Fale-nos sobre você.
Sou mineira de Uberaba, mas vim para Brasília em 1965 e me considero brasiliense. Aqui fui professora do ensino fundamental, do jardim de infância, e depois de formada em Letras, fui professora do Instituto Rio Branco de formação de diplomatas e da Universidade de Brasília. Agora estou aposentada e me dedico a escrever. Lancei meu primeiro romance para jovens e adultos em 2018. Trata-se da história de uma viúva de um desaparecido na ditadura militar. Ela relembra todos os fatos importantes daquele período e tenta recomeçar a vida. Chama-se Outono e é uma publicação independente. Estou tentando uma editora que tenha distribuidora para relançá-lo.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre seus livros infantis.
Quando eu trabalhava na UnB estudei muito a literatura infantil e juvenil para subsidiar a formação de professores, que era minha tarefa. Mas nunca tinha pensado em escrever para crianças. Tinha dois livros técnicos: A escrita e o outro (EdUnB) e Técnica de redação (Martins Fontes), quando o ilustrador Jô Oliveira, que é meu amigo há muitos anos, me incentivou a escrever um livro infantil sobre a vida de Luiz Gonzaga. Aceitei o desafio e fizemos juntos Luiz Lua, que foi publicado pela editora Dimensão (MG). Depois fizemos outros para esta mesma editora: Notícias do Descobrimento (para os quinhentos anos do Brasil, baseado na carta de Pero Vaz de Caminha); O sorriso do Gato (a biografia de Lewis Carroll); As aventuras de Hans Staden entre os índios do novo mundo. Depois disso fomos convidados pela Ediouro a fazer dois livros de arte para jovens: Explicando a Arte e Explicando a arte brasileira. O primeiro já vendeu mais de cem mil exemplares. De lá pra cá não parei de escrever e publicar. Ainda fiz junto com o Jô Brasília - de cerrado a capital da República (Cortez); Mãe do ouro (Scipione); Ariano Suassuna (Imeph). Com outros ilustradores publiquei: Eu me lembro do vovô Hermé (Panda Books); O descobrimento do Rio Amazonas (Pruminho); Alfinete (Franco Editora); A primeira vez que eu vi o mar (Franco Editora); Palavras Mágicas (Franco Editora); Tonho e os Dragões (sobre uma criança com leucemia, pela editora Bagaço). Publiquei ainda uma coleção sobre meio ambiente com minha filha Cristina, que é bióloga, pela Editora Callis: Energia, Lixo e Água. Como vê, gosto de livros que tragam também alguma informação, por isso muitos deles dependeram de pesquisas. Alguns deles foram escritos por encomenda das editoras. Tonho e os dragões foi feito inicialmente para o Hospital da Criança de Brasília, que trata crianças com câncer. Como não conseguiram patrocínio para publicar, entreguei para uma editora de Pernambuco.Como analisa o mercado editorial voltado a esse segmento?
Nós temos um excesso de publicações. São mais de 2000 títulos por ano. Há livros bons e muita coisa ruim e barata. Então é muito difícil se tornar conhecido. As escolas e os pais sempre preferem os autores mais premiados e que têm mais visibilidade no mercado. Às vezes preferem os livros mais baratos. O MEC, que era o maior comprador de livros do mundo, comprava para as bibliotecas escolares, mas agora inventou de encomendar a um escritor adaptações de clássicos dos contos de fadas pasteurizados, de forma que a dramaticidade original foi simplesmente apagada em nome dos "bons costumes". Criou assim um programa de leitura chamado Conta pra mim, distorcendo a natureza da literatura, que deve ser emancipadora, libertadora e despertar a sensibilização estética. Não sabemos se nossos grandes autores (dois deles já ganharam o Nobel da literatura infantil - o prêmio Hans Christian Andersen) vão continuar chegando às bibliotecas escolares. As pequenas editoras estão passando por sérios problemas para continuar funcionando sem as compras do MEC e pelas dificuldades trazidas pelo coronavírus.
Como analisa a questão da leitura no país?
Primeiro de tudo temos uma grande desigualdade social que afeta a aquisição de livros e o acesso a uma boa escola com um eficiente processo de alfabetização. Quando participei de uma edição do Retratos da Leitura no Brasil, observei que os "não leitores" argumentavam que ler era muito difícil e concluí que não tinham passado por um processo satisfatório de escolarização e, consequentemente, de alfabetização. Temos que melhorar nosso ensino para garantir que todos consigam ler "como quem respira", sem dificuldades. Para quem não lê assim a leitura é uma tortura. Formação continuada de professores e acesso a bons livros poderia melhorar a situação Os professores também precisam ser bons leitores. A distribuição da renda e dos bens culturais precisa ser aperfeiçoada.
Quais os próximos projetos?
Continuar escrevendo e trabalhando para a formação de leitores. Coordeno dois clubes de leitura que se reúnem uma vez por mês para discutir um livro. Com isso acabei por influenciar algumas de nossas participantes a criar clubes de leitura também em escolas públicas do Distrito Federal: os Calangos Leitores. Esse projeto foi finalista no prêmio Jabuti.
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019) e O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020). Organizadora dos livros: Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019), Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019), Aquela casa (Editora Verlidelas, 2020) e Um fantasma ronda o campus (Editora Verlidelas, 2020). Colunista da Revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e colunista da Revista Conexão Literatura. Seu mais novo livro se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020).
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