Oeste Paranaense e o Rio do Meio são cenários para primeiro romance de professora
Em tempos de palavras abreviadas e de discursos imediatistas, quando não faltam pensamentos generalizados, Águas que passam (Autografia) é um convite às reflexões mais profundas sobre questões fundamentais: racismo, trabalho infantil, a mulher no contexto familiar e social, as dificuldades das políticas públicas das décadas de 1970 a 1980, e outros.
A história é narrada por uma criança cheia de questionamentos, moradora do quente Oeste Paranaense com uma casa à beira de um rio, o Rio do Meio, como cenário. É esse rio o protagonista companheiro que dá à menina sonhos e invencionices e funciona como fio condutor de uma obra que exige do leitor fluxo de pensamento.
Ele é encorajado a ir mais fundo no seu raciocínio e a autora, Nilva Dematé Zolandek, cuida de revelar aventuras, alegrias pueris, medos e fantasmas da menina, suas decepções ao descobrir que "uma mãe também podia mentir..." e que "uma pessoa pode ser mais ou menos aceita dependendo da cor da sua pele..." e ainda " então as crianças também podem morrer...?" ou: "como é que se podia viver em uma casa sem uma mãe para vir nos cobrir à noite?".
Literário e filosófico, Águas que passam tem como foco o próprio texto no sentido de elaboração do vocabulário, ao mesmo tempo em que faz pensar sobre a realidade. "O texto chama a atenção mais pelo modo de dizer que pelo dito, ou seja, o estilo se sobressai ao que é narrado", explica Nilva, professora, para quem o fato de ser escritora leva os alunos a uma/ curiosidade maior sobre leitura e estimula o hábito, ao gerar também identificação.
Segundo Nilva, Águas que passam é a história dentro da história; e o rio que corre, ora triste e lamentando as perdas e despedidas, ora alegre e sapeca, misturando o que a menina sente e de acordo com o fluxo do rio. A personagem central dá voz ao discurso indireto livre, teme perder a linha mestra da sua narrativa, mas promete encontrá-la, embora perdendo tantas outras que poderiam ser tão ou mais importante que a principal, retornará sempre ao centro de suas memórias pela correnteza bonita do rio que chama de seu e que se mistura com seus pensamentos numa personificação encantadora.
A história permite ao leitor questionar-se, por exemplo, sobre o tempo presente de consumismo exacerbado, no qual a desigualdade social provoca a ganância e o desejo de "ter" em detrimento do "ser". No tempo desta narrativa é mostrada a possibilidade de alegria, felicidade em uma vida sem essa busca desmedida pelo material.
OUTRAS AVENTURAS LITERÁRIAS
Águas que passam é o primeiro romance de Nilva, que escreve também poesias, peças de teatro, contos e crônicas.
Recentemente, publicou, também pela Autografia, Vidas Partidas, uma coletânea de contos com narrativas do cotidiano. São vozes de vidas que sofreram e, depois da morte ou na velhice, reclamam e lamentam não ter feito tudo de outro jeito. Constituído de personagens fortes e resignados que se dão conta do quanto poderiam ter vivido de forma diferente quando já é muito tarde. Outras vezes, são misteriosos e o leitor fica na dúvida se não são apenas imaginação. Memórias de crianças e mulher também têm papel na narrativa.
SERVIÇO
Águas que passam
Editora: Autografia
Páginas: 88 // Formato: 14x21cm // Preço: R$ 33,00
SOBRE O AUTOR
Nilva Aparecida Dematé Zolandek é formada em Letras - Literatura e pós-graduada em Literatura Brasileira e em Educação no Campo. Fez Programa de Formação de Docentes do Estado do Paraná em Literatura e Educação no Campo e é professora de Português e Literatura há 24 anos na rede pública paranaense.
0 comments:
Postar um comentário