Obam ɛ Ɛdhuu - Foto divulgação
Obam ɛ Ɛdhuu, nascido em 1993 em Makokou
(Gabão), é kweléfono, kotáfono, francófono, e estudante gabonês no Brasil. Tem
formação em Letras Português-Inglês na Universidade Federal de Pelotas
(2016-2019). Atualmente mestrando em Letras (Estudos da Linguagem) na
Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Além de escrever poemas em francês,
português e inglês, escreve também poemas em línguas africanas para a
divulgação do lirismo e das filosofias ancestrais africanos.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Obam ɛ Ɛdhuu: Desde a adolescência sempre gostava de transcrever o que eu pensava. Era mais palpável ver meus pensamentos escritos. Mas, naquela época não tinha na mente a ideia de publicar um dia. É na faculdade que entendi a importância de publicar. Por isso, comecei a escrever poesia, primeiro gênero de predileção, nas línguas bekwel e francesa. Minha escolha e necessidade para um lirismo kweléfono e de outros idiomas africanos surge por uma carência bibliográfica autóctone que observei, e um desejo de preencher esse vácuo, isto é, produzir eu mesmo uma literatura que, no futuro, servirá de material de estudo e análise literários e linguísticos das línguas africanas.
Conexão Literatura: Você já participou como coautor das antologias Poesia ao luar 2, Antologia dos melhores poemas 1 e Coletânea de poemas, além de publicações poéticas em bekwel e francês em revistas, como Revista Njinga e Sepé, Jornal Relevo, Revista Philos, Revista Literatura e Fechadura, Revista Caleidoscópio e The Decolonial Passage. Poderia comentar sobre a importância da participação de um autor em antologias e revistas literárias?
Obam ɛ Ɛdhuu: Participar em antologias e revistas literárias permite divulgar o trabalho de um autor e torná-lo accessível a um grande público. O autor descobre outros nomes e trabalhos, e aparece junto com eles nesse espaço literário. Ademais, o público de um certo autor poderá se deparar com o trabalho de outros autores da antologia. Há então laços e conexões feitos, uma rede de autores e leitores.
Conexão Literatura: Você também é autor do livro de poesia Mɛkwa mɛ mut (Palavras do ser), escrito nas línguas ikota e bekwel, publicado pela Editora Letraria, e vendido em formato ebook no site da Editora. Poderia comentar?
Obam ɛ Ɛdhuu: Essa obra poética põe em cena o lirismo africano em línguas africanas, e aborda várias temáticas entre as quais a escrituralidade das línguas africanas e uma intelectualização autóctone. Nessa obra, convido os africanos a dar um valor intelectual e científico a suas línguas e filosofias. E do outro lado, convido o mundo a ver e ouvir nossas vozes como fazemos com as vozes do mundo.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?
Obam
ɛ Ɛdhuu: O trecho que resume a obra seria aquele do poema Simsail ɛ Kama (O filósofo negro), Ɛdjek mɛkana
ɛ djoŋ/Aa sa yɔ/Yɛ ɛ ɛsa náá/Nyɛ dik kukuma yɔ (Aprender a filosofia alheia/Sem
fazer a nossa/É fazer do outro/Dono de si). É o ponto crucial do desejo de
emancipação do eu-lírico, que quer ser autor e consumidor do seu próprio
conhecimento, um conhecimento parido a partir de uma auto-referencialidade
(referência à ancestralidade).
Conexão Literatura: Você também auxilia e supervisiona autores?
Obam ɛ Ɛdhuu: Sim. Meu projeto da elaboração da Literatura Africana em línguas africanas me levou a incluir africanos no processo da emergência dessa Literatura, pois a realidade é que há africanos não letrados nas línguas coloniais, os quais são detentores de filosofias ancestrais na sua forma original. Acho que dar-lhes a oportunidade de expressar esse conhecimento nos seus idiomas respetivos é um passo para a descolonização linguística e literária. Alguns desses autores já participaram de algumas antologias da Revista Conexão Literatura. Nesse cenário, eu sou como uma ponte entre eles e as editoras, um tipo de agente literário.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deverá proceder para saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Obam ɛ Ɛdhuu: Tenho contas de Facebook, Instagram, e um canal Youtube (Mɛkana mɛ Kama) onde divulgo meu trabalho. São plataformas mais acessíveis hoje para saber um pouco sobre mim e o que faço.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Obam ɛ Ɛdhuu: Em colaboração com oralitários (autores de oralitura), trabalhamos na escrita de contos tradicionais em seus idiomas de partida. Com esse projeto, queremos fazer uma transição da oralidade para a escrituralidade, não com o desejo de apagar a oralidade (uma arte africana), mas para permitir uma coexistência do orador e do escriba ou scriptor.
Perguntas rápidas:
Um livro: Tata Nzambi
Um (a) autor (a): Dibombari Mbock
Um ator ou atriz: Viola Davis
Um filme: Fences
Um dia especial: Sábado
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Obam ɛ Ɛdhuu: Agradeço a Nzambe (Criador) e a Ziza (Nigromusa) pela inspiração e a oportunidade de fazer ouvir as vozes ancestrais, a Revista Conexão Literatura e outras editoras sendo plataformas que levam essas vozes para os olhos e ouvidos do mundo.
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