Rochelle Bonatto Mateika, Fábia Alvim e Felipe Augusto Neves Silva |
Fale-nos sobre vocês.
Fábia Alvim nasceu em Minas, na divisa com o Rio. Veio para o estado de São Paulo fazer Mestrado em Ribeirão Preto depois de sua primeira graduação, em Fisioterapia. Depois, em 2009, começou sua segunda graduação, seguindo seu grande gosto pelas palavras: fez Letras. Em 2019, junto com Felipe e Rochelle, fundou a Saíra Editorial. É mãe do José e do Augusto.
Felipe Augusto Neves Silva nasceu em Franca, interior de São Paulo, e veio morar na capital aos 17 anos, quando foi aprovado no curso de Letras. Estudou português e latim, aqui no Brasil e na Itália, em uma academia especializada, em que também aprendeu o grego clássico. Juntou seu gosto pela leitura e pelo objeto livro na empreitada de fundar a Saíra Editorial junto com suas duas sócias.
Rochelle Bonatto Mateika nasceu em São Paulo. Iniciou seus estudos na área de Publicidade e Propaganda. Após trabalhar vários anos nessa área, resolveu voltar a estudar e se dedicou à Faculdade de Letras Português/Espanhol, com habilitação em tradução. Logo nos primeiros anos de faculdade começou a dar aulas de Espanhol e seguiu por esse caminho por quase 20 anos. Em 2019 aceitou, com muito orgulho e alegria, o convite da Fábia e do Felipe para se tornar sócia da Saíra.
ENTREVISTA:
Vocês são editores da Saíra Editorial. Falem-nos sobre ela.
A Saíra nasceu de um desejo em comum nosso de abrir uma editora que lançasse títulos para as crianças e os jovens (e também para adultos, já que o livro infantil não tem limite de idade) terem contato com temas que consideramos imprescindíveis. O objetivo de nossas obras é ajudar a arrefecer preconceitos e opressões, além de cuidar das representatividades e de estimular o pensamento livre.
Como é o trabalho de vocês? Recebem quantos originais por mês? Quantos são publicados? Quem quiser publicar pela editora quais os procedimentos a serem adotados?
Os três sócios da Saíra estão divididos entre a curadoria e os novos projetos, com a Fábia, o comercial, com a Rochelle, e o editorial, com o Felipe. No dia a dia, no entanto, todos da equipe acabam fazendo de tudo um pouco. Em média, recebemos uns 15 originais por mês, entre os quais uma média de 5 são escolhidos para publicação. Quase todos os que são recusados acabam não sendo publicados por não se encaixarem no recorte de literatura com causa. Quem quiser enviar um original para a equipe de curadoras deve enviar o texto para este e-mail: editorial@sairaeditorial.com.br.
Como é ser editor (publisher) em um país como o Brasil?
Pode até ser esperado dizer que é difícil, mas os problemas que envolvem o universo dos livros são mais comerciais e operacionais, pelo menos na literatura, do que propriamente literários. De modo geral, no entanto, a edição de livros no Brasil enfrenta os mesmos entraves que a educação, a arte e a cultura têm encontrado. Mais recentemente, ainda, a censura na literatura e o revisionismo nos didáticos têm sido fortes. É um lugar-comum afirmar-se que “o brasileiro lê pouco”, mas ainda não se tentou mexer fundo nessa ferida. Na média, pode até ser que o brasileiro, de fato, leia pouco, mas isso pode se dever ao fato de que a maioria esmagadora da população tem pouco ou nenhum acesso aos meios culturais.
Como analisam a questão dos e-books?
Achamos que os e-books são uma resposta natural do mercado a um processo de digitalização que vai muito além das editoras e dos livros; está em tudo. Não vemos os e-books como rivais dos livros impressos ou como entidades que competem com eles, mas, sim, como algo diferente. Há o nicho dos e-books e há o nicho dos livros impressos, podendo ambos conviver de forma harmônica.
Quais são suas leituras preferidas?
Fábia, como boa mineira, gosta dos mineiros João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Ama os versos de Bandeira. Ama João Cabral de Melo Neto. É fã dos contos de Mario de Andrade. E, atualmente, o que ela mais gosta de ler são os originais que a Saíra recebe.
Rochelle tem, para a leitura, um gosto bastante variado. Gosta dos grandes escritores brasileiros, como Machado de Assis, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa, mas também se encanta com a literatura espanhola e hispano-americana. Atualmente está descobrindo na literatura infantil uma grande paixão.
Felipe tem como grande ídolo literário nacional o inesgotável Graciliano Ramos, sem deixar de amar incondicionalmente grandes do mundo, como Luigi Pirandello. Mais recentemente, tem se interessado muito por literatura não ficcional. Desde que entrou para a Saíra, divide seu tempo entre os originais da editora, os livros dos filhos e os didáticos que ajuda a produzir.
Que conselho podem dar a um escritor principiante?
Um escritor deve encontrar algo que lhe aqueça o coração. Escrever sobre aquilo que toca – em prosa, em verso, em romances, em tirinhas etc. – é transmitir ao possível leitor um pouco do próprio gosto pela literatura.
Uma pergunta que não fizemos e que gostariam de responder.
Gostaríamos de responder à questão “o que você espera do futuro?” e à questão “o que é a literatura com causa?”.
De um futuro próximo, para o nosso país, esperamos uma gestão mais eficaz, humana e democrática. De um futuro ainda mais próximo, esperamos vacina para todos e tratamento médico para todos os que dele precisarem, como uma forma de minimizar a tragédia em que a pandemia se transformou no Brasil.
Literatura com causa é aquela em que se exploram temas ligados, por exemplo, à construção de representatividades e à desconstrução de preconceitos. É uma literatura que tenta subverter, mesmo no âmbito infantil, determinadas amarras sociais sobre as quais as pessoas pararam de refletir.
Link para o site da editora: https://sairaeditorial.com.br/
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021) e O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020), Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020) e O medo que nos envolve (Editora Verlidelas, 2021). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e seu mais novo livro juvenil se denomina O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021).
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