João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Liga da Justiça enfrenta o poderoso Tortolini



No ano de 1987 o editor Andy Helfer estava com uma puta bomba nas mãos. Ele tinha sido designado pela direção da DC Comics para ser editor da nova revista da Liga da Justiça. O editor-chefe Dick Giordano tinha lhe dito: “Faça com que a Liga da Justiça volte a ser grande. Faça com que ela seja genial!”.
O problema é que a DC estava saindo da saga Lendas e os editores estavam reformulando seus personagens e não queriam atrapalhar isso colocando-os num grupo. Batman, Superman, Mulher Maravilha, Flash, nenhum dos grandes estava disponível. Na verdade, até personagens menos conhecidos estavam comprometidos.
Tudo que o editor conseguiu foram personagens de terceiro escalão e a promessa de alguns de segundo escalão. No final, o editor do Batman apiedou-se dele e permitiu que ele usasse o Cavaleiro das Trevas no título. Mas não dá para fazer um grupo só com o Batman. Além disso, não havia certeza sobre quais seriam os outros integrantes, o que dificultava criar uma trama.
Desesperado, Andy Helfer apelou para o desenhista Keith Giffen, que toda semana colocava a cabeça na sua porta e implorava pela Liga da Justiça. O próprio Giffen não acreditou, até perceber a roubada na qual tinha se metido.
Foi quando tiveram a ideia de focar no cotidiano e na convivência dos personagens no lugar de grandes sagas e fizeram uma aposta ainda mais arriscada: colocar humor nas histórias.
Antes todas as tentativas de fazer isso tinham resultado em desastre. Bom exemplo disso era o terceiro filme do Superman de Christopher Reeve, que era odiado pelos fãs.
Além disso, aquela era uma época de heróis darks e “profundos”, todos muito sérios, todos imitando o cavaleiro das trevas de Frank Miller. Será que os leitores iriam gostar de uma versão humorística da Liga?
Giffen ficou responsável pelo plot e pelos esboços. Para escrever os diálogos chamaram JM DeMatteis, mais uma aposta arriscada, pois até então nunca escrevera nada na linha humorística.
Para desenhar, o pouco conhecido Kevin Maguire, que acabou sendo escolhido apenas porque estava sem trabalho e, se o editor não lhe oferecesse algo, iria de malas e cuia para a Marvel. No final, acabou sendo um tremendo acerto. Sua aptidão para expressões faciais eram perfeitas para histórias de cotidiano e principalmente humorísticas.
Surpreendentemente essa nova versão foi um sucesso, a ponto de gerar diversos derivados, como a Liga da Justiça Europa e séries solos de personagens como Senhor Milagre e Senhor Destino.
Conforme o sucesso da fórmula ia se estabelecendo, os roterististas iam se arriscando a colocar cada vez mais humor nas histórias. Em uma das HQs, por exemplo, a Liga enfrenta um ser extremamente poderoso, Mr. Nebula, o decorador de mundos e seu arauto Esquiador Escarlate. Eles vencem o vilão levando-o a Las Vegas e, assim demonstrando que a Terra já era brega o suficiente.
Em outra história memorável (que se estendeu da revista principal da Liga para a Liga Europa), a mansão dos heróis é invadida por... um gato! E as confusões que o felino provoca seriam muito maiores do que as de muitos vilões.
Há ainda a edição em que Gladiador Dourador e Besouro Azul resolvem montar um cassino em uma ilha tropical com o dinheiro da Liga da Justiça – claro que no final tudo vira um tremendo desastre.
Mas talvez a história que melhor representou essa fase foi aquela em que o vilão é o Poderoso Tortoloni, um jornalista que ganha no jogo de cartas diversos apetrechos de vilões e, ao ser atacado por um grupo que quer as informações que ele recolheu sobre a Liga (baseadas no que ele descobriu vasculhando o lixo do grupo), provoca pânico na cidade. Nessa fase a revista já era desenhada por Adam Hughes, que manteve o mesmo nível de qualidade de Maguire e tinha o mesmo pendão para expressões faciais.
Outros grandes desenhista que passaram pelo título foram Bart Sears, Darick Robertson e Marshall Rogers. Até Chris Sprouse, que depois se tornaria célebre ao desenhar Tom Strong, de Alan Moore, trabalhou no título no início da carreira.   

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