Cida Simka - Foto divulgação |
Nesta entrevista, a escritora e professora Cida Simka, uma das organizadoras da antologia UMA NOITE NO CASTELO: CONTOS MAL-ASSOMBRADOS, publicada pela Editora Selo Jovem, fala como surgiu a ideia do livro, dá detalhes dos bastidores do evento e discorre sobre o trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Escritores do Grande ABC.
Como surgiu a ideia da antologia?
Eu e o prof. Sérgio Simka procurávamos por algo incomum, diferente, para ambientar a primeira antologia do Núcleo de Escritores do Grande ABC. Aí surgiu a ideia de passar a noite no castelo do músico Robson Miguel. Um lugar excêntrico, que proporcionaria ao grupo, além de uma noite agradável, a oportunidade de se inspirar no cenário inusitado para escrever.
E o cenário inspirou histórias inusitadas?
Com certeza. Os contos de terror ambientados e/ou inspirados no castelo trazem histórias peculiares, sinistras, que vão fazer o sangue do leitor congelar. Fogem um pouco do terror sanguinário, uma vez que prevalece o terror psicológico e emocional.
Acha que realizar uma obra assim, com base em experiências de diversas pessoas, faz com que os contos ganhem interesse?
Não resta dúvida, os autores abordaram o tema sob diversas particularidades e pontos de vista muito pessoais, criando situações as mais variadas, apesar do fio condutor ser o castelo, o que conferiu à obra uma diversidade fantástica.
Quantos contos são e quantas pessoas escreveram?
Foram dezenove pessoas que escreveram dezenove contos. O escritor Edmir Camargo também escreveu a apresentação e há ainda contos coletivos, oriundos de uma oficina de escrita criativa realizada na madrugada no dia 15 de abril de 2017, ministrada pelo escritor e jornalista Pedro Dias.
Sobre os autores, como foi feito o convite e a escolha deles?
Dezesseis dos autores são, ou foram na época da materialização do projeto da antologia, membros do Núcleo de Escritores do Grande ABC: Ana Ferreira, Alcidéa Miguel, Aristides Theodoro, Axia Stowe, Cida Simka, Crisley Ladeia, Edmir Camargo, Iracema M. Régis, Júlia Braz, Keli Braz, Leandro Unzueta, Marchezoni-Oliveira, Nairton Pereira, Pedro Dias, Sérgio Simka e Yasmim Ladeia. Para o evento, convidamos a escritora, revisora e consultora literária Ivani Rezende. O livro conta ainda com textos do Robson Miguel e da jornalista Miriam Gimenes, do jornal Diário do Grande ABC, que acompanhou o evento e escreveu uma reportagem intitulada “Uma noite no castelo”, publicada no caderno de cultura no dia 16 de abril.
Quanto tempo essas pessoas passaram no castelo? Elas ficaram juntas ou isoladas?
O evento foi realizado em 14-15 de abril de 2017. A intenção inicial era que cada um dos escritores escolhesse, após um tour pelo castelo, o espaço que mais servisse de inspiração para seu conto, mas, como os locais pareciam tenebrosos e a noite muito escura sem a iluminação da Lua, todo o mundo acabou ficando no salão nobre do castelo, sob o calor da lareira e o aconchego dos amigos.
O imaginário correu solto? Há alusões para problemas sociais?
O imaginário correu solto, os autores usaram e abusaram da imaginação e criatividade. E o terror psicológico existente em alguns contos são reflexos dos problemas sociais que vivemos no nosso dia a dia. Por exemplo, o conto da Cida Simka, “As várias faces do medo”, toca em problemas pessoais que acabam interferindo nos sociais. O do Edmir Camargo, “O coletor de maldades”, aborda a questão da violência. O de Júlia Braz, “As vozes que não se calaram”, retrata situações de pessoas que são submetidas a tratamentos psicológicos, porque a sociedade, a família etc., condena o comportamento sem procurar compreender o problema de cada um.
O que mais lhe chamou a atenção nesse projeto?
A diversidade de assuntos abordados pelos autores dentro do tema terror, inspirados no castelo e nas histórias contadas pelo anfitrião, o músico Robson Miguel, a simplicidade dele, que nos recebeu com sua costumeira disposição e atenção, o conhecimento que tinha e que nos transmitiu durante o tour que fizemos por labirintos, calabouços, buracos negros, entre outros. Necessário destacar, igualmente, a união, a dedicação e o entusiasmo de todos os autores antes, durante e depois da noite que passamos no castelo.
O livro pode ser comprado onde e qual o valor?
O livro pode ser comprado no site da Editora Selo Jovem e em sites de diversos pontos de venda, como Submarino, Lojas Americanas, Casas Bahia e Ponto Frio. O valor não chega nem a R$ 23,00. A obra tem 148 páginas.
Esse projeto foi realizado em quanto tempo?
Podemos considerar, desde a ideia do projeto até a entrega do livro pela Editora Selo Jovem, um período de aproximadamente 20 meses.
Alguns contos foram escritos e/ou esboçados durante a estada no castelo, mas os autores tiveram um prazo para terminar de escrever e entregar os artigos.
No final de 2018, o original estava pronto e foi encaminhado à editora, pois havíamos nos comprometido a encaminhar os contos a uma editora tradicional, ou seja, que não cobrasse para publicar.
No começo deste ano o livro passou por sucessivas revisões (gramatical, de conteúdo, de prova etc.), até que adquirisse a feição atual. Foi entregue para nós em abril/2019.
Quer dizer algo mais?
O Núcleo de Escritores do Grande ABC se reúne quinzenalmente para ler, escrever e elaborar projetos que envolvam não só os nossos trabalhos coletivos, mas também pensar em atividades que objetivam formar leitores, condição essencial para que os nossos livros e de outros autores sejam lidos. Mais que isso, formar cidadãos críticos, que possam contribuir para a sua transformação pessoal, intelectual, social e pessoal e, ainda, contribuir para a construção de uma nação forte, independente e justa.
Nossos projetos visam, igualmente, despertar o gosto e prazer pela escrita, outro requisito fundamental para a formação de um ser humano único e merecedor de respeito.
Para que nossos projetos coletivos deem resultados positivos necessitamos trabalhar em parceria com escolas, comunidades, órgãos públicos e estabelecimentos privados.
Nossas reuniões nos auxiliam, igualmente, no crescimento pessoal de cada integrante, pois fazemos a leitura de nossos textos, participamos de lançamentos, de oficinas etc. E podemos dizer que já estamos pensando na ambiência da próxima antologia: talvez em um sebo, ou em um cemitério em Santo André ou em Joanópolis, a cidade do lobisomem. rs
Para despertar mais o interesse dos leitores, seguem alguns trechos dos contos.
“Sentei-me no chão ao lado de um vaso de barro, apoiei minha prancheta na perna e comecei a dar vida ao conto, ou seria morte, já que se tratava de um conto de terror? Escrevi algumas linhas e descansei o lápis no vaso de barro, quando alguém me ofereceu uma xícara de café. [...] A moça encostou-se à parede, abraçou as pernas e seu braço gelado tocou o meu.”
(O conto de Walquíria, de Crisley Ladeia)
“A viela do castelo não era necessariamente o caminho por onde as pessoas gostavam de passar. Não gostavam, mas era o acesso mais fácil para quem queria cortar caminho da estrada para a cidade e da cidade para uma pequena vila com meia dúzia de ruas.
Ora, o que seria um castelo senão uma obra suntuosa que lembra Império ou períodos medievais? Não aquele castelo.”
(O castelo de Alma, de Ana Ferreira)
ORGANIZADORES
Cida Simka
(Maria Aparecida Silva Simka)
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Colunista da revista Conexão Literatura.
*Sérgio Simka
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e colunista da revista Conexão Literatura.
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