Feira Literária de Ribeirão Píres). Esta feira será um marco na história de nossa cidade e contará com uma belíssima programação em seus dois dias de evento (dias 24 e 25), na qual estarão presentes vários escritores e artistas do ramo, inclusive os de nossa cidade. Ali, terei exemplares para vender. Mas, caso prefira, basta entrar em contato comigo pelas redes sociais (@daniterehoff), que eu envio pelo correio para qualquer lugar do Brasil, ou, ainda, é possível adquirir o livro através do site da editora Travassos e de seus outros canais de venda.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta? 

Daniela Simone Terehoff Merino: Certamente! E são tantos que eu não conseguiria mencioná-los todos. Então vou mencionar apenas o próximo, que já está sendo preparado, no forno: um livro infantil com uma história de natal em formato poético. 

Cláudia Andréia Terehoff Merino: Sim, tenho alguns projetos com a Dani. Pretendemos fazer o livro de natal até o fim deste ano. Também tenho projetos individuais de ilustração, e de criação de ilustração.

Perguntas rápidas para Daniela:

Um livro: Momo e o senhor do tempo

Um (a) autor (a): Anton Tchékhov

Um ator ou atriz: Audrey Tautou

Um filme: A invenção de Hugo Cabret

Um dia especial: O dia em que apresentaram a minha primeira dramaturgia, “Conto de amor e morte”, com direção de Romário Oliveira e Dida Genofre. 

Perguntas rápidas para Cláudia:

Um livro: História sem fim

Um (a) autor (a):  Edgar Allan Poe

Um ator ou atriz: Keanu Reeves

Um filme: O castelo animado

Um dia especial: Difícil escolher um só, então escolho os dias que passo com a minha família.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário? 

Daniela Simone Terehoff Merino: A criação literária é um processo intenso, de muito trabalho, esforço, dedicação, leitura, releitura, mudança até encontrar a melhor frase, tentativa e erro, enfim, um processo infinito! Mas se você, por acaso, sentiu o chamado artístico, não deixe que ele escape ou desapareça e siga em frente, apesar das dificuldades. Eu tive duas negativas antes de ganhar o segundo lugar no Primeiro Prêmio Travassos e poder realizar o sonho de ver “Brilha Brilha Adelina” enfim publicada. É assim a vida. “O fracasso”, já dizia Henry Ford, “é apenas uma oportunidade para começar de novo de maneira mais inteligente”. 

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