João Barone, autor e membro da banda Os Paralamas do Sucesso, é destaque da nova edição da Revista Conexão Literatura – Setembro/nº 111

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terça-feira, 22 de outubro de 2019

Lígia Menna e seus livros sobre literatura infantil, por Cida Simka e Sérgio Simka

Lígia Menna - Foto divulgação
Fale-nos sobre você.

Sou doutora em Letras na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Estou com pós-doutorado em andamento, sob supervisão da professora Maria Zilda da Cunha, sob o título “Releituras do maravilhoso: A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen, suas figurações e múltiplos diálogos."
Sou professora de Literatura e coordenadora auxiliar do curso de Letras da Universidade Paulista (UNIP) e também no curso de pós lato sensu: Língua Portuguesa e Literatura no contexto escolar (UNIP interativa). 
Sou autora dos livros:  A carnavalização na literatura Infantil (Giostri, 2017) e A literatura infantil além do livro (Bonecker, 2019). Coautora da coleção didática para Ensino Fundamental II, intitulada: Português: uma língua brasileira, juntamente com Regina Figueiredo (Leya, 2014). Participei também da coletânea de poesias De Haicais a muito mais, organizada por Adilson Oliveira (Giostri, 2019).
Atuo nas seguintes áreas de pesquisa: Literatura Infantil e Juvenil; Literaturas em Língua Portuguesa; Estudos Comparados; Literatura e Sociedade; Literatura e Educação; Literatura e Imprensa; Leitura e Formação de Leitores; Ensino de Literatura; Literaturas e outras formas de saber; Teoria literária e Formação de Docentes.
Participo de dois Grupos de Pesquisa (CNPQ/CAPES): “Encontros interculturais na EAD: narrativas de vida dos diferentes brasis” (UNIP Interativa) e “Produções literárias e culturais para crianças e jovens” (FFLCH/USP).
Quando não estou ministrando aulas ou pesquisando, faço artesanato e cuido do meu jardim. Adoro viajar e curtir a natureza.

ENTREVISTA:

Fale-nos sobre o livro "A carnavalização na literatura infantil". O que a motivou a escrevê-lo?

Esse livro é fruto da minha dissertação de mestrado, na qual fiz um estudo comparado de três livros "O Reizinho Mandão", de Ruth Rocha; “As Aventuras do João Sem Medo”, do escritor português José Gomes Ferreira e "A montanha da água lilás", do escritor angolano Pepetela. Trato da carnavalização como uma forma de denúncia da exploração humana, presente nos três contextos em que essas obras foram escritas: Ditadura Militar no Brasil, Salazarismo no Brasil e Colonialismo e Pós-Colonialismo em Angola, respectivamente. Como pesquisadora e professora, tinha alguns questionamentos: As palavras possuem algum poder? Até que ponto a Literatura, enquanto arte da palavra, é capaz de denunciar arbitrariedades, como a exploração humana, e contribuir para mudar atitudes e modificar a sociedade?
Assim, esse livro surge como uma forma de refletir sobre essas questões, tendo como um dos principais motivos valorizar a literatura infantil como uma produção estética fundamental para a formação de leitores de todas as idades.

Fale-nos sobre o seu outro livro: "A literatura infantil além do livro".


Já esse meu segundo livro foi idealizado a partir de minhas pesquisas de doutorado. Quando fazia meu mestrado, descobri que o livro "As aventuras do João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira, publicado em 1963, foi gestado nas páginas do jornal português O Senhor Doutor, em 1933. Ao ler esse jornal fiquei bastante admirada, um jornal para crianças em 1933? Daí surgiu a ideia de investigar os periódicos dedicados ao público infantil.
Analisei, em uma perspectiva história e comparatista, como a literatura infantil foi construída além do suporte livro, levando em conta diferentes concepções de infância e tendências pedagógicas. Focalizei no contexto da década de 1930, destacando a importância do jornal português "O Senhor Doutor" e da revista brasileira "O Tico-Tico", tanto para a formação de leitores como para a história da literatura infantil.

Como analisa a questão da leitura no país?

A leitura no Brasil sempre foi um problema a ser considerado. Nas primeiras décadas do século passado, produzir um livro era uma tarefa hercúlea, lembremos das experiências de Monteiro Lobato, além do que a quantidade de analfabetos era absurda, foi preciso criar leitores e livros para eles. Atualmente, a situação progrediu, o analfabetismo diminui consideravelmente e a produção de livros assumiu grandes proporções. Políticas públicas de fomento à produção e distribuição de livros foram bastante significativas, principalmente na primeira década deste século. Contudo, os problemas agora são outros. As livrarias e editoras passam por séria crise econômica, como outros segmentos em nosso país. Com um agravante, estamos vivendo momentos muito difíceis em que a leitura, a educação, o conhecimento e a cultura estão sendo severamente desvalorizados e perseguidos. Após anos de redemocratização, temos de volta o fantasma da censura nos rondando, sendo que várias manifestações artísticas e culturais, a literatura, o cinema, a arte em geral, estão sendo vigiadas e caladas.
Por outro lado, constato que há profissionais da educação com um comprometimento muito sério com a formação de leitores, com projetos admiráveis e com muitos frutos. Dizem que os jovens não leem. Muitos leem sim, é preciso verificar aquilo que os move e com que se identificam.

Como analisa a questão da escrita dos alunos, sobretudo na era de redes sociais?

A escrita tem se adaptado aos novos tempos. A forma de se escrever nas redes sociais e os gêneros utilizados são bem específicos e diferem do que vemos nos livros e jornais e isso é normal, a língua é dinâmica e se adapta a diferentes contextos.
Contudo, os alunos, crianças ou adultos, precisam exercitar mais a escrita em outros suportes, outros gêneros, muitas vezes mais formais e exigentes, pois isso lhes será cobrado em suas profissões e vida cotidiana. Por isso, a importância dos professores de Língua Portuguesa. São eles que apresentam aos alunos o mundo da leitura e da escrita de maneira diversificada, para práticas sociais e aplicações variadas. Os profissionais de Letras são essenciais para o desenvolvimento da nossa sociedade, são o suporte para as outras profissões, pois tratam da linguagem e de suas manifestações, algo basilar e imprescindível.  É preciso valorizar esses profissionais, sempre.
Cito aqui o importante trabalho de um professor do curso de Letras da UNIP, o professor Adilson Oliveira, um grande incentivador da cultura, da leitura e da escrita criativa. Ele tem organizado coletâneas de livros com produções dos alunos e professores do curso. O último foi a coletânea de poemas "De Haicais a muito mais" (Giostri, 2019), vale a pena conhecer esse projeto.
Vale também citar movimentos interessantes, já de uns 10 anos para cá, são os saraus da periferia e os slams. Um público variado tem participado desses eventos, produzindo literatura variada, o que também demanda muita leitura. Um bom exemplo é o Sarau da Cooperifa, na zona sul de São Paulo, com poetas e educadores como Sérgio Vaz, Márcio Vidal Marinho e muitos outros. 

Quais são os seus próximos projetos?

Atualmente estou pesquisando sobre Hans Christian Andersen, o conto a Rainha da Neve e suas releituras na atualidade e pretendo para o próximo ano publicar um livro com resultado dessa pesquisa.
Muito obrigada pelo convite e até breve.
Lígia Menna

Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak Editora, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak Editora, 2016), O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), “Nóis sabe português” (Wak Editora, 2017) e Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.

Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de mais de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Editora Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Editora Xeque-Matte, 2019). Autor, dentre outros, do livro Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
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